AbdonMarinho - RSS

4934 Irv­ing Place
Pond, MO 63040

+1 (555) 456 3890
info@​company.​com

GUERRA AOS MENINOS.

Escrito por Abdon Mar­inho

GUERRA AOS MENINOS.

O TIT­ULO deste texto é, sim, uma alusão à música de Roberto Car­los lançada em 1981, denom­i­nada “Guerra dos Meni­nos”. A música, de letra sim­ples, fala dever ser a infân­cia, luz em forma de menino, a inocên­cia da sabedo­ria, da esper­ança na voz de um menino e, que aos poucos, enquanto can­tavam, iam for­mando um batal­hão de paz, (com cri­anças) que vin­ham de todos os lugares e aos poucos eram mil­hões espal­hando amor aos corações.

Depois de incon­táveis «lá, lá, lá”, encerra última estrofe dizendo que «uma luz imensa apare­ceu, tocaram fortes os sinos, os sons eram divi­nos e a paz tão esper­ada acon­te­ceu, inimi­gos se abraçaram e jun­tos fes­te­jaram, o bem maior, a paz, o amor e Deus”.

Nos últi­mos tem­pos tenho pen­sando e, sobre­tudo, can­taro­lado essa música. Tenho me feito inúmeros ques­tion­a­men­tos sobre o que o país fez com o seu futuro nos últi­mos anos. O Brasil e sua sociedade fra­cas­sou. Um redun­dante fra­casso em tudo – ou quase tudo – que se ref­ere as nos­sas crianças.

As cri­anças são víti­mas e autoras (dupla­mente víti­mas) de vio­lên­cias inom­ináveis. Em ape­nas um mês diver­sos casos foram expos­tos para o con­junto da sociedade pelos meios de comu­ni­cação. Um deles, uma cri­ança de 10 anos foi morta pela polí­cia enquanto empreen­dia fuga num carro que acabara de roubar em um con­domínio com um par­ceiro de 11 anos.

O pará­grafo acima, prin­ci­pal­mente a última parte é de mere­cer ser lido como se estivésse­mos em câmera lenta e em caixa alta: UMA CRI­ANÇA DE 10 ANOS FOI MORTA PELA POLÍ­CIA ENQUANTO EMPREEN­DIA FUGA NUM CARRO QUE ACABARA DE ROUBAR EM UM CON­DOMÍNIO COM UM PAR­CEIRO DE 11 ANOS.

Não podemos ficar indifer­entes a este tipo de notí­cia. Em um mês, ape­nas um mês, li e assisti, out­ras três ou qua­tro matérias semel­hantes, envol­vendo cri­anças nesta faixa de idade, que nem entraram na adolescência.

No mesmo mês, tam­bém, tive­mos notí­cias de estupros cole­tivos, um ou dois, se não me falha a memória, prat­i­ca­dos por menores (ou com a par­tic­i­pação deles) con­tra out­ras cri­anças, adolescentes.

Quando Roberto Car­los lançou essa música, se não me falha a memória, tinha esta idade ou um pouco mais, e estava brin­cando com car­rin­hos de lata, pas­sar­in­hando, descendo as ladeiras em car­rin­hos de rolimã ou numa cox­upa de coqueiro.

A menos para mim, parece incom­preen­sível que ao invés de estarem brin­cando com car­rin­hos de lata ou de rolimã ou pas­sar­in­hando, ten­hamos cri­anças roubando car­ros (de luxo ou pop­u­lares) e tro­cando tiros com polícia.

Não são poucos os que atribuíram as mortes destas cri­anças, ocor­ri­das em ape­nas um mês, repita-​se, à bru­tal­i­dade poli­cial. Pode até ser, não podemos fechar os olhos ao fato de ter­mos uma polí­cia mal treinada, mal for­mada, por vezes, despreparada, cor­rupta e acuada pela crim­i­nal­i­dade cada vez mais cres­cente, mas não podemos nos con­tentar com esta expli­cação, colo­car mais uma vez a culpa na poli­cia e nos fur­ta­mos ao debate da questão central.

Lem­bro que quando da morte da cri­ança pela polí­cia den­tro do carro rou­bado (se não me falha a memória, uma pajero), a mãe do mesmo, em pran­tos dizia: era ape­nas uma cri­ança. Uma colo­cação ver­dadeira, abso­lu­ta­mente ver­dadeira, mas que esconde inúmeras out­ras, como por exem­plo, o que fazia uma cri­ança de dez anos, altas horas da noite, se ocu­pando do ofi­cio de roubar? Onde estava a mãe ou o pai, avós ou tios, que não tomavam de conta da cri­ança? Desta ou de tan­tas out­ras que povoam os dois lados da vio­lên­cia: como prat­i­cantes ou vítimas?

