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O SORVETE E A LITUR­GIA DA MENTIRA.

Escrito por Abdon Mar­inho

O SORVETE E A LITUR­GIA DA MEN­TIRA.
ALGUÉM me manda um artigo suposta­mente escrito pelo ex-​presidente José Sar­ney, inti­t­u­lado “Gov­erno Sorvete”. Come­cei a ler e, antes mesmo de ter­mi­nar, ape­sar de não ser longo, fui ao site do escritor e político certificar-​me da auto­ria.
No seu site, que divide em duas partes: o escritor e o político, está, de fato, o texto, que devo dizer não faz justiça a nen­hum dos dois, nem ao escritor mem­bro da Acad­e­mia Brasileira de Letras, nem ao político, que foi de dep­utado a Pres­i­dente da República.
O escritor pro­duziu uma ficção meio ridícula e o político um texto de uma polit­i­calha atroz que já se esper­ava super­ada nos dias atu­ais.
O ex-​presidente que já foi tudo que son­hou – e até além dos son­hos –, afi­nal, um político do inte­rior do Maran­hão que chega à presidên­cia da República, tendo antes sido dep­utado, senador, não é para qual­quer um – e ele chegou lá –, e depois ainda foi senador por mais 24 anos pelo estado do Amapá, sendo, até hoje, respeitado como um dos mais argutos políti­cos brasileiros, pode­ria se dar ao respeito de não escr­ever ou assi­nar qual­quer coisa que lhes põem as mãos.
Não que o ex-​presidente nunca tenha sido capaz de escr­ever ou até fazer coisas bem piores na luta pelo poder.
A ele, foi e é atribuída uma das mais tor­pes obras de ficção política já cri­adas no Maran­hão: a farsa da suposta morte de Reis Pacheco, cuja a auto­ria imputou, igual­mente, num artigo, ao adver­sário de então, o can­didato ao gov­erno Cafeteira, no longín­quo ano de 1994.
Aquela trama de ficção con­sis­tiu em for­jar a morte de um cidadão que tivera par­tic­i­pação – através de um aci­dente de trân­sito – na morte do con­sel­heiro Hilton Rodrigues, sogro de Cafeteira.
Como, sim­ples­mente, não daria certo dizer tal absurdo, a obra fic­cional “criou” um irmão para Reis Pacheco, um per­son­agem chamado Ana­cleto, que, através de um advo­gado do Ceará, denun­ciou que o senador da República, Cafeteira, ao Supremo Tri­bunal Fed­eral — STF, como man­dante da suposta morte do irmão. Quanta cria­tivi­dade e ousa­dia.
Às vésperas do pleito o autor da ficção escreve um artigo “Liber­dade e Reis Pacheco” – em deter­mi­nada pas­sagem do texto, se não me falha a memória, chega a dizer que Cafeteira, no velório do sogro, teria lhe con­fes­sado o desejo de ver morto o cau­sador do aci­dente –, atribuindo ao adver­sário a morte de Reis Pacheco.
A farsa só foi des­baratada, após inves­ti­gação ráp­ida empreen­dida pelos dep­uta­dos Juarez Medeiros e Ader­son Lago, poucos dias antes daquele pleito quando, pelas difi­cul­dades de comu­ni­cação de então e a sab­o­tagem, como falta de ener­gia em quase todo o inte­rior e mesmo falta de sinal de tele­visão no horário da pro­pa­ganda eleitoral de rádio e tele­visão, impediu que fosse reposta a ver­dade: Cafeteira nunca man­dara matar ninguém, Reis Pacheco estava “viv­inho da silva”, morando no Amapá, e o tal irmão Ana­cleto não exis­tia.
Acred­ito que quem escreve, sobre­tudo, quem tem a honra de dizer-​se escritor – e que já foi tudo que quis na vida –, tem cer­tos deveres éti­cos e o com­pro­misso indelével com a ver­dade. Aliás, como dizia o próprio ex-​presidente: tem que respeitar a litur­gia do cargo – e do encargo.
