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Uma eleição federalizada.

Escrito por Abdon Mar­inho


UMA ELEIÇÃO FEDERALIZADA.

Por Abdon Marinho.

A ANÁLISE POLÍTICA não é con­tra ou a favor de ninguém.

Se ela se porta em bene­fí­cio de um ou con­trária a outro não se trata de análise, mas, sim, de uma peça pub­lic­itária ou de pro­pa­ganda.

A análise, tam­bém, não é um exer­cí­cio de adi­v­in­hação ou de achismo.

Se o indi­ví­duo, sem qual­quer base, diz alguma coisa, o que disse pode ser um desejo, uma von­tade, ou uma sug­estão do que gostaria que acon­te­cesse, mas, não uma análise política.

Como uma grande parcela dos jor­nal­is­tas e/​ou blogueiros do estado (e do país) encontra-​se vin­cu­lada aos can­didatos ou mesmo às pau­tas políti­cas desta ou daquela cor­rente, difi­cil­mente encon­tramos no que lemos no dia a dia análises políti­cas, mas, sim, opiniões – que até podemos achá-​las per­ti­nentes –, ou, na maior parte das vezes, sug­estões de pau­tas para os políti­cos incau­tos ou mesmo para a pop­u­lação.

O ver­dadeiro anal­ista (ou quem merece assim ser chamado), indifer­ente ao que gostaria que fosse e aos seus inter­esses e con­vicções pes­soais, exam­ina os fatos e faz sua pro­jeção para o futuro.

Pode errar, pode ser que não pos­sua infor­mações sufi­cientes, pode ser que o quadro político dê uma quinada.

São muitas as razões para que uma análise política deixe de acon­te­cer e elas inde­pen­dem da von­tade de quem as pro­je­tou.

Situ­ação diversa é daquela em que uma opinião, indução ou sug­estão não se con­fir­mou.

Pois bem, faço essa intro­dução pra dizer que o atual quadro político no nosso estado já havia sido pro­je­tado em nos­sos tex­tos há cerca de um ano. Para ver­i­ficar basta fazer uma sin­gela pesquisa.

Já em maio do ano pas­sado – e até mesmo antes –, assen­tava que o can­didato do grupo gov­ernista seria o vice-​governador e que os demais can­didatos seriam colo­ca­dos no espec­tro político do bol­sonar­ismo.

Em pelo menos três ou qua­tro tex­tos de mea­dos do ano pas­sado digo exata­mente isso.

Faço tal reg­istro ape­nas para dizer que uma mul­ti­dão de pes­soas que escreve para jor­nais e/​ou blogues ou sites con­tinua a não fazer análises políti­cas, mas a expres­sar o que gostaria que acontecesse.

O exem­plo mais claro assisti na última sem­ana ao acom­pan­har alguns gru­pos de aplica­tivos e mesmo blogues e sites de notí­cias a respeito do anún­cio da decisão de um dep­utado fed­eral e do seu grupo a cerca de quem iriam apoiar nas eleições deste ano.

Ficaram em clima de expec­ta­tiva, como se fica em final de Copa do Mundo, e trataram como “novi­dade” a decisão anun­ci­ada.

Fiquei pasmo ao perce­ber que mesmo políti­cos de “alto escalão” deu trata­mento de novi­dade a um fato por mim anun­ci­ado há mais de um ano.

Fiquei com sen­sação de que não leram o que havia escrito ou, que, na ver­dade, tanto políti­cos quando os cidadãos comuns, pas­sando por alguns for­madores de opinião, gostam de acred­i­tar naquilo que lhes “faz bem” ou que de alguma forma atenda aos seus inter­esses e con­vicções pes­soais, ainda que isso desafie a ver­dade e a lóg­ica.

Vamos aos fatos?

Leio que em muitos esta­dos da fed­er­ação os políti­cos ten­tam a todo custo “fugir” do ambi­ente de polar­iza­ção política que toma de conta do país.

No Maran­hão, como sabe­mos, dar-​se o oposto. A política estad­ual foi “cap­turada” pela polar­iza­ção entre o bol­sonar­ismo e o lulismo.

Desde a cam­panha de 2018 que o ex-​governador do estado e o atual pres­i­dente da República vêm con­stru­indo uma relação de ódio ple­na­mente cor­re­spon­dida.

