FLÁVIO DINO E O IMPEACHMENT.
ESTÃO EQUIVOCADOS os que pensam que o governador Flávio Dino foi derrotado com a aprovação do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff pela Câmara dos Deputados. Também estão equivocados os que pensam que o governador age de forma imatura nas suas manifestações de «militante» em defesa da presidente; do mesmo modo, aqueles que pensam que o governador está se «queimando» com este tipo de defesa – talvez esteja, mas, para ele, até aqui, é um risco calculado.
O governador é daquelas pessoas que de tolas só tem o caminhado.
Assim, não defende o governo por acreditar que Dilma não cometeu os ilícitos que lhes são atribuídos – sabe que as acusações, pelos menos aquelas formalmente atribuídas estão longe de fazer justiça ao rosário de crimes que ela é o seu governo cometeram.
O governador sabe também que o ex-presidente Lula está longe de ser inocente dos malfeitos e tipificações que as polícias, os órgãos do ministério público estão lhe imputando. Sabe, certamente, esses treze anos da era petista uma ou mais quadrilhas e assenhoraram do poder e roubaram, a não mais poder, os recursos da nação;
Não duvido da sinceridade do apreço que sente pela presidente e também pelo ex-presidente Lula, apesar das inúmeras vezes que por ambos foi preterido, quando estes, tinham como aliados preferenciais no Maranhão, a família Sarney – o senador Sarney como sabemos é irmão de alma do ex-presidente Lula, segundo ele próprio –, nas vezes que disputou eleições o PT, partido de ambos (presidente e ex) foi obrigado, por determinação superior a somar com seus adversários. Ainda em 2014, ainda ontem, foi assim, como foi em 2012, antes de ontem.
Mas não é este apreço que reputo sincero que o move. Não está dando a outra face conforme preceitua os Evangelhos Sagrados.
Ah, então fez o que fez apenas por amor ao direito? Contra o golpe, tão imaginário quanto os moinhos de vento combatido por D. Quixote? Na defesa da legalidade e da Constituição, como declarou? Lógico que não.
Terá sido por medo de sofrer perseguições de um futuro governo de transição do vice-presidente Michel Temer? Uma perseguição ao seu governo no Maranhão, como fez os governos petistas contra os seus adversários? Também não.
O governador sabe que Dilma não existe, tanto Lula quanto o PT são cartas fora do baralho. As lideranças do PT, Lula à frente, a menos que aconteça algo muito extraordinário, não conseguirão se livrar dos «perrengues» com a Justiça. Tanto eles, como, talvez a própria presidente Dilma seja convidada a conhecer o sistema penitenciário brasileiro da perspectiva interna. Isto é fato. O próprio Lula, conforme ficou revelado na escuta telefônica autorizada e divulgada pela justiça tentou ser ministro para escapar de algum mandado de prisão que supunha está destinado a ele – é possível que esteja mesmo.
A cada nova revelação da Lava Jato, a situação dele e de seus companheiros se complica mais.
Assim, não resta dúvida que o ciclo petista chegou ao fim, o ex-presidente Lula, como as mangueiras, não permitiu que ninguém crescesse no partido para sucedê-lo politicamente. Até, mesmo Dilma, se conseguir escapar dos aborrecimentos legais, é incapacitada para liderar qualquer coisa, muito menos as complexas engrenagens políticas.
O governador Flávio Dino tem essa leitura. Ele pouco está ligando para a sorte do petismo, de Dilma ou de Lula. Essa defesa, considerada por muitos como tresloucada, tem um propósito claro: ele quer se credenciar como herdeiro dos despojos petistas. Daí se expor tanto. Ele sabe que estes despojos do petismo, somado ao que possui seu próprio partido significa um percentual de quase 20% (vinte por cento) do eleitorado. Isto é muita coisa para quem é governador de um estado que não representa nem 4% (quatro por cento) do eleitorado brasileiro. Contando que a essa altura ele não tem muitos 2% (dois por cento) destes 4% (quatro por cento) do eleitorado é um bom negócio arriscar-se tanto.
O governador, seus aliados próximos já deixaram claro – e publicaram isso –, têm sonhos mais elevados. A crise política lhes oferece a possibilidade de se credenciar, com folga, a herdeiro destes despojos.
Nesta linha de raciocínio, o governador e os seus, pouco estão ligando se o governo Dilma vai cair ou não. Se o ex-presidente Lula e os seus, virarem hóspedes do Estado.
A bem da verdade, lhe é até conveniente que ambas coisas ocorram. Sabe que, diante da crise, não conseguirá fazer um governo grandioso como sonhou e prometeu. Sem Dilma no governo terá o álibi de dizer que não fez o que queria em razão da perseguição sofrida por ter defendido a defenestrada. Com Dilma, só poderá usar como desculpa o surrado discurso da «herança maldita».
O infortúnio de Lula – quanto mais rápido acontecer –, também lhe será conveniente. O ex-presidente, sem problemas, não terá porque não ser candidato (a não ser um sério problema de saúde), neste caso, o governador, quando muito poderá pleitear a vaga de vice na chapa do petista. Isso, a primeira vista, já lhe serve, mas sonha com mais: quer ele mesmo disputar o principal mandando do país.
O senão desta estratégia é se tornar mais realista que o rei (no caso o Lula) e ganhar a mesma repulsa que ele tem e não conseguir ir além dos despojos conquistados. Quem acompanhou a votação da Câmara dos Deputados, viu que além de suas excelências votarem por suas famílias, mãe, tia, filho, primo suplente, pela sua cidade, comunidade e até pela BR, não sei qual, votaram com mágoa e rancor pelos governos petistas.
Os próprios deputados do Maranhão fizeram isso. O mais eloquente foi o deputado José Reinaldo Tavares (PSB), que pedindo desculpas ao governador disse não ter como atender seu pedido de votar contra o impeachment, invocando as perseguições que ele é seu sucessor Jackson Lago (PDT) sofreram. No caso do deputado socialista, aliás, acho que governador não tinha o direito de lhe pedir voto. Politica não é algo que se faça só com razão.
O governador aposta alto. Não nos cabe sequer manifestar juízo de valor quanto a isso, se está certo ou errado. O tempo é senhor da razão e, como costumava dizer um antigo político maranhense, Lister Caldas: «quem viver, verá».
Abdon Marinho é advogado.