Já vivendo o seu out­ono, o ex-​presidente e escritor, dev­e­ria zelar um pouco mais por sua biografia, a fim de evi­tar que as tor­pezas prat­i­cadas na ânsia desme­dida pelo poder se sobres­saíam mais que as qual­i­dades que, acredita-​se, possa ter. Afi­nal, todos, ao menos para os seus, têm algu­mas qual­i­dades.
Ao escr­ever o texto “Gov­erno Sorvete”, talvez numa ten­ta­tiva de ironizar o atual gov­er­nador, acaba por arran­har a própria biografia.
Não se faz iro­nias ou se escreve sobre assun­tos tão sérios sem tomar por base argu­men­tos reais. A falta desse cuidado, acaba, infe­liz­mente por igualar, um escritor que já teve até a honra de pre­sidir o Brasil a um destes venais blogueiros capazes de alu­gar a pena e vender a con­sciên­cia por qual­quer tro­cado.
Emb­ora estivesse via­jando por ocasião da defla­gração da Oper­ação Pegadores (gostei demais deste apelido pela cria­tivi­dade), entendi, desde o primeiro momento, que o gov­erno estad­ual pagara por algo a uma empresa que, no pas­sado, fora uma sorvet­e­ria. Entendi assim.
A história de que estavam pagando pro­ced­i­men­tos médicos-​hospitalares a uma sorvet­e­ria ou pagando por sorvete, picolés ou casquin­has, já foi exer­cí­cio cria­tivo daque­les que se ocu­param de explo­rar o episó­dio politi­ca­mente.
Depois, os próprios gov­ernistas, apan­hados com as calças nas mãos por con­tas de suas estrip­u­lias pouco orto­doxas, acabaram usando a tal ver­são para ten­tar desmor­alizar a oper­ação poli­cial, colo­cando em dúvida todo um tra­balho real­izado por agentes poli­ci­ais, inte­grantes do Min­istério Público Fed­eral da Con­tro­lado­ria Geral da União e do Poder Judi­ciário.
Os fatos apu­ra­dos até aqui, são graves e mere­cem rig­orosos esclarec­i­men­tos por partes dos atores impli­ca­dos, temos mais de uma dezena de pes­soas pre­sas pro­vi­so­ri­a­mente, sendo exe­cra­dos pub­li­ca­mente, temos denún­cias de que os recur­sos públi­cos da saúde estavam sendo usa­dos para paga­men­tos de inúmeros apanigua­dos e que, serviam, inclu­sive, para paga­men­tos de pen­sões ali­men­tí­cias e de “Bolsa Quenga” por alguns altos dig­natários do poder. Isso é sério, muito sério, não com­porta grace­jos ou grac­in­has.
Se o texto do ex-​presidente pre­tendeu ser irônico, dev­e­ria antes de tudo, cercar-​se da ver­dade para não fazer coro aos que querem, com infor­mações fal­sas, prej­u­dicar e achin­cal­har o tra­balho, que se quer acred­i­tar seja sério e desprovido de qual­quer outra moti­vação que não seja zelo pela coisa pública e a ver­dade real.
Os fatos nar­ra­dos na inves­ti­gação são coisas bas­tante sérias, repito, não havendo lugar para iro­nias de mau gosto como a história do “sorvete de coco ou cocô” ou de que o trata­mento dos pacientes que agon­i­zam nos hos­pi­tais estad­u­ais, con­siste na dis­tribuição de picolés, casquin­has ou out­ros ingre­di­entes.
Que falta de respeito com os enfer­mos, Dr. Sar­ney.
Ao fazer iro­nias fic­cionais sem graça e gosto duvi­doso, tendo como questão de fundo infor­mações desprovi­das de ver­dade, o ex-​presidente presta um desserviço não só as inves­ti­gações mas à boa lit­er­atura maran­hense onde se destacaram nacional­mente fig­uras como Gonçalves Dias, os irmãos Azevedo, Josué Mon­telo, João Lis­boa, Fer­reira Gullar, e tan­tos out­ros.
Se ten­tou fazer graça com assunto de tamanha gravi­dade não con­seguiu mais que sor­riso amarelo e cho­cho, indigno de valer um sorvete, este, de ver­dade.
Abdon Mar­inho é advogado.

PS. O texto do ex-​presidente você ler em www​.jos​esar​ney​.org/

O PREÇO DA IMPREVIDÊNCIA.

