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O ESTADO, LUIS­LINDA, A AMMA E OS PENDURICALHOS.

Escrito por Abdon Mar­inho

O ESTADO, LUIS­LINDA, A AMMA E OS PENDURICALHOS.

um tempo pas­sou na tele­visão mais de um reportagem sobre os par­la­men­tos ao redor do mundo, suas van­ta­gens, as remu­ner­ações dos seus agentes políti­cos, o que tin­ham dire­ito o que não tinham.

Se não falha a memória pas­sou, tam­bém, uma reportagem especí­fica sobre o par­la­mento sueco, onde suas excelên­cias dividiam a lavan­de­ria e lavavam suas próprias roupas.

Aque­les que não tiveram a opor­tu­nidade de assi­s­tir, sugiro que façam uma pesquisa nos canais da inter­net. Os que assi­s­ti­ram dev­e­riam fazê-​lo novamente.

Emb­ora o caso da Sué­cia seja um mod­elo ideal, acho impor­tante que ten­hamos con­hec­i­mento que as coisas no Brasil é que estão fora de ordem.

Não é de hoje – já se vão vinte anos –, que bato na tecla de que o país pre­cisa de uma reforma estru­tural, uma reforma do nosso mod­elo de Estado que obrigue os agentes políti­cos a um uso racional dos recur­sos públi­cos, ou seja, do nosso din­heiro uma vez que pois pas­samos quase seis meses do ano tra­bal­hando só para pagar trib­u­tos, não é justo, por­tanto, que estes trib­u­tos sejam empre­ga­dos em mor­do­mias diver­sas, em pen­duri­cal­hos sem qual­quer sentido.

As elites brasileiras sem­pre se acharam mere­ce­do­ras de viverem no fausto, de gozarem férias inter­mináveis, pon­tos fac­ul­ta­tivos indeco­rosos, pos­suirem uma enormi­dade de asses­sores, aju­das disso, daquilo e daquilo mais, sem se pre­ocu­par em saber de onde vem o din­heiro que paga a conta. Ou, sabendo, achando-​se mere­ce­dora de mais benesses que os demais brasileiros.

Não acred­ito que haja no mundo uma nação que gaste tanto com a máquina pública quanto o Brasil. São gas­tos desnecessários, mas que os ben­e­fi­ci­a­dos por eles acham pouco e querem sem­pre mais.

Segundo uma visão dis­tor­cida, esse é o preço que os cidadãos deve­mos pagar por viver­mos numa democ­ra­cia. Acred­i­tam, provavel­mente, que a Sué­cia, só para citar um exem­plo, vive longe da democ­ra­cia uma vez que lá os vereadores e dep­uta­dos estad­u­ais não são remu­ner­a­dos e os inte­grantes do par­la­mento gan­ham cerca de R$ 13 mil reais, sem dire­ito a asses­sores, motoris­tas, car­ros ofi­ci­ais, pas­sagens aéreas, moram em imóveis fun­cionais de 40 ou 50 met­ros quadra­dos e lavam a própria roupa.

A visão que esta elite tem é que o Estado deve prover essas mor­do­mias. E, ainda aque­les alcançaram o sucesso graças ao próprio esforço, como a aprovação em con­curso para um cargo público, pas­sam a se acharem cre­dora da sociedade e não empre­ga­dos da mesma.

Por estes dias tive­mos exem­p­los cristal­i­nos disso.

O primeiro, a min­is­tra de Estado Luis­linda Val­ois, que requereu gan­har o dobro do teto do serviço público – já ele­vado, cerca de R$ 33 mil reais, se com­parado ao salário-​mínimo nacional –, vez que como desem­bar­gadora aposen­tada já recebe o teto e estaria recebendo verba irrisória pelo cargo de min­is­tra. Na sua visão, o rece­bi­mento de R$ 3 mil, pelo exer­cí­cio do cargo de min­is­tra equiv­a­le­ria a “tra­balho escravo”.

O caso da min­is­tra Val­ois é emblemático pois ela pos­sui uma história extra­ordinária de quem venceu inúmeras difi­cul­dades para chegar onde chegou. Não é todo dia que vemos uma mul­her, negra, de origem humilde chegar a juíza, depois desem­bar­gadora e agora min­is­tra de Estado, no nosso país. Casos assim são exceções.