Ambos eleitos, o ódio mútuo foi se con­sol­i­dando com o ex-​governador sem­pre que teve opor­tu­nidade – e ainda hoje –, fusti­gando o pres­i­dente e seu gov­erno e sendo respon­dido e/​ou ata­cado na mesma moeda.

Este “culto” ao ódio é per­feita­mente per­cep­tível entre os próprios – pres­i­dente e ex-​governador –, e entre os seguidores de ambos.

Logo, con­hecendo o pres­i­dente e o seu entorno e mesmo o bol­sonar­ismo, de uma forma geral, não é de duvi­dar – e os fatos elim­i­nam quais­quer dúvi­das –, que têm inter­esse e tra­bal­harão, “sem tomar chegada”, con­tra a eleição do ex-​governador.

Imag­i­nar que have­ria espaço político para o par­tido do pres­i­dente da República apoiar uma chapa tendo o ex-​governador como líder – ainda que não o apoiassem –, me parece ingenuidade ou tolice.

Acred­ito que, mesmo que o pres­i­dente do par­tido local resolvesse “com­prar” a briga para apoiar o atual gov­er­nador, can­didato a reeleição, não con­seguiria, pois, tomariam o par­tido dele.

Con­siderando que a dis­cussão deu-​se ape­nas entre o apoio a dois can­didatos e um já car­regava o óbice de ser o can­didato do “inimigo público número um” do bol­sonar­ismo, a opção óbvia seria, como foi, a outra can­di­datura.

Ainda assim, para “carim­bar o apoio” do par­tido do pres­i­dente o can­didato oposi­cionista ao gov­erno teve que “pagar uma prenda”, que foi declarar pub­li­ca­mente – difer­ente do que vinha fazendo até então –, que não mais apoiaria a can­di­datura ao Senado do ex-​governador, agora ex-​aliado desde sem­pre.

A declar­ação pública foi a “senha” para con­seguir o apoio do par­tido do pres­i­dente e do grupo político a par­tir das artic­u­lações feitas na cap­i­tal da República.

A análise política não admite juízo de valor sobre os fatos, ape­nas que os colo­que­mos com clareza.

É isso que procu­ramos fazer, inclu­sive, com a omis­são delib­er­ada dos per­son­agens. Pode­ria ser qual­quer um.

Os can­didatos, cada um no seu quadrado, pode­riam ser Pedrinho, Joãoz­inho e Huguinho, que não mudaria em nada os fatos pos­tos.

Imag­ino tam­bém tratar-​se de uma “estraté­gia” para enganar-​se a si e aos incau­tos, que, em uma eleição tão polar­izada quanto a atual, com pos­si­bil­i­dade de ser deci­dida no primeiro turno, exista espaço para uma “frente ampla”, com uma can­di­datura ao gov­erno “abrindo” palanque para diver­sas can­di­dat­uras presidenciais.

Não existe isso.

Ainda que o Maran­hão rep­re­sente muito pouco do ponto de vista do número de eleitores, como dito ante­ri­or­mente, em nen­hum outro estado existe tanto ódio entre dois can­didatos quanto o ódio reli­giosa­mente cul­ti­vado entre o pres­i­dente da República e o ex-​governador, bem como, entre o bol­sonar­ismo e o lulismo.

Não estran­haria se o próprio pres­i­dente viesse ao estado ou gravasse vídeos não ape­nas pedido votos para o “seu” can­didato a senador, mas, sobre­tudo, pedindo aos seus seguidores que não votem no seu “desafeto” de jeito nen­hum.

Diante disso, não me parece lógico imag­i­nar que o can­didato do PT aceite subir no palanque pedetista/​liberal, assim como, que o PL, par­tido do pres­i­dente e que dev­erá ter a can­di­datura a vice na chapa ou ainda que não seja, o maior destaque da can­di­datura, aceite esse tipo de “arranjo” ou que o ex-​governador, alvo do ódio recíproco do bol­sonar­ismo con­corde “de boa” que isso venha acon­te­cer – que o can­didato da col­i­gação PT/​PSB, suba em tal palanque.