Escrito por Abdon Mar­inho

O PREÇO DA IMPRE­V­IDÊN­CIA.
– É MEU FILHO, cabeça não pensa, corpo padece.
Assim, cer­ta­mente, falaria meu pai, com os dentes cer­ra­dos, usando sua prover­bial sabedo­ria dos apren­deram com a vida.
Os últi­mos dias não têm sido fáceis para o gov­erno comu­nista insta­l­ado Maran­hão, sobre­tudo, agora com a defla­gração da oper­ação poli­cial apel­i­dada de “pegadores” — o próprio nome já uma pil­héria de gosto duvi­doso por parte dos seus ide­al­izadores. Até fico imag­i­nando as goza­ções e ilações a propósito da mesma -, que desco­briu desvios ocor­ri­dos na pasta da saúde estad­ual, do iní­cio do gov­erno, em 2015, até os dias atu­ais, con­sistindo no enx­erto de cen­te­nas de pes­soas na folha de paga­mento, sem a dev­ida con­traprestação, ou pagando a empre­sas que tiveram que alterar se objeto com fito a aten­der, segundo a polí­cia fed­eral, inten­tos crim­i­nosos.
Emb­ora o gov­erno tenha esboçado uma reação, fica com­pli­cado eximir-​se de respon­s­abil­i­dade quando famil­iares e/​ou secretários do gov­erno — ainda que indi­re­ta­mente -, fig­u­ram como impli­ca­dos no alcance que, ainda na ótica poli­cial, “aliv­iou” os cofres públi­cos em quase vinte mil­hões de reais.
Pior mesmo é, ainda ter que jus­ti­ficar que parte dos supos­tos desvios tin­ham como obje­tivo a sat­is­fação da lascívia de autori­dades públi­cas. Escan­daloso e pro­saico, con­quis­tar uma amante, enxerta-​la na folha de paga­mento e “empurrar” a conta para o con­tribuinte caso se con­firme o que foi-​se dito até aqui pelos inves­ti­gadores.
Antes de se apon­tar qual­quer respon­s­abil­i­dade, é essen­cial que apure com o máx­imo de rigor, para aferir se tais situ­ações, como explo­rado, à exaustão, pelos adver­sários, de fato ocor­reu. Caso con­fir­mado, vamos com­bi­nar que não fica bem um gov­erno eleito pre­gando uma mudança nos cos­tumes, seja pego, lit­eral­mente, com as calças nas mãos, usando ver­bas públi­cas para o paga­mento de amantes, apanigua­dos ou, sim­ples­mente, des­viando, por artifí­cios diver­sos, ver­bas que dev­e­riam ser apli­cadas na saúde da pop­u­lação.
Só o fato da polí­cia aman­hecer na porta de órgãos públi­cos já rep­re­senta um tapa na cara dos cidadãos de bem, pagadores de impos­tos, ainda mais, quando na lista dos impli­ca­dos nos deparamos com famil­iares de ele­vadas fig­uras públi­cas na hier­ar­quia político-​administrativa do estado saber que esta pode ser só a ponta do ice­berg, é algo muito grave, gravís­simo.
Daí a neces­si­dade de apu­ração rig­orosa, até para sep­a­rar cul­pa­dos de inocentes e víti­mas. Quem são os coman­dantes do grupo, apel­i­dado pela polí­cia, de orga­ni­za­ção crim­i­nosa? A ex-​secretária-​adjunta, presa pro­vi­so­ri­a­mente, estaria no ápice da cadeia de comando? Os diri­gentes das OCIPS? Out­ros fun­cionários? Ou teríamos, tam­bém, inte­grantes da classe política? Quem, de fato, man­dou fazer, aqui­esceu ou silen­ciou diante da ban­dalha?
O próprio gov­er­nador e seus secretários dev­e­riam vir a público cobrar, das autori­dades poli­ci­ais fed­erais, esclarec­i­men­tos mais con­tun­dentes sobre os fatos noti­ci­a­dos.
