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Política com solidariedade.

Escrito por Abdon Mar­inho

POLÍTICA COM SOLIDARIEDADE.

Por Abdon Marinho,

COMO SABEM, sou ser­tanejo. Mais que isso, tive uma edu­cação sertaneja.

No sertão – pelo menos era assim –, apren­demos que se deve respeitar os mais vel­hos. Sim, o respeito é dev­ido não ape­nas aos idosos, mas aos mais vel­hos que a gente.

Aprendi, tam­bém, a man­ter uma pos­tura de pro­teção àque­les que, por alguma razão estão impe­di­dos ou são frágeis, ainda que momen­tanea­mente, em relação a nós, como cri­anças, idosos, defi­cientes ou enfer­mos.

Por conta desta edu­cação “ser­taneja”, apren­dida com os pais e com os mais anti­gos da comu­nidade, estran­hei e con­tinuo a estran­har o trata­mento dis­pen­sado pelos políti­cos locais – e não ape­nas os que lhe fazem oposição –, mídia e puxa-​sacos de toda espé­cie ao atual gov­er­nador e can­didato à reeleição, Car­los Brandão, PSB.

Imag­inem que desde que o gov­er­nador ausentou-​se do estado para trata­mento de saúde – que suponho ser sério, uma vez que pela lóg­ica alguém recém-​empossado em um gov­erno de estado e com uma reeleição ren­hida pela frente, pre­cisando colo­car sua marca de gov­erno, não sai do cargo para tratar uma unha encravada ou reti­rar uns pés de gal­inha do rosto –, lhe tratam com tanto desre­speito e falta de empa­tia que inco­moda, não ape­nas aos que, como eu, tiveram uma edu­cação ser­taneja, mas a todos que se con­sid­erem cidadãos “de bem” ou que tragam algum sen­ti­mento de cri­stan­dade e solidariedade.

É bem ver­dade que todo período eleitoral é tempo de “vaca descon­hecer bez­erro”, mas, vamos con­vir, os ataques sofri­dos pelo atual man­datário estad­ual – a começar pela forma como se ref­erem a ele –, além de gros­seiros descon­hecem lim­ites entre o razoável e o desejo per­verso de reti­rar o outro, por qual­quer forma, do cam­inho.

Muito emb­ora e em uma situ­ação abso­lu­ta­mente difer­ente, uma vez que se tratava de um pres­i­dente eleito, quando da doença de Tan­credo Neves – que cul­mi­nou com o seu pas­sa­mento –, havia um sen­ti­mento de comoção, respeito e tor­cida para que tudo acabasse bem. Os mais vel­hos acom­pan­haram aquele calvário e devem lem­brar.

Na atual quadra política no Maran­hão, repito, não vemos qual­quer empa­tia ou sol­i­dariedade, seja pelo gov­er­nador, seja por seus famil­iares ou ami­gos – que sofrem junto com ele.

É como se o inter­esse eleitoral de “fazer” o can­didato de cada um vito­rioso se sobre­pusesse acima de tudo e de todos e de quais­quer sentimentos.

O gov­er­nador, entre a posse e o afas­ta­mento, deve ter ficado pouco mais de um mês no cargo e, assim mesmo, já sentindo os achaques da enfer­mi­dade.

Diante disso, penso que nem teve tempo de for­mar com­ple­ta­mente a equipe de gov­erno e mesmo que tenha for­mado, com ela não teve tempo sufi­ciente de traçar um plano de tra­balho e de ação – pois a saúde vem em primeiro lugar, a vida vem em primeiro lugar.

A despeito disso, o trata­mento rece­bido de quase todos tem sido o mais duro pos­sível – mesmo no período de inter­nação –, atribuindo-​lhe a respon­s­abil­i­dade por todos os desac­er­tos e malfeitos gov­er­na­men­tais que já vêm de anos.

As estradas esbu­ra­cadas? Culpa do atual gov­er­nador. O ferry-​boat não está aten­dendo a con­tento? Culpa do atual gov­er­nador. O Maran­hão aparece como o estado mais mis­erável da fed­er­ação? Culpa do atual gov­er­nador.

Ora, vice na Roma dos césares, a respon­s­abil­i­dade do atual gov­er­nador é a mesma dos demais que apoiaram o gov­erno ante­rior – e dele se ben­efi­ciou –, desde a sua insta­lação.