A sociedade brasileira habituou-​se a querer tratar das con­se­quên­cias das coisas sem preocupar-​se com as suas ori­gens. Faz tempo que digo – aqui mesmo – que o país enfrenta um prob­lema serio: o aban­dono das cri­anças pelo núcleo familiar.

Estas cri­anças aban­don­adas pelos seus, acabam gan­hando as ruas, seja na prática de crimes – os mais graves –, no uso de dro­gas – dos mais vari­a­dos tipos –, e aí, uma coisa vai ali­men­tando a outra (o vicio ali­menta o crime e vice-​versa), na pros­ti­tu­ição e suas variantes.

Quando apro­fun­damos qual­quer pesquisa sobre o tema con­stata­mos até absur­dos mais graves (se é que isso seja pos­sível), como a venda de meni­nos e meni­nas pelos próprios pais ou na explo­ração pelos mes­mos na prática dos mais vari­a­dos crimes.

A con­tribuição estatal a esse tipo de coisa é mate­ri­al­izada nas leis que – com a des­culpa de pro­te­ger as cri­anças e ado­les­centes – os tor­nam imunes à qual­quer punição inde­pen­dente do crime que ven­ham praticar. Uma cri­ança de até 12 anos que saque uma arma e mate um pai de família que volte do tra­balho ou da padaria, não sofre qual­quer con­se­quên­cia pelo seu ato. Ele é sim­ples­mente entregue aos pais e pode voltar para casa e dormir tran­qüilo, podendo no dia seguinte fazer tudo de novo.

A situ­ação das cri­anças mor­tas ou deti­das no último mês e que nos refe­r­i­mos neste texto (os autores) já tin­ham diver­sas pas­sagens pela polí­cia, pela prática de crimes semelhantes.

Emb­ora em menor número, tam­bém, não temos como deixar de recon­hecer a outra con­tribuição mate­ri­al­izada no estim­ulo à mater­nidade incen­ti­vada por pro­gra­mas soci­ais como “Bolsa Família” e seus correlatos.

Lem­bro de já ter con­tado por aqui a exper­iên­cia vivida por uma amiga feita secretária munic­i­pal de saúde em deter­mi­nado inte­rior maran­hense. Repito. Certa vez ela chegou ao tra­balho e encon­trou uma cri­ança, com no máx­imo 13 anos, em adi­antado estado de ges­tação. Chamou-​a para alerta-​lhe dos riscos da gravidez na ado­lescên­cia e dos cuida­dos que dev­e­ria ter. Foi a vez da ado­les­cente surpreende-​la: – Doutora, já sei destes riscos. Este já é o meu segundo filho. O primeiro “fiz” porque pre­cisava “arru­mar” a casa, agora, com este, com­binei com o pai dele, que vamos com­prar uma moto.

Os pro­gra­mas soci­ais no Brasil – que nasce­ram com o propósito de serem pro­visórios –, viraram per­ma­nentes e, pior, não temos mais como pre­scindir dos mes­mos. Outro dia um amigo, advo­gado do inte­rior, chegou para mim e disse: – Abdon, se o gov­erno acabar com os pro­gra­mas nos moldes dos “Bolsa Família” é só a «conta» de muita gente mor­rer de fome. Ninguém pro­duz mais nada no inte­rior, fazem um “bico” aqui ou ali e pas­sam o resto do mês pedindo esmo­las aos políti­cos e esperando o bolsa família, a aposen­ta­do­ria do INSS, o seguro-​defeso, etc.

A real­i­dade é esta: os pro­gra­mas foram detur­pa­dos, viraram esmo­las, moedas de tro­cas políti­cas e incen­tivos para as pes­soas terem fil­hos como estraté­gia para mel­ho­rar a renda famil­iar. Sem con­tar as infind­áveis fraudes.

Um país onde cri­anças nascem para sus­ten­tar adul­tos não tem perigo algum de dar certo. As últi­mas décadas é prova viva do que digo.

No episó­dio em que a criança/​assaltante foi morta pela polí­cia (dói dizer isso, mas não temos como dizer difer­ente), a mãe ou tia bra­dava: «– era uma cri­ança; era uma cri­ança». Pena que só fora enx­er­gar que era uma cri­ança quando esten­dida no asfalto. Ninguém lem­brou tratar-​se de uma cri­ança quando esta neces­si­tava de cuida­dos, acom­pan­hamento ou mesmo amor.