Digo com pesar, que a política brasileira chegou a um nível de acir­ra­mento tal, que as posições de bol­sonar­is­tas e lulis­tas são inc­on­cil­iáveis. Mesmo nos seios das famílias já não os con­vi­dam para os mes­mos even­tos, pois a con­fusão é quase certa.

Se me dis­serem que bol­sonar­is­tas e lulis­tas estarão no mesmo palanque, muito emb­ora na política maran­hense, segundo lição de Vitorino Freire, “até boi avoe”, custarei a acred­i­tar.

O que me parece fac­tível que ocorra, ainda den­tro do já havia afir­mado desde o ano pas­sado, é que todas as forças bol­sonar­is­tas – as de raiz e as de ocasião –, estarão unidas con­tra a eleição do ex-​governador ao Senado – e este será o maior desafio –, unindo-​se no apoio a uma can­di­datura ao gov­erno no segundo turno, se, difer­ente do que imag­i­nam, não tiverem duas can­di­dat­uras bol­sonar­is­tas naquela dis­puta.

Já o con­sór­cio gov­ernista, imag­ino que tra­bal­hará com muito mais afinco para colo­car o carimbo de bol­sonar­is­tas nos opos­i­tores no intento de cap­i­talizarem para as suas can­di­dat­uras o apoio do lulismo – ainda muito forte no estado.

O ex-​governador e can­didato ao Senado, como ide­al­izador ou, no mín­imo, impul­sion­ador de tal “estraté­gia” pre­cis­ará de todo “jogo de cin­tura” e, prin­ci­pal­mente, utilizar-​se de todo prestí­gio que pos­suir para “fed­er­alizar” ainda mais a dis­puta, não ape­nas a seu favor, mas, prin­ci­pal­mente, em favor do seu can­didato ao gov­erno.

Fal­tando qua­tro meses para as eleições e fal­tando pou­cas definições, as peças estão prontas para serem mex­i­das no tab­uleiro da política.

Vamos ao jogo.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

MARAN­HÃO — O ESTADO PROIBIDO.

Escrito por Abdon Mar­inho


MARAN­HÃO — O ESTADO PROIBIDO.

Por Abdon Marinho.

QUEM acom­panha meus escritos já deve con­hecer a história de seu João da Silva – falei dele bem mais que uma vez.

Os que chegam agora darei uma “pal­hinha”. O seu João da Silva (nome fic­tí­cio) é um defi­ciente visual que cos­tuma pedir esmo­las alter­nada­mente em Belém, Pará e em For­t­aleza, Ceará. Passa um mês ou dois em Belém e vai para For­t­aleza e vice-​versa, con­forme a arrecadação.

Seu João da Silva entra na nossa crônica porque sem­pre que faz esse per­curso, em um sen­tido ou noutro, ao ingres­sar no Maran­hão, ele “avisa” ao motorista: — entramos no Maran­hão, né motorista?! Fazendo a mesma coisa quando sai do estado: — saí­mos do Maran­hão, né motorista?! Mesmo quando a “trav­es­sia” para o estado o alcança enquanto dorme, ao acor­dar, con­segue se situar para perce­ber que se encon­tra ou saiu do Maran­hão.

Essa ale­go­ria ini­cial é ape­nas para mostrar que somos tão mal servi­dos de rodovias – fed­erais e estad­u­ais –, que mesmo um cego con­segue saber quando entra e quando sai do estado. Entra gov­erno, sai gov­erno, entre­tanto, parece que uma cabeça de burro enter­rada no solo maran­hense impede que por aqui se façam estradas ou mesmo recu­per­ação de vias com um “prazo de val­i­dade” supe­rior a um ano.

Uma vez, sen­tado na Praça da Matriz de Luis Domingues, em um fim de tarde depois de cumprir uns com­pro­mis­sos, um amigo de lon­gas datas, cun­hou a frase enquanto tratá­va­mos deste tema: — ah, doutor, essas são obras de “morder”. Sem enten­der bem olhei-​o intri­gado, que com­ple­tou: — todo gov­er­nante que entra quer morder um pedaço.

Sobre obras de morder e estradas ruins temos muitos quilômet­ros roda­dos.