Aliás, diante da crise no trans­porte através do ferry-​boat, das estradas esbu­ra­cadas ou dos indi­cadores soci­ais africanos, dizia a um amigo, em data recente: —olha, todas as críti­cas que se faz à situ­ação do Maran­hão são dev­i­das. O prob­lema não são as críti­cas. O prob­lema que vis­lum­bro é que a maio­ria das críti­cas partem de pes­soas que não pos­suem qual­quer legit­im­i­dade para fazê-​las, pois estiveram no gov­erno – e até ainda estão mesmo que por inter­postas pes­soas –, desde o seu iní­cio, em 2015, e acharam mais cômodo calar-​se e usufruir das benesses enquanto se mostravam indifer­entes ao sofri­mento do povo. Estes mes­mos críti­cos, caso a escolha do grupo gov­ernista tivesse recaído sobre eles ou os seus, estariam na defesa do gov­erno e não apon­tando desac­er­tos para os quais estiveram “cegos” por sete anos e meio. Em resumo, as críti­cas podem e até são legí­ti­mas, os críti­cos, não.

Mas, retor­nando ao calvário do atual gov­er­nador, sinto que os seus adver­sários, dire­ta­mente ou através dos cos­tumeiros xerim­ba­bos, ao demon­strarem tão pouca empa­tia e falta de sol­i­dariedade por alguém enfermo, têm “errado a mão” ou a pop­u­lação não tem se deix­ado levar pela insidiosa cam­panha.

Vejam que as pesquisas de opinião pública sobre as eleições vin­douras, mesmo com o gov­er­nador “amar­rado” a um leito de hos­pi­tal por mais de trinta dias e sofrendo todo tipo de espec­u­lação sobre sua saúde, insin­u­ações sobre uma saída da dis­puta e até da vida, não rev­e­lam um pre­juízo sig­ni­fica­tivo em votos e apoios. Acred­ito até que tenha deix­ado de gan­har alguns pon­tos, mas não perdeu os que já tinha.

Mesmo a pesquisa Exata, que o apre­senta em ligeira desvan­tagem, não é “exata­mente” bené­fica aos seus adver­sários, caso se con­sidere o atual con­texto.

Enquanto o atual gov­er­nador encontra-​se hos­pi­tal­izado, repito, “amar­rado” a um leito, com suas per­nas amar­radas em dois ferry-​boat e na sua conta sendo deb­ita­dos a sec­u­lar mis­éria maran­hense, os seus adver­sários estão per­cor­rendo o estado em cam­panha eleitoral aberta, fazendo acor­dos e recebendo apoios de diver­sas lid­er­anças – muito emb­ora a leg­is­lação só per­mita a cam­panha a par­tir de mea­dos de agosto.

Ainda assim, não existe, até aqui, “um pre­juízo” sig­ni­fica­tivo à cam­panha do atual gov­er­nador, muito emb­ora se diga há quase um mês que ele não será o can­didato, que o can­didato a vice vai ou já assumiu a can­di­datura.

Se com todos estes “per­rengues”, emb­ora não tenha subido, não perdeu pon­tos, sig­nifica que os seus adver­sários já este­jam bem próx­imo do teto que poderão atin­gir, ainda mais se con­sid­er­amos que já estão em cam­panha há tanto tempo, alguns, há mais de qua­tro anos.

É bem ver­dade que gov­erno tem um poder de atração quase irre­sistível, mas mesmo com todas espec­u­lações sobre a saúde do gov­er­nador e até mesmo, certa tor­cida per­versa, para que o pior acon­teça, não se assiste a um clima de “fim de festa” nos Leões, como assis­ti­mos nos meses que ante­ced­eram ao pleito de 2014, muito emb­ora, naquela época, a atual gov­er­nadora estivesse em palá­cio e gozando de per­feita saúde.

Outro fato a ser con­sid­er­ado é que o ex-​governador e can­didato ao Senado, aparece com uma aceitação quase igual à soma dos dois can­didatos ao gov­erno que estão à frente nas pesquisas e que são orig­inários do seu grupo.

