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DOIS IDOSOS, DUAS JUSTIÇAS.

Escrito por Abdon Mar­inho

DOIS IDOSOS, DUAS JUSTIÇAS.
QUIS o capri­choso des­tino que, quase simul­tane­a­mente, tivésse­mos o des­fe­cho de dois casos emblemáti­cos um no Brasil e outro nos Esta­dos Unidos, ambos envol­vendo brasileiros anciãos.
No primeiro caso o min­istro Edson Fachin deter­mi­nou o cumpri­mento da pena a que fora con­de­nado o dep­utado fed­eral Paulo Maluf.
No segundo caso a juíza fed­eral amer­i­cana, Pamela Chen, man­dou para a cadeia o car­tola, ex-​presidente da Con­fed­er­ação Brasileira de Fute­bol — CBF, José Maria Marin.
Em comum, o fato de serem idosos, ambos com cerca de 86 anos, e estarem envolvi­dos com escân­da­los de cor­rupção desde muito tempo.
O fato de ambos terem sido pre­sos com difer­ença de pou­cas horas nos pos­si­bilita traçar um para­lelo sobre a situ­ação deles.
O dep­utado Maluf é, talvez, o mais notório cor­rupto brasileiro, desde os tem­pos da ditadura já se ouvia falar dos “malfeitos” por ele prat­i­ca­dos.
Em mea­dos dos anos oitenta, a fama já era tanta que seu nome virou verbo: o verbo “mal­u­far”, como sinôn­imo de cor­rupção e ban­dal­heira. A “gen­tileza” lhe foi con­ce­dida pelo desafeto, não menos notório em malfeitos, Antônio Car­los Mag­a­l­hães, que, enquanto vivo, foi uma espé­cie de vice-​rei da Bahia.
O dep­utado Maluf desde sem­pre – e já se vão mais cinquenta anos de uma car­reira repleta de estrip­u­lias –, investiu em grandes ban­cas de advo­ga­dos e assim tem driblado a Justiça brasileira, levando a maio­ria das imputações que sofreu à pre­scrição enquanto ia/​vai usufruindo o pro­duto do alcance, lépido e fagueiro.
Um breve con­tratempo com a Justiça francesa, no pas­sado, não foi motivo para corrigir-​lhe o caráter, logo estava na pátria-​mãe gen­til gozando das “imu­nidades” par­la­mentares enquanto dili­gentes e com­pe­tentes advo­ga­dos, usando de todos os artifí­cios da lei, o man­tinha a salvo do encon­tro com a prestação de con­tas com a Justiça.
Neste meio tempo, pelas redes soci­ais, ainda tirava sarro dos infortúnios de out­ros políti­cos pegos nos escân­da­los do men­salão, petrolão, e out­ros – o que não falta por aqui é escân­da­los com gente impor­tante envolvida.
Negar, negar e negar enquanto os advo­ga­dos “gan­havam” tempo sem foi uma espé­cie de mantra.
A certeza da impunidade o fez mais afoito. A ponto de sug­erir que os seus deli­tos fos­sem jul­g­amos por tri­bunais de peque­nas causas, tendo em vista que o alcance dos out­ros seriam infini­ta­mente maiores que os seus.
A demora gera a audá­cia.
Mesmo o processo que o levou à Papuda (não se sabe por quanto tempo) se arrasta há mais de 20 anos pelos escan­in­hos dos tri­bunais nacionais. E, sua prisão, depois de tan­tos anos e estrip­u­lias, é vista como algo extra­ordinário, algo fol­clórico.
Isso, ape­sar dos males cau­sa­dos. Só neste processo (pelo que li, não sei se está certo) fala-​se em desvios da ordem de 800 mil­hões (de dólares) e cor­re­sponde ao período em que foi prefeito, entre 1993 e 1996.
O encar­ce­ra­mento, agora, depois de tanto tempo em que as pes­soas nem se lem­bram mais do que se trata, chega até a causar uma certa “piedade”, ainda mais com o “artista” fingindo-​se mais alque­brado do que ver­dadeira­mente estar.
O car­tola Marin é outro que desde sem­pre encontra-​se envolvido com a ban­dalha e enri­cou fazendo todo tipo de nego­ci­ata em torno da paixão nacional: o fute­bol.