A guerra dos meni­nos de Roberto Car­los, can­tada como um hino de paz, não acon­te­ceu, no seu lugar, o país nos brinda com uma «guerra aos meni­nos», onde o que se escuta é o barulho dos tiros, o brandir das facas. Uma guerra onde não tem espaço para a inocência.

Ninguém é inocente no Brasil.

Abdon Mar­inho é advogado.

CERTEZAS, DÚVI­DAS, DESGRAÇAS.

Escrito por Abdon Mar­inho

CERTEZAS, DÚVI­DAS, DESGRAÇAS.

QUANDO MENINO, bem menino, cos­tu­mava dizer – sem nen­huma orig­i­nal­i­dade –, que na vida, só tín­hamos certeza da morte. Com o pas­sar do tempo e já com a respon­s­abil­i­dade dos adul­tos, pas­sei a dizer – tam­bém sem qual­quer orig­i­nal­i­dade –, que tín­hamos certeza de duas coisas: que um dia mor­reríamos, mas que antes disso, pagaríamos muitos, muitos, impostos.

A política brasileira, ao menos momen­tanea­mente e sem des­cu­rar da esper­ança que um dia, talvez não tão dis­tante, alcançare­mos dias mel­hores, me trouxe mais uma certeza: cer­ta­mente mor­rere­mos, com mais certeza ainda pagare­mos impos­tos e, que a classe política brasileira piora a cada eleição que passa, con­sti­tuindo para as finanças públi­cas, a mesma coisa que rep­re­senta para a plan­tação, o que os cat­a­clis­mos para as infraestru­turas das nações, as tragé­dias nucleares para a humanidade.

Tal certeza decorre de uma sim­ples análise das matérias que diari­a­mente inun­dam os noti­ciosos. A última – pelo menos até aqui, cer­ta­mente ter­e­mos out­ras antes mesmo de pub­licar este texto –, rev­ela que o Par­tido dos Tra­bal­hadores – PT, além de todo o mar de lama já exposto, mais uma ocu­pação: roubar moedas, um roubo silen­cioso dos gabi­netes, mas no varejo, um setenta cen­tavos, setenta cen­tavos ali, out­ros acolá, até atin­gir a estratos­férica quan­tia de 100 mil­hões, ou mais. Não bas­tasse a ati­tude de roubar já ser reprovável, há, ainda, um ingre­di­ente a torná-​la mais medonha: roubavam moedas dos tra­bal­hadores. Daque­les desvali­dos e/​ou frag­iliza­dos que pre­cisavam tomar emprés­ti­mos consigna­dos. Dia após dia, estavam lá tirando uma moed­inha dos tra­bal­hadores a quem juraram defender e pro­te­ger da explo­ração capitalista.

Sabe­mos, e as notí­cias e provas estão aí a ates­tar, que coisas bem piores fiz­eram, rou­bos bem maiores praticaram, mas, não deixa de ser emblemático que tam­bém roubassem no varejo, moed­in­has. E, logo eles que alcançaram o poder com a promessa de mod­i­ficar os cos­tumes e faz­erem tudo difer­ente do que vin­ham fazendo os par­tidos que ocu­param o poder antes deles.

Não deixa de ser irônico, mas sig­amos em frente.

Lem­bro, desde que me entendo por gente, de os mais vel­hos diz­erem: – nunca vi uma rep­re­sen­tação política tão ruim.

E, cada nova eleição tal frase se repetindo. Certa vez, ao ouvir tal colo­cação de um amigo, respondi-​lhe: – espera mais qua­tro anos que cer­ta­mente verá.

O Brasil, e isso não é de hoje, tem assis­tido o min­guar de homens públi­cos decentes. Cada vez, se cristal­iza a certeza que a ativi­dade política, a rep­re­sen­tação ou a direção dos negó­cios do Estado, não se des­ti­nam às pes­soas de bem (as exceções exis­tem ape­nas para jus­ti­ficar a regra), antes à malta de inca­pazes que uma vez no poder se mostram capazes de tudo.

A ativi­dade política virou uma espé­cie de «porto seguro» para aque­les que não servem para nada e que ingres­sam na política não para servir ao Estado e sim para servir-​se dele.

Neste cenário, o Maran­hão é um (grave) caso à parte. Por onde pas­samos temos a notí­cia ou a com­pro­vação de municí­pios destruí­dos pela ação dos agio­tas que, em face da omis­são dos cidadãos, se assen­ho­ram do poder e pas­sam a exercer, de fato, o poder político.

