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TRIS­TEZA E NOSTALGIA.

Escrito por Abdon Mar­inho

TRIS­TEZA E NOS­TAL­GIA.
COMO todos desta ilha, quiçá do estado, assisti com inco­mum tris­teza a tragé­dia que viti­mou uma cri­ança no Municí­pio de Paço do Lumiar, na região met­ro­pol­i­tana da cap­i­tal. Impos­sível que um fato tão bár­baro não nos comova e nos faça refle­tir.
Afi­nal, que mundo é este em que vive­mos? Como, cri­anças que dev­e­riam ser pro­te­gi­das por todos encon­tram o abuso, a vio­lên­cia e a morte? O que, afi­nal, se passa com a humanidade? Viramos bestas humanas?
Volto no tempo para lem­brar o quanto éramos felizes na nossa infân­cia e ado­lescên­cia.
Morá­va­mos no inte­rior, primeiro no povoado e depois na sede.
Com seis ou sete anos lá estava eu, ainda com min­has lim­i­tações (ou ape­sar), subindo nas goiabeiras, nas mangueiras, nos cajueiros ou nos pés de ingá para col­her as fru­tas da época e comer lá em cima mesmo.
Bas­tava pas­sar no calção que estavam prontas para con­sumo.
No inverno brincá­va­mos nos igara­pés e açudes. Uma bóia de pneu era com­pan­hia para ficar horas den­tro d’água; às vezes saí­mos para pas­sar­in­har com nos­sas baladeiras e bor­nais cheios de pedrin­has como munição; ou pescar com anzol.
Devo con­fes­sar que nunca fui muito bom pas­sar­in­har ou pescaria, mas valia pela ocu­pação da mente.
Lem­bro que fazíamos nos­sos próprios brin­que­dos. Uma lada de óleo “Du Reino”, uma velha “japonesa” (que era como chamá­va­mos as sandálias), uma tábua e alguns pre­gos, viravam um car­rinho que podíamos puxar para cima e para baixo; uma cachopa de tun­cum, babaçu ou macaúba, sem muito tra­balho, virava um car­rinho de rolimã que usá­va­mos para escor­re­gar ladeira abaixo, man­hãs ou tardes inteiras subindo e descendo as ladeiras mais íngremes (vejo, hoje, as pes­soas pagando para descer aque­las dunas no Rio Grande do Norte e lem­bro que já fazíamos isso há mais de quarenta anos); e tinha ainda o esconde-​esconde, o jogo de peteca ou de piões (eu mesmo fazia belos piões), o can­cão.
Nos­sos dedos, per­nas, costas eram lac­er­adas pelos cortes, pelo arame farpado das cer­cas eram teste­munhas. Cortá­va­mos um dedo, enter­rava na terra até estancar o sangue.
E, já tra­bal­hava, ia com meu pai ou outro adulto, bus­car em out­ros povoa­dos ou roças longín­quas, o arroz que fora com­prado “na folha”. Eram quilômet­ros e quilômet­ros encima de uma can­galha, por veredas fechadas, pagá­va­mos o arroz, fechá­va­mos os sacos com bar­bante e voltá­va­mos para casa, sobre a carga.
Não raro, ia bus­car o gado na quinta para levá-​lo ao cur­ral.
Eram anos de far­tura, tín­hamos as gal­in­has, os ovos, os capões, os por­cos, cabras, umas reses. Da roça saia o arroz que era seco, tor­rado e “pilado” em pilões, o fei­jão, o milho, a abób­ora, melões e as melan­cias. Sem luz elétrica, os pedaços de carne ou toucin­hos eram armazena­dos em latas grandes de gor­dura de porco.
Nas noites de luar, ficá­va­mos até mais tarde debul­hando o milho ou fei­jão, enquanto ouvíamos um rádio de pilha, no estilo jabuti, ou ouvindo os cau­sos.
Mais “velho”, já com nove ou dez anos e morando na sede do municí­pio (Gov­er­nador Archer e depois Gonçalves Dias), os dias eram mais divi­di­dos: man­hãs no colé­gio e a tarde e noite nas brin­cadeiras, nos quadrin­hos.
Eram jogos de peteca, queimado, tan­tos out­ros. Lia com avidez, quadrin­hos da turma da Mônica, Pato Don­ald, Tio Pat­in­has (meu favorito, até hoje).
Já começava a ler, tam­bém, obras mais sérias, os clás­si­cos da lit­er­atura mundial, brasileira e tam­bém sobre a mitolo­gia grega.