Em todos estes anos nunca foi molestado pelas autori­dades brasileiras, ainda quando se sabia dos seus malfeitos.
Mesmo, agora, já con­de­nado pela Justiça amer­i­cana não se sabe de qual­quer pro­ced­i­mento nas ter­ras brasileiras con­tra ele e con­tra os demais car­to­las nacionais.
Por isso mesmo estão todos por aqui, livres, leves e soltos, o sen­hor Teix­eira, o sen­hor Del Nero e tan­tos out­ros, enfrentam o único incon­ve­niente de não poderem “pisar” fora do Brasil.
Pois bem, o sen­hor Marin caiu em des­graça em mea­dos de 2015, quando foi apan­hado por uma inves­ti­gação inter­na­cional enquanto des­fru­tava de todo con­forto que o din­heiro pode com­prar num hotel da Suíça e lev­ado aos Esta­dos Unidos.
Após a depor­tação e já em ter­ras amer­i­canas, foi lev­ado a pre­sença de uma Corte de Nova Iorque que arbi­trou uma gorda fiança para que pudesse respon­der ao processo em prisão domi­cil­iar. Tendo pago a fiança ficou num dos mel­hores endereços daquela cidade até a decisão da Justiça o que ocor­reu pouco mais de dois anos após a prisão.
O sen­hor Marin, entrou, na última sem­ana na Corte acom­pan­hado por seus advo­ga­dos, e estes saíram de lá soz­in­hos, prom­e­tendo recur­sos e ape­los, para, ao menos, poder con­tin­uar em prisão domi­cil­iar enquanto aguarda os recur­sos.
A decisão da juíza, que sequer esta­b­ele­ceu o tamanho da pena, mas que pode chegar a vinte anos, é para que comece o cumpri­mento da pena ime­di­ata­mente, numa prisão fed­eral, ainda que não se saiba nem o tamanho dela. Não lhe deu nem a chance de ir fazer mala, já saiu da Corte para a prisão.
Os cidadãos Paulo Maluf e José Marin, um em Brasília e outro em Nova Iorque, ambos con­de­na­dos, dormi­ram na prisão. Um depois de vinte anos “arra­s­tando” processo e após infini­tos recur­sos, jus­tos, injus­tos ou pro­te­latórios, o outro depois de pouco mais de dois anos, após o tri­bunal decidir pela sua cul­pa­bil­i­dade em seis das sete acusações que sofr­era, sem recur­sos, sem ape­los e mesmo sem pena definida.
Dois idosos, duas justiças, crimes diver­sos.
Qual Justiça estará certa?
Abdon Mar­inho é advogado.

A HUMIL­HAÇÃO POR RECOMPENSA.

Escrito por Abdon Mar­inho

A HUMIL­HAÇÃO POR RECOMPENSA.

NOS ANOS em que acom­panho a política maran­hense – e já se vão mais de trinta, segu­ra­mente –, não me recordo de ter visto uma lid­er­ança política ser tão “mal­tratada” (o termo cor­reto seria humil­hada) por seus “ali­a­dos” quanto vem sendo o ex-​governador José Reinaldo Tavares pelos atu­ais inquili­nos do poder no Maran­hão. Logo ele, a quem devem tanto.
E não é de hoje. Desde o iní­cio da gestão comu­nista, em 2015, que é assim.
Lem­bro que diante de implacáveis e injus­tos ataques que vinha sofrendo escrevi um texto em tom de apelo: “Respeitem o Zé!”. Ao que parece de pouco, ou nada, valeram os ape­los, e os ataques, inclu­sive, com agressões ver­bais, con­tin­uaram.
Alguém tem dúvi­das de onde saíram os apu­pos con­tra o ex-​governador, recen­te­mente, no aero­porto de São Luís? Não, meus sen­hores, não foram espon­tâ­neos, não foi man­i­fes­tação social. Aquilo foi coisa de “ali­ado”, o famoso “fogo amigo”. Decorre da ideia de enfraque­cer a can­di­datura dele ao Senado da República.
O mais chocante de tudo é ver o próprio gov­er­nador fazendo coro à estraté­gia de “descon­struir” aquele que o “con­struiu” politi­ca­mente, dando muito mais força ao achin­calhe e humil­hações a qual não dev­e­ria ser sub­metido ninguém, muito menos a um ali­ado de primeira hora.