Daí o fato de ser emblemático, a min­is­tra ao requerer um ganho já supe­rior ao que ganha a larga maio­ria dos cidadãos brasileiros, negou a própria origem e pas­sou a inte­grar ou achar-​se como inte­grante de uma elite que se pre­tende mel­hor que a maior parte dos cidadãos brasileiros.

O segundo, em sen­tido inverso, foi a renún­cia do juiz Roberto de Paula a uma série de «pen­duri­cal­hos» que com­põe e eleva os salários dos magistrados.

A decisão, inédita, como era de se esperar, atraiu a ira da asso­ci­ação dos mag­istra­dos que enx­er­gou hipocrisia na incia­tiva do associado.

O posi­ciona­mento do pres­i­dente da asso­ci­ação e de tan­tos out­ros que não com­preen­deram a ati­tude do mag­istrado é fruto, por óbvio, do descon­hec­i­mento de sua história. Quem o con­hece, há mais tempo é sabedor que estes “pen­duri­cal­hos» nos con­tra­cheques dos mag­istra­dos – e de tan­tas cat­e­go­rias –, era algo que o incomodava.

Acred­ito que ulti­mas “novi­dades”, neste sen­tido, aprovadas pelo cole­giado do Tri­bunal de Justiça do Maran­hão, era o que fal­tava para que fizesse a opção de renun­ciar a todas elas, ainda que con­trar­iando muitos dos cole­gas e ami­gos que não vêem nada demais em auferi-​las.

Ora, o que o Judi­ciário nacional tem feito, diante do silên­cio de todos, inclu­sive do Min­istério Público e Tri­bunal de Con­tas da União e dos esta­dos, é seguir o roteiro traçado desde muito tempo pelos out­ros poderes: criar for­mas de mel­ho­rar as remu­ner­ações dos seus mem­bros através de auxílios diver­sos, con­trar­iando ou não o man­da­mento con­sti­tu­cional de que a remu­ner­ação deva ocor­rer em sub­sí­dio de parcela única, vedado acrésci­mos de quais­quer natureza.

Chego a pen­sar que se ninguém, nem do Min­istério Público, nem dos órgãos de con­tas, das diver­sas con­tro­lado­rias, se deram conta que estes “pen­duri­cal­hos» estavam ou estão erra­dos, cer­ta­mente é porque estão certos.

Se não, qual a razão de tão ensur­de­ce­dor silêncio?

Vou além para dizer que cer­ta­mente estas van­ta­gens não estariam em con­fronto com a Con­sti­tu­ição da República uma vez que ninguém nunca se deu conta disso sendo tão sábios.

Se não, estariam acima da con­sti­tu­ição estes dig­natários da República?

O que sei, entre­tanto, é que mesmo que hou­vesse uma recomen­dação expressa na Carta Con­sti­tu­cional para que os recur­sos públi­cos fos­sem gas­tos da forma como os vem sendo (em mor­do­mias, pen­duri­cal­hos e tan­tas coisas mais), ainda assim, não estaria certo.

Não estaria cor­reto porque os recur­sos públi­cos sobre­tudo num país como o nosso, repleto de desigual­dades, deve ser gasto com parcimô­nia e critério – e, em bene­fí­cio da sociedade. Não faz sentindo pos­suirmos uma ou mais cas­tas, que se achem no dire­ito ou mais mere­ce­dora os demais cidadãos.

Os agentes políti­cos e servi­dores públi­cos pre­cisam enten­der que quando se can­di­datam ou são investido, por con­curso ou nomeação, em um cargo público lá estão para servir ao público, a sociedade e não para servir-​se dos recur­sos da nação.

Claro que não se está pre­tendendo que sirva a nação gra­tuita­mente ou em tra­balho “escravo» como ale­gou a min­is­tra Luis­linda Val­ois, mas, medi­ante uma remu­ner­ação justa que não ofenda, com os exces­sos, o con­junto da sociedade, que não sejam bene­fí­cios aos quais, nem em son­hos, os pagadores de impos­tos alcançam.

Estes agentes e servi­dores público pre­cisam com­preen­der o real sen­tido de servir ao público.