E, ainda, devo con­fes­sar, as revistin­has de sacan­agem, muitas com pági­nas coladas por sub­stân­cias estra­nhas. Pegá­va­mos estas revis­tas dos mais vel­hos e as tín­hamos escon­di­das em lugares altos ou debaixo de colchões.
Naquela época, com dez ou onze anos, já morando em Gonçalves Dias, pegava minha “monareta” (um tipo de bici­cleta), e descia, soz­inho, rumo ao Cen­tro Novo, nosso povoado de origem, dis­tante cerca de 6 km (até me sur­preendo com estas lem­branças: não sei como ped­alava doze quilômet­ros e não mor­ria), para vis­i­tar os par­entes ou mesmo só para passear.
Essa farra toda até meus doze anos, quando meu pai colo­cou uma qui­tanda e a entre­gou para tomar de conta, já era um “adulto” fazia o giná­sio, no turno da noite, no Colé­gio Ban­deirante.
O dia pas­sava no comér­cio, vendendo cachaça, fumo de rolo, cig­a­r­ros, quar­tas de café, óleo, açú­car, dindins, e out­ros pro­du­tos, todos pesa­dos e medi­dos por mim.
Nos horários mais vagos, usava o tempo jogando damas, lendo quadrin­hos, “bolsilivros”(como chamá­va­mos os livros de bolso) ou mesmo livros comuns, história, geografia, lit­er­atura.
Além da conivên­cia diária com bêba­dos, rapari­gas e todo tipo de gente, à noite, na volta das aulas, que iam até as nove e meia ou dez horas, voltava, muitas vezes soz­inho ou com os ami­gos, pela rua dos cabarés e até encostá­va­mos em alguns.
A minha qui­tanda, aliás, ficava do lado da casa de uma rapariga. Inúmeras foram às vezes que me pediu fiado durante o dia para pagar com o apu­rado da noite. Eu, e todos, sabíamos, não era seg­redo, o que ela fazia a noite para aman­hecer com o din­heiro no dia seguinte.
Isso tudo durou até vir para São Luís, fazer o segundo grau no Liceu Maran­hense. Mesmo na ilha, com quinze anos, andava a cidade toda, saia do Liceu e ia até a Casa do Estu­dante, no final da Rua do Pas­seio, ou ia para a Praça Gonçalves Dias, onde ficava até oito ou nove horas.
Fazia isso soz­inho ou com alguns cole­gas. Às vezes até íamos ao Bairro de Fátima, tido como vio­lento na época, andando pé quilômet­ros, pas­sando vielas ou becos, out­ras vezes descíamos a Cam­boa, como escudo, só a farda do colé­gio.
Nada nos acon­te­cia. Não éramos molesta­dos ou impor­tu­na­dos. Saíamos de casa e voltá­va­mos quando queríamos, às vezes, só avisando, quando tín­hamos uma ficha tele­fônica, que iríamos chegar mais tarde. Já aqui em São Luís, que tinha tele­fone, no inte­rior, saíamos e voltá­va­mos só tendo o cuidado de está em casa no horário das refeições.
Lem­bro que no inte­rior, durante o dia as por­tas das casas ficavam aber­tas, a noite ape­nas encostadas com uma cadeira, o último a entrar pas­sava a chave.
Não tín­hamos a pre­ocu­pação de andar olhando em volta, com medo.
Fomos cri­a­dos assim, com essa liber­dade, con­fi­ança.
Eu ven­dia cachaça, con­haque, pitu, fumo, cig­a­r­ros, o dia inteiro, nunca tive a curiosi­dade de beber ou fumar. Out­ros vícios, nem cog­itá­va­mos da existên­cia.
Assisto o hor­ror dos nos­sos dias, com cri­anças pre­sas den­tro casa, vivendo em bol­has, sem con­seguir pegar um ônibus, sem ir numa venda, sem con­hecerem nada vida.
Fico pen­sando como foi que nos tor­namos estes tipo de sociedade, com tanta vio­lên­cia, quando cri­anças, jovens, mesmo os adul­tos ou vel­hos, não estão seguros nem den­tro de casa, tran­ca­dos.
Fico pen­sando no quanto minha infân­cia e ado­lescên­cia foram felizes ape­sar de todas as restrições físi­cas e/​ou finan­ceiras.
Cer­ta­mente já fomos pes­soas bem mel­hores.
Abdon Mar­inho é advogado.

