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O TRILEMA COMUNISTA.

Escrito por Abdon Mar­inho

O TRILEMA COMU­NISTA.
Por Abdon Mar­inho.
EMB­ORA o termo seja pouco usual, trilema é uma situ­ação embaraçosa da qual só se pode sair pela opção de uma de três opções, todas difí­ceis. Trilema é assim uma espé­cie de dilema de três.
O gov­er­nador Flávio Dino tem um trilema nas mãos que é com­pat­i­bi­lizar na vaga que resta de pré-​candidato ao Senado na sua chapa o inter­esse de três pos­tu­lantes. Só tem vaga para um. Como não se des­gas­tar além do necessário com os out­ros dois?
Claro que pode­ria ampliar ainda mais o prob­lema se trouxesse um nome de fora do espec­tro político deixando os três deputados-​postulantes à ver navios. Mas isso é algo que, parece, não fará.
Em recente entre­vista exclu­siva ao Jor­nal Pequeno, mais pre­cisa­mente no último dia do ano, que diga-​se, está cheia de assun­tos – no momento só me deterei na questão da segunda vaga ao Senado –, sua excelên­cia, instado a manifestar-​se sobre o preenchi­mento da vaga restante, respon­deu como se nada tivesse com a questão.
Ini­cial­mente, teceu loas aos três pos­tu­lantes, mas, em seguida, tal qual, Pilatos, lavou mãos. Sugeriu-​lhes que seguis­sem os pas­sos do primeiro ungido, o dep­utado Wev­er­ton Rocha, e se via­bi­lizassem.
Na nar­ra­tiva do gov­er­nador, não lhe cabe “trair suas con­vicções” e apare­cer indi­cando um can­didato. Este, ainda segundo ele, deve ter o apoio daque­les que o apoiam, para, assim, como fez com o primeiro escol­hido, ape­nas o ref­er­ende.
Agir de forma diversa, na sua opinião, seria uma espé­cie de coro­nelismo que já não cabe na política maran­hense. Encer­rou a questão.
Seria muito bom se a política fosse essa ciên­cia carte­siana que quer fazer crer o gov­er­nador. Emb­ora a solução apre­sen­tada – e a que vai lhe nortear a escolha –, pare­cer per­feita, pois os dois pos­tu­lantes preteri­dos devem, na sua visão, colo­car o insucesso, na sua própria falta de artic­u­lação, talvez não seja tão fácil.
A guerra de uma escolha dessas não fun­ciona como uma assem­bleia de estu­dantes, em que se levam as pro­postas para serem votadas “na hora”, sem qual­quer artic­u­lação prévia. Não é assim. Tan­tos os pré-​candidatos, quanto os demais agentes políti­cos, sabem para que lado “pende” o inter­esse do gov­erno e, até mesmo, como fun­ciona o chamado “fogo amigo” nes­tas horas.
A situ­ação torna-​se um pouco mais dramática quando os pos­tu­lantes têm como certo pos­suírem “crédito” junto ao gov­er­nador.
Esse “crédito”, que na entre­vista, o gov­er­nador não recon­heceu, é algo mais um menos público.
A exceção da dep­utada Eliziane Gama, que não sabe­mos o nível de “acerto” feito, os out­ros dois, até já o dis­seram pub­li­ca­mente, pos­suem uma fatura a apre­sen­tar.
O primeiro, o dep­utado José Reinaldo Tavares, a quem o gov­er­nador colo­cou na fatura ape­nas um débito de “car­inho espe­cial”, assim mesmo por ser ex-​governador do estado. Sabe­mos que não é só isso.
O ex-​governador José Reinaldo é cre­dor da própria car­reira política do hoje gov­er­nador. Con­forme é fato público e notório.
Foi ele, Zé Reinaldo, que ousou apos­tar no pro­jeto de ren­o­var a política maran­hense trazendo, com o poder de gov­er­nador que tinha, alguém da mag­i­s­tratura para fazê-​lo dep­utado, já no pro­jeto de fazê-​lo gov­er­nador nos pleitos seguintes.
Neste propósito, não mediu esforços. Como não pos­suía con­vicções a “trair”, que­ria mesmo era elegê-​lo, chamou um grupo de prefeitos de con­fi­ança e lhes deu a mis­são de con­seguir os votos necessários. Como dizem no sertão: deter­mi­nando que “ati­rassem sem tomar chegada”.
