UM VEXAME DUPLICADO NA BR 135.
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- Criado: Sábado, 13 Janeiro 2018 15:13
- Escrito por Abdon Marinho
UM VEXAME DUPLICADO NA BR 135.
Por Abdon Marinho.
ALGUÉM que, desavisado, passasse pela dita inauguração da duplicação da BR 135 – obra inacabada, mal feita, com diversos pontos já precisando de reparos, que consumiu uma fábula de recursos e que se arrastou por quase dez (frise-se: dez anos para concluírem pouco mais de vinte quilômetros) –, pensaria ter saltado para um mundo do absurdo, uma mistura de comédia pastelão com desenho animado e tantas outras coisas mais do nosso imaginário infantil.
Acredito que para o espetáculo ficar mais “animado” só faltou os contendores se atirarem, mutuamente, tortas, copos d’água, suco de groselha, etc.
Outra impressão que tive foi que “turma da zona norte”, comandada por Gordão, enfrentou a turma do Bolinha, com todos saindo escoriados.
Falando sério. Que papelão, este, das nossas autoridades, hein? Será que inauguração de obra pública comportaria aquele tipo de comportamento?
Estava em viagem ao norte do estado, por isso, só pude acompanhar a refrega dantesca pelas mensagens dos diversos grupos de WhatsApp, assim mesmo, nos lugares onde a internet chegava.
E, embora, cada qual dos meios de comunicação (com honradas exceções), elegendo seus anjos e seus demônios no episódio, pareceu-me que todos se enquadram naquela máxima: “em casa que falta pão, todos brigam e ninguém tem razão”, merecendo o destaque da falta de razoabilidade o governador Flávio Dino.
A forma como se deu vexame pareceu-me haver uma descabida orquestração para tirar proveito de uma obra que, todos sabemos, foi mal “tocada” inteiramente pelo governo federal, com pouca ou nenhuma participação do governo estadual, menos ainda da atual gestão, que, segundo dizem, fez foi tentar retirar-lhe recursos das emendas dos deputados federais para outras necessidades do estado, que, reconheça-se, são muitas.
Apesar disso, o governador achou adequado tirar uma “casquinha” e tentar se “apossar” do evento, que, pelo menos no plano teórico, nada tinha com ele.
Era um evento promovido pelo governo “golpista”, com uma agenda “maldita” e contaria com a participação de inúmeras autoridades “golpistas”, tanto de fora quanto de dentro do estado.
O governador não apenas achou oportuno como fez pior, levou uma claque formada pelos mais elevados servidores da administração pública – acredito que muitos deles deveriam estar em seus postos de trabalho dando expediente –, que de forma voluntária (ou programada), achou-se no “direito” de vaiar outras autoridades presentes no evento e, pasmem, xingá-las.
Vejam, ainda que o governador – ou qualquer outro –, tenha se sentido agravado por alguma crítica mais ácida presente em algum discurso, o mais correto ou “educado” seria deixar passar ou rebater com urbanidade e educação, mostrando que a crítica fora infundada ou injusta.
Acho que nem mais em assembleias estudantis se rebate críticas com vaias e/ou xingamentos.
Ver autoridades públicas tomarem este tipo de atitude pareceu-me um tanto quanto fora de contexto.
Se as autoridades que se comportaram de forma tão inapropriada tinham autorização do governador para aquele tipo de comportamento significa que o governo foi tomado pelo clima de “tudo posso”, incompatível, portanto, com os ideais democráticos; se não tinham, significa que desrespeitaram a autoridade do próprio governador. Este, então, na sua fala, deveria pedir desculpas e admoestá-las.
Será que alguém acha normal autoridades públicas, pagas com o dinheiro do contribuinte, se comportarem como mal-educados baderneiros? Será que o governador não se constrangeu com o comportamento dos subordinados?
Pergunto isso, porque, lá em casa, nos meus tempos de menino, quando tinha visita em casa não podíamos nem falar alto ou passar na sala.
Mas Abdon, o entrevero começou com a críticas do deputado Hildo Rocha às estradas estaduais. Bem, talvez a crítica do deputado, no momento da solenidade, tenha sido inoportuna, apesar de verdadeira. Isso justificaria o comportamento “infantil” das autoridades públicas?
As estradas “no” Maranhão são muito ruins, tanto as estaduais quanto as federais. Este é um fato. Eu, que há vinte anos as percorro e o ceguinho que faz linha Fortaleza — Belém, sabemos disso. Toda vez que o ceguinho cruza a fronteira do estado ele indaga afirmando: entramos no Maranhão?! Saímos do Maranhão?!
São estradas mal cuidadas, com sinalização deficiente, com ondulações, com buracos, com acostamento ruim ou sem nenhum acostamento e tantas outros malefícios que colocam em risco as vidas de quem precisa, por elas, trafegar.
Ora, isso vem sendo assim desde sempre. Por não ser culpa, exclusiva, do atual governo, este com maior razão, ao tentar ocultar tal verdade e atrair a cólera do senador João Alberto que o chamou de mentiroso e outros adjetivos, teria se saído melhor se na sua fala tivesse reconhecido o quanto nossas estradas deixam a desejar e conclamado a união de todos para melhorar a situação, não só das estradas federais e estaduais, como, também, a melhorar os nossos indicadores.
Há anos falo que a razão para um estado tão rico em terras férteis, água, minerais diversos, gás natural e mesmo petróleo, ocupar as piores posições em todos indicadores sociais e econômicos, é apenas uma – ou esta a principal delas –, uma classe política que não pensa além dos seus interesses e de sua sede de perpetuação no poder. Não vão além disso. O que interessa mesmo é se elegerem. O Estado? O Estado que se exploda.
O adversário pode ter a ideia mais interessante, a melhor das causas para o Estado, porém, nunca terá a chance de vê-la implantada, pois a ideia, por mais brilhante, não foi do “dono”, momentâneo, do poder. Essa é a a nossa desgraça maior.
Como vamos romper o ciclo de atraso e miséria que maltrata tanto os menos favorecidos? A resposta é uma só: não vamos romper.
Aprendi que de tudo é possível tirar lições. A lição que tiramos do espetáculo deprimente da inauguração da duplicação da BR 135, é que o Maranhão precisa, antes de mais nada, de choque civilizatório, onde as autoridades entendam o valor da boa educação e tenham vergonha de causarem ou testemunharem cenas tão deploráveis.
Pelo que vejo, parece que ainda estão longe disso.
Abdon Marinho é advogado.