Lem­bro no iní­cio dos anos 2000, a estrada que lig­ava a BR a Caru­ta­pera (MA 101) era uma tão ruim, mas tão ruim, que voltando de lá ao avis­tar uma sumaúma que fica a 6km da BR, dizia: — cheg­amos em casa. Havíamos ven­cido ape­nas 80 km dos mais quin­hen­tos de dis­tân­cia. Depois que a rodovia foi feita, ainda no gov­erno Zé Reinaldo, con­tin­uei usando a frase a para lem­brar aos cole­gas de via­gens muitas das difi­cul­dades enfrentadas.

Com­ple­tando a série de infortúnios rela­ciona­dos à infraestru­tura do nosso estado, nos últi­mos dias não se fala de outra coisa que não o colapso – ou quase colapso –, do sis­tema de ferry-​boat que é o prin­ci­pal meio de deslo­ca­mento para a Baix­ada Maran­hense e para quem quer diminuir a dis­tân­cia, saindo de São Luís, para a região do alto Turi ou para o estado do Pará.

Desde que me tornei advo­gado, há vinte e cinco anos, que faço uso deste meio de trans­porte nas min­has andanças pela baix­ada ou nas idas até os lim­ites com o Pará. Noutras palavras: já ouvi em dema­sia o apito do ferry-​boat.

A última vez foi há menos de duas sem­anas.

Como não gosto de impro­visação, sem­pre com­pro min­has pas­sagens com quase um mês de ante­cedên­cia.

Ao longo deste quarto de século acostumei-​me a dizer que pes­soa impor­tante para mim é quem con­segue pas­sagem no ferry em cima da hora. Essa, sim, é impor­tante.

Havia me pro­gra­mado para atrav­es­sar no ferry das 17:30 horas. Como os com­pro­mis­sos mar­ca­dos não iriam acon­te­cer ou con­segui resolvê-​los antes do pre­visto, pelas 9 horas já estava em Gov­er­nador Nunes Freire, o antigo Encruzo, voltando.

Fiz alguns con­tatos para ten­tar ante­ci­par a pas­sagem, não tive êxito, nen­hum amigo “impor­tante” con­seguiu tro­car a pas­sagem. Con­sul­tei os com­pan­heiros de viagem se prefe­riam voltar pela BR ou de ferry argu­men­tando que chegaríamos até antes do horário mar­cado para trav­es­sia. Quedei-​me ven­cido sob o argu­mento de que as estradas estão tão ruins que era prefer­ível esperar para depois das 17:30 horas que seguir viagem rodando.

Rodando deva­gar, parando mais do que o necessário na estrada para fazer alguma coisa ou mesmo para apre­ciar a cheia dos rios, antes do começo da tarde já está­va­mos livres, mesmo tento parado para aten­der uns com­pro­mis­sos de última hora em Pin­heiro e Bequimão, ainda estava longe da hora da trav­es­sia quando resolve­mos ir para o Cujupe, ten­tar “in loco” tro­car a pas­sagem.

Quando nos aprox­i­mamos vi o tamanho do prob­lema e porque os ami­gos “impor­tantes” não tiveram êxito em ante­ci­par a pas­sagem com­prada com um mês de ante­cedên­cia: a fila de espera, ou seja, dos “sem pas­sagem”, estava chegando na curva oposta à Igreja Assem­bleia de Deus do Povoado Cujupe. Quem con­hece sabe a dis­tân­cia até o ponto de embar­que e a difi­cul­dade para embar­car estes veícu­los.

Comentei com os cole­gas de viagem: — meus fil­hos, a coisa aí está feia. Fazia tempo que não via a “fila de espera” deste tamanho, fora os áureos tem­pos dos con­cor­ri­dos car­navais de Curu­rupu ou Pin­heiro.

Munidos do “salvo-​conduto” da pas­sagem, avançamos na con­tramão até o ter­mi­nal, uma vez que a pista é sim­ples e “mão” já estava tomada pelos veícu­los esta­ciona­dos na “fila de espera” quilométrica – e sem pre­visão de embar­que.

Ainda não eram 15 horas, calor de fazer inveja as caldeiras do inferno, ainda teríamos um temp­inho até a hora do embar­que.

Um colab­o­rador da empresa que opera o sis­tema de trans­porte informou-​nos a razão do “caos”: só dois ferry-​boat estavam operando – mesmo quando tín­hamos sete ou oito já era complicado.