Não há quem no mundo político ignore que foi no velho “coro­nelismo” – que o atual inquilino dos Leões jura repu­diar –, que con­seguiram os votos nos lugares que o então can­didato nem sabia exi­s­tir no Maran­hão. Basta pegar o mapa de votação.
Estes fatos são públi­cos e con­heci­dos de todos, repito.
Assim, tanto na cap­i­tal quanto no inte­rior do estado todos sabem que o ex-​governador é cre­dor de bem mais que “um car­inho todo espe­cial”.
Acred­ito, por isso mesmo, tratar-​se de um mon­u­men­tal equívoco do gov­er­nador – e seus aux­il­iares –, ter excluído o dep­utado José Reinaldo da condição de can­didato nat­ural ao Senado da República na sua chapa, depois de tudo que fez por ele próprio e pelo Maran­hão.
Todos sabem que soz­inho e com pre­juízo da própria liber­dade, “ban­cou” o pro­jeto de mudança e foi para o “sac­ri­fico” nas duas eleições seguintes (2010 e 2014).
Ninguém “estran­haria” a can­di­datura “nat­ural” do ex-​governador e que o cabeça de chapa, no caso o gov­er­nador, lhe pagasse os favores que lhe foram feitos a par­tir de 2006.
Uma regra ele­men­tar da política – e mesmo da vida –, é que quem faz um “favor” espera rece­ber o mesmo troca. Pen­sar diverso é descon­hecer as regras do jogo.
Ao agir como “cre­dor da humanidade” e achar-​se mere­ce­dor de tudo que lhe foi feito “sem dever nada a ninguém”, o gov­er­nador corre o grave risco de pas­sar por “ingrato” ou, pior, “desleal”, por não ter cor­agem necessária de enfrentar “a tudo e a todos” e prestar socorro a quem já lhe socor­reu.
Infe­liz­mente as lid­er­anças políti­cas não têm cor­agem de expor esta situ­ação ao gov­er­nador, mas é este o sen­ti­mento cor­rente de norte a sul do estado, são prefeitos, ex-​prefeitos, vereadores, ex-​vereadores e mesmo sim­ples lid­er­anças, todos se ressentindo do trata­mento que está sendo dado ao ex-​governador.
O segundo pos­tu­lante a vaga de pré-​candidato na chapa ofi­cial – e a quem o gov­er­nador não dis­pen­sou nem o crédito de “car­inho espe­cial” –, é o dep­utado Waldir Maran­hão.
Não sei, além do que foi divul­gado pela mídia, sobre o nível de “acerto” feito com ele. Mas, assim como José Reinaldo o sac­ri­fí­cio político que fez pelo pro­jeto do gov­er­nador é patente e visível.
Vejam, o dep­utado era pres­i­dente estad­ual de um par­tido que pos­suía uma das maiores ban­cadas da Câmara dos Dep­uta­dos e, por isso mesmo, tornou-​se vice-​presidente daquela casa.
Coman­dando o máquina par­tidária e ocu­pando os espaços que a política lhe con­seguia, ia levando, con­seguia reeleger, prati­ca­mente, através daquela “estru­tura”, ou seja, lev­ava uma vida par­la­men­tar sem maiores sobres­saltos.
Tal situ­ação mudou quando – acredita-​se para aten­der um pedido do gov­er­nador –, resolveu “inven­tar” a revo­gação do impeach­ment da ex-​presidente Dilma Rouss­eff.
Teria neces­si­dade de fazer aquela patus­cada? Qual a razão para fazer? A quem visou aten­der?
Aí está a questão. Dizem que “fez o que fez” para aten­der o gov­er­nador do Maran­hão, cioso de “vender-​se” como a lid­er­ança que revo­gou o impeach­ment, apel­i­dado por ele de “golpe”, por con­se­quên­cia, tornar-​se o herdeiro de todo espólio esquerdista para voos mais altos.
O ineditismo da medida, que fale­cendo de sus­ten­tação, acabou sendo revo­gada pouco depois, trouxe ao dep­utado o pior tipo de exposição que um político pode­ria pre­tender: a exposição pelo ridículo.