Tal fato, leva-​nos a acred­i­tar que os mes­mos ainda divi­dam o mesmo “espólio eleitoral” restando saber se haverá migração de votos para o can­didato que o ex-​governador apon­tar como “legí­timo herdeiro” do grupo ou se segurão divi­di­dos ape­sar dos pro­je­tos antagôni­cos que pas­saram a rep­re­sen­tar.

Espe­cial­mente sobre as pesquisas na mesa tratare­mos em um texto especí­fico.

De mais a mais, a mídia já anun­ciou a alta médica do gov­er­nador, que esper­amos, como cristãos solidários que somos, que volte logo e ple­na­mente reesta­b­ele­cido para cumprir a sua mis­são de gov­ernar o estado e enfrentar as batal­has que escol­heu enfrentar.

À todos um apelo: a política pre­cisa de sol­i­dariedade. Se o cidadão não con­segue ser solidário ao sofri­mento do seu próx­imo, jamais será capaz de enten­der as dores e o sofri­mento dos demais cidadãos.

Mais sol­i­dariedade é o que pre­cisamos.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

Uma falsa polêmica na sucessão estadual.

Escrito por Abdon Mar­inho


UMA FALSA POLÊMICA NA SUCESSÃO ESTADUAL.

Por Abdon Marinho.

POLÊMICA é o sub­stan­tivo fem­i­nino que sig­nifica dis­cussão sobre ideias ou pen­sa­men­tos que causa divergên­cias; alter­cação, con­tes­tação ou ainda, dis­cussão ou debate no mundo das ideias, con­forme con­ceitu­ação dos dicionários nacionais.

Uma falsa polêmica, logo, é uma dis­cussão sobre um pen­sa­mento que não causa qual­quer divergên­cia uma vez que não há moti­vação con­tra­ditória.

Ainda no fim de sem­ana que pro­duzo o pre­sente texto, vejo em alguns meios de comu­ni­cação ou mesmo gru­pos de con­versa por aplica­tivos, uma falsa polêmica em curso: a que trata de uma suposta ineleg­i­bil­i­dade do pres­i­dente da Assem­bleia Leg­isla­tiva por conta do afas­ta­mento do gov­er­nador Car­los Brandão para trata­mento de saúde em outro estado da federação.

Como o gov­er­nador era vice, o primeiro na linha sucessória seria o pres­i­dente da Casa de Manoel Bequimão.

Há cerca de quinze dias um jor­nal­ista me per­gun­tou o que achava.

Foi uma sim­ples per­gunta através de um aplica­tivo, que respondi de forma igual­mente sus­cita: — olha muito emb­ora respeite os que pen­sam difer­ente, ao meu sen­tir, a ineleg­i­bil­i­dade não pode ser atraída desta forma.

Esqueci do assunto e até pen­sava que o pres­i­dente da Assem­bleia Leg­isla­tiva estava em pleno exer­cí­cio da sua presidên­cia.

Só na sem­ana pas­sada soube que ele, o pres­i­dente, se encon­trava fora do estado, suposta­mente, temendo que se pisasse no estado ficaria inelegível.

E, não ape­nas ele, irmã, esposa e, até mesmo, um papa­gaio de esti­mação que pre­tende fazer incursão pela política.

Custei a acred­i­tar, aliás, custo a acred­i­tar que isso tenha se dado. Até porque, como pres­i­dente de um poder o pres­i­dente é asses­so­rado por com­pe­tentes advo­ga­dos e procu­radores, com con­hec­i­mento pro­fundo do dire­ito eleitoral.

Se, por um momento, chegaram a pen­sar ou a sug­erir que o pres­i­dente poder-​se-​ia tornar-​se inelegível pelo sim­ples fato de encontrar-​se no estado mesmo com o pres­i­dente do Tri­bunal de Justiça exercendo a interinidade plena do cargo de gov­er­nador, acred­ito que tenha se dado por excesso de cautela.

Seria uma espé­cie de bi ineleg­i­bil­i­dade: a do pres­i­dente da Assem­bleia e a do pres­i­dente do TJMA – e seus par­entes –, que estava (está) ocu­pando o cargo de gov­er­nador.

A suposta ineleg­i­bil­i­dade nunca ocor­reu e a dis­cussão em torno do tema, ao meu sen­tir, não pas­sou de uma falsa polêmica, den­tre tan­tas out­ras que povoam às vésperas de eleições.