ESTA­MOS CON­DE­NA­DOS AO ATRASO ETERNO?

Escrito por Abdon Mar­inho

ESTA­MOS CON­DE­NA­DOS AO ATRASO ETERNO?

QUANDO escrevi “O Maran­hão na Encruzil­hada do Atraso”, onde anal­isava as duas alter­na­ti­vas de can­di­dat­uras que achava mais viáveis para con­duzir o estado a par­tir de 2019, o atual gov­er­nador, Flávio Dino e a ex-​governadora Roseana Sar­ney, um amigo ligou para recla­mar do pes­simismo exposto em relação ao futuro do Maranhão.

Com efeito, as duas alter­na­ti­vas são ter­ríveis. A Era Sar­ne­y­sista e o que a Era Din­ista tem mostrado não levará o Estado do Maran­hão a lugar algum. O futuro prometido nada mais se rev­elou que uma con­tin­u­ação, mal engen­drada do pas­sado. Mais de meio século que tem assis­tido o nosso povo empo­bre­cer e o estado ficar para trás. Mais de meio século de atraso já deu. Como ser otimista?

Dois ami­gos, um que viaja con­stan­te­mente para o Ceará e outro que viaja sem­pre para o Pará, ambos de carro, mais de uma vez já me dis­seram: – Abdon, se estiveres de olhos fechado, quando cruzares a fron­teira do Maran­hão tu vais perce­ber o quanto ficamos para trás.

O que se vê e percebe de mudança na estru­tura viária é o reflexo do quanto o nosso estado tem ficado para trás em relação aos seus viz­in­hos. Ainda que aque­les enfrentem os prob­le­mas comuns de todos no Brasil, percebe-​se, clara­mente a existên­cia de um norte, um rumo para um futuro melhor.

Essa é a con­statação que faze­mos ao per­gun­tar aos maran­henses que cos­tu­mam fazer tur­ismo nos esta­dos vizinhos.

São unân­imes em dizer que não dá para com­parar, por exem­plo, For­t­aleza ou Belém e, mesmo, Teresina com São Luís, em todos os aspec­tos. Pois é quem iria imag­i­nar que os maran­henses fos­sem preferir For­t­aleza, Belém e Teresina para suas férias? É que vem ocorrendo.

Cer­ta­mente tem algo de muito errado com nossa cap­i­tal, pois temos um patrimônio histórico recon­hecido mundial­mente, temos pra­ias belís­si­mas, coisas que, teori­ca­mente, dev­e­riam atrair o tur­ismo, pelo menos. Nada. Esta­mos às moscas.

O mesmo vem acon­te­cendo o Maran­hão. Temos um estado riquís­simo em recur­sos hídri­cos (por enquanto, pois nos­sos rios estão mor­rendo à min­gua); segundo maior litoral do país; minérios diver­sos; ven­tos em abundân­cia; inverno e verão bem definidos; um vasto ter­ritório; um dos mel­hores por­tos do mundo e o que vemos no estado todo são pes­soas, entrando dia, saindo dia, esperando as esmo­las dos gov­er­nos. Como se dizia no meu inte­rior, de cara pro vento.

A con­statação que faze­mos é que nosso povo foi desacos­tu­mado do tra­balho e, por isso mesmo, está muito mais pobre. Noutras palavras fal­tou e falta gov­erno para estim­u­lar o desenvolvimento.

E pen­sar que o Maran­hão já foi grande pro­du­tor de grandes cul­turas, que mesmo os mais pobres con­seguiam sus­ten­tar seus famílias com o seu tra­balho, pois tin­ham suas roças, tin­ham seus por­cos, suas gal­in­has, seus patos, suas cabras e mesmo umas cabeças de gado para garan­tir o leite das crianças.

O Maran­hão de quarenta ou cinqüenta anos era assim. Hoje, se, de uma hora para outra cortarem o bolsa família, poucos serão os que vão escapar.