Estes agio­tas tornaram-​se os ver­dadeiros «faze­dores» de prefeitos, reti­rando, após as eleições, os val­ores investi­dos nos pleitos mul­ti­pli­ca­dos por uma infinidade de vezes. Isso, quando não colo­cam famil­iares ou pre­pos­tos para, através dos quais, coman­dar estes municípios.

Os exem­p­los da prática nefasta estão aí, espalham-​se pelo estado inteiro, com o risco de nes­tas eleições, sem uma ação efe­tiva dos pro­mo­tores e juízes eleitorais, e tam­bém da polí­cia, tomarem «de assalto» inúmeros out­ros municípios.

A prática da agio­tagem dis­sem­i­nada pelo estado, não está restrita ape­nas aos rincões mais atrasa­dos, há notí­cias da ação crim­i­nosa em municí­pios médios e até mesmo na cap­i­tal. São notí­cias graves, como uma dando conta de solic­i­tação de din­heiro a estes finan­ciadores infor­mais por jor­nal­is­tas para «tra­bal­harem» a cam­panha de algum ou alguns postulantes.

As polí­cias, estad­ual e fed­eral, pre­cisam apu­rar se tais notí­cias pos­suem fundo de ver­dade até para deses­tim­u­lar ideias deste tipo.

Noutra quadra, caso se con­firme isso, será mais uma des­graça a se somar a falta de per­spec­tiva dos eleitores da capital.

Não é de hoje que São Luís padece de um marasmo e os eleitores são com­peli­dos a votar mais por exclusão que por convicção.

A eleição deste ano será mais uma assim. Os eleitores não têm em quem votar e, por isso mesmo, se obrigam ape­nas a escol­her o menos ruim ou moti­var o voto no inter­esse pes­soal e momen­tâ­neo a ser obtido.

Diante do quadro posto, não tenho razão para recrimina-​los. Não é que os can­didatos pos­tos sejam ruins do ponto de vista pes­soal, até, com pil­héria chego a dizer que são todos can­didatos bons, e com­pleto, «para casar».

Sejamos fran­cos, os can­didatos colo­ca­dos à dis­posição dos eleitores da cap­i­tal, em que pese pos­suírem qual­i­dades pes­soais, que não dis­cuto, não estão à altura do desafio de admin­is­trar os imen­sos prob­le­mas que a cidade enfrenta e que pre­cisa superar. Me per­doem por tal fran­queza, temos diante de nós, e já vem de longe, exem­p­los claros de inapetên­cia geren­cial. Não são estes quadros que irão resolver os prob­le­mas de São Luís, nen­hum deles, e torço para está errado, me parece capaz de fazer de São Luís a cap­i­tal que todos os maran­henses almejam.

Lamento que os nomes colo­ca­dos à dis­posição do eleitorado «pareçam» tão inca­pazes, só espero que não sejam capazes de tudo.

Seria a des­graça total.

Abdon Mar­inho é advogado.

UM TRISTE FIM.

Escrito por Abdon Mar­inho

A ÚNICA fil­i­ação par­tidária que tive – e man­tenho até hoje – é a do Par­tido Social­ista Brasileiro – PSB onde ingres­sei logo no iní­cio dos anos noventa. Por conta desse enga­ja­mento, emb­ora sem pre­tender con­cor­rer a qual­quer cargo público, ele­tivo ou não, par­ticipei, com meu par­tido, das cam­pan­has do Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT, de 1989

até aquela que elegeu o ex-​presidente Luis Iná­cio Lula da Silva em 2002 – sim, tenho minha parcela de culpa, peço perdão a todos.

Já no iní­cio do gov­erno, vi que o mesmo «não tinha perigo de dar certo» e me afastei, emb­ora o PSB, fizesse parte do gov­erno. Assim, como me afastei, quase com­ple­ta­mente de qual­quer mil­itân­cia político/​partidária durante os anos seguintes. Advo­gado novo, em iní­cio de car­reira e sem – como se diz no sertão – ter um cachorro a latir por mim em qual­quer lugar, tive que mer­gul­har no trabalho.

Mas, ape­sar do tra­balho, sem­pre me man­tive ativo e inteirado sobre a política nacional e local. Até porque, como advo­gado atu­ante no dire­ito eleitoral está era e é uma neces­si­dade que se impõe.

Fiz estas con­sid­er­ações para dizer que emb­ora crítico do PT e do gov­erno que fiz­eram, a imagem da sua sede nacional siti­ada por poli­ci­ais camu­fla­dos enquanto faziam uma busca de quase oito horas me falou fundo.