Quando, mesmo de longe, assisto essas coisas invari­avel­mente lem­bro de uma aula do pro­fes­sor Alberto Tavares, min­istrada numa manhã de terça-​feira na Uni­ver­si­dade Fed­eral do Maran­hão.

Dizia o mestre, com out­ras palavras: —a lei e a inter­pre­tação jurídica devem ser de tal forma sim­ples que o homem médio seja capaz de com­preen­der e aceitar como razoável.

Uma lição que nunca esqueci e que venho apli­cando nestes últi­mos trinta anos.

Sem­pre que me deparo com uma situ­ação jurídica me per­gunto se o homem médio acharia razoável o encam­in­hamento dado a ela, tanto pela lei quanto pelos tri­bunais.

Claro que isso nem sem­pre é pos­sível, sobre­tudo, nos dias atu­ais em que, muitas das vezes, a lei nada mais é do que aquilo que pensa o juiz, o desem­bar­gador ou o min­istro, que ela seja.

Como a lei tornando-​se o que pensa os seus apli­cadores, os seus des­ti­natários, tam­bém, pas­saram a achar que podem interpretá-​la ou contorcê-​la aos seus desígnios e fil­i­ações ide­ológ­i­cas e políti­cas.

Daí os dias difí­ceis que vive­mos na atu­al­i­dade.

Voltando à falsa polêmica envol­vendo o pres­i­dente da Assem­bleia, li em algum lugar que o afas­ta­mento do gov­er­nador para trata­mento de saúde o estaria prej­u­di­cando, pois o mesmo não estava podendo fazer sua cam­panha ao cargo de dep­utado estad­ual.

Achei bisonha a colo­cação, mas não dei crédito.

Quando tra­bal­hei na Assem­bleia Leg­isla­tiva, de 1991 a 1995, lem­bro de ter acom­pan­hado um ou dois casos de escusas a assunção de cargo, nen­hum, claro de gov­er­nador, mas que pela sime­tria pode­ria ser apli­cada.

Em um dos casos, o cidadão era vereador da cap­i­tal e ficara numa das primeiras suplên­cias. Com o afas­ta­mento do tit­u­lar e suplente para assumir algum cargo ou por motivo de saúde, ele foi chamado a assumir o cargo de dep­utado e apre­sen­tou a escusa de assumir naquele momento para não perder o mandato de vereador, sem pre­juízo de assumir caso sur­gisse uma outra opor­tu­nidade ao tér­mino da leg­is­latura na Câmara Munic­i­pal.

Se não me falha a memória, o caso a que refiro deu-​se com o vereador José Joaquim Ramos.

Além do caso, lem­bro de mais um ou dois no mesmo sen­tido. Ou seja, já havia prece­dentes na própria Assem­bleia de como fazer.

O fato do dep­utado não ter assum­ido agora não lhe tirou o dire­ito de vir assumir noutra opor­tu­nidade, caso surja e se assim dese­jar.

Não existe aquela história das brin­cadeiras infan­tis de: “foi ao vento perdeu o assento”. Rsrsrs.

De igual modo não pre­cis­aria ausentar-​se do estado para furtar-​se a assumir, bas­taria, como parece que fez agora, comu­nicar sua impos­si­bil­i­dade de assumir para não ficar inelegível nas eleições que se aviz­in­ham.

O pará­grafo sétimo do artigo 14 da Con­sti­tu­ição esta­b­elece a ineleg­i­bil­i­dade moti­vadora da falsa polêmica: “§ 7º São inelegíveis, no ter­ritório de juris­dição do tit­u­lar, o côn­juge e os par­entes con­sangüí­neos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Pres­i­dente da República, de Gov­er­nador de Estado ou Ter­ritório, do Dis­trito Fed­eral, de Prefeito ou de quem os haja sub­sti­tuído den­tro dos seis meses ante­ri­ores ao pleito, salvo se já tit­u­lar de mandato ele­tivo e can­didato à reeleição”.