Não o fazem, ao invés disso, saem por aí, em redes soci­ais difundindo e com­par­til­hando tex­tos encomen­da­dos ten­tando poli­ti­zar a inves­ti­gação com insin­u­ações de que seria armação dos adver­sários; que bas­tou o novo super­in­ten­dente da Polí­cia Fed­eral assumir (há pouquís­simo tempo, registre-​se) para que fosse des­en­cadeada a tal oper­ação, como se fosse pos­sível e não fosse ofen­sivo tal insin­u­ação a todas as autori­dades e insti­tu­ições envolvida na inves­ti­gação há meses ou anos.
Asserti­vas assim, ditas por autori­dades – e não por mil­i­tante –, leva-​nos a deduzir que, tam­bém, estes gov­er­nantes pode­riam usar a máquina estatal em perseguição a adver­sários, como tan­tos têm denun­ci­ado, sobre­tudo aque­les que já foram pre­sos e tiveram suas ima­gens expostas pub­li­ca­mente por ocasião de seus infortúnios, numa espé­cie de punição adi­cional, cujo propósito é alquebra-​los pes­soal e politi­ca­mente – se ainda tiverem pre­ten­são política –, ou “convencê-​los” a aderir ao gov­erno.
Se o gov­erno é vítima de alguma coisa – e acho difí­cil que seja –, é de suas próprias escol­has e impre­v­idên­cias, pois antes mes­mos de assumirem e logo depois que começaram a gov­ernar, por quase uma dezena de vezes, alertei-​os sobre a neces­si­dade de faz­erem pro­fun­das audi­to­rias nos diver­sos órgãos da admin­is­tração pública.
Pedi mais. Que con­tratassem audi­to­rias exter­nas para apu­rar os pos­síveis “malfeitos” de gestões ante­ri­ores e que dessem liber­dade para que os servi­dores do estado pudessem acom­pan­har e impedir pos­síveis malfeitos do atual gov­erno.
Com mais de vinte anos de exper­iên­cia na área pública, já me con­venci que ami­gos e ali­a­dos de gov­er­nantes causam mais males aos seus gov­er­nos que os adver­sários. Estes, quando atu­antes, fazem é aju­dar os gov­er­nos na pre­venção dos equívo­cos e/​ou crimes.
Autossu­fi­cientes, enten­deram não pre­cisar de ninguém e não con­trataram as audi­to­rias exter­nas e, gas­tando tempo e ener­gias em inves­ti­gações de gov­er­nos pas­sa­dos, esque­ce­ram (ou não quis­eram) apu­rar o que pas­sava no seu entorno, envol­vendo novos e vel­hos cama­radas.
As acusações tor­nadas públi­cas pela Polí­cia Fed­eral são graves e desnudam com­por­ta­men­tos incom­patíveis com tudo aquilo que se pre­gou uma vida inteira, quando, opos­i­tores apon­taram os malfeitos dos adver­sários e que no poder, teriam, incor­ri­dos nas mes­mas práti­cas.
Se hon­estos, pecaram pela impre­v­idên­cia, pela arrogân­cia de se acharem mais capazes que todos os demais,
Outra rev­e­lação das inves­ti­gações de órgãos como Polí­cia Fed­eral, MPF, CGU e out­ros, é o quão frágeis no com­bate à cor­rupção são os órgãos estad­u­ais, esque­mas, segundo dizem durando anos – apon­taram 2015, mas o gov­erno insinua que vem de antes – pas­saram e ainda devem pas­sar des­perce­bido do Tri­bunal de Con­tas do Estado e do Min­istério Público Estad­ual, órgãos que nos últi­mos anos têm se esmer­ado na apu­ração de supos­tos “malfeitos” cometi­dos por prefeitos e ex-​prefeitos munic­i­pais, rejeitando-​lhes as con­tas e pro­movendo diver­sas ações cíveis e penais.
Agora mesmo, empreen­dem rig­orosa (e nobre) cam­pan­has de com­bate ao nepo­tismo nos municí­pios, recomen­dando e até pro­pondo ações por impro­bidade con­tra os gestores ret­i­centes em demi­tir par­entes em até ter­ceiro grau (inclu­sive por afinidades) de prefeitos, vice-​prefeitos, vereadores, secretários munic­i­pais e quais­quer out­ros asses­sores e ocu­pantes de car­gos comis­sion­a­dos.