São con­ceitos que tran­scen­dem a legal­i­dade. Vai muito além, tem mais com justiça, sol­i­dariedade, bom senso.

Ao se perderem na dis­cussão sobre hipocrisia, ganho pouco, tra­balho escravo e out­ras coisas mais, esque­cem o fun­da­men­tal, que é a dis­torção do que seja o Estado.

Abdon Mar­inho é advogado.

TRIS­TEZA E NOSTALGIA.

Escrito por Abdon Mar­inho

TRIS­TEZA E NOS­TAL­GIA.
COMO todos desta ilha, quiçá do estado, assisti com inco­mum tris­teza a tragé­dia que viti­mou uma cri­ança no Municí­pio de Paço do Lumiar, na região met­ro­pol­i­tana da cap­i­tal. Impos­sível que um fato tão bár­baro não nos comova e nos faça refle­tir.
Afi­nal, que mundo é este em que vive­mos? Como, cri­anças que dev­e­riam ser pro­te­gi­das por todos encon­tram o abuso, a vio­lên­cia e a morte? O que, afi­nal, se passa com a humanidade? Viramos bestas humanas?
Volto no tempo para lem­brar o quanto éramos felizes na nossa infân­cia e ado­lescên­cia.
Morá­va­mos no inte­rior, primeiro no povoado e depois na sede.
Com seis ou sete anos lá estava eu, ainda com min­has lim­i­tações (ou ape­sar), subindo nas goiabeiras, nas mangueiras, nos cajueiros ou nos pés de ingá para col­her as fru­tas da época e comer lá em cima mesmo.
Bas­tava pas­sar no calção que estavam prontas para con­sumo.
No inverno brincá­va­mos nos igara­pés e açudes. Uma bóia de pneu era com­pan­hia para ficar horas den­tro d’água; às vezes saí­mos para pas­sar­in­har com nos­sas baladeiras e bor­nais cheios de pedrin­has como munição; ou pescar com anzol.
Devo con­fes­sar que nunca fui muito bom pas­sar­in­har ou pescaria, mas valia pela ocu­pação da mente.
Lem­bro que fazíamos nos­sos próprios brin­que­dos. Uma lada de óleo “Du Reino”, uma velha “japonesa” (que era como chamá­va­mos as sandálias), uma tábua e alguns pre­gos, viravam um car­rinho que podíamos puxar para cima e para baixo; uma cachopa de tun­cum, babaçu ou macaúba, sem muito tra­balho, virava um car­rinho de rolimã que usá­va­mos para escor­re­gar ladeira abaixo, man­hãs ou tardes inteiras subindo e descendo as ladeiras mais íngremes (vejo, hoje, as pes­soas pagando para descer aque­las dunas no Rio Grande do Norte e lem­bro que já fazíamos isso há mais de quarenta anos); e tinha ainda o esconde-​esconde, o jogo de peteca ou de piões (eu mesmo fazia belos piões), o can­cão.
Nos­sos dedos, per­nas, costas eram lac­er­adas pelos cortes, pelo arame farpado das cer­cas eram teste­munhas. Cortá­va­mos um dedo, enter­rava na terra até estancar o sangue.
E, já tra­bal­hava, ia com meu pai ou outro adulto, bus­car em out­ros povoa­dos ou roças longín­quas, o arroz que fora com­prado “na folha”. Eram quilômet­ros e quilômet­ros encima de uma can­galha, por veredas fechadas, pagá­va­mos o arroz, fechá­va­mos os sacos com bar­bante e voltá­va­mos para casa, sobre a carga.
Não raro, ia bus­car o gado na quinta para levá-​lo ao cur­ral.
Eram anos de far­tura, tín­hamos as gal­in­has, os ovos, os capões, os por­cos, cabras, umas reses. Da roça saia o arroz que era seco, tor­rado e “pilado” em pilões, o fei­jão, o milho, a abób­ora, melões e as melan­cias. Sem luz elétrica, os pedaços de carne ou toucin­hos eram armazena­dos em latas grandes de gor­dura de porco.
Nas noites de luar, ficá­va­mos até mais tarde debul­hando o milho ou fei­jão, enquanto ouvíamos um rádio de pilha, no estilo jabuti, ou ouvindo os cau­sos.
Mais “velho”, já com nove ou dez anos e morando na sede do municí­pio (Gov­er­nador Archer e depois Gonçalves Dias), os dias eram mais divi­di­dos: man­hãs no colé­gio e a tarde e noite nas brin­cadeiras, nos quadrin­hos.
Eram jogos de peteca, queimado, tan­tos out­ros. Lia com avidez, quadrin­hos da turma da Mônica, Pato Don­ald, Tio Pat­in­has (meu favorito, até hoje).