Vejam que a Con­sti­tu­ição é clara ao esta­b­ele­cer quem são os inelegíveis em vir­tude da juris­dição do tit­u­lar do mandato ou de quem o haja sub­sti­tuído nos seis meses ante­ri­ores ao pleito. Diz clara­mente: “ou de quem os haja sub­sti­tuído den­tro dos seis meses ante­ri­ores ao pleito, salvo se já tit­u­lar de mandato ele­tivo e can­didato à reeleição”.

Emb­ora exista quase uma una­n­im­i­dade na crítica à redação da Lei das Ineleg­i­bil­i­dades, a Lei nº. 64/​1990, ela vem no mesmo sen­tido – e não pode­ria ser difer­ente: “§ 3° São inelegíveis, no ter­ritório de juris­dição do tit­u­lar, o côn­juge e os par­entes, con­sangüí­neos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Pres­i­dente da República, de Gov­er­nador de Estado ou Ter­ritório, do Dis­trito Fed­eral, de Prefeito ou de quem os haja sub­sti­tuído den­tro dos 6 (seis) meses ante­ri­ores ao pleito, salvo se já tit­u­lar de mandato ele­tivo e can­didato à reeleição”.

Não tendo o pres­i­dente da Assem­bleia “sub­sti­tuído” o gov­er­nador não há que se falar em ineleg­i­bil­i­dade, para si ou para qual­quer um dos lis­ta­dos na Con­sti­tu­ição.

Não existe a “ineleg­i­bil­i­dade por pre­sunção” ou pelo fato do cidadão encontrar-​se legal­mente na ordem sucessória.

Nesta linha de raciocínio – e porque assim manda a Con­sti­tu­ição –, estão inelegíveis os par­entes até segundo grau ou por adoção do gov­er­nador Car­los Brandão, bem como, os par­entes na mesma situ­ação, do pres­i­dente do Tri­bunal de Justiça, desem­bar­gador Paulo Vel­ten.

Claro que toda esta falsa polêmica teria sido evi­tada se desde o primeiro dia o pres­i­dente tivesse feito um requer­i­mento de dois pará­grafos dizendo que não tinha inter­esse em assumir o cargo de gov­er­nador por motivo de força maior, sem pre­juízo de vir a fazê-​lo noutra opor­tu­nidade.

Mas, na política tudo pode acon­te­cer, inclu­sive nada, ou, como dizia Vitorino Freire, “no Maran­hão até boi ‘avoa’”.

Abdon Mar­inho é advogado.

Entre a cruz e a caldeirinha.

Escrito por Abdon Mar­inho


ENTRE A CRUZ E A CALDEIRINHA.

Por Abdon Marinho.

QUANDO mais jovem e, até, mesmo hoje, sem­pre que algo que não é pos­i­tivo ou que rep­re­senta uma con­trariedade, cos­tumo dizer: — só posso ter ati­rado pedra na cruz; ou, devo ter sal­gado a Santa Ceia.

Cer­ta­mente nen­hum dos meus antepas­sa­dos ou mesmo eu, em outra encar­nação, par­ticipou de tais even­tos. Dize­mos isso como forma de jus­ti­ficar as “marés de azar” que vez ou outra ameaçam nos­sos pro­je­tos ou son­hos.

Refle­tia sobre isso e pon­derei que os brasileiros não ape­nas estive­mos todos lá ati­rando pedras por ocasião da cru­ci­fi­cação de Nosso Sen­hor Jesus Cristo como, tam­bém, erramos a mão no tem­pero da Santa Ceia e, se duvi­dar, é capaz ter­mos sido nós a gri­tar por Barrabás diante de Pôn­cio Pilatos.

Ape­nas isso para jus­ti­ficar o atual quadro político nacional.

Imag­inem que no mesmo dia que ouvi (ou li) um pres­i­dente da República min­i­mizar ou tratar com menos importân­cia o fato de um brasileiro, com prob­le­mas de saúde, ter mor­rido um cam­burão da Polí­cia Rodoviária Fed­eral — PRF, trans­for­mada em câmara de gás, numa abor­dagem abso­lu­ta­mente desastrada, jus­ti­f­i­cando que “esse tipo de coisa acon­tece até nas Forças Armadas”, li, tam­bém, que um ex-​presidente da República que se ensaia can­didato ao retorno do comando da nação, fez críti­cas ao gov­erno amer­i­cano pelo fato daquele gov­erno – e a crítica deve se esten­der a out­ros líderes mundi­ais –, man­ter uma rede de ajuda mil­i­tar e human­itária ao gov­erno ucra­ni­ano e ao seu povo que resiste brava­mente con­tra uma invasão injus­ti­fi­cada, desproposi­tada e cruel que, em mais de cem dias, já deixou mil­hares de mor­tos, cidades inteiras destruí­das e mil­hões de refu­gia­dos.