No caso dele, aliás, de bem antes da primeira hora, pois sem a inter­venção de José Reinaldo, então gov­er­nador, forte junto à classe política, nen­hum dos que hoje o mal­trata estariam onde estão.
Pois é, mas o gov­er­nador se presta ao papel de “ingrato”. Primeiro, lançando, quase um ano antes do pleito, o seu “favorito”, o número um, no caso, o dep­utado fed­eral Wev­er­ton Rocha.
Só isso, a ati­tude de erguer o braço do preferido na con­venção no começo do mês de fes­tas, já era uma amostra da “humil­hação” ao ex-​governador. O sinal à mil­itân­cia, aos ali­a­dos, aos cor­re­li­gionários, um só: minha primeira opção é essa aqui. O que foi dito tex­tual­mente, com pompa e cir­cun­stân­cia.
Havia alguma neces­si­dade de fazer isso? Acaso o “preferido” fez por ele ao menos perto do que lhe fez o ex-​governador?
O engraçado (ou des­graçado) é que muitos veícu­los de comu­ni­cação – mesmo os lig­a­dos ao comu­nista –, “cobraram” a ausên­cia de Zé Reinaldo na con­venção do par­tido onde o gov­er­nador “ungiu” seu preferido.
Ora, vejam, o cidadão está, desde sem­pre, insinuando-​se como can­didato do grupo gov­ernista, e que­riam que fosse à con­venção para “homolo­gação” do “outro”. Vamos com­bi­nar que isso não faz qual­quer sen­tido, não é mesmo?
O segundo “desapreço” do gov­er­nador pelo “ali­ado” José Reinaldo, foi agora, numa entre­vista cole­tiva con­ce­dida aos jor­nal­is­tas no salão de atos do Palá­cio dos Leões.
Colho na mídia o que teria declar­ado o gov­er­nador: “— Nós temos uma pré-​candidatura ao Senado com amplo apoio do nosso campo político que é do dep­utado fed­eral Wev­er­ton Rocha […] no caso da outra can­di­datura ao Senado, isso não está tão nítido assim, porque nesse momento não há nitidez para definir quem é o favorito. Eu estou na ver­dade fazendo con­sul­tas, como fiz em 2014”.
A colo­cação do gov­er­nador deixa claro que a notí­cia divul­gada dias atrás de que teria acer­tado de lançar José Reinaldo nos próx­i­mos dias não pas­sara de uma deslavada men­tira. Se é que chegou a cog­i­tar isso na reunião com o pres­i­dente da Câmara dos Dep­uta­dos, Rodrigo Maia. Nunca pre­tendeu isso. Na ver­dade, pelo con­trário, tem ape­nas uma pré-​candidatura definida com “amplo apoio do nosso campo”. Já, a segunda, depen­de­ria de con­sul­tas.
Have­ria neces­si­dade do gov­er­nador sub­me­ter um “ali­ado” de “primeira hora” (amigo é um termo que já não cabe) como José Reinaldo, a este tipo de fala? Causar-​lhe este con­strang­i­mento? Por que não o chamou, lá atrás, e o despa­chou, deixando claro que ele jamais seria can­didato ao Senado com seu apoio? Será que pre­tende ficar “embalando-​o (assim como os out­ros) até não mais poder, enquanto seu “favorito” se for­t­alece?
Ao meu sen­tir – mas sei muito pouco de política –, o gov­er­nador e seus estrate­gis­tas agem sem submeter-​se às caute­las dos que lidam com seres humanos, com sen­ti­men­tos humanos. Não ligar para o que as pes­soas sen­tem em relação a deter­mi­nadas coisas podem trazer os maiores diss­a­bores. Falta-​lhes o “tato” político para com­preen­der. Ou, no poder, pouco ligam para isso.
Uma con­versa franca, fra­ter­nal, ainda que não acal­masse os âni­mos, cer­ta­mente traria menos insat­is­fação que esta humil­hação pública, esta vex­ação na praça.
Ao des­den­harem tanto, criam uma situ­ação que o próprio “humil­hado” teria difi­cul­dades de aceitar e ultra­pas­sar.
A mágoa sem­pre fica.
