A CAUSA DA LIBERDADE.
QUEM pretender-se livre, não tem que está preparando para uma batalha. Precisa está pronto para uma guerra diária. A frase não parece muito original, mas é minha.
Mesmo a liberdade de expressão, a mais comezinha das liberdades, sofre todo tipo de retaliação dos donos do poder, até mesmo daqueles eleitos envergando a a bandeira da liberdade, da tolerância e dos direitos.
Logo ela — talvez devamos dizer: mesmo ela –, que encontra-se sob o albergue constitucional: «IV — é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;” sofre violenta reprimenda.
Os donatários do poder – até mesmo os mais ilustrados –, ao chegarem ao poder, entendem-se predestinados por herança divina e, por isso mesmo, insuscetíveis de quaisquer questionamentos e críticas.
Nas suas tolas elucubrações imaginam que qualquer um que ouse apontar-lhe os erros é um inimigo em potencial ou está a serviço de causa diversa da sua.
Como os amigos devem ter tomado conhecimento, por estes dias vi-me, involuntariamente, envolvido numa polêmica desta natureza. Falo do texto “O Governador e o Condenado: O Convescote do Absurdo”, que você encontra aqui mesmo neste site.
O texto, depois da polêmica, bem merecia o título de “O Convescote da Discórdia”.
A interpretação dada ao texto, sobretudo, a reação virulenta dos membros do governo e de seus aduladores revelam bem a intolerância dos mesmos em relação à liberdade de expressão, bem como, uma leitura desconectada da realidade, conforme demostrarei a seguir, fazendo isso por amor à verdade e ao debate e não para me justificar diante de ninguém, pois como dizia meu velho pai: «O que está errado é da conta de todo mundo”. Ou, noutras palavras: Cala a boca já morreu, quem manda na minha boca sou eu.
Entretanto é importante recompor a narrativa de sorte a garantir melhor clareza daqueles que pegaram o «bonde andando» ou que se manifestaram apenas no afã de adular ou fazer o serviço sujo.
O primeiro conhecimento que tive sobre a programação da visita do ex-presidente Lula ao Maranhão foi através de uma matéria de “O Imparcial”, de quinta ou sexta-feira. Li-a e entendi que a programação era inadequada e, mesmo, que poderia configurar improbidade administrativa e/ou outros ilícitos.
Assim, na manhã de domingo escrevi e externei minha opinião sobre os fatos, rogando para que não fizessem o que era informado na programação. Alertando para os riscos que corria o próprio governador que, segundo dizem, será candidato.
Ora, isso tudo, no domingo, quando a dita caravana do ex-presidente ainda estava no Piauí.
Logo, diferente do afirmaram os detratores, o texto teve mais a intenção de auxiliar o governo que fustigá-lo.
Se assim não o fosse teria escrito o texto depois do encerramento da caravana e não antes.
Pela lógica tortuosas destes valentes, se você viaja por uma estrada e alguém o avisa de um precipício, e, ainda assim, você insiste no caminho e caí no infortúnio, a culpa é de quem o avisou.
Vai entender essa turma, né?
Quero acreditar que só tomaram conhecimento do que escrevi na terça-feira, quando a opinião que escrevi e publiquei nas redes sociais e no meu site, no domingo, foi divulgada pelo jornal O Estado do Maranhão.
Um amigo até chegou a sugerir que só descobriram o significado de convescote na terça-feira, mas não acreditei.
Aí foi um pandemônio, como se tivesse dito qualquer coisa demais. Além do que era apenas minha opinião. A opinião de alguém que não é “nada”, “ninguém”, só um cidadão.
Será que acharam conveniente a recepção feita em palácio ao cidadão cujo o status é condenado? O comício, com música de campanha, bandeiras, palavras de ordens e ataques as instituições da República com a Polícia Federal, Ministério Público e a própria Justiça?
Pois é, não só não ouviram os conselhos que lhes dei “de graça”, como soube, deram um “plus» na loucura. Tomei conhecimento que fizeram a transmissão do comício “ao vivo” pela emissora de rádio oficial do estado, a Rádio Timbiras. Inclusive, recebi a propaganda pelo WhatsApp e depois li que cometeram o desatino.