Já começava a ler, tam­bém, obras mais sérias, os clás­si­cos da lit­er­atura mundial, brasileira e tam­bém sobre a mitolo­gia grega.
E, ainda, devo con­fes­sar, as revistin­has de sacan­agem, muitas com pági­nas coladas por sub­stân­cias estra­nhas. Pegá­va­mos estas revis­tas dos mais vel­hos e as tín­hamos escon­di­das em lugares altos ou debaixo de colchões.
Naquela época, com dez ou onze anos, já morando em Gonçalves Dias, pegava minha “monareta” (um tipo de bici­cleta), e descia, soz­inho, rumo ao Cen­tro Novo, nosso povoado de origem, dis­tante cerca de 6 km (até me sur­preendo com estas lem­branças: não sei como ped­alava doze quilômet­ros e não mor­ria), para vis­i­tar os par­entes ou mesmo só para passear.
Essa farra toda até meus doze anos, quando meu pai colo­cou uma qui­tanda e a entre­gou para tomar de conta, já era um “adulto” fazia o giná­sio, no turno da noite, no Colé­gio Ban­deirante.
O dia pas­sava no comér­cio, vendendo cachaça, fumo de rolo, cig­a­r­ros, quar­tas de café, óleo, açú­car, dindins, e out­ros pro­du­tos, todos pesa­dos e medi­dos por mim.
Nos horários mais vagos, usava o tempo jogando damas, lendo quadrin­hos, “bolsilivros”(como chamá­va­mos os livros de bolso) ou mesmo livros comuns, história, geografia, lit­er­atura.
Além da conivên­cia diária com bêba­dos, rapari­gas e todo tipo de gente, à noite, na volta das aulas, que iam até as nove e meia ou dez horas, voltava, muitas vezes soz­inho ou com os ami­gos, pela rua dos cabarés e até encostá­va­mos em alguns.
A minha qui­tanda, aliás, ficava do lado da casa de uma rapariga. Inúmeras foram às vezes que me pediu fiado durante o dia para pagar com o apu­rado da noite. Eu, e todos, sabíamos, não era seg­redo, o que ela fazia a noite para aman­hecer com o din­heiro no dia seguinte.
Isso tudo durou até vir para São Luís, fazer o segundo grau no Liceu Maran­hense. Mesmo na ilha, com quinze anos, andava a cidade toda, saia do Liceu e ia até a Casa do Estu­dante, no final da Rua do Pas­seio, ou ia para a Praça Gonçalves Dias, onde ficava até oito ou nove horas.
Fazia isso soz­inho ou com alguns cole­gas. Às vezes até íamos ao Bairro de Fátima, tido como vio­lento na época, andando pé quilômet­ros, pas­sando vielas ou becos, out­ras vezes descíamos a Cam­boa, como escudo, só a farda do colé­gio.
Nada nos acon­te­cia. Não éramos molesta­dos ou impor­tu­na­dos. Saíamos de casa e voltá­va­mos quando queríamos, às vezes, só avisando, quando tín­hamos uma ficha tele­fônica, que iríamos chegar mais tarde. Já aqui em São Luís, que tinha tele­fone, no inte­rior, saíamos e voltá­va­mos só tendo o cuidado de está em casa no horário das refeições.
Lem­bro que no inte­rior, durante o dia as por­tas das casas ficavam aber­tas, a noite ape­nas encostadas com uma cadeira, o último a entrar pas­sava a chave.
Não tín­hamos a pre­ocu­pação de andar olhando em volta, com medo.
Fomos cri­a­dos assim, com essa liber­dade, con­fi­ança.
Eu ven­dia cachaça, con­haque, pitu, fumo, cig­a­r­ros, o dia inteiro, nunca tive a curiosi­dade de beber ou fumar. Out­ros vícios, nem cog­itá­va­mos da existên­cia.
Assisto o hor­ror dos nos­sos dias, com cri­anças pre­sas den­tro casa, vivendo em bol­has, sem con­seguir pegar um ônibus, sem ir numa venda, sem con­hecerem nada vida.
Fico pen­sando como foi que nos tor­namos estes tipo de sociedade, com tanta vio­lên­cia, quando cri­anças, jovens, mesmo os adul­tos ou vel­hos, não estão seguros nem den­tro de casa, tran­ca­dos.
Fico pen­sando no quanto minha infân­cia e ado­lescên­cia foram felizes ape­sar de todas as restrições físi­cas e/​ou finan­ceiras.
Cer­ta­mente já fomos pes­soas bem mel­hores.
Abdon Mar­inho é advogado.