Nem fale­mos dos diss­a­bores que sofreu no plano famil­iar, ele e os seus. Quase todos os par­entes sofr­eram com a exposição do dep­utado: filho, irmãos, cun­hados e, até mesmo, a esposa, que, segundo comenta-​se, estava enferma.
O dep­utado, que ini­ciou a car­reira política graças a uma vida acadêmica, tendo, inclu­sive, chegado a reitor da Uni­ver­si­dade Estad­ual do Maran­hão, para aten­der um pedido do gov­er­nador, segundo dizem – ninguém acred­ita que foi só porre –, viu-​se sob as luzes da rib­alta do ridículo nacional, motivo de cha­cota por onde pas­sava e sendo inspi­ração para todo tipo de charges, memes e humorís­ti­cos.
Chegaram a ponto de lhe sug­erir a revo­gação da Lei da Gravi­dade.
Em resumo, virou uma piada nacional, ainda hoje lem­brada. Não sei se o que lhe deram – ou prom­e­teram –, valeu o preço que pagou, inclu­sive o de não con­seguir a reeleição que tinha quase por certa.
No aspecto prático, perdeu, ainda, o comando do par­tido que lhe garan­tia suces­si­vas eleições e mesmo os espaços que já havia con­quis­tado no par­la­mento ao longo dos anos.
Ape­nas para citar um exem­plo, uma das Vice-​presidências da Câmara acabou “sobrando” para o dep­utado que assumiu o comando do seu antigo par­tido no estado, o novel dep­utado André Fufuca.
Como podemos ver, os fatos desafiam o raciocínio apre­sen­tado pelo gov­er­nador, na entre­vista. Mel­hor seria se tomasse “cor­agem” e despachasse aque­les que não gozam de sua predileção, para que eles, os preteri­dos, procu­rarem seu rumo.
Se serão can­didatos a dep­uta­dos nova­mente ou se irão se arran­jar, com seus pro­je­tos, noutras can­di­dat­uras.
Não é seg­redo que é mais fácil um can­didato a dep­utado virar can­didato a senador que o oposto. Se demoram muito, não terão onde con­seguir os votos pro­por­cionais. Cada dia de inde­cisão conta.
O trata­mento dis­pen­sado – e exposto –, pelo gov­er­nador aos três dep­uta­dos pos­tu­lantes à inte­grar a chapa majoritária só faz sen­tido se a intenção for “matá-​los” politi­ca­mente, afi­nal, mor­tos não cobram dívi­das.
Fora disso, a estraté­gia ado­tada de “empurrar com a bar­riga”, ainda que não se ache deve­dor de nada – nem dos deveres de amizade (mas já dis­seram que em política ninguém é amigo) –, acabará por trazer pre­juí­zos irreparáveis para os pos­tu­lantes à can­di­datura de senador, que deixarão de se artic­u­lar para out­ros car­gos, e à can­di­datura do próprio gov­er­nador, que respon­derá pela mágoa dos preteri­dos.
E, quanto maior acharem que é o crédito, maior será a mágoa. Ape­nas para lem­brar.
Abdon Mar­inho é advogado.

O ERRO DE PEN­SAR QUE O BRASIL É O MARANHÃO.

Escrito por Abdon Mar­inho

O ERRO DE PEN­SAR QUE O BRASIL É O MARAN­HÃO.
Por Abdon Mar­inho.
O TÍTULO, uma clara rem­i­nis­cên­cia a famosa matéria que atestou o naufrá­gio da can­di­datura de Roseana Sar­ney à presidên­cia da república no iní­cio dos anos dois mil, desta vez, parece-​me muito mais apro­pri­ado que seja usado em refer­ên­cia ao atual inquilino dos Leões.
O atual gov­er­nador tem cometido o erro de pen­sar o Brasil a par­tir do que ocorre no Maran­hão e colhe nesta reta final de ano uma inigualável saraivada de críti­cas por isso de parte da imprensa nacional.
Pou­cas vezes, aliás, a chamada grande mídia pegou tão “pesado” com uma autori­dade quanto pegou com o sen­hor Dino por conta da entre­vista con­ce­dida à Folha de São Paulo.