Não me chamou atenção às prisões de impor­tantes ex-​ministros, mais de dezena de man­da­dos de prisão con­tra out­ros cidadãos, as bus­cas ou apreen­sões real­izada sem diver­sos lugares. O que ficou mar­cado, neste olhar fati­gado – como diria Ban­deira –, foram os homens das forças de segu­rança, arma­dos, em posição de com­bate sitiando a sede do Par­tido dos Tra­bal­hadores – PT. Não se trata, neste momento, sequer, de inda­gar as moti­vações. Cer­ta­mente, motivos exis­tem em abundân­cia e bem poucos descon­hecem o que o par­tido e seus diri­gentes andaram fazendo com o din­heiro público. Ainda aque­les que encon­tram numa enganosa ascen­são social uma jus­ti­fica­tiva para elidir os crimes cometi­dos, eles estão aí, à vista de todos e cla­mam para não serem ignorados.

Ape­sar disso tudo, o que me des­perta inter­esse é a simbologia.

Lem­bro, como se fosse hoje, que chorei ao ouvir o dis­curso de posse de Lula em janeiro de 2003. Ainda recordo da emoção que senti ao ver, pela primeira vez, um homem do povo, operário, cidadão comum, com eu e tan­tos out­ros, chegar ao posto de man­datário maior do país. Mais, que chegava com uma ideia ven­dida para mil­hões de brasileiros de que o din­heiro público não iria mais ser desvi­ado para uma elite que espo­li­ava a nação para aten­der às suas ambições pes­soais; que não iria roubar, não iria deixar que os rou­bos acon­te­cessem mais e que iria inve­stir com respon­s­abil­i­dade os recur­sos públicos.

A imagem da polí­cia cer­cando a sede do par­tido, em plena democ­ra­cia, com as insti­tu­ições fun­cio­nando de forma reg­u­lar, por seus «malfeitos», por terem suas lid­er­anças máx­i­mas se tor­nado, em uma década, os ver­dadeiros ladravazes da República é algo efe­ti­va­mente chocante e simbólico.

Em meio a tanta infor­mação, não lem­bro de ter teste­munhado a polí­cia fed­eral fed­eral cer­cando outro diretório de par­tido. Não lem­bro ver cerco ao diretório do PMDB, do PR, do PP, ape­nas para citar out­ros inte­grantes do con­sór­cio que dirigiu o país na última década.

O cerco deu-​se jus­ta­mente naquele par­tido que um dia já foi depositário das esper­anças de tan­tos e tan­tos mil­hões de brasileiros.

Emb­ora desde muito tempo soubésse­mos dos malfeitos e traquina­gens do par­tido a quem um dia con­fi­amos o voto, o sig­nifi­cado do cerco é que aque­les em quem deposi­ta­mos tanta con­fi­ança são tão iguais ou piores que os demais aos quais nos habit­u­amos a satanizar.

O pior, repito, é saber­mos que a Justiça Fed­eral, o Min­istério Público e a Polí­cia Fed­eral não se equiv­o­caram ao pro­mover o cerco e ainda nos fazer com­pro­var que esper­ança um dia deposi­tada num sonho de mudança foi uma aposta em quem nada tinha a ofer­e­cer. Mais, que mon­taram e coman­daram uma estru­tura com o claro propósito de saquear a nação, tanto para si e para o deleite pes­soal dos seus, quanto para o deleite daque­les a quem se asso­cia­ram no intento criminoso.

Encerro com uma rem­i­nis­cên­cia. Logo que o sen­hor Lula chegou ao poder – quem me con­tou essa foi um amigo petista – um dos mil­i­tantes mais aguer­ri­dos da leg­enda confidenciou-​lhe que a maior decepção da sua vida seria desco­brir que o pres­i­dente recém-​empossado deixara o cargo rico, com fazen­das, etc. Infe­liz­mente, acho, que este mil­i­tante estava longe de imag­i­nar que coisas bem piores faria e que a imagem do diretório nacional do par­tido siti­ado pela polí­cia seria a mais expres­siva prova do mal que o sen­hor Lula e os seus causaram ao país.

Tamanha des­graça não é algo a se fes­te­jar, é, sim, motivo para refle­tir e lamen­tar. Sobre­tudo lamen­tar pelos mil­hões que viram suas esper­anças se esvair.

Abdon Mar­inho é advogado.

Obser­vação: imagem col­hida do site UOL.