Estas e tan­tas out­ras mis­sões empreen­dem e cobram com espe­cial zelo dos gestores munic­i­pais, entre­tanto parece que não lhes chegam notí­cias de tan­tas práti­cas de nepo­tismo, ou mesmo desvios, como esta agora rev­e­lada pela polí­cia fed­eral, na esfera do gov­erno estad­ual.
Ora, se numa folha, suposta­mente, fan­tasma, revelou-​se a existên­cia de cerca de qua­tro­cen­tos con­tratos inde­v­i­dos a um custo de 18 mil­hões, quan­tos mil­hões não estão sendo alivi­a­dos dos cofres públi­cos com as nomeações inde­v­i­das pelo nepo­tismo (direto e cruzado) de cen­te­nas par­entes e ader­entes ou apanigua­dos que nada fazem, de dep­uta­dos, mag­istra­dos, con­sel­heiros, asses­sores, etc.?
O gov­erno estad­ual informa – bem depois de des­baratada a suposta orga­ni­za­ção crim­i­nosa –, que vem ten­tando desde os primeiros dias do gov­erno com­bater as práti­cas nefas­tas, suposta­mente her­dadas de gestões ante­ri­ores. O TCE e o MPE, bem que pode­riam, tam­bém, auxilia-​lo nesta mis­são.
Por fim, temos a con­vicção de que nunca é tarde demais para se inves­ti­gar, apu­rar e com­bater os “malfeitos” iner­entes ao apelo (quase) irre­sistível da cor­rupção e do din­heiro fácil.
Isso somente é pos­sível com um tra­balho árduo e diu­turno, enquanto isso, mesmo os hon­estos, pagam o preço da impre­v­idên­cia.
Abdon Mar­inho é advogado.

UMA BREVE HISTÓRIA POLÍTICA DO MARANHÃO.

Escrito por Abdon Mar­inho

UMA BREVE HISTÓRIA POLÍTICA DO MARAN­HÃO.
COMO acon­tece a cada véspera de eleição, basta que se diga um «ai» que destoe do sur­rado dis­curso anti-​Sarney para que passem a tachá-​lo como ali­ado do velho moru­bix­aba, uma chat­ice hor­ro­rosa.
Uma vez disse – e fiz a ressalva de não entrar no mérito se havia ou não cor­rupção, falta de plane­ja­mento, etc. –, que achava pos­i­tiva a ini­cia­tiva de ligar todas as sede dos municí­pios por rodovias asfal­tadas e que os hos­pi­tais que estavam fazendo era algo a aliviar o sofri­mento da pop­u­lação.
Foi um “Deus nos acuda”, dos supos­tos anti-​Sarney (a frente enten­derá o termo “suposto”), acusando-​me de haver me “ven­dido” ao grupo adver­sário, que virara um sane­y­sista. Escrevi dois tex­tos sobre isso, se não me falha a memória: “Onde Estavam?” e Sane­y­sista, Eu?”.
O leitor pode pesquisar estes tex­tos no meu site ou noutros veícu­los.
Ulti­ma­mente fiz algu­mas críti­cas ao atual gov­erno, sobre­tudo, ao estilo autocrático, que mais rev­ela frag­ili­dades e desapreços às liber­dades cidadãs, que qual­quer outra coisa. Mais uma vez, vieram com a “fres­cura» de que seria um saudoso do antigo gov­erno, um sar­ne­y­sista, roseanista, e todas estas tolices de quem pensa, mais pela bitola dos for­madores de opinião – que venderam até a alma –, do por suas próprias cabeças.
Diante disso faço uma breve ret­ro­spec­tiva da história política do Maran­hão – e da minha própria história.
Uma boa data para ini­ciar esta breve história é com a rede­moc­ra­ti­za­ção do Brasil, a par­tir de 1985. Estava me mudando para São Luís e na ilha par­tic­i­pando, na esteira das liber­dades recém con­quis­tadas, da fun­dação de grêmios estu­dan­tis, ainda nos reuníamos debaixo de árvores, por este período fun­damos o grêmio do Liceu Maran­hense, da Escola Téc­nica, do Gonçalves Dias, den­tre out­ros.