ESTA­MOS CON­DE­NA­DOS AO ATRASO ETERNO?

Escrito por Abdon Mar­inho

ESTA­MOS CON­DE­NA­DOS AO ATRASO ETERNO?

QUANDO escrevi “O Maran­hão na Encruzil­hada do Atraso”, onde anal­isava as duas alter­na­ti­vas de can­di­dat­uras que achava mais viáveis para con­duzir o estado a par­tir de 2019, o atual gov­er­nador, Flávio Dino e a ex-​governadora Roseana Sar­ney, um amigo ligou para recla­mar do pes­simismo exposto em relação ao futuro do Maranhão.

Com efeito, as duas alter­na­ti­vas são ter­ríveis. A Era Sar­ne­y­sista e o que a Era Din­ista tem mostrado não levará o Estado do Maran­hão a lugar algum. O futuro prometido nada mais se rev­elou que uma con­tin­u­ação, mal engen­drada do pas­sado. Mais de meio século que tem assis­tido o nosso povo empo­bre­cer e o estado ficar para trás. Mais de meio século de atraso já deu. Como ser otimista?

Dois ami­gos, um que viaja con­stan­te­mente para o Ceará e outro que viaja sem­pre para o Pará, ambos de carro, mais de uma vez já me dis­seram: – Abdon, se estiveres de olhos fechado, quando cruzares a fron­teira do Maran­hão tu vais perce­ber o quanto ficamos para trás.

O que se vê e percebe de mudança na estru­tura viária é o reflexo do quanto o nosso estado tem ficado para trás em relação aos seus viz­in­hos. Ainda que aque­les enfrentem os prob­le­mas comuns de todos no Brasil, percebe-​se, clara­mente a existên­cia de um norte, um rumo para um futuro melhor.

Essa é a con­statação que faze­mos ao per­gun­tar aos maran­henses que cos­tu­mam fazer tur­ismo nos esta­dos vizinhos.

São unân­imes em dizer que não dá para com­parar, por exem­plo, For­t­aleza ou Belém e, mesmo, Teresina com São Luís, em todos os aspec­tos. Pois é quem iria imag­i­nar que os maran­henses fos­sem preferir For­t­aleza, Belém e Teresina para suas férias? É que vem ocorrendo.

Cer­ta­mente tem algo de muito errado com nossa cap­i­tal, pois temos um patrimônio histórico recon­hecido mundial­mente, temos pra­ias belís­si­mas, coisas que, teori­ca­mente, dev­e­riam atrair o tur­ismo, pelo menos. Nada. Esta­mos às moscas.

O mesmo vem acon­te­cendo o Maran­hão. Temos um estado riquís­simo em recur­sos hídri­cos (por enquanto, pois nos­sos rios estão mor­rendo à min­gua); segundo maior litoral do país; minérios diver­sos; ven­tos em abundân­cia; inverno e verão bem definidos; um vasto ter­ritório; um dos mel­hores por­tos do mundo e o que vemos no estado todo são pes­soas, entrando dia, saindo dia, esperando as esmo­las dos gov­er­nos. Como se dizia no meu inte­rior, de cara pro vento.

A con­statação que faze­mos é que nosso povo foi desacos­tu­mado do tra­balho e, por isso mesmo, está muito mais pobre. Noutras palavras fal­tou e falta gov­erno para estim­u­lar o desenvolvimento.