Quer dizer que vai con­sul­tar as bases? Que não há nitidez sobre um favorito para a segunda vaga? Só colo­car a expressão “segunda vaga” já é um desapreço.
O ex-​governador pode­ria lem­brar que não fez “con­sul­tas as bases” quando o tirou do “bolso do colete” para fazê-​lo dep­utado em 2006. Pelo con­trário, reuniu uma dúzia de ali­a­dos e não mediu dis­tân­cia para elegê-​lo.
Naquela época, ainda, pode­ria lem­brar, o atual gov­er­nador não se pre­ocupou com a col­oração ide­ológ­ica de José Reinaldo ou com quem esteve sua vida política inteira, as ideias que defendeu ou os votos que deu.
Assim como não se pre­ocupou nas demais vezes que este o apoiou para prefeito e nas duas vezes para o gov­erno.
Quer dizer agora que pre­cis­aria con­sol­i­dar o “apoio no nosso campo”? Afi­nal, que campo é este? Ao que se sabe, apoiando e sendo apoiado pelo atual gov­erno tem gente com todo tipo de col­oração, aliás, alguns, nem cabem na escala de cores pois são “furta-​cores”.
Con­fesso que não con­sigo enx­er­gar sen­tido no que estão fazendo com o ex-​governador, é muita humil­hação gra­tuita.
Como são “sabidos”, talvez se trate de alguma estraté­gia política.
Mas sou ser­tanejo. E no sertão temos uma crença de que o cachorro que teve o focinho “mijado” por gambá não serve para mais para caçar.
Acred­ito que os estrate­gis­tas que plane­jaram essa humil­hação ao ex-​governador estão com o faro político semel­hante ao cachorro que teve o focinho mijado por gambá.
Abdon Mar­inho é advogado.

SEGUNDA CARTA AO GOV­ER­NADOR FLÁVIO DINO.

Escrito por Abdon Mar­inho

SEGUNDA CARTA AO GOV­ER­NADOR FLÁVIO DINO
NUNCA É TARDE DEMAIS PARA FAZER A COISA CERTA. (Nicholas Sparks)
São José de Riba­mar, 08 de dezem­bro de 2017.

Meu caro Flávio,

Aproveito a piedade deste dia ded­i­cado a Imac­u­lada Con­ceição – a Virgem Maria, que viveu livre dos peca­dos –, para escrever-​te e faço, tam­bém, por que revendo alguns escritos, encon­trei a carta que escrevi – e publiquei –, por ocasião da tua eleição em out­ubro de 2014.
Naquela opor­tu­nidade lançava ideias sobre como pode­rias enfrentar os desafios de diri­gir um estado com prob­le­mas con­sol­i­da­dos em anos de domínio, quase inin­ter­rupto, de um único grupo político.
Infe­liz­mente, pouco ou nada foi con­sid­er­ado.
Um amigo, con­hecido pelo aguçado senso de humor, disse ao reler aquela carta – a republiquei outro dia nas min­has redes soci­ais –, que, se não lestes, cer­ta­mente seus asses­sores leram, pois trataram de fazer jus­ta­mente o con­trário do que lá fora recomen­dado, com exagero, pon­tuou: as lágri­mas de esper­anças referi­das naquela carta tornaram-​se lágri­mas de aflição.
Entendo, con­forme disse Augusto Cury: “uma pes­soa inteligente aprende com os seus erros, uma pes­soa sábia aprende com os erros dos out­ros”.
Acred­ito que a larga maio­ria dos prob­le­mas atu­ais sejam fru­tos da impre­v­idên­cia, do senso de autossu­fi­ciên­cia ou porque apren­destes pouco com os erros dos gov­er­nos ante­ri­ores e nunca teve a cor­agem de recon­hecer, no curso da cam­in­hada, os teus próprios.
Isso era pre­visível – o poder tem a capaci­dade de cegar-​nos –, por tal razão escrevi aquela carta, com o propósito de dar uma mod­esta con­tribuição ao gov­erno que iria ini­ciar. Como fiz, tam­bém, ao escr­ever diver­sos out­ros tex­tos com sug­estões e/​ou críti­cas, quase sem­pre enten­di­das pelos xerim­ba­bos de plan­tão como gestos hostis. Nunca foram. Sem­pre foram na intenção de con­tribuir.