Con­heço na prática a real­i­dade antes (meu pai criou mais de dez fil­hos sem nunca ter con­hecido uma prefeitura ou órgão público, só com o seu tra­balho) e de agora (viajo o Maran­hão inteiro e o que vejo são pes­soas des­ocu­padas qual­quer que seja o dia da sem­ana, qual­quer que seja a hora do dia).

Como o estado vai, ao menos alcançar os esta­dos vizinhos?

Esse amigo me dizia: – Abdon, imag­i­nas, o Ceará, com aquela secura toda, está pro­duzindo bró­co­lis. Imag­ina, brócolis.

Via­jando pelas nos­sas pés­si­mas estradas, encon­tro os cam­in­hões car­rega­dos de fru­tas, legumes, ver­duras… todos vin­dos dos esta­dos vizinhos.

Aves­sos ao recon­hec­i­mento dos próprios erros, os adu­ladores do atual gov­erno, dirão que este atraso todo, aqui retratado, é fruto da “her­ança maldita” da Era Sarneysista.

Faz bem ao seus egos diz­erem isso. Infe­liz­mente não é ape­nas isso.

Já esta­mos fin­d­ando o ter­ceiro ano deste gov­erno, que nos prom­e­teu um novo rumo, e o que vemos é uma con­tin­u­ação, pio­rada, da oli­gar­quia anterior.

Qual é pro­posta de desen­volvi­mento que imple­men­taram nestes três anos? Nenhuma.

O Maran­hão con­tinua empobrecendo.

O gov­erno “inau­gura» a per­furação de um poço arte­siano (dar para acred­ita que inau­gu­ram poços?), em um povoado onde Judas perdeu as botas, e faz uma festa; sub­sti­tui uma “tapera» por uma escol­inha de uma ou duas salas e isso é motivo para fes­te­jar um mês.

Não estou dizendo que estas não são coisas impor­tantes, são sim, reflete o quanto o nosso povo é car­ente. Mas, tam­bém, é o reflexo do quanto o atual gov­erno é pequeno, essas coisas não eram sequer para ser inau­gu­radas, entre­tanto, gan­ham meses de pro­pa­ganda, divul­gando nossa própria miséria.

Em suma, o atual gov­erno, repito, é uma con­tin­u­ação, pio­rada, do gov­erno ante­rior, sim, pois não bas­tasse a falta de visão, obras mal feitas, envereda agora pela política de coop­tação, o velho con­hecido “toma lá, dá cá”, trazendo para o lado do gov­erno, segundo dizem, com muitos «mimos», tudo que foi lid­er­ança política nos tem­pos da gov­er­nadora Roseana Sarney.

As infor­mações que me chegam é os “sarno-​comunistas» – gostaram do neol­o­gismo? – têm pedido “alto”, quase absurdo, se os atu­ais inquili­nos dos Leões «ban­carem», «estarão feitos», se não cumprirem, voltam para o seio da amada.

Aliás, dizem que pede “alto» jus­ta­mente para, na even­tu­al­i­dade, de não cumprirem, já terem a des­culpa para voltar.

Até agora, pelo menos em ter­mos de promessa não têm pedido “desconto”. Os defeitos de ontem, são qual­i­dades ímpares, agora.

Essa escan­car­ada política de coop­tação rev­ela duas coisas, ao meu sen­tir. Primeiro, que não há difer­ença de méto­dos entre este “gov­erno novo” e o gov­erno ante­rior. Segundo, que as pesquisas intim­i­datórias do palá­cio são tão con­fiáveis quanto cédu­las de três reais. Teriam neces­si­dade de “con­vencerem» tan­tos próceres do «sar­ne­y­sismo» se estivessem “sur­fando» em índices estratos­féri­cos acima de cinquenta por cento, como rev­ela pesquisa ofi­cial mais pes­simista? A resposta, cer­ta­mente, é não.

Mas não é isso que esta­mos vendo, dia sim e no outro tam­bém, lá está o gov­er­nador, posando em Palá­cio, com alguém que foi con­ven­cido a lhe fazer juras de amor, ainda que falsas.

Até arrisco dizer que deve ter mais «sar­ne­y­sis­tas» no atual gov­erno que comu­nistas ou inte­grantes dos demais par­tidos que apoiaram a eleição do gov­er­nador. Isso é só um cálculo.

