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CINISMO.

Escrito por Abdon Mar­inho

CINISMO.

Vi por aí uma petição pública de uma enti­dade – provavel­mente um dos braços do gov­erno afas­tado – pedindo que o STF torne nulas as nomeações de min­istros inves­ti­ga­dos pela oper­ação Lava Jato.

Em princí­pio – emb­ora entenda que inves­ti­gação, mesmo denún­cias, não faz ninguém cul­pado e numa democ­ra­cia ninguém deva está imune a elas –, sou favorável que pes­soas inves­ti­gadas por crimes tão graves não façam parte de gov­erno, mais ainda, de um gov­erno que se pre­tende de sal­vação nacional.

Mas este é um prob­lema do governante.

O que me chama atenção, no entanto, é o fato de não ter visto essa mesma dis­posição da men­cionada enti­dade em exi­gir providên­cia idên­tica com relação ao gov­erno da sen­hora Dilma Rouss­eff, que, se não me falha a memória, pos­suía quase duas dezenas de inves­ti­ga­dos na mesma operação.

Ah, antes podia, e agora não?

Não sou con­tra a ini­cia­tiva – nem esta nem out­ras que vierem no sen­tido de man­ter o gov­erno sob sev­era vig­ilân­cia –, o que me inco­moda é o cinismo.

E ainda dizem: o Janot só viu irreg­u­lar­i­dade no caso de Lula. Trata-​se de absurdo. O caso do ex-​presidente foi escan­daloso pois tratou-​se de um claro caso de obstrução da Justiça. Nomeou-​se, sobre­tudo para que não fosse impor­tu­nado pelo juiz Moro. As inter­cep­tações tele­fôni­cas rev­e­lam isso.

Não é o que ocorre no pre­sente caso, quando os nomea­dos já pos­suem o foro priv­i­le­giado por serem parlamentares.

Estran­hamente a OAB, que através de seus mem­bros, sabe mais que ninguém que inves­ti­gação e/​ou denún­cia não faz ninguém cul­pado, embarca em mais este absurdo de ado­tar a «pre­sunção de culpa».

É uma vergonha.

DIS­CURSO E PRÁTICA

Escrito por Abdon Mar­inho

DISCURSO E PRÁTICA.

UM DEBATE tolo assalta os meios de comu­ni­cação e mídias soci­ais: recla­mam fer­oz­mente pelo fato do pres­i­dente em exer­cí­cio não ter nomeado nen­huma mul­her para o cargo de min­istro de Estado.

Segundo os críti­cos um desre­speito, um absurdo, que o gov­erno ante­rior era diferente.

Pois é, o gov­erno petista, o par­tido, seus ali­a­dos e adu­ladores sem­pre se jac­taram da defesa das mino­rias, mul­heres, negros, tra­bal­hadores, respeito às liber­dades. Já escrevi algu­mas vezes provando que tudo isso é balela.

No último dia 12/​05, alguns jor­nal­is­tas que TRA­BAL­HAVAM cobrindo a saída da pres­i­dente afas­tada Dilma Rouss­eff do Palá­cio do Planalto foram agre­di­dos. Que belo exem­plo de respeito aos trabalhadores.

Entre os profis­sion­ais agre­di­dos, uma das jor­nal­is­tas mais sérias deste país: ZILEIDE SILVA, da rede globo.

A jor­nal­ista que se fez como profis­sional por sua com­petên­cia, foi agre­dida enquanto TRA­BAL­HAVA. Ela, como sabe­mos é MUL­HER, é NEGRA, é TRA­BAL­HADORA e, se faço as con­tas dire­ito, ela já está quase na mel­hor idade. Nada disso lhe valeu diante dos con­scientes defen­sores da democ­ra­cia que a agredi­ram. A única coisa que viam era o fato de ser jor­nal­ista da rede globo.

Até agora não vi uma nota de protesto dos valentes defen­sores que recla­mam não ter mul­heres no min­istério do novo gov­erno, uma linha dos valentes defen­sores dos negros que se esgoe­lam pelo fato de não ter negros no novo gov­erno, um protesto das cen­trais sindi­cais que já protes­tam con­tra o novo gov­erno. Um miado dos que dizem ardorosos defen­sores da liber­dade de imprensa e infor­mação se ouviu.

As enti­dades de jor­nal­is­tas limitaram-​se aos protestos protocolares.

Pois é, tudo dis­curso. Na prática, na hora de agredi­rem uma mul­her, negra, tra­bal­hadora, o gênero, a cor da pele, o fato de ser tra­bal­hadora pouco importa.

Nem fale­mos aqui nas famosas mul­heres do «grelo duro» ou do polo expor­ta­dor de veados.

CON­SID­ER­AÇÕES INI­CI­AIS SOBRE O NOVO GOVERNO.

Escrito por Abdon Mar­inho

CONSID­ER­AÇÕES INI­CI­AIS SOBRE O NOVO GOVERNO.