Pois é, no mesmo dia, no inter­valo de min­u­tos, fiquei sabendo destes posi­ciona­men­tos de um pres­i­dente e de um ex-​presidente que dis­putam com chances reais de um dos dois coman­darem o país a par­tir do ano vem.

O pres­i­dente não tem a com­preen­são de um fato de tal gravi­dade, memo que os autores não ten­ham tido a intenção de causar o evento morte – e até acred­ito que não tiveram –, não é algo a ser min­i­mizado, pelo con­trário, é algo para ser recrim­i­nado e colo­cado como exem­plo daquilo que não deve mais acon­te­cer.

No mín­imo, é dev­ido à família da vítima um pedido de des­cul­pas, pois o cidadão/​vítima é filho de alguém, esposo de alguém, irmão de alguém, pai de alguém, etc., não pode se min­i­mizar uma situ­ação como aquela com o argu­mento tosco de que tal fato ocorre noutras cir­cun­stân­cias “até nas Forças Armadas”.

Ora, se ocor­rem, não dev­e­riam ocor­rer. Uma família não coloca um ente querido para servir a pátria para que o mesmo mor­rer em “aci­dentes” que pode­riam ser evi­ta­dos se as autori­dades respon­sáveis agis­sem com zelo e com­petên­cia.

Quer dizer que para “limpar” a imagem do país per­ante o mundo diante da ater­radora imagem de uma viatura da PRF trans­for­mada em “câmara de gás” o mel­hor que o chefe da nação elab­ora é uma des­culpa de que “a vítima não foi a primeira e não será a última” e que isso acon­tece noutros lugares, até nas Forças Armadas?

Deve­mos ter sal­gado a Santa Ceia.

Já a incursão do ex-​presidente pela política inter­na­cional não pode­ria ser mais infe­liz. Quer dizer, pode­ria, a des­graça no Brasil, sem­pre pode ir além do imag­inável.

Desde sem­pre alin­hado com o atual pres­i­dente, que às vésperas da invasão russa foi a Moscou hipote­car sol­i­dariedade ao “povo russo” e não aos ucra­ni­anos, o ex-​presidente todo esse tempo nunca se ocupou de apon­tar sua “artil­haria ver­bal” para o ver­dadeiro cul­pado pela tragé­dia human­itária que ocorre no leste da Europa.

Sem­pre que falou con­seguiu provar que em matéria de asneiras não fica devendo nada (ou muito pouco) ao atual ocu­pante da presidên­cia.

Lem­bram que chegou a agrade­cer a Deus o surg­i­mento do vírus da COVID que já ceifou quase 700 mil vidas no Brasil?

Em relação a invasão russa, já min­i­mi­zou a tragé­dia human­itária; já disse que resolve­ria a guerra em duas ou três rodadas de cerve­jas; já fez “grac­in­has” para o car­ni­ceiro de Moscou; e, prin­ci­pal­mente, sem­pre que pode, colo­cou a culpa na vítima, como fez na última intervenção.

Para o ex-​presidente, os ucra­ni­anos dev­e­riam ter se ren­dido diante das primeiras ameaças e entre­gado a nação à potên­cia inva­sora; pode­riam hoje, “em paz” estarem sendo admin­istra­dos pela mãe-​Rússia e de que­bra, pode­riam, até, terem entregue o atual gov­erno, as autori­dades estrangeiras para que fosse jul­gado pelo crime de ter resis­tido.

Este é o o pen­sa­mento do ex-​presidente e do seu entorno.

Há uma total falta de empa­tia pelas víti­mas dire­tas ou indi­re­tas de uma guerra que só tem um único cul­pado: o gov­erno russo.

Do ponto de vista da humanidade é injus­ti­ficável que em um con­flito onde a vítima esteja sendo ata­cada fique­mos do lado do agres­sor.