Por tudo isso, exceto pelo estilo da fran­quia comu­nista, mate­ri­al­izado no autori­tarismo, na pre­potên­cia, na refração à divergên­cia, é que digo enx­er­gar ape­nas um gov­erno de con­tinuidade com sub­sti­tu­ição: A Era Sar­ne­y­sista pela Era Din­ista, com as agra­vantes já referidas.

Aí volto ao começo deste texto. Quando este dileto amigo recla­mava de que no texto fui bas­tante pes­simista, pelo fato da eleição pare­cer definida entre os dois can­didatos mais bem posi­ciona­dos nas pesquisas, disse-​lhe: – Até aqui.

O “até aqui” tem uma sig­nificân­cia. Neste momento, se eleição fosse hoje ou amanhã, não tenho dúvi­das de que seria deci­dida entre aque­les dois.

Entre­tanto, fal­tando ainda quase um ano para o pleito e con­ver­sando muito com as pes­soas por onde passo, mesmo entre os par­tidários mais mil­i­tantes, percebo que o voto em um ou outro can­didato dar-​se mais pelo critério da exclusão.

Muitos são os que dizem: no atual gov­er­nador não voto de jeito nen­hum. out­ros que dizem: se só tiver estes dois voto no atual para o gov­erno não voltar para a Sar­ney, em que pese haver mais «sar­ne­y­sis­tas» neste que gov­erno que no da sen­hora Roseana – e cada vez chegando mais.

Assim, percebo que existe, sim, espaço para o surg­i­mento de uma ter­ceira via.

Uma can­di­datura que con­siga mostrar para a sociedade que rep­re­senta algo novo, difer­ente do maniqueísmo desta política pró e anti-​Sarney, pró e con­tra o “din­ismo”. Alguém que mostre ideias e pro­postas capazes de, efe­ti­va­mente, reti­rar o Maran­hão do atraso a que está sub­metido esses anos todos.

O Alguém que faça o papel que esperá­va­mos fosse exer­cido pelo atual gov­erno, que era virar a página do atraso e que ele não foi capaz de fazer, e, ainda, tornou-​se uma espé­cie de “cov­eiro» da esper­ança dos maran­henses que ousaram pen­sar num estado difer­ente, avançado, com plena liber­dade de pen­sa­mento e desen­volvi­mento econômico e social.

A sociedade maran­hense tem a neces­si­dade de encon­trar esse alguém capaz de fazer a rup­tura defin­i­tiva com o atraso, sem o risco de vir a tornar-​se ape­nas mais um engodo.

Acred­ito que só assim, o Maran­hão poderá pen­sar em acom­pan­har seus viz­in­hos e tornar-​se, graças a tan­tos recur­sos que pos­sui, e a seu povo, um estado próspero e desenvolvido.

A per­manecer o atual quadro não tenho motivos para qual­quer otimismo pois esta é a quadra do atraso.

Encerro dizendo que certa vez atribuíram a Sar­ney uma colo­cação emblemática. Per­gun­tado sobre por que não unir o Piauí com o Maran­hão, teria respon­dido que mel­hor jun­tar com São Paulo ou outro estado mais desen­volvido. A junção destes dois, do meio norte, só serviria para criar o “Piorão”.

Se disse ou não, eu não sei, mas, pelo andar da car­ru­agem, com o Maran­hão tão mal na fita, acho que quem não quer se unir a ele é o Piauí.

Mas podemos mudar isso e só depende de nós fazê-​lo.

Abdon Mar­inho é advogado.

DEBATES EXTREMOS.

Escrito por Abdon Mar­inho

DEBATES EXTREMOS.

NÃO tenho lem­brança de ter acom­pan­hado, na história do Brasil, mesmo através da livros, dias em que os debates, sobre quais­quer temas, fos­sem tão rad­i­cal­iza­dos. Mesmo assun­tos do cotid­i­ano geram debates onde se opõem os gru­pos – políti­cos ou não –, com posições extremas.

Não vejo futuro para país nisso, pelo con­trário, assisto com per­plex­i­dade a cri­ação de fos­sos que aos poucos se tor­nam intransponíveis. Uma lástima.

Ape­nas para citar um exem­plo, atual­mente um dos assun­tos mais dis­cu­ti­dos e mais rad­i­cal­iza­dos é a tal da questão de gênero. Con­fesso, que até bem pouco tempo nem sabia do que se tratava. Depois desco­bri que por trás desta questão existe toda uma ide­olo­gia, o que me pare­ceu muito mais estranho ainda.