Mas, registre-​se, a culpa por isso é mais do gov­er­nador (e seus asses­sores) que da imprensa. Esta, a imprensa, está fazendo o seu papel de ques­tionar o posi­ciona­mento das autori­dades em relação aos temas pos­tos.
Ocorre que as autori­dades maran­henses – e isso já acon­te­cia no gov­erno Roseana Sar­ney – não estão habit­u­a­dos a serem ques­tion­a­dos por ninguém. Lem­bro que a ex-​governadora con­vo­cava cole­ti­vas onde os jor­nal­is­tas (só os “dela”) sequer per­gun­tavam algo, só ouviam. Uma ino­vação: “cole­tiva” onde só a entre­vis­tada falava.
Com o atual gov­er­nador, as cole­ti­vas (tam­bém para os seus) não mudaram muito, ainda que haja algu­mas per­gun­tas, estas são cer­cadas de cer­tos pudores, quase pedindo des­cul­pas por per­gun­tar.
Não se tem notí­cia de ninguém ques­tio­nando sobre as incon­sistên­cias ide­ológ­i­cas ou temas igual­mente espin­hosos, como as oper­ações na saúde, aluguéis cama­radas, obras exe­cu­tadas por empre­sas lig­adas a agio­tas. Nem para que o gov­er­nador tenha a opor­tu­nidade de negar, lhe são feitos os ques­tion­a­men­tos.
Este é o cam­inho do desas­tre. Para o jor­nal­ismo e para as autori­dades.
As críti­cas sofridas pelo gov­er­nador do Maran­hão por conta da entre­vista à Folha é o retrato disso: os jor­nal­is­tas que a comen­taram, prin­ci­pal­mente, na rádio Jovem Pan, só explo­raram algu­mas con­tradições do que disse o entre­vis­tado, e nem foram muito longe.
Fiz­eram o pre­visto. Lem­bro que bem antes da can­di­datura do sen­hor Dino ao gov­erno do estado, em 2014, o aler­tava para os diss­a­bores que teria de enfrentar por ser fil­i­ado ao Par­tido Comu­nista do Brasil — PCdoB, um par­tido que, den­tre out­ros exo­tismos, defende as ditaduras norte-​coreana, cubana e a venezue­lana, como mod­e­los de sociedade, inclu­sive com doc­u­men­tos ofi­ci­ais sobre o tema.
Este embaraço ide­ológico e as próprias con­tradições de se dizer comu­nista pas­sou ao largo das dis­cussões políti­cas no ano eleitoral.
O despreparo dos adver­sários e mesmo o cansaço com o longevo sane­y­sismo deu-​lhe a vitória. O poder, fez com que pas­sasse até aqui dizendo e fazendo todo tido de insanidade político-​ideológicas, sem sus­ci­tar ques­tion­a­men­tos de ninguém.
Este foi o erro. Pelo que soube o gov­er­nador ini­ciou a entre­vista da Folha afir­mando “ser comu­nista graças a Deus”.
A frase, em si, já é de uma tolice sem tamanho.
A dout­rina comu­nista é essen­cial­mente mate­ri­al­ista, incom­patível com os dog­mas fé reli­giosa. Aliás, todos sabem, o comu­nismo com­pete com a fé ou a aniquila pelo fer­vor e favores do povo.
A questão se agrava na even­tu­al­i­dade do gov­er­nador ser um cristão católico. Por alto, acred­ito que exis­tam mais dez Encícli­cas papais afir­mando – e reafir­mando – a incom­pat­i­bil­i­dade do comu­nismo com a fé católica e mesmo com o cris­tian­ismo.
Assim, se o gov­er­nador se diz católico (ou mesmo cristão) não pode, a menos que esteja “enganando” a igreja dizer-​se comu­nista. E vice-​versa.
Doutri­nar­i­a­mente, ou é uma coisa ou outra.
Essa ideia de comu­nismo cristão é alguma invenção de quem não tem o que fazer ou de quem descon­hece a história. Pois a incom­pat­i­bil­i­dade é tam­bém histórica.
