UMA BREVE HISTÓRIA POLÍTICA DO MARANHÃO.
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- Criado: Quarta, 15 Novembro 2017 20:23
- Escrito por Abdon Marinho
UMA BREVE HISTÓRIA POLÍTICA DO MARANHÃO.
COMO acontece a cada véspera de eleição, basta que se diga um «ai» que destoe do surrado discurso anti-Sarney para que passem a tachá-lo como aliado do velho morubixaba, uma chatice horrorosa.
Uma vez disse – e fiz a ressalva de não entrar no mérito se havia ou não corrupção, falta de planejamento, etc. –, que achava positiva a iniciativa de ligar todas as sede dos municípios por rodovias asfaltadas e que os hospitais que estavam fazendo era algo a aliviar o sofrimento da população.
Foi um “Deus nos acuda”, dos supostos anti-Sarney (a frente entenderá o termo “suposto”), acusando-me de haver me “vendido” ao grupo adversário, que virara um saneysista. Escrevi dois textos sobre isso, se não me falha a memória: “Onde Estavam?” e Saneysista, Eu?”.
O leitor pode pesquisar estes textos no meu site ou noutros veículos.
Ultimamente fiz algumas críticas ao atual governo, sobretudo, ao estilo autocrático, que mais revela fragilidades e desapreços às liberdades cidadãs, que qualquer outra coisa. Mais uma vez, vieram com a “frescura» de que seria um saudoso do antigo governo, um sarneysista, roseanista, e todas estas tolices de quem pensa, mais pela bitola dos formadores de opinião – que venderam até a alma –, do por suas próprias cabeças.
Diante disso faço uma breve retrospectiva da história política do Maranhão – e da minha própria história.
Uma boa data para iniciar esta breve história é com a redemocratização do Brasil, a partir de 1985. Estava me mudando para São Luís e na ilha participando, na esteira das liberdades recém conquistadas, da fundação de grêmios estudantis, ainda nos reuníamos debaixo de árvores, por este período fundamos o grêmio do Liceu Maranhense, da Escola Técnica, do Gonçalves Dias, dentre outros.
O ano de 1986 foi a eleição de governador onde foi costurado um grande acordão unindo a oposição aglutinada no PMDB e o PFL, formandos por egressos da ARENA e do PDS para eleição de Cafeteira no Maranhão. A disputa para Cafeteira foi um “passeio» o adversário, o ex-governador João Castelo, não fez nem medo.
Naquela eleição as pessoas mais “avançadas”, eu, incluso, fomos com a professora Delta Martins, do PT. Uma candidatura, como se dizia, na época, para “marcar posição”. O “nosso» foco na verdade (lembrando que eu era um menino de 15 para 16 anos) era a eleição constituinte, para a qual elegemos muita gente boa como José Carlos Sabóia, Haroldo Sabóia, na esfera estadual, Juarez Medeiros, Conceição Andrade, entre outros.
Nas eleições de 1990, candidataram-se João Castelo, agora apoiado por Cafeteira que saíra do governo para ser senador da República e Edison Lobão do PFL, representante do grupo Sarney. O governo, como lembram, estava nas mãos de João Alberto de Souza, que fora o vice de Cafeteira.
As “oposições”, entendiam que a disputa Castelo X Lobão era uma disputa «deles», e fomos com a candidatura, para «marcar a posição” de Conceição Andrade, já no PSB, que não fez feio, sem qualquer estrutura partidária e sem recursos amealhou quase 20% (vinte por cento) dos votos, que a capitalizou para ser a prefeita da capital dois anos depois.
A primeira eleição com chances reais de vitória da oposição contra o grupo Sarney deu-se, efetivamente, 1994, e com a candidatura do ex-governador Cafeteira, que só seria – e foi candidato –, com o apoio das «oposições». Era isso que apontavam as pesquisas de opinião qualitativas. O PSB, com Conceição Andrade, então prefeita da capital, toparam apostar no projeto indicando o deputado estadual Juarez Medeiros como candidato a vice-governador.
Apesar do não apoio do ex-prefeito Jackson Lago (que teve no primeiro turno da eleição eleição quase o mesmo percentual de Conceição Andrade quatro anos antes), Cafeteira ganhou aquela tumultuada eleição de 1994. Ganhou, mas não levou.