Adepto do rock nacional, imag­i­nava que Cazuza falava sério ao dizer que pre­cisava de uma ide­olo­gia para viver. E ao dizer isso, era – assim enten­dia –, que as ide­olo­gias, ao menos como fomos apre­sen­ta­dos nos tem­pos de mil­itân­cia política estivessem desa­pare­ci­dos. Daí o cla­mar: – ide­olo­gia, eu quero uma para viver.

Em tem­pos tão rad­i­cais, provavel­mente, seria satanizado, bem mais do que foi e do que ainda é.

Mas voltando a tal da ide­olo­gia de gênero, que citá­va­mos, como exem­plo retórico, ape­nas, temos um dos mais claros exem­p­los de extrem­is­mos neste debate e que reflete bem a quadra obscura que vive o país.

Pelo que pude enten­der, até aqui, de um lado temos uns «ilu­mi­na­dos» defend­endo a ideia de que a sex­u­al­i­dade dos seres humanos é uma mera con­venção social e que os seres nasce­riam desprovi­dos de sexo que estes papéis seriam definidos pela sociedade que os impõe como lhes con­vém, cer­ta­mente de forma «careta», «bur­guesa», «retrógrada» e todos os «ismos» pre­sentes e comuns nos debates extremos.

Já na outra ponta, temos um grupo a pre­gar, sem con­strang­i­men­tos, que todos os papéis dis­so­nantes são fru­tos de patolo­gias e que estes humanos (os que têm uma vida sex­ual dis­tinta dos demais) seriam abom­i­nações, con­forme, descrito em alguns tex­tos bíblicos.

Como podemos perce­ber, são posições inc­on­cil­iáveis. E, ouso dizer, equivocadas.

Não vejo como admitir-​se que que homens e mul­heres sejam iguais no sen­tido que pregam os tais ideól­o­gos de gênero. Não o são. São bio­logi­ca­mente difer­entes, fisi­ca­mente difer­entes e, tam­bém, têm per­cepções difer­entes das emoções e das coisas. Não vejo como pre­tender uma igual­dade onde ela não existe e trans­ferir à sociedade a respon­s­abil­i­dade por sua definição.

Antes que digam que estou sendo machista ou mis­ógino, não o sou, ape­nas estou assen­tando que homens e mul­heres são seres difer­entes. Nen­hum é supe­rior ao outro e ambos são mere­ce­dores e deten­tores dos mes­mos dire­itos, deveres e, prin­ci­pal­mente, respeito.

Noutra quadra, não há como igno­rar que, até cien­tifi­ca­mente, muitos destes seres não se iden­ti­fi­cam com o seu sexo biológico ou, mesmo havendo iden­ti­fi­cação biológ­ica, relacionam-​se com pes­soas do mesmo sexo. São mil­hões de trans­gêneros no mundo e muitos mais mil­hões, ainda a inte­grar a sopa de letrin­has dos papéis sex­u­ais exis­tentes. Ou vão vão dizer que não existem?

Muitas ditaduras ado­tam a negação como instru­mento de repressão política.

Certa vez ques­tionaram um diri­gente ira­ni­ano – que aliás foi bem fes­te­jado pelos gov­er­nos da era petista –, sobre o trata­mento dis­pen­sado por seus país à comu­nidade LGBT. respon­deu sim­ples­mente que não tin­ham este prob­lema uma vez que não exis­tiam homos­sex­u­ais em seu país.

Nunca com­preendi muito bem o inter­esse de cer­tas ditaduras sobre este aspecto da vida pri­vada de seus cidadãos. Reprimem, matam e/​ou os renegam aos “gue­tos» sociais.

No a vida pri­vada inco­moda os que pen­sam difer­ente ou vivem de uma outra forma? O que tem demais em respeitar estas pessoas?

A existên­cia de mil­hões pes­soas no Brasil – e no mundo –, que vivem out­ras exper­iên­cias diver­sas é uma real­i­dade que está posta e que a ninguém é dado o dire­ito de tratar estas pes­soas como aber­rações ou abom­i­nações. Ou, ainda, como por­ta­do­ras de uma patolo­gia a mere­cer quais­quer tipo de cura. Ou, pior, agredir, humil­har ou mesmo matar estas pes­soas por sua ori­en­tação ou situ­ação sexual.