Sem inter­net ou tele­fone para tra­bal­har ou mesmo nos dis­trair fiquei a pen­sar que o Maran­hão tornara-​se um “estado proibido” com sua pop­u­lação ou mes­mos os transe­untes de out­ros esta­dos em poderem se loco­mover com um mín­imo de con­forto ou dig­nidade.

Diante do caos insta­l­ado e em véspera de eleições não fal­taram foi políti­cos – com ou sem mandatos –, apon­tando cul­pa­dos e ten­tando se pro­mover.

Na ver­dade, todos tem uma parcela de respon­s­abil­i­dade no caos que viven­ci­amos, não ape­nas no sis­tema de ferry-​boat, mas, tam­bém, nas rodovias fed­erais e estad­u­ais que são feitas e refor­madas todos os anos e, rara­mente, encon­tramos uma que dure mais que um inverno.

Não é de hoje ou de agora que a pop­u­lação reclama das pés­si­mas condições das estradas – tanto que os que moram nas áreas limítro­fes com out­ros esta­dos pref­erem tran­si­tar pelas rodovias dos esta­dos viz­in­hos –, das pés­si­mas condições do trans­porte de ferry-​boat ou se ressen­tem da falta de trens de pas­sageiros ou das condições desumanas do trans­porte urbano, etc.

Essas recla­mações vêm de décadas.

O que fiz­eram ou têm feito os rep­re­sen­tantes do povo que estão há vinte, dezes­seis, doze, oito ou mesmo qua­tro anos no poder? As excelên­cias fed­erais, estad­u­ais ou mesmo munic­i­pais só se deram conta do que são as difi­cul­dades dos cidadãos agora? Por que nunca recla­ma­ram ou cobraram providên­cias dos respon­sáveis antes do caos se insta­lar? Por que nunca cobraram sat­is­fações pelo fato das emen­das par­la­mentares que des­ti­nam as obras viárias serem tão mal empre­gadas?

O sis­tema de ferry-​boat – assim como o viário -, não ruiu do dia para noite, assim como fun­cionará com efi­ciên­cia “do dia pra noite”, não tem ferry-​boat no super­me­r­cado para com­prar um, dois, três ou uma dúzia, colo­car em fun­ciona­mento para resolver o prob­lema. De igual forma, é impos­sível, mesmo que tivésse­mos disponíveis, “bus­car” um ferry-​boat de helicóptero para colocá-​lo na trav­es­sia de vapt-​vupt.

No máx­imo, o que podem fazer é ten­tar con­ser­tar algu­mas “sucatas” para ten­tar aliviar o sofri­mento das pes­soas que diari­a­mente pre­cisam atrav­es­sar a baía de São Mar­cos.

Aju­daria bas­tante, tam­bém, se nos dois lados da baía tivésse­mos um mín­imo de estru­tura.

Por incrível que pareça as autori­dades não se pre­ocu­pam nem em cobrar das oper­ado­ras de tele­fo­nia móvel que disponi­bi­lizem inter­net e/​ou tele­fone que “preste” nas ime­di­ações dos dois ter­mi­nais. Já na Ponta da Madeira é sofrível, no Cujupe sequer tem sinal.

Vejam que situ­ação: não basta o cidadão ser pri­vado do sagrado dire­ito de loco­moção, ele deve, tam­bém, ficar inco­mu­nicável.

Pre­sos e inco­mu­nicáveis é a sen­sação dos cidadãos enquanto aguardam a vez de embar­car em um serviço cada vez mais ine­fi­ciente e perigoso, pois com ape­nas dois ou três ferry-​boat, fun­cio­nando sem parar, é quase certo que não segu­rarão o “tranco” levando ao colapso total do sis­tema.

Esse é o preço que pag­amos por ter­mos escol­hido, aos longo de décadas, rep­re­sen­tantes sem visão de futuro, que não con­seguem enx­er­gar além do almoço do dia seguinte.

Vejam um prob­lema que par­tic­i­pamos diari­a­mente: as MA’s que cor­tam e interligam os municí­pios da região met­ro­pol­i­tana pre­cisam ser dupli­cadas com urgên­cia.