Naquela eleição, atuei – pelo menos durante o primeiro turno como um dos três coordenadores da campanha de Cafeteira, os políticos mesmos, talvez, por não acreditar, estavam todos cuidando de suas próprias campanhas proporcionais e, também, porque não tínhamos pessoal.
Era uma campanha – a melhor palavra –, amadora, basta dizer que eram coordenada por três pessoas e o estúdio de gravação da propaganda de rádio e televisão era na casa do candidato no Sítio Leal, o “produtor”, pode se dizer, era Aderson Neto, filho do deputado Aderson Lago, que, acredito, não tinha mais de quinze anos e que saía do Colégio Batista, no João Paulo, e lá ia produzir os programas de televisão de uma candidatura a governador, com duas câmeras, uma com defeitos mais que visíveis.
E, ainda assim, levamos a eleição para o segundo turno – e ganhamos.
Mas isso são águas passadas, o que desejo abordar aqui é a questão do mito anti-Sarney de muitos que se ocupam em patrulhar as opiniões alheias no quesito coerência política.
Como coordenador da campanha de Cafeteira, certo dia fui a gráfica verificar um material. Isso ainda no primeiro turno. Lá um dos diretores me chamou para mostrar sua última encomenda: material do candidato do PCdoB conjunto com a Branca.
A própria candidata do grupo Sarney, Roseana em dobradinha com o representante do comunismo maranhense, Marcos Kowarick (acho que é assim que se escreve).
Qual não foi minha surpresa, até então, embora não apoiassem a candidatura de Cafeteria, esperava-se que apoiassem a candidatura do Jackson Lago.
Nos fins de tarde sempre passava algum jornalista ou radialista pelo comitê, assim, acabaram sabendo e expondo publicamente o arranjo sarno/comunista para os eleitores maranhenses.
Não se sabe se foi isso ou apenas a falta de votos que lhe custou a sua eleição.
O constrangimento dos comunistas durou pouco tempo. Roseana Sarney eleita, pouco tempo depois estavam “cavando” suas posições dentro do governo da Branca, onde ficaram até o final de seu segundo governo em 2002.
Isso oficialmente, pois muitos integrantes do partido nunca largaram as «boquinhas», passaram pelo governo de Roseana, José Reinaldo, Jackson Lago e Roseana Sarney, novamente.
Não deixa de ser curioso que hoje muitos destes tentem, a todo custo, rotular os outros como saneysistas, roseanistas, etc.
Como sabemos, em 1994, elegeu-se, na esfera federal, Fernando Henrique Cardoso, reeleito em 1998 – assim como Roseana que elegeu-se sem “sair de casa”, na disputa que teve novamente contra Cafeteira, agora apoiado por todos que diziam que ele não prestava em 1994 –, mais que seu partido, o PSDB, os Sarney eram os verdadeiros representantes do governo federal no Maranhão.
Esta situação durou todo o governo de FHC, só havendo um breve hiato quando o sonho de Roseana chegar a presidência da República foi abatido na esteira da “Operação Lunus”, e as milhares de notas de reais encontradas no escritório da empresa da família foram expostas em rede nacional, para as quais deram no mínimo sete versões.
Embora “machucados» pois queriam muito mais, tiveram a desculpa perfeita para se mudarem de malas e cuias para o projeto de governo petista de Lula.
Pois é, foge a narrativa dos que se dizem anti-Sarney a participação no consórcio que dirigiu o Brasil de 2003 até 2016. Petistas e comunistas sempre foram aliados no plano nacional, do tipo de não aceitar qualquer crítica aos governos de Lula e Dilma. Estranho que nunca sentiram qualquer constrangimento em saber que o Sarney e asseclas estiveram na linha de frente, ombreados com eles na defesa dos quatro governos petistas.
Quando Lula principiou cair em 2005 na esteira do escândalo do “Mensalão”, que acabou levando, tempos depois, parte da cúpula do PT a serem hospedes do sistema carcerário nacional, lá estava Sarney defendendo Lula, do mesmo modo quando Sarney esteve em apuros devido aos “malfeitos” no Senado da República, lá estava o Lula defendendo o Sarney.