Estas pes­soas, difer­ente do que querem fazer crer cer­tos ideól­o­gos ou rad­i­cais reli­giosos são tão seres humanos e mere­ce­dores de iguais respeitos quanto todos os demais seres humanos. Por isso mesmo, não recla­mam ou mere­cem trata­mento difer­en­ci­ado ou supe­rior, querem sim, trata­mento igual e, sobre­tudo, respeito.

O Brasil de hoje (e mesmo out­ros países) exper­i­menta, infe­liz­mente, a real­i­dade da exclusão, onde todo aquele que não pensa den­tro do grupo é tido como um inimigo em poten­cial e é um alvo a ser eliminado.

O exem­plo acima citado em torno desta questão de gênero – que aliás, não con­sigo enten­der a razão de ocu­par o cen­tro dos debates nacionais –, é ape­nas uma a dividir a sociedade brasileira como nunca vimos antes, repito.

A prova maior do que digo é o fato das últi­mas pesquisas apontarem em primeiro e segundo lugares para uma even­tual dis­puta em segundo turno da eleição pres­i­den­cial do ano que vem, can­didatos destes extremos.

Os dois, pelo menos, no plano teórico, se com­por­tam como os rep­re­sen­tantes legí­ti­mos dos extremos a que nos referimos.

Aqui, e nesta opor­tu­nidade, não dis­cu­tirei méri­tos ou defeitos de nen­hum deles, que são de todos con­heci­dos, inclu­sive pela estridên­cia com que expõem suas ideias.

A minha reflexão é que a even­tual eleição de qual­quer dos dois ou um outro que advogue gov­ernar o país a par­tir de ideias extrem­is­tas, ape­nas nos trará mais incertezas e instabilidades.

Numa nação con­ti­nen­tal, como é o Brasil, um extremo, a não ser com muito der­ra­ma­mento de sangue, con­seguirá se impor ao outro ou lhe conquistar.

Assim, ter­e­mos, caso se con­firmem as pesquisas, um Brasil ainda mais divi­dido do se encon­tra agora pelos próx­i­mos anos.

Não pre­cisa ser espe­cial­ista, doutor neste assunto, para saber que o resul­tado dessa equação. Nação nen­huma no mundo con­seguiu o mila­gre de gov­ernar dos extremos sem que isso se desse através de bru­tal repressão com mil­hares de assas­si­natos. Aliás, já é isto que os par­tidários mais intol­er­antes pregam: a elim­i­nação do pen­sa­mento, e daque­les que vivem de uma forma difer­ente do que enten­dem ser a adequada.

Ora, quero acred­i­tar que em tem­pos de debates tão polar­iza­dos, o Brasil só encon­trará a paz se cos­tu­rar seu “pacto social” a par­tir da con­vergên­cia do cen­tro para as bor­das, “empurrando” os extrem­is­tas, de todos os matizes, para o seu real é dimin­uto espaço numa sociedade, como a nossa, for­jada na plu­ral­i­dade e tolerância.

Como sabe­mos, pen­sa­men­tos e gru­pos extrem­is­tas sem­pre exi­s­ti­ram por aqui, não os perce­bíamos porque suas ideias não encon­travam eco e estavam restri­tas a gru­pos bem reduzidos.

O vazio de poder a par­tir das con­vergên­cias cen­trais medi­anas, fiz­eram com que os dis­cur­sos extrem­is­tas gan­has­sem corpo e con­quis­tassem adep­tos a ponto de rep­re­sen­tar um grave prob­lema para o con­junto da sociedade brasileira, majori­tari­a­mente, tolerante.

Esta é a ver­dadeira iden­ti­dade nacional. O Brasil sem­pre teve pes­soas intol­er­antes, mas estes sem­pre foram uma mino­ria, o con­junto da sociedade nunca encon­trou difi­cul­dades para con­viver com as divergên­cias e a respeitar as diversidades.

Este Brasil de ódios, rad­i­cal­is­mos e intol­erân­cias, con­fesso, é algo novo, para mim, pelo menos.

O que nos resta é torcer para que a tragé­dia anun­ci­ada não se confirme.

Abdon Mar­inho é advogado.