Na ver­dade, como nunca ambi­cionei o poder, sem­pre dese­jei que os gov­er­nos “dessem certo”. O nosso povo pre­cisa. Esta a razão das críti­cas e sug­estões.
Fui além, quan­tas vezes não recomendei que fos­sem feitas audi­to­rias exter­nas para lib­erar os audi­tores do estado para o acom­pan­hamento da tua gestão? Diver­sas. Terias, de cara, sido poupado de dois prob­le­mas: as insin­u­ações de usares o aparato estatal na perseguição de adver­sários e os audi­tores do estado teriam te poupado de dares expli­cações embaraçosas sobre os desac­er­tos de tua gestão. A menos que estes sejam encar­a­dos como “questão de gov­erno”.
Aprendi ao longo dos anos que os ali­a­dos, quase sem­pre, causam mais prob­le­mas aos gov­er­nos que os adver­sários. Numa leitura livre de Vieira, no Ser­mão do Bom Ladrão, escrito em 1655, a certeza de que nem os reis alcançarão os céus sem levar con­sigo os seus ladrões, nem estes descerão aos infer­nos sem levar con­sigo os seus reis.
O teu gov­erno é um retrato deste ensi­na­mento. Ainda que digas estarem jus­ti­fi­ca­dos e sejam legais aquilo que ficou con­hecido como “aluguéis cama­radas”, sabe­mos que os mes­mos mais exis­tem para aten­derem este ou aquele ali­ado.
O mesmo se diga em relação ao nepo­tismo – prática nefasta das admin­is­trações públi­cas Brasil a fora –, tão pre­sente no atual gov­erno que os adver­sários fazem piadas ao diz­erem que ao invés de um gov­erno trans­par­ente fizestes, na ver­dade, um gov­erno de “traz par­entes”.
São cha­gas que podias pas­sar sem, como homem de for­mação jurídica sól­ida pelos anos que atu­astes como pro­fes­sor e/​ou como juiz fed­eral.
A inca­paci­dade de ouvir bons con­sel­hos gera estes diss­a­bores.
Veja o caso da saúde. Em três anos de gestão a Polí­cia Fed­eral já aman­heceu pela ter­ceira vez às por­tas do teu gov­erno. Ainda que argu­mentem, nas duas primeiras vezes, que se tratavam de “malfeitos” da gestão ante­rior, nesta última a inves­ti­gação está cen­trada na atual. E, emb­ora a PF pareça não saber a nar­ra­tiva com­pleta, exis­tem situ­ações com­pli­cadas para o con­venci­mento da sociedade, como é o caso dos paga­men­tos efe­t­u­a­dos a empre­sas cri­adas ou refor­mu­ladas com propósito de fazer gestão de pes­soal na rede hos­pi­ta­lar.
Pelas fotografias da fachada e depoi­men­tos de viz­in­hos, tem-​se a certeza do engodo.
A Isso se some o fato de que os profis­sion­ais não sabem, for­mal­mente, de quem recebe, e se as ver­bas estão sendo pagas como dev­i­das, o que ense­jará um pas­sivo tra­bal­hista inimag­inável para o Estado nos anos que virão.
Ainda nesta seara, em que pese as inau­gu­rações de novas unidades hos­pi­ta­lares, no imag­inário pop­u­lar – e já ouvi­mos isso de diver­sas pes­soas –, per­siste a ideia de que na gestão ante­rior o atendi­mento era mel­hor.
Outro ponto nevrál­gico da admin­is­tração é a segu­rança pública.
Os avanços propal­a­dos pelas diver­sas mídias não são sen­ti­dos no dia a dia dos cidadãos que sofrem com a inse­gu­rança.
Veja este exem­plo: um amigo, após muito esforço e tra­balho, con­struiu uma casa. Por ser engen­heiro, fê-​la no capri­cho, a casa dos son­hos. Não faz muitos dias teve a casa inva­dida por meliantes e, humil­hado, aban­do­nou a própria casa para viver de aluguel.
Neste bairro são comuns estas coisas, tanto que chamado de Araçagy está sendo apel­i­dado de Araçagyquistão. E como ele, temos ainda, Iraque, Faixa de Gaza…
Em diver­sos bair­ros as facções crim­i­nosas estão ditando a lei, proibindo assaltos, dizendo como os moradores devem se com­por­tar e como os veícu­los devem aden­trar nos mes­mos.