Até aqui os gov­er­nos não ape­nas não fazem isso como per­mitem que façam edi­fi­cações quase den­tro da pista de rola­mento.

Com isso os engar­rafa­men­tos são cada vez mais fre­quentes na estrada de Riba­mar, na estrada da Maioba, na estrada da Raposa e até mesmo na MA 204, que interliga as três vias.

Há décadas sabe­mos da importân­cia de ter­mos uma ponte lig­ando a cap­i­tal à baix­ada.

É inviável uma ponte marí­tima? Por que não faz­er­mos uma ponte lig­ando a Estiva a Tauá-​Mirim e de lá, para Ilha dos Carangue­jos e a sede de Cajapió? Seria o cam­inho mais curto para baix­ada.

Tudo bem que o gov­erno ante­rior demorou mais de sete anos para fazer uma ponte sobre o Rio Per­icumã e que três pontes sobre a foz do Mearim deman­daria mais tempo, mas se nunca plane­jarem ou ini­cia­rem, nunca serão feitas, e como cos­tuma dizer o amigo And­inho, lá de Santa Helena: o “baix­adeiro” con­tin­uará a sofrer.

Abdon Mar­inho é advogado.

Uma tragé­dia se anun­cia no hor­i­zonte do país.

Escrito por Abdon Mar­inho


UMA TRAGÉ­DIA SE ANUN­CIA NO HOR­I­ZONTE DO PAÍS.

Por Abdon Marinho.

QUANDO falo que uma tragé­dia se anun­cia no hor­i­zonte do país é provável que o leitor desav­isado ou impa­ciente pense que eu vá falar de uma provável eleição do ex-​presidente Luis Iná­cio Lula da Silva ou da reeleição do atual pres­i­dente Jair Mes­sias Bol­sonaro.

Muito emb­ora, um ou outro destes even­tos, fatal­mente ocorra – o que será trágico –, essa será uma tragé­dia com prazo de val­i­dade já definido.

A natureza, na sua sabedo­ria, esta­b­ele­ceu um “prazo de val­i­dade” para os humanos levando-​nos a acred­i­tar que todo o mal que pos­sam fazer as pes­soas e ao país, muito mais cedo do que tarde cessará.

A tragé­dia que falo e que, ao meu sen­tir, é ver­dadeira­mente mere­ce­dora de tal adje­tivo é a que tanto os gov­er­nos, nos seus vários níveis, quanto a sociedade, em seus segui­men­tos, tem feito em relação as nos­sas cri­anças e adolescentes.

Não me recordo quem disse – mas cer­ta­mente já dis­seram –, que o grau de civ­i­liza­ção de um povo se afere pela forma de trata­mento que este povo dis­pensa às suas cri­anças e jovens.

Em sendo ver­dadeira tal assertiva, o Brasil se aprox­ima cada vez mais da bar­bárie em detri­mento da civ­i­liza­ção.

Aqui não estou a referir-​me ape­nas ao tra­balho infan­til, a explo­ração sex­ual, a vio­lên­cia domés­tica, que sem­pre exi­s­ti­ram, mas, prin­ci­pal­mente, ao desin­ter­esse da sociedade em acol­her e pro­te­ger o futuro da nação.

Cada vez mais vemos cri­anças nascerem por inter­esses econômi­cos dos pais, como por exem­plo, rece­berem recur­sos dos pro­gra­mas assistenciais.

Cada vez mais assis­ti­mos aos pais não se pre­ocu­parem em man­dar os fil­hos para as esco­las ou se man­dam não é para que apren­dam, mas para que não per­cam um ou outro bene­fí­cio assis­ten­cial ou mesmo para “filarem” um prato de comida.

Cada vez mais vemos pais diz­erem que não têm con­t­role sobre os fil­hos ou se o tem é à base da vio­lên­cia con­tra os mes­mos.

Se não há no seio da família o inter­esse em cuidar e acol­her seus pequenos, o mesmo desin­ter­esse é sen­tido no con­junto da sociedade.

Fui aler­tado para tal situ­ação outro dia quando fui avisado que em deter­mi­nado municí­pio a admin­is­tração pública não con­seguia for­mar um Con­selho Munic­i­pal de Defesa da Cri­ança e do Ado­les­cente – CMDCA, que já estava ven­cido há dois anos pois não encon­travam mem­bros na sociedade dis­pos­tos a inte­grar o mesmo.