A ascen­são dos regimes comu­nistas no mundo, perseguiu, como pouco se viu, as igre­jas cristãs (e todo tipo de igreja). Em muitos países os tem­p­los reli­giosos foram pos­tos abaixo, por ordem de seus líderes, e o patrimônio das igre­jas expro­pri­a­dos. Não pouparam nem pré­dios de valor histórico e arquitetônico extra­ordinário, no afã de apa­gar a fé da memória do povo.
Na antiga União Soviética, isso se deu por ordem direta de Lenin e Stálin.
Ainda hoje, no que restou de comu­nismo no mundo, a religião é restringida (ou proibida). Os casos de prisões e bani­men­tos pelo fato das pes­soa pro­fes­sarem uma fé ou, sim­ples­mente, pos­suírem uma bíblia são cor­rentes.
Uma pes­soa dizer que defende um régime, como o norte-​coreano, e dizer-​se cristão não faz sen­tido pois são situ­ações inc­on­cil­iáveis.
Mais. Depreende-​se da entre­vista a FSP a infor­mação de que o gov­er­nador man­tém no seu gabi­nete ima­gens de diver­sos san­tos. Antes ape­nas São Fran­cisco orna­men­tava o gabi­nete, agora são diver­sos.
Pois bem, esse apreço por ima­gens de san­tos – e digo isso com a sin­ceri­dade de quem tem enorme admi­ração pela arte sacra –, é incom­patível com a cena que vi (e não acred­itei) do gov­er­nador (que estava junto com o prefeito da cap­i­tal), prostrado, sob chuva tor­ren­cial durante um culto evangélico.
Veja, qual­quer um pode pro­fes­sar a fé que queira e da forma que quiser, mas não faz sen­tido – e isso não tem nada a ver com desprestí­gio à fé de ninguém –, você prostrar-​se diante de um pas­tor se você não é evangélico, se você não respeita na essên­cia aquilo que aquela fé defende, sem lhe respeitar os dog­mas.
Um dos princí­pios do protes­tantismo é a não idol­a­tria.
Já vimos até pas­tores evangéli­cos destru­indo ima­gens de sacras. E, para nossa tris­teza, mesmo cidadãos comuns, por conta destes dog­mas – e tam­bém insanidade –, van­dalizarem igre­jas católi­cas.
Assim, não faz nen­hum sen­tido, você prostrar-​se como o mais fiel dos devo­tos diante de um pas­tor (e o que me chamou a atenção: sob chuva tor­ren­cial) e man­ter uma san­taria em casa ou no tra­balho como forma de pro­teção.
Quem está enganando quem?
Além dIsso tudo ser incom­patível entre si, o é com a dout­rina comu­nista. Pois esta é, repito, essen­cial­mente, mate­ri­al­ista, anti-​religiosa e anti­cler­i­cal.
Não sou eu que digo isso, é a história, são os exem­p­los do dia a dia.
Do mesmo modo, chega às raias da bizarrice o fato de muitos, no Maran­hão e no Brasil, se diz­erem comu­nistas e pos­suírem ver­dadeira ado­ração pelo din­heiro, pelo luxo, pela osten­tação.
E aqui é o que mais tem.
O cidadão se diz comu­nista e mora nos mais exclu­sivos endereços da cap­i­tal, pos­sui os mais valiosos aparta­men­tos ou man­sões, car­rões impor­ta­dos e muito din­heiro nas con­tas bancárias.
E nem se fale da forma pouco repub­li­cana como tais patrimônios foram obti­dos.
Con­forme alertei, desde sem­pre, estas con­tradições, emb­ora todos fin­jam não ver por aqui – e talvez não vejam mesmo, pois não sabem o que é uma coisa ou outra ou ainda por acharem que tudo que sai da boca do rei é ver­dadeiro e dog­mático –, mais cedo ou mais tarde, cer­ta­mente, não pas­saria des­perce­bida no restante do país.
Foi o que se deu quando o sen­hor Dino, pen­sando falar para o público interno – parte dele com­posto por sub­or­di­na­dos –, começou a falar sandices para a imprensa nacional.
O Brasil pos­sui bons jor­nal­is­tas, capazes de enten­der o que está dito e o que ficou oculto nas palavras, como a inter­pre­tação que deram à defesa que faz de Lula e o temor de Bol­sonaro.