A iniciativa fez com que o Maranhão entrasse para o seleto grupo dos lugares onde comícios são transmitidos através das emissoras oficiais (fora do período de campanha), os outros (mais conhecidos, pelo menos) são: Coreia do Norte, Cuba e Venezuela.
Não consigo compreender, pessoas tão estudadas, tão inteligentes – o governador mesmo foi aprovados em primeiro lugar em diversos concursos –, acharem correto esse tipo de coisa. Não apenas não é correto. Chaga a ser medieval que os interesses do governante se confunda com os interesses do Estado.
O pior é que essa não foi a primeira vez que usaram uma estrutura de patrulhamento contra qualquer um que ousa divergir do governo.
Outro dia fiz uma analogia criticando o quando achava primitivo o fato de, em pleno século 21, fazerem proselitismo político na concessão de direitos básicos dos cidadãos. No caso, comparava o ex-secretário Ricardo Murad que passou “em revista” carro-pipas numa crise de abastecimento, na capital e o atual governador aplaudindo um poço artesiano, em Santo Amaro.
Não criticava o poço ou os carro-pipas – que sabemos ser uma necessidade premente da sociedade –, e sim o fato disso ainda acontecer. Criticava o fato de sermos um estado tão carente, a ponto do próprio governador, em pessoa, aplaudir a inauguração de um poço.
A mim, pelo menos, soa como se estivesse aplaudindo a nossa própria desgraça. Mas acham normal. Vi que festejaram, com bolo e tudo mais, que um hospital do interior tenha registrado mil atendimentos/dia. Isso é bom? Termos mil pessoas sendo atendidas/dia numa unidade de saúde? Não seria melhor que as pessoas não precisassem de atendimento?
Até parece o Maranhão virou uma grande Sucupira do Norte (a fictícia) onde o prefeito Odorico Paraguaçu «torcia» por um morto para inaugurar o cemitério.
O perturbador não é nem esse pensamento tortuoso. O que perturba é partirem para o ataque contra quem ousa apontar o quanto é tortuoso esse modo de pensar.
Na atual quadra, no Maranhão, não se pode pensar diferente?
O pior é que não enfrentam os argumentos da divergência optam pela desqualificação dos críticos. E aí, desconhecem quaisquer regras de boas maneiras e partem para a tentativa da ofensa pessoal. Assim, acham-se no direito de atacarem minha deficiência física. Ora, sou deficiente, e daí? (esse, aliás, é o título de um dos meus textos). Ao ex-deputado Joaquim Haickel chamam-o de gordo, e por aí vai.
E isso, vem de longe. Lembro que, ainda em 2012, fui atacado pela malta intolerante por uma entrevista que dei em um blogue onde dizia alguma coisa que não gostaram (escrevi sobre isso o texto “Onde estavam?”); depois em 2013, vieram com a acusação recorrente: seria eu um Sarneysista. Adoro essa. Logo eu que já escrevi e tomei tantas medidas contra o grupo Sarney (escrevi sobre isso no texto “Sarneysista, eu?”).
Já escrevi diversas vezes sobre essa tendência autoritária do atual governo. Logo eles que sempre disseram vestir o manto da liberdade, da tolerância, do politicamente correto, partem para o ataque à primeira opinião divergente. Pior, não contra a opinião, contra o opinante.
Embora já tendo me habituado a estes surtos stalinistas, assisto, com perplexidade, os ataques, inclusive de cunho pessoal dispensados ao proprietário de um instituto de pesquisa, cuja a empresa fez uma consulta popular onde o resultado desagradou ao governo.
Chega a ser curioso – e patético – que, mais que confrontarem os resultados, atacam de forma impiedosa, através dos diversos meios que possuem, o dono da empresa. Uma coisa horrorosa, cruel. Logo mais matarão o carteiro quando não gostarem do conteúdo da missiva.
Alto lá, camaradas! O Maranhão não possui Gulag. Ainda.
Abdon Marinho é advogado.