Fui infor­mado que por serem os car­gos do con­selho hon­orí­fi­cos, ou seja, sem qual­quer remu­ner­ação, não atraía qual­quer inter­esse, muito ao con­trário, só a recusa dos cidadãos da urbe.

Ora, o CMDCA é o con­selho respon­sável pelo plane­ja­mento, sug­estões e acom­pan­hamento de todas políti­cas públi­cas munic­i­pais voltadas para a defesa das cri­anças e dos ado­les­centes, cabendo-​lhe cobrar ações efe­ti­vas do poder público e dos demais órgãos quando os dire­itos dos mes­mos são vio­la­dos ou não cumpri­dos.

Trata-​se, por­tanto, de um con­selho impor­tan­tís­simo, pois cuida do futuro do municí­pio, do estado e do país.

Ainda assim, restava parado por falta de inter­esse da sociedade em compô-​lo.

E, vejam, este municí­pio, como todos os demais, pos­suem todos os prob­le­mas – e mais alguns –, que assis­ti­mos no dia a dia de qual­quer cidade do país: explo­ração sex­ual, uso de dro­gas, tra­balho infan­til, falta de inter­esse pela edu­cação, pequenos fur­tos, e tan­tos out­ros.

Cuidar das cri­anças e ado­les­centes é cuidar do nosso próprio futuro; é saber­mos que se der­mos um rumo para as cri­anças hoje, estare­mos evi­tando que amanhã essa cri­ança negli­cen­ci­ada se torne um mar­ginal, pra­tique atos de vio­lên­cia con­tra nós mes­mos ou con­tra os out­ros e venha sobre­car­regar a nação com despe­sas no sis­tema de saúde ou pen­i­ten­ciário.

A única solução que temos para asse­gu­rar o futuro do país, tam­bém, no momento, é parte do prob­lema: a edu­cação.

Desde sem­pre que sabe­mos ser a edu­cação a solução para todos os males do país.

Ape­sar disso, sabe­mos, tam­bém, que desde muito a edu­cação não vem cumprindo tal papel.

Por conta de um novo pro­jeto que cativou bas­tante tenho estu­dado e dis­cu­tido muito sobre a edu­cação brasileira, muito além do que já fazia ao longo dos meus 25 anos como advo­gado atuando no munic­i­pal­ismo e até antes, como asses­sor na Assem­bleia Leg­isla­tiva ou nos movi­men­tos estu­dan­tis no ensino médio e uni­ver­sitário.

Con­ver­sando com gestores, prefeitos, secretários, asses­so­rias pedagóg­i­cas, sinto que há quase uma una­n­im­i­dade em apon­tar como prin­ci­pal prob­lema da edu­cação brasileira a desmo­ti­vação dos profis­sion­ais envolvi­dos no sis­tema.

Como inte­grantes da sociedade desin­ter­es­sada pelo futuro de cri­anças e ado­les­centes, os profis­sion­ais da área edu­ca­cional, segundo estes gestores, mal cumprem “tabela”. A figura do edu­cador que chamava e tinha orgulho do pro­gresso int­elec­tual e for­mação profis­sional daquela cri­ança que viu crescer, já é uma pál­ida lem­brança.

Imag­i­nam que, quem sabe, deixando as cri­anças à von­tade nas suas algazarras ou inter­di­tos nos smart­phones durante as aulas não terão seus car­ros com pneus esvazi­a­dos ou risca­dos.

Vejam o roteiro da tragé­dia anun­ci­ada: os pais que demon­stram uma pro­funda neg­ligên­cia na for­mação dos fil­hos, por não saberem como criá-​los ou mesmo pela irre­spon­s­abil­i­dade de não querer fazer isso; uma sociedade que acha que não é com ela a respon­s­abil­i­dade por for­mu­lar e cobrar do poder público políti­cas efe­ti­vas de pro­teção, for­mação de cri­anças e ado­les­centes; e uma escola “desmo­ti­vada”.

Qual será resul­tado disso tudo?

O resul­tado já está aí à vista de todos: na vio­lên­cia prat­i­cada por cri­anças cada vez mais novas; nos indi­cadores edu­ca­cionais na rabeira; no atraso econômico do país.