O ano de 1986 foi a eleição de gov­er­nador onde foi cos­tu­rado um grande acordão unindo a oposição agluti­nada no PMDB e o PFL, for­man­dos por egres­sos da ARENA e do PDS para eleição de Cafeteira no Maran­hão. A dis­puta para Cafeteira foi um “pas­seio» o adver­sário, o ex-​governador João Castelo, não fez nem medo.
Naquela eleição as pes­soas mais “avançadas”, eu, incluso, fomos com a pro­fes­sora Delta Mar­tins, do PT. Uma can­di­datura, como se dizia, na época, para “mar­car posição”. O “nosso» foco na ver­dade (lem­brando que eu era um menino de 15 para 16 anos) era a eleição con­sti­tu­inte, para a qual elege­mos muita gente boa como José Car­los Sabóia, Haroldo Sabóia, na esfera estad­ual, Juarez Medeiros, Con­ceição Andrade, entre out­ros.
Nas eleições de 1990, candidataram-​se João Castelo, agora apoiado por Cafeteira que saíra do gov­erno para ser senador da República e Edi­son Lobão do PFL, rep­re­sen­tante do grupo Sar­ney. O gov­erno, como lem­bram, estava nas mãos de João Alberto de Souza, que fora o vice de Cafeteira.
As “oposições”, enten­diam que a dis­puta Castelo X Lobão era uma dis­puta «deles», e fomos com a can­di­datura, para «mar­car a posição” de Con­ceição Andrade, já no PSB, que não fez feio, sem qual­quer estru­tura par­tidária e sem recur­sos ameal­hou quase 20% (vinte por cento) dos votos, que a cap­i­tal­i­zou para ser a prefeita da cap­i­tal dois anos depois.
A primeira eleição com chances reais de vitória da oposição con­tra o grupo Sar­ney deu-​se, efe­ti­va­mente, 1994, e com a can­di­datura do ex-​governador Cafeteira, que só seria – e foi can­didato –, com o apoio das «oposições». Era isso que apon­tavam as pesquisas de opinião qual­i­ta­ti­vas. O PSB, com Con­ceição Andrade, então prefeita da cap­i­tal, toparam apos­tar no pro­jeto indi­cando o dep­utado estad­ual Juarez Medeiros como can­didato a vice-​governador.
Ape­sar do não apoio do ex-​prefeito Jack­son Lago (que teve no primeiro turno da eleição eleição quase o mesmo per­centual de Con­ceição Andrade qua­tro anos antes), Cafeteira gan­hou aquela tumul­tuada eleição de 1994. Gan­hou, mas não levou.
Naquela eleição, atuei – pelo menos durante o primeiro turno como um dos três coor­de­nadores da cam­panha de Cafeteira, os políti­cos mes­mos, talvez, por não acred­i­tar, estavam todos cuidando de suas próprias cam­pan­has pro­por­cionais e, tam­bém, porque não tín­hamos pes­soal.
Era uma cam­panha – a mel­hor palavra –, amadora, basta dizer que eram coor­de­nada por três pes­soas e o estú­dio de gravação da pro­pa­ganda de rádio e tele­visão era na casa do can­didato no Sítio Leal, o “pro­du­tor”, pode se dizer, era Ader­son Neto, filho do dep­utado Ader­son Lago, que, acred­ito, não tinha mais de quinze anos e que saía do Colé­gio Batista, no João Paulo, e lá ia pro­duzir os pro­gra­mas de tele­visão de uma can­di­datura a gov­er­nador, com duas câmeras, uma com defeitos mais que visíveis.
E, ainda assim, lev­a­mos a eleição para o segundo turno – e gan­hamos.
Mas isso são águas pas­sadas, o que desejo abor­dar aqui é a questão do mito anti-​Sarney de muitos que se ocu­pam em patrul­har as opiniões alheias no que­sito coerên­cia política.
Como coor­de­nador da cam­panha de Cafeteira, certo dia fui a grá­fica ver­i­ficar um mate­r­ial. Isso ainda no primeiro turno. Lá um dos dire­tores me chamou para mostrar sua última encomenda: mate­r­ial do can­didato do PCdoB con­junto com a Branca.