A simbiose chegou a ponto de transcender a matéria, Lula, comandante-mor do petismo cunhou que o Sarney seria o seu “irmão de alma” e mais, que seria um cidadão “diferenciado”, isso significando dizer, fora do alcance da lei.
Em resumo, durante os governos de Lula e Dilma, os Sarney, os petistas, os comunistas, e tantos outros críticos, estiveram juntinhos, usufruindo das benesses do poder. Nunca vi nenhum, dos fazem o discurso do anti-Sarney no Maranhão, reclamar da presença e influência do próprio junto aqueles governos ou a renunciarem suas «boquinhas» na máquina pública.
Não lembro, também, de quaisquer protestos, mais enfáticos, quando unidos, Sarney-Lula, não mediram esforços para retirar o Jackson Lago do poder estadual conquistado nas eleições de 2006, graças à dissidência providencial do ex-governador José Reinaldo.
Em 2010, no plano federal, coroaram a aliança com o Partido dos Trabalhadores – PT, cedendo a vice-presidência ao PMDB, através de Michel Temer (o que repetiu em 2014), na chapa Dilma/Temer. Não vi nenhum petista ou comunista maranhense se esgoelando ou morrendo contra a aliança, pelo contrário, estavam lá pedindo votos para a chapa.
Quando algum me cobra que fale do governo Temer que, reconheço, é uma desgraça, costumo dizer: – Michel Temer e PMDB são coisas do PT.
Aqui, no Maranhão, o PT acabou foi coligando com o próprio Sarney, na chapa da senhora Roseana, não se constrangendo em repetir a façanha e apoiar o notório Edinho Lobão ao governo em 2014, agora contra o candidato comunista, Flávio Dino, feito politico por José Reinaldo Tavares, quando ainda era juiz federal, em 2006.
Pois é, meus amigos, essa turma fica imbuída do propósito de “patrulhar» qualquer um que não reza pela cartilha oficial, sem olhar para o próprio passado, para a própria história e, até mesmo, fingindo ignorar o presente.
Agora mesmo, o que se sabe é de uma parceria, mais que vantajosa, entre o atual governo e o grupo do senador Lobão, mais sarneysista que o próprio Sarney, na exploração do sistema Difusora de comunicação, parceria esta intermediada pelo presidente do PDT, o deputado Wewerton Rocha, de todos conhecido; o que se sabe, é que aqueles que acusaram (e acusam) o PMDB de golpista, por conta do impeachment da senhora Dilma Rousseff, estão costurando uma nova aliança PT/PMDB em diversos estados, quiça não alcance o plano federal, onde estarão, todos juntos, no propósito de destruir, mais ainda, o Brasil.
Faltam a estes valentes que, aboletados no poder, se ocupam de patrulhar os outros, consistência e coerência de ideias. Na verdade, sempre lhes valeu o poder pelo poder, a busca pela boquinha, pelos negócios, mesmos os mais mesquinhos.
Não lembro de vê-los, nestes anos todos, colocarem os interesses do Maranhão à frente dos seus próprios interesses. Nenhum deles.
Não sem vergonha, confesso que votei no senhor Lula em 2002, mas, tão logo pressenti o engodo que seria o seu governo, percebido logo nos primeiros dias de 2003, me afastei e passei a criticá-lo, mesmo quando – enquanto lançava os os fundamentos para destruir o país –, sua popularidade e aceitação passavam dos 80% (oitenta por cento), mantive-me firme nas minhas posições, pois, contra todos, sabia que era um castelo de cartas prestes a ruir.
Já são mais de trinta anos vivendo a história do Maranhão, conhecendo e sabendo onde estavam cada um dos personagens. São fragmentos da história que vivi. E a vivi longe das sombras dos palácios. Com a independência para dizer o que penso só proporcionada pela liberdade dos nunca se esconderam do trabalho árduo.
Abdon Marinho é advogado.
Nota de rodapé: Não faço qualquer juízo de valor. Qualquer um sabe onde se sentia bem e a causa que defende, apenas reponho parte da história (que vivi) para tentar inibir certas hipocrisias.