E pen­sar que o Maran­hão já foi grande pro­du­tor de grandes cul­turas, que mesmo os mais pobres con­seguiam sus­ten­tar seus famílias com o seu tra­balho, pois tin­ham suas roças, tin­ham seus por­cos, suas gal­in­has, seus patos, suas cabras e mesmo umas cabeças de gado para garan­tir o leite das crianças.

O Maran­hão de quarenta ou cinqüenta anos era assim. Hoje, se, de uma hora para outra cortarem o bolsa família, poucos serão os que vão escapar.

Con­heço na prática a real­i­dade antes (meu pai criou mais de dez fil­hos sem nunca ter con­hecido uma prefeitura ou órgão público, só com o seu tra­balho) e de agora (viajo o Maran­hão inteiro e o que vejo são pes­soas des­ocu­padas qual­quer que seja o dia da sem­ana, qual­quer que seja a hora do dia).

Como o estado vai, ao menos alcançar os esta­dos vizinhos?

Esse amigo me dizia: – Abdon, imag­i­nas, o Ceará, com aquela secura toda, está pro­duzindo bró­co­lis. Imag­ina, brócolis.

Via­jando pelas nos­sas pés­si­mas estradas, encon­tro os cam­in­hões car­rega­dos de fru­tas, legumes, ver­duras… todos vin­dos dos esta­dos vizinhos.

Aves­sos ao recon­hec­i­mento dos próprios erros, os adu­ladores do atual gov­erno, dirão que este atraso todo, aqui retratado, é fruto da “her­ança maldita” da Era Sarneysista.

Faz bem ao seus egos diz­erem isso. Infe­liz­mente não é ape­nas isso.

Já esta­mos fin­d­ando o ter­ceiro ano deste gov­erno, que nos prom­e­teu um novo rumo, e o que vemos é uma con­tin­u­ação, pio­rada, da oli­gar­quia anterior.

Qual é pro­posta de desen­volvi­mento que imple­men­taram nestes três anos? Nenhuma.

O Maran­hão con­tinua empobrecendo.

O gov­erno “inau­gura» a per­furação de um poço arte­siano (dar para acred­ita que inau­gu­ram poços?), em um povoado onde Judas perdeu as botas, e faz uma festa; sub­sti­tui uma “tapera» por uma escol­inha de uma ou duas salas e isso é motivo para fes­te­jar um mês.

Não estou dizendo que estas não são coisas impor­tantes, são sim, reflete o quanto o nosso povo é car­ente. Mas, tam­bém, é o reflexo do quanto o atual gov­erno é pequeno, essas coisas não eram sequer para ser inau­gu­radas, entre­tanto, gan­ham meses de pro­pa­ganda, divul­gando nossa própria miséria.

Em suma, o atual gov­erno, repito, é uma con­tin­u­ação, pio­rada, do gov­erno ante­rior, sim, pois não bas­tasse a falta de visão, obras mal feitas, envereda agora pela política de coop­tação, o velho con­hecido “toma lá, dá cá”, trazendo para o lado do gov­erno, segundo dizem, com muitos «mimos», tudo que foi lid­er­ança política nos tem­pos da gov­er­nadora Roseana Sarney.

As infor­mações que me chegam é os “sarno-​comunistas» – gostaram do neol­o­gismo? – têm pedido “alto”, quase absurdo, se os atu­ais inquili­nos dos Leões «ban­carem», «estarão feitos», se não cumprirem, voltam para o seio da amada.

Aliás, dizem que pede “alto» jus­ta­mente para, na even­tu­al­i­dade, de não cumprirem, já terem a des­culpa para voltar.

Até agora, pelo menos em ter­mos de promessa não têm pedido “desconto”. Os defeitos de ontem, são qual­i­dades ímpares, agora.

Essa escan­car­ada política de coop­tação rev­ela duas coisas, ao meu sen­tir. Primeiro, que não há difer­ença de méto­dos entre este “gov­erno novo” e o gov­erno ante­rior. Segundo, que as pesquisas intim­i­datórias do palá­cio são tão con­fiáveis quanto cédu­las de três reais. Teriam neces­si­dade de “con­vencerem» tan­tos próceres do «sar­ne­y­sismo» se estivessem “sur­fando» em índices estratos­féri­cos acima de cinquenta por cento, como rev­ela pesquisa ofi­cial mais pes­simista? A resposta, cer­ta­mente, é não.