Não é só, a Polí­cia Civil, pre­cisa ser mel­hor equipada e treinada.
O que temos visto é que nem mesmo as estru­turas físi­cas estão ade­quadas ao fun­ciona­mento de suas ativi­dades, não sendo raras as inter­dições por via judi­cial de del­e­ga­cias em todo estado. Quando não são despe­jadas por falta de paga­mento dos aluguéis.
Se não pos­suem condições físi­cas para o fun­ciona­mento, não deve­mos falar em equipa­men­tos de ponta para as inves­ti­gações. Entre­tanto, diver­sas obras de con­strução de del­e­ga­cias – ini­ci­adas ainda no gov­erno ante­rior – estão par­al­isadas ou andam a pas­sos lentos, fazendo com que os poli­ci­ais fiquem impe­di­dos de prestar um bom serviço.
Esse aban­dono faz-​nos chorar de ver­gonha quando nos deparamos com gaiolões medievais como aquele que ceifou a vida de um empresário em Barra do Corda.
Noutra quadra, enquanto a pop­u­lação se ressente da ausên­cia de segu­rança, são cor­riqueiras as denún­cias de que o apar­elho estatal vem sendo usado con­tra adver­sários, inclu­sive, a polí­cia. Não foram pou­cas as denún­cias que recebe­mos sobre estes fatos durante as eleições munic­i­pais do ano pas­sado. Se ver­dadeiras, trata-​se de algo pavoroso.
Um ponto pos­i­tivo do teu gov­erno é o pro­grama “Escola Digna”, acho formidável a ini­cia­tiva de sub­sti­tu­ição das taperas ver­gonhosas por algo pare­cido com esco­las, mas, mesmo este pro­grama vem sendo mal exe­cu­tado e não tem como aten­der aos fins a que se des­tina, con­forme demon­strei a seguir.
O pro­jeto anun­cia a sub­sti­tu­ição de cerca de 300 taperas por esco­las.
Pelo que vi cada uma destas esco­las (uma pela outra) sairá por quase R$ 600 mil reais, o que rep­re­sen­tará, nos fins das con­tas, um inves­ti­mento de quase R$ 200 mil­hões de reais. Isso para elim­i­nar as cerca de 300 escol­in­has alo­jadas em taperas, latadas ou out­ras sem qual­quer estru­tura.
Uma exper­iên­cia, neste sen­tido, gas­tando infini­ta­mente menos, foi empreen­dida em Mor­ros entre os anos 2009 e 2016, pela prefeita Sil­vana Mal­heiros. Lá, a gestão elim­i­nou cerca de cem escol­in­has que fun­cionavam em taperas, casas de far­inha, casas de família e latadas, con­stru­indo 6 polos edu­ca­cionais. Cada um destes polos pos­suíam (não sei se a atual gestão está man­tendo), seis salas de aulas, refeitório, coz­inha, bib­lioteca, ban­heiros amp­los e out­ros instru­men­tos e, ainda, inter­net banda larga, para aten­der estu­dantes e a comu­nidade. Isso tudo na zona rural.
Cada um destes polos cus­tou bem menos de um mil­hão de reais (na faixa de R$ 600 mil), e foram con­struí­dos – a exceção de um –, com recur­sos próprios.
Noutras palavras, com menos de R$ 20 mil­hões, com um plane­ja­mento efe­tivo, elim­i­nar­ias a mesma quan­ti­dade de esco­las indig­nas que vens elim­i­nando, e com mais qual­i­dade de ensino.
Outra exper­iên­cia (ape­nas para citar as que con­heço) foi empreen­dida pelo Municí­pio de Timon, onde o prefeito Luciano Leitoa já ade­quou quase toda rede de ensino e creches, inclu­sive climatizando-​as.
Eu me per­gunto se não teria sido mais proveitoso se tivesses chamado espe­cial­is­tas e, junto com os gestores munic­i­pais, fizessem um pacto pela edu­cação a par­tir de exper­iên­cia exi­tosas, como as citadas.
Ainda que se investisse R$ 5 mil­hões por municí­pio – depen­de­ria da neces­si­dade de cada um –, seria mais van­ta­joso para a edu­cação a con­cen­tração em polos, teríamos um pro­jeto de ensino, de fato, e não meras sub­sti­tu­ições de escol­in­has.