Inter­pre­taram que o gov­er­nador maran­hense pos­sui pouco ou nen­hum apreço pela democ­ra­cia –emb­ora fale tanto em povo –, pois no mesmo pará­grafo em que defende a can­di­datura de um con­de­nado pela Justiça – chegando a insul­tar as decisões do Poder Judi­ciário –, rev­ela que, se pudesse, impediria a can­di­datura do seu prin­ci­pal opo­nente, quando esta decisão – certa ou errada –, per­tence ao povo.
A esta imprensa restou claro, em um ou dois pará­grafos, que o gov­er­nador dos maran­henses tem um pendão pelo autori­tarismo bem semel­hante do posto em prática pelas ditaduras comu­nistas, das quais quer­e­mos dis­tân­cia e das quais não sen­ti­mos saudades.
As con­tradições em si, com a história, com os princí­pios jurídi­cos ou democráti­cos, fiz­eram da entre­vista de estreia do gov­er­nador na mídia nacional foi algo próx­imo do desas­tre.
E olhem que foi só a “inter­pre­tação da entre­vista”. Pode­ria ser bem pior, se fosse sub­metido a uma cole­tiva onde ques­tionassem estes e out­ros por­menores.
Cer­ta­mente iriam pen­sar que somos gov­er­na­dos por alguém que pos­sui a con­sistên­cia ide­ológ­ica de um cole­gial do século pas­sado.
Espera-​se que aprenda com a entre­vista e que, antes de uma nova incursão no cenário nacional, enfrente estas e tan­tas out­ras con­tradições.
O Brasil não é o Maran­hão.
Abdon Mar­inho é advogado.

A BUSCA PELA IMPUNIDADE.

Escrito por Abdon Mar­inho

A BUSCA PELA IMPUNIDADE.
QUANDO menino, lá no sertão, ouvia dizer que nos “fins dos tem­pos” iriam acon­te­cer coisas estra­nhas, difer­entes. Na minha inocên­cia ficava atento a tudo para saber se o fim estava próx­imo. Um formigueiro fora de tempo ou de lugar, um pás­saro can­tando fora de hora era motivos para pre­ocu­pações.
O tempo pas­sou e o mundo não acabou. Não como temia.
Por estes dias voltou-​me as pre­ocu­pações com o fim dos tem­pos. Sinais claro começam a se avis­tar.
Outro dia mesmo vi diver­sos int­elec­tu­ais, advo­ga­dos e mes­mos autori­dades con­sti­tuí­das recla­mando da «celeri­dade da Justiça».
Vejam que este é um fato extra­ordinário, inusi­tado. Mil­i­tando há anos nesta seara, o que sem­pre ouvi foram recla­mações sobre a lentidão da Justiça pátria. E, não vem de hoje. O saudoso Rui Bar­bosa já nos idos do Império e princí­pio da República dizia que a justiça tar­dia não era senão a injustiça man­i­festa.
O fato inédito é por conta da mar­cação do jul­ga­mento, em segunda instân­cia do ex-​presidente, Lula.
O alar­ido, por conta disso, foi tamanho que ense­jou ao pres­i­dente do TRF recla­mado por sua «celeri­dade” a se man­i­fes­tar asseverando que os pra­zos estavam den­tro da nor­mal­i­dade e que proces­sos daquela natureza cor­rem, pelo menos a grande maio­ria, neste espaço de tempo.
Tem­pos estran­hos em que mesmo autori­dades, recla­mam, pub­li­ca­mente, e sem con­strang­i­men­tos, do alcance da Justiça.
Na ver­dade as elites, os deten­tores dos foros por pre­rrog­a­ti­vas de função, nunca tiveram qual­quer inter­esse em jul­ga­men­tos jus­tos, na ver­dade sem­pre bus­caram a pre­rrog­a­tiva de ficarem acima da lei.
Os «grandes” acham que as leis não servem para eles.
Isso foi o que disse o então pres­i­dente Lula quanto um dileto amigo foi apan­hado em «malfeitos»: “o Sar­ney não é uma pes­soa comum”.
Agora, com o jul­ga­mento do Lula mar­cado, ten­tam pas­sar a mesma ideia: que a Justiça está perseguindo o Lula; que ele não pode ser jul­gado; que a justiça está “célere” por que quer afas­tar o Lula da dis­puta pres­i­den­cial.