A própria can­di­data do grupo Sar­ney, Roseana em dobrad­inha com o rep­re­sen­tante do comu­nismo maran­hense, Mar­cos Kowar­ick (acho que é assim que se escreve).
Qual não foi minha sur­presa, até então, emb­ora não apoiassem a can­di­datura de Cafe­te­ria, esperava-​se que apoiassem a can­di­datura do Jack­son Lago.
Nos fins de tarde sem­pre pas­sava algum jor­nal­ista ou radi­al­ista pelo comitê, assim, acabaram sabendo e expondo pub­li­ca­mente o arranjo sarno/​comunista para os eleitores maran­henses.
Não se sabe se foi isso ou ape­nas a falta de votos que lhe cus­tou a sua eleição.
O con­strang­i­mento dos comu­nistas durou pouco tempo. Roseana Sar­ney eleita, pouco tempo depois estavam “cavando” suas posições den­tro do gov­erno da Branca, onde ficaram até o final de seu segundo gov­erno em 2002.
Isso ofi­cial­mente, pois muitos inte­grantes do par­tido nunca largaram as «boquin­has», pas­saram pelo gov­erno de Roseana, José Reinaldo, Jack­son Lago e Roseana Sar­ney, nova­mente.
Não deixa de ser curioso que hoje muitos destes ten­tem, a todo custo, rotu­lar os out­ros como sane­y­sis­tas, roseanistas, etc.
Como sabe­mos, em 1994, elegeu-​se, na esfera fed­eral, Fer­nando Hen­rique Car­doso, reeleito em 1998 – assim como Roseana que elegeu-​se sem “sair de casa”, na dis­puta que teve nova­mente con­tra Cafeteira, agora apoiado por todos que diziam que ele não prestava em 1994 –, mais que seu par­tido, o PSDB, os Sar­ney eram os ver­dadeiros rep­re­sen­tantes do gov­erno fed­eral no Maran­hão.
Esta situ­ação durou todo o gov­erno de FHC, só havendo um breve hiato quando o sonho de Roseana chegar a presidên­cia da República foi abatido na esteira da “Oper­ação Lunus”, e as mil­hares de notas de reais encon­tradas no escritório da empresa da família foram expostas em rede nacional, para as quais deram no mín­imo sete ver­sões.
Emb­ora “machu­ca­dos» pois que­riam muito mais, tiveram a des­culpa per­feita para se mudarem de malas e cuias para o pro­jeto de gov­erno petista de Lula.
Pois é, foge a nar­ra­tiva dos que se dizem anti-​Sarney a par­tic­i­pação no con­sór­cio que dirigiu o Brasil de 2003 até 2016. Petis­tas e comu­nistas sem­pre foram ali­a­dos no plano nacional, do tipo de não aceitar qual­quer crítica aos gov­er­nos de Lula e Dilma. Estranho que nunca sen­ti­ram qual­quer con­strang­i­mento em saber que o Sar­ney e asse­clas estiveram na linha de frente, ombrea­dos com eles na defesa dos qua­tro gov­er­nos petis­tas.
Quando Lula prin­ci­p­iou cair em 2005 na esteira do escân­dalo do “Men­salão”, que acabou levando, tem­pos depois, parte da cúpula do PT a serem hos­pedes do sis­tema carcerário nacional, lá estava Sar­ney defend­endo Lula, do mesmo modo quando Sar­ney esteve em apuros dev­ido aos “malfeitos” no Senado da República, lá estava o Lula defend­endo o Sar­ney.
A sim­biose chegou a ponto de tran­scen­der a matéria, Lula, comandante-​mor do petismo cun­hou que o Sar­ney seria o seu “irmão de alma” e mais, que seria um cidadão “difer­en­ci­ado”, isso sig­nif­i­cando dizer, fora do alcance da lei.
Em resumo, durante os gov­er­nos de Lula e Dilma, os Sar­ney, os petis­tas, os comu­nistas, e tan­tos out­ros críti­cos, estiveram juntin­hos, usufruindo das benesses do poder. Nunca vi nen­hum, dos fazem o dis­curso do anti-​Sarney no Maran­hão, recla­mar da pre­sença e influên­cia do próprio junto aque­les gov­er­nos ou a renun­cia­rem suas «boquin­has» na máquina pública.