A crítica feita pelo ex-​presidente ao gov­erno amer­i­cano (e aos demais gov­er­nos) é um posi­ciona­mento a favor do agres­sor e con­tra a vítima.

E vai além, respon­s­abi­liza indi­re­ta­mente a vítima pela fome que a guerra provoca ao redor do mundo. A escassez de ali­men­tos, o aumento do preço das mer­cado­rias não foram provo­cadas pela Ucrâ­nia, que é a vítima (é bom que se afirme isso) mas por quem ini­ciou e man­tém a guerra, inclu­sive retendo os navios nos por­tos que tomou de assalto.

Imag­ino que nas brigas de escola o ex e o atual pres­i­dente se por­tavam do lado dos “grandões” quando aque­les estavam batendo nos coleguin­has menores.

Para eles, o Brasil dev­e­ria ter ficado “neu­tro” o que, em out­ras palavras, sig­nifica ter se ali­ado ao gov­erno russo con­tra a Ucrâ­nia, quando muito, dividir a respon­s­abil­i­dade pela guerra entre inva­sor e inva­dido.

Não deixa de ser curioso que tanto o atual quanto o ex-​presidente “nutram” tanta afinidade pelo diri­gente russo a ponto de nunca tê-​lo respon­s­abi­lizado pela guerra e sem­pre que se man­i­fes­taram tenha sido para menosprezar, min­i­mizar ou colo­car a culpa na vítima.

Pas­sa­dos mais de cem dias de guerra não têm uma con­de­nação firme à carnific­ina pro­movida pelo diri­gente russo, sequer existe uma clara man­i­fes­tação de apoio a resistên­cia ucra­ni­ana ou de sol­i­dariedade ao povo que sofre.

Não que estes posi­ciona­men­tos sejam sur­presa para ninguém. Infe­liz­mente, dos lábios de ambos já ouvi­mos coisas infini­ta­mente piores, seja em relação a vio­lên­cia, a tor­tura, pre­con­ceitos, nega­cionismo, mis­oginia e diver­sas out­ras sandices que vão muito além do atual con­flito.

São tan­tas colo­cações estapafúr­dias de ambos que chego à con­clusão de que o que sep­ara o atual pres­i­dente do ex-​presidente é menos que um “ded­inho”, e digo isso desprovido de qual­quer pre­con­ceito pelo fato de fal­tar o pro­longa­mento em uma das mãos de um deles.

O “ded­inho” que falo é mesmo no sen­tido diminu­tivo de medida.

No caso da invasão russa a Ucrâ­nia nem um “ded­inho” sep­ara ambos. Parece que enx­er­garam no líder russo o “macho alfa” que bus­cavam.

Essa pouca difer­en­ci­ação, tam­pouco, é uma novi­dade para aque­les que acom­pan­ham min­has ideias, desde sem­pre que chamo a atenção para a sin­er­gia entre eles no propósito de deixarem os brasileiros sem qual­quer outra opção de escolha.

Não rep­re­senta novi­dade, ainda, a pos­si­bil­i­dade da eleição ser deci­dida no primeiro turno.

Tal hipótese, não chega a ser de todo mal, pois nos livra de ter­mos que escol­her entre os dois can­didatos quem vai diri­gir o país – o que, con­fesso, para mim, seria algo muito penoso.

Os brasileiros que tiverem que fazer tal escolha, à luz do seu con­venci­mento pes­soal, deve fazê-​lo tendo por norte, não o que seja bom ou mel­hor para o país, mas o que seja menos ruim ou pior.

A menos que um cat­a­clismo acon­teça, se tiver­mos um segundo turno nas eleições pres­i­den­ci­ais de out­ubro, serão esses dois que estarão lá e temos vivên­cia o bas­tante para saber que não rep­re­sen­tam nada bom para o país.

Agora mesmo, ficamos sabendo que o atual pres­i­dente ded­ica ao tra­balho tempo igual –

ou um pouco supe­rior que ded­ica um estag­iário destes não muito apli­ca­dos –, se não me falha a memória, tal con­statação é basi­ca­mente um “remake” de um certo gov­erno do pas­sado.

Como não ficar­mos angus­ti­a­dos sabendo que pelos próx­i­mos qua­tro anos é isso que teremos?

Abdon Mar­inho é advogado.