Mas não é isso que esta­mos vendo, dia sim e no outro tam­bém, lá está o gov­er­nador, posando em Palá­cio, com alguém que foi con­ven­cido a lhe fazer juras de amor, ainda que falsas.

Até arrisco dizer que deve ter mais «sar­ne­y­sis­tas» no atual gov­erno que comu­nistas ou inte­grantes dos demais par­tidos que apoiaram a eleição do gov­er­nador. Isso é só um cálculo.

Por tudo isso, exceto pelo estilo da fran­quia comu­nista, mate­ri­al­izado no autori­tarismo, na pre­potên­cia, na refração à divergên­cia, é que digo enx­er­gar ape­nas um gov­erno de con­tinuidade com sub­sti­tu­ição: A Era Sar­ne­y­sista pela Era Din­ista, com as agra­vantes já referidas.

Aí volto ao começo deste texto. Quando este dileto amigo recla­mava de que no texto fui bas­tante pes­simista, pelo fato da eleição pare­cer definida entre os dois can­didatos mais bem posi­ciona­dos nas pesquisas, disse-​lhe: – Até aqui.

O “até aqui” tem uma sig­nificân­cia. Neste momento, se eleição fosse hoje ou amanhã, não tenho dúvi­das de que seria deci­dida entre aque­les dois.

Entre­tanto, fal­tando ainda quase um ano para o pleito e con­ver­sando muito com as pes­soas por onde passo, mesmo entre os par­tidários mais mil­i­tantes, percebo que o voto em um ou outro can­didato dar-​se mais pelo critério da exclusão.

Muitos são os que dizem: no atual gov­er­nador não voto de jeito nen­hum. out­ros que dizem: se só tiver estes dois voto no atual para o gov­erno não voltar para a Sar­ney, em que pese haver mais «sar­ne­y­sis­tas» neste que gov­erno que no da sen­hora Roseana – e cada vez chegando mais.

Assim, percebo que existe, sim, espaço para o surg­i­mento de uma ter­ceira via.

Uma can­di­datura que con­siga mostrar para a sociedade que rep­re­senta algo novo, difer­ente do maniqueísmo desta política pró e anti-​Sarney, pró e con­tra o “din­ismo”. Alguém que mostre ideias e pro­postas capazes de, efe­ti­va­mente, reti­rar o Maran­hão do atraso a que está sub­metido esses anos todos.

O Alguém que faça o papel que esperá­va­mos fosse exer­cido pelo atual gov­erno, que era virar a página do atraso e que ele não foi capaz de fazer, e, ainda, tornou-​se uma espé­cie de “cov­eiro» da esper­ança dos maran­henses que ousaram pen­sar num estado difer­ente, avançado, com plena liber­dade de pen­sa­mento e desen­volvi­mento econômico e social.

A sociedade maran­hense tem a neces­si­dade de encon­trar esse alguém capaz de fazer a rup­tura defin­i­tiva com o atraso, sem o risco de vir a tornar-​se ape­nas mais um engodo.

Acred­ito que só assim, o Maran­hão poderá pen­sar em acom­pan­har seus viz­in­hos e tornar-​se, graças a tan­tos recur­sos que pos­sui, e a seu povo, um estado próspero e desenvolvido.

A per­manecer o atual quadro não tenho motivos para qual­quer otimismo pois esta é a quadra do atraso.

Encerro dizendo que certa vez atribuíram a Sar­ney uma colo­cação emblemática. Per­gun­tado sobre por que não unir o Piauí com o Maran­hão, teria respon­dido que mel­hor jun­tar com São Paulo ou outro estado mais desen­volvido. A junção destes dois, do meio norte, só serviria para criar o “Piorão”.

Se disse ou não, eu não sei, mas, pelo andar da car­ru­agem, com o Maran­hão tão mal na fita, acho que quem não quer se unir a ele é o Piauí.

Mas podemos mudar isso e só depende de nós fazê-​lo.

Abdon Mar­inho é advogado.