Falta ao Brasil um plane­ja­mento estratégico de longo prazo.

No rumo que esta­mos tril­hando, nem como celeiro de mão de obra barata servire­mos, pois, a ela, emb­ora abun­dante, fal­tará qual­i­fi­cação mín­ima.

A única forma que enx­ergo para mudar­mos o roteiro da tragé­dia é através da edu­cação, prin­ci­pal­mente, a edu­cação básica onde se con­cen­tra a raiz do prob­lema.

As cri­anças brasileiras, notada­mente, as do ensino público, já estão, em média, oito anos atrás das cri­anças do ensino pri­vado.

Com tamanho atraso é incon­ce­bível que as cri­anças ten­ham ape­nas qua­tro horas por dia de aula – das quais, talvez, menos de três se aproveite com con­teúdo.

Pre­cisamos de gestores e pro­fes­sores que ten­ham con­sciên­cia de que da suas ações – e omis­sões –, depende o futuro do país.

O ensino fun­da­men­tal brasileiro pre­cisa, como uma emergên­cia nacional, tornar-​se inte­gral, com as cri­anças, pelo menos, das 08 às 17 horas, na escola, estu­dando ou em ativi­dades com­ple­mentares que as retire das ruas, do ócio e das ten­tações do din­heiro fácil, do jeit­inho ou da ignorân­cia de achar que a falta de con­hec­i­mento e for­mação não são impor­tantes ou que não pre­cisam disso.

A reestru­tu­ração da edu­cação brasileira é algo que pre­cisa ser feita com trem via­jando. Não é pos­sível se imag­i­nar que ire­mos esperar dotar toda a rede de estru­tura física para ini­ciar o ensino inte­gral.

Não temos tempo pra isso. Já esta­mos, como disse ante­ri­or­mente, muito atrasa­dos.

Pre­cisamos “para ontem” cor­rer atrás do “pre­juízo”.

As cri­anças do ensino fun­da­men­tal pre­cisam imer­girem no apren­dizado para tentarem alcançar as demais cri­anças que tiveram a sorte estourarem não rede pri­vada e que não sofr­eram tan­tos pre­juí­zos com a pan­demia.

Sem o apoio das famílias, diante uma sociedade apática e com esco­las “desmo­ti­vadas”, não podemos esperar muita coisa destas cri­anças, ainda mais agora quando elas ficaram em casa –ou nas ruas –, por dois anos, sem qual­quer rotina de estu­dos.

Na falta de esco­las inte­grais, o con­traturno pode ser uma alter­na­tiva aceitável, desde que não seja para poucos ou como exceção para suprir defi­ciên­cia em uma outra dis­ci­plina.

O con­traturno pode e deve ser uti­lizado como estraté­gia para suprir as neces­si­dades dos con­teú­dos não apren­di­dos nos últi­mos anos e, tam­bém, como forma para ten­tar resolver a enorme dis­tân­cia tem­po­ral entre as duas redes: a pública e a pri­vada.

Imag­i­nar que estas cri­anças terão as mes­mas condições de con­cor­rer ao ENEM ou vestibu­lar ou mesmo na via profis­sional é alienar-​se da real­i­dade que esta­mos viven­ciando.

Lem­bro de imag­i­nar que o ENEM ou mesmo o vestibu­lar eram sis­temas jus­tos, pois todos tin­ham as mes­mas chances.

Como imag­i­nar isso, atual­mente, se alguns con­cor­rentes, em con­teú­dos e condições de apren­diza­gem ofer­tadas, estão, em média, oito anos à frente uns dos out­ros?

É ilusório imag­i­nar que sem uma reforma na base edu­ca­cional brasileira dando as todas as cri­anças chances iguais de con­hec­i­men­tos, poder­e­mos, no futuro, falar em igual­dade de opor­tu­nidades.

Estou con­ven­cido de que não temos mais um dia a perder com dis­cussões tolas ou debates estéreis.

Este­jam cer­tos, caso não façamos nada, caso nos omi­ta­mos, a tragé­dia que se descortina para o futuro do Brasil será muito maior do que a even­tual eleição de Lula ou de Bol­sonaro.

Abdon Mar­inho é advo­gado.