NO ÚLTIMO dia 12 de maio o vice-​presidente Michel Temer foi empos­sado como pres­i­dente em exer­cí­cio. Sobre isso faço as seguintes considerações:

  1. Não me sinto respon­sável pelo fato dele ter sido empos­sado. Quem assim deter­mina é a Con­sti­tu­ição Fed­eral e quem o escol­heu como vice-​presidente foi o Par­tido dos Tra­bal­hadores e o arco de alianças que elegeu a pres­i­dente afas­tada Dilma Rouss­eff, não ape­nas uma, mas duas vezes;
  2. O gov­erno Michel Temer tem legit­im­i­dade para gov­ernar. Os mes­mos eleitores que votaram na sen­hora Dilma Rouss­eff votaram tam­bém em Michel Temer. Ele estava lá na urna eletrônica na hora em que os eleitores aper­taram 13 e con­fir­maram. Serviu para com­por a chapa e não serve para governar?
  3. Ilegí­tima seria a rup­tura da ordem con­sti­tu­cional para fazer novas eleições – não pre­vis­tas –, ou a tomada do poder por out­ras forças.
  4. O processo de Impeach­ment é instru­mento legí­timo da democ­ra­cia con­forme esta­b­elece a Con­sti­tu­ição, a lei e foi recon­hecido reit­er­adas vezes pelo Supremo Tri­bunal Fed­eral como den­tro das bal­izas legais. Não havendo que se falar em golpe na democ­ra­cia. O dis­curso de golpe é ape­nas uma tolice;
  5. Os car­gos de min­istro de Estado devem ser ocu­pa­dos por pes­soas com­pe­tentes. Inde­pen­dente de serem bran­cos, negros, amare­los, homens, mul­heres, gays, lés­bi­cas ou sim­pa­ti­zantes. O Estado não tem nada a ver com quem o min­istro dorme ou deixa de dormir. O impor­tante, repito, é que pos­suam com­petên­cia para tirar o Brasil da grave crise em que foi jogado por anos de gov­er­nos irre­spon­sáveis, cor­rup­tos e incom­pe­tentes – con­forme apon­tam mais de dezenas de oper­ações poli­ci­ais e decisões judi­ci­ais em curso no país.
  6. A com­petên­cia de uma pes­soa não é definida por seu gênero ou pela cor da sua pele.
  7. O respon­sável pelo min­istério e por todo o gov­erno é o pres­i­dente. Se ele ou os escol­hi­dos errarem na con­dução de suas pas­tas pagarão por isso. O impor­tante é que a sociedade fique vig­i­lante e não se asso­ciem aos erros dos governantes.
  8. Se o pres­i­dente nomeou pes­soas inves­ti­gadas, ele que arque com as con­se­quên­cias. Entre­tanto, o fato de uma pes­soa ser inves­ti­gada ou, ainda, que responda a ações na justiça não faz da mesma cul­pada. O gov­erno da pres­i­dente afas­tada estava repleto de pes­soas inves­ti­gadas e/​ou respon­dendo ações judi­ci­ais, muitos, talvez, deixem a república de Brasilia direto para a república de Curitiba. Mais, há reais sus­peitas que muitas das nomeações que a pres­i­dente afas­tada fez – a exem­plo da do ex-​presidente Lula –, foi com o claro propósito de obstruir a Justiça.
  9. Se os min­istros do gov­erno Temer «devem», eles que paguem por seus erros. Não meto a “mão no fogo” por ninguém. Errou? Que pague.
  10. Muitos destes, para quem torcem o nariz e dizem que são inves­ti­ga­dos, eram fes­te­ja­dos como heróis, por aque­les que deixaram o poder e seus satélites. Os min­istros de Temer não foram impor­ta­dos de Marte, estavam todos aqui, muitos inte­gravam o gov­erno ou faziam parte da base de sus­ten­tação, sem que ninguém – sobre­tudo aque­les que os acusam – lhes enx­er­gassem defeitos. Ah, se o cor­rupto é do nosso lado é bom?
  11. Acho salu­tar a ini­cia­tiva do gov­erno reduzir o número de min­istérios. Democ­ra­cias mais ricas que o Brasil tem gabi­netes bem menores e não existe no mundo a infinidade de car­gos comis­sion­a­dos que exis­tem por aqui.
  12. A máquina pública brasileira – faz temp que reclamo – é uma da maiores fontes de pre­juí­zos ao país, o Estado pode fun­cionar mel­hor com menos gente pen­duradas em boquin­has. Chega da pop­u­lação brasileira ser sac­ri­fi­cada sus­ten­tando quem não quer tra­bal­har. A Carteira de Tra­balho não existe para assom­brar ninguém;
  13. O Estado, como todos sabem, não pro­duz riquezas, os recur­sos que gas­tam nos per­tence. O mín­imo que podemos fazer é exi­gir que gastem com parcimô­nia e critério;
  14. O gov­erno está começando agora. Se não mostrar a que veio merece e deve rece­ber as crit­i­cas da pop­u­lação – não me furtarei a fazê-​la no momento em que errar. Como disse, nós os cidadãos, não temos com­pro­misso com os erros de ninguém.
  15. O Brasil pre­cisa da união e do sac­ri­fí­cio, é com­preen­sível que seja assim, diante do quadro em nos encon­tramos, entre­tanto, o gov­erno não tem o dire­ito de, sem se sac­ri­ficar, sem cor­tar na própria carne, exi­gir um sac­ri­fí­cio maior dos cidadãos.