Veja, emb­ora as “Esco­las Dig­nas” que estão sendo inau­gu­radas ten­ham um exce­lente impacto visual, sobre­tudo, com a com­para­ção feita com as taperas sub­sti­tuí­das e os depoi­men­tos de alunos e pro­fes­sores, elas estão longe de rep­re­sen­tar um avanço sig­ni­fica­tivo na qual­i­dade de ensino.
Infe­liz­mente, o teu gov­erno recusa-​se a qual­quer diál­ogo e com isso insiste nos erros que jurastes com­bater. Sem con­tar a já famosa intol­erân­cia à divergên­cia e perseguição aos que pen­sam de modo difer­ente, como denun­ciam, diari­a­mente, jor­nal­is­tas e blogueiros.
Outra coisa que vejo como per­tur­badora, é a leniên­cia no trato das invasões de pro­priedades pri­vadas – e mesmo para o cumpri­mento das decisões judi­ci­ais –, rela­cionadas à matéria. Trata-​se de um desserviço à orga­ni­za­ção urbana de médios e grandes cen­tros, influ­en­ciando no aumento da vio­lên­cia urbana e a demanda por serviços públi­cos nos municí­pios já tão sac­ri­fi­ca­dos finan­ceira­mente.
Será tão difí­cil assim fazer e man­ter um cadas­tro com o nome das pes­soas que pre­cisam de mora­dia? Por que não criar um cadas­tro único em parce­ria com os municí­pios? Tenho por certo que muitas pes­soas, efe­ti­va­mente, pre­cisam de mora­dia, mas muitos estão sendo usa­dos para enrique­cer os barões da indús­tria da invasão. Basta ver os que sem­pre ficam com mel­hores e mais val­oriza­dos ter­renos.
Outra coisa a mere­cer muita atenção do gov­erno é a qual­i­dade das obras públi­cas, prin­ci­pal­mente as rodovias estad­u­ais.
Não estão sendo bem feitas, sus­peito que muitas não aguentem um inverno rig­oroso. Vejo o din­heiro público, como acon­te­cia no pas­sado, se esvaindo.
E, ainda no assunto, recebo como estar­rece­dora a notí­cia de que parte destas obras de infraestru­tura estão sendo “tocadas” por con­heci­dos agio­tas do estado, ainda que por inter­postas pes­soas.
Vi a notí­cia e não acred­itei. Como é pos­sível que aque­las pes­soas – respon­sáveis por grande parte do infortúnio do estado –, este­jam coman­dando obras públi­cas? Enlouque­ce­ram?
Na ver­dade, é como se o aparato estatal estivesse dando uma “forcinha” para que “lavem” os recur­sos obti­dos com a prática de crimes, inclu­sive de homicí­dios.
A inteligên­cia não avi­sou as autori­dades que esta ou aquela empresa “per­tence” a este ou aquele agiota? Será que acham nor­mal este tipo de coisa? Será, tam­bém, “questão de gov­erno?”.
Ape­sar de nen­huma autori­dade ter apare­cido para des­men­tir este tipo de notí­cia, espero, sin­ce­ra­mente, que elas não sejam ver­dadeiras, pois, neste caso, teria de recon­hecer que este gov­erno não tem mais jeito e, que, ainda con­qui­s­tando o dire­ito de con­tin­uares à frente dos des­ti­nos Maran­hão, a degradação só ten­derá a aumen­tar.
Pode­ria descorti­nar out­ros aspec­tos da gestão, como agri­cul­tura, meio ambi­ente, etc., mas ficarei por aqui.
Acred­ito que, por tudo isso, outro dia, um jor­nal­ista escreveu que o teu gov­erno havia ter­mi­nado. O tér­mino, não no plano mate­r­ial, posto que con­tin­uas firme e forte – com chances, até, de te reelegeres –, mas como uma ideia de mudança que foi ven­dida aos maran­henses de bem.
Não temos como descon­sid­erar assertiva tão forte.
Encerro com um ensi­na­mento de Salomão: “o tolo pensa que sem­pre está certo, mas os sábios aceitam con­sel­hos”.
Se pud­eres, pensa nisso.
Um fraterno abraço,
Abdon Mar­inho.