Não lem­bro, tam­bém, de quais­quer protestos, mais enfáti­cos, quando unidos, Sarney-​Lula, não medi­ram esforços para reti­rar o Jack­son Lago do poder estad­ual con­quis­tado nas eleições de 2006, graças à dis­sidên­cia prov­i­den­cial do ex-​governador José Reinaldo.
Em 2010, no plano fed­eral, coroaram a aliança com o Par­tido dos Tra­bal­hadores – PT, cedendo a vice-​presidência ao PMDB, através de Michel Temer (o que repetiu em 2014), na chapa Dilma/​Temer. Não vi nen­hum petista ou comu­nista maran­hense se esgoe­lando ou mor­rendo con­tra a aliança, pelo con­trário, estavam lá pedindo votos para a chapa.
Quando algum me cobra que fale do gov­erno Temer que, recon­heço, é uma des­graça, cos­tumo dizer: – Michel Temer e PMDB são coisas do PT.
Aqui, no Maran­hão, o PT acabou foi col­i­gando com o próprio Sar­ney, na chapa da sen­hora Roseana, não se con­strangendo em repe­tir a façanha e apoiar o notório Edinho Lobão ao gov­erno em 2014, agora con­tra o can­didato comu­nista, Flávio Dino, feito politico por José Reinaldo Tavares, quando ainda era juiz fed­eral, em 2006.
Pois é, meus ami­gos, essa turma fica imbuída do propósito de “patrul­har» qual­quer um que não reza pela car­tilha ofi­cial, sem olhar para o próprio pas­sado, para a própria história e, até mesmo, fin­gindo igno­rar o pre­sente.
Agora mesmo, o que se sabe é de uma parce­ria, mais que van­ta­josa, entre o atual gov­erno e o grupo do senador Lobão, mais sar­ne­y­sista que o próprio Sar­ney, na explo­ração do sis­tema Difu­sora de comu­ni­cação, parce­ria esta inter­me­di­ada pelo pres­i­dente do PDT, o dep­utado Wew­er­ton Rocha, de todos con­hecido; o que se sabe, é que aque­les que acusaram (e acusam) o PMDB de golpista, por conta do impeach­ment da sen­hora Dilma Rouss­eff, estão cos­tu­rando uma nova aliança PT/​PMDB em diver­sos esta­dos, quiça não alcance o plano fed­eral, onde estarão, todos jun­tos, no propósito de destruir, mais ainda, o Brasil.
Fal­tam a estes valentes que, abo­le­ta­dos no poder, se ocu­pam de patrul­har os out­ros, con­sistên­cia e coerên­cia de ideias. Na ver­dade, sem­pre lhes valeu o poder pelo poder, a busca pela boquinha, pelos negó­cios, mes­mos os mais mesquin­hos.
Não lem­bro de vê-​los, nestes anos todos, colo­carem os inter­esses do Maran­hão à frente dos seus próprios inter­esses. Nen­hum deles.
Não sem ver­gonha, con­fesso que votei no sen­hor Lula em 2002, mas, tão logo pressenti o engodo que seria o seu gov­erno, perce­bido logo nos primeiros dias de 2003, me afastei e pas­sei a criticá-​lo, mesmo quando – enquanto lançava os os fun­da­men­tos para destruir o país –, sua pop­u­lar­i­dade e aceitação pas­savam dos 80% (oitenta por cento), mantive-​me firme nas min­has posições, pois, con­tra todos, sabia que era um castelo de car­tas prestes a ruir.
Já são mais de trinta anos vivendo a história do Maran­hão, con­hecendo e sabendo onde estavam cada um dos per­son­agens. São frag­men­tos da história que vivi. E a vivi longe das som­bras dos palá­cios. Com a inde­pendên­cia para dizer o que penso só pro­por­cionada pela liber­dade dos nunca se escon­deram do tra­balho árduo.
Abdon Mar­inho é advogado.

Nota de rodapé: Não faço qual­quer juízo de valor. Qual­quer um sabe onde se sen­tia bem e a causa que defende, ape­nas reponho parte da história (que vivi) para ten­tar inibir cer­tas hipocrisias.