Criam cam­pan­has inter­na­cionais para difamarem a Justiça brasileira.
Em meus vagares indago: que inocente foge ao jul­ga­mento da Justiça do seu país como o diabo foge da cruz?
O sen­hor Lula foi inves­ti­gado pela Polí­cia Fed­eral, denun­ci­ado pelo Min­istério Público Fed­eral, jul­gado e con­de­nado por um juiz fed­eral. Claro que todos estes agentes podem ter errado e cometido uma injustiça con­tra o con­de­nado.
Por conta dos erros a que estão sucetíveis os humanos, temos no nosso orde­na­mento out­ras instân­cias judi­ci­ais, para reverem e, quando for o caso, cor­ri­girem as injustiças, por­ven­tura, exis­tentes.
Não vivêsse­mos tem­pos estran­hos o sen­hor Lula, seus defen­sores, ado­radores e sabu­jos, tão logo saiu a sen­tença do juízo de primeiro grau, teriam cor­rido para bater as por­tas do tri­bunal com­pe­tente pedindo celeri­dade na avali­ação do seu caso pela instân­cia supe­rior.
Incon­for­mado pela injustiça bus­caria com fer­vor que o tri­bunal ates­tasse sua inocên­cia.
Não vimos nada disso. Querem jus­ta­mente o oposto.
Cer­tos dos crimes cometi­dos, bus­cam levar o jul­ga­mento para as cal­en­das. Na instân­cia ini­cial cri­aram todo tipo de embaraço ao anda­mento do processo; jul­gado foram atrás de todo os tipos e recur­sos e, agora, na eminên­cia de terem o processo exam­i­nado, não por ape­nas um, mas por três desem­bar­gadores, ao invés de fes­te­jar a pos­si­bil­i­dade de com­pro­var sua inocên­cia, acusam a justiça de «célere».
E, pela movi­men­tação de basti­dores, pare­cem que não ficarão ape­nas na recla­mação desaver­gonhada.
Preparam, com ajuda de autori­dades, movi­men­tos soci­ais, sindi­catos e out­ros que os val­ham, estron­dosa man­i­fes­tação, em Porto Ale­gre, Rio Grande do Sul, con­tra a Justiça. Trata-​se, como se vivêsse­mos numa republi­queta de bananas, de uma clara ten­ta­tiva de intim­i­dar a Justiça, um ato claro de sedição a aten­tar con­tra a democ­ra­cia brasileira.
Qual a leitura que, sen­sa­ta­mente, podemos fazer destes acon­tec­i­men­tos?
Ao que parece, já trazem con­sigo a certeza de que as provas são con­tun­dentes e que o TRF não terá como refor­mar sen­tença para inocen­tar o con­de­nado.
Se assim não fosse qual o sen­tido de se con­stranger um tri­bunal como se quisesse que tome uma decisão com base na pressão pop­u­lar e não nas provas?
Aliás, o ato de con­strang­i­mento explíc­ito, de pressão, até enfraquece uma pos­sível decisão que favoreça o ex-​presidente.
Caso deci­dam por sua inocên­cia quem irá acred­i­tar que foi com base nas provas e não na pressão das ruas?
Noutra quadra acred­i­tam que a Justiça brasileira, em pleno século XXI, se sujeita a rece­ber pressões da turba?
Se for assim, sig­nifica dizer que não merece qual­quer respeito por parte dos juris­di­ciona­dos.
Ora, não temos como olvi­dar aquilo que ver­dadeira­mente querem os donos do poder e seus sabu­jos, sejam eles int­elec­tu­ais, artis­tas, mil­i­tantes ou sim­ples­mente adu­ladores: querem a Impunidade para si e para os seus. Ape­nas isso. Querem ficar fora do alcance da lei.
Os poderosos cumprem o hor­ro­roso rit­ual de se pro­te­gerem. São atra­pal­hos às inves­ti­gações, ao anda­mento dos proces­sos, são os gen­erosos indul­tos.
Lá atrás Lula e Dilma fiz­eram isso, Temer faz o mesmo.
Todos têm medo da Justiça e por isso querem uma só para eles.
Se a Justiça não alcança a todos, indis­tin­ta­mente, para que serve?
Abdon Mar­inho é advogado.