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UMA DITADURA QUE SE DESINTEGRA.

Escrito por Abdon Mar­inho

UMA DITADURA QUE SE DESINTEGRA.

TENHO fome. Vai me matar porque tenho fome?

A expressão é de um cidadão enfrentado a poli­cial nas ruas de Cara­cas. A imagem por um momento me trans­portou aos even­tos de quase trinta anos ocor­ri­dos na China no que ficou con­hecido como «O mas­sacre da Praça da Paz Celes­tial», onde um cidadão enfrentava uma col­una de tan­ques, fazendo-​os parar.

A cena do cidadão fam­into enfrentando a poli­cia me pare­ceu mais dolorida que aquela ocor­rida na China, e que gan­hou o mundo, até porque, segun­dada por ima­gens igual­mente fortes: uma mul­her come uma melan­cia recol­hida no lixo de um mer­cado; uma moça se abaixa no mesmo lixo apanha uma fruta e sai rápido do local – como a envergonhar-​se do que acabara de fazer.

Colhi estas dolorosas infor­mações de um doc­u­men­tário sobre a Venezuela rev­e­lando a grave situ­ação econômica, polit­ica e human­itária que atrav­essa o viz­inho do norte.

Rev­ela tam­bém o tamanho do fra­casso da exper­iên­cia boli­var­i­ana naquele país – e em qual­quer outro.

A crise na Venezuela – que por razões óbvias pouco se fala por aqui: os anti­gos ali­a­dos por não terem o que dizer diante do desas­tre e os opos­i­tores por nunca darem a dev­ida importân­cia aos assun­tos sul-​americanos –, há muito deixou de ser uma crise mera­mente econômica, polit­ica ou social. A natureza da crise é human­itária. As pes­soas estão mor­rendo por falta de assistên­cia, estão pas­sando fome, estão sem rece­ber remé­dios bási­cos ou essen­ci­ais para suas enfer­mi­dades, estão sem con­seguir sus­tentarem a si e aos seus familiares.

O Brasil, sobre­tudo, os esta­dos do Norte e prin­ci­pal­mente Roraima, já sente os efeitos do descal­abro no país viz­inho pois mil­hares de migrantes já cruzam a fron­teira em busca de tra­balho, assistên­cia médica e/​ou mesmo comida. Nas ruas de Boa Vista já são encon­tradas pes­soas que vivem da pros­ti­tu­ição ori­un­das do país viz­inho. A velha pros­ti­tu­ição de sem­pre, que nos tem­pos de crise aguda passa a ser exer­cida por diver­sos tipos de profis­sion­ais: médi­cos, engen­heiros, advo­ga­dos, etc. A Argentina viveu essa dramática exper­iên­cia. O Brasil tam­bém já vive, emb­ora de forma oculta, os efeitos da crise e do desemprego.

A nossa sorte é que a econo­mia brasileira é maior que a destes países.

Pois bem, emb­ora dire­ta­mente afe­tado pela situ­ação na Venezuela, o Brasil con­tinua omisso. Se recusa a ter uma par­tic­i­pação mais efe­tiva na solução dos con­fli­tos no país vizinho.

Antes, era com­preen­sível tal com­por­ta­mento: a cegueira ide­ológ­ica não per­mi­tia que as lid­er­anças do país enx­er­gassem a já avançada ditadura, a destru­ição dos fun­da­men­tos da econo­mia, a perseguição política, e tudo mais que levou aquele país à ruína. Muito pelo con­trário, os gov­er­nantes brasileiros, indifer­entes ao que se pas­sava, tinha no chamado régime boli­var­i­ano um mod­elo a seguir. Tanto assim que as maiores lid­er­anças do país, de então, par­tic­i­param das cam­pan­has – inclu­sive empre­stando apoio mate­r­ial –, de Chaves e a eleição do atual pres­i­dente, Nicolás Maduro.

Essa devoção ao autori­tarismo boli­var­i­ano de Chaves e Maduro por parte das nos­sas autori­dades, fez com que o Brasil lev­asse um «espeto» mon­u­men­tal no caso da refi­naria Abreu e Lima, em Per­nam­buco e outro maior ainda nas obras que o BNDES finan­ciou na Venezuela – neste último caso não podemos perder de vista que eram sócios na roubal­heira, con­forme já rev­elou mais de um dela­tor na Oper­ação Lava Jato.

Agora é difer­ente, temos um novo gov­erno mais afeito a um mundo democrático.

Diante disso, foge a nossa com­preen­são que o Brasil se man­tenha silente em relação ao país viz­inho, sem ten­tar qual­quer tipo de par­tic­i­pação ou inter­me­di­ação para que o país encon­tre uma saída. Não é demais lem­brar que temos mil­hões de dólares – din­heiro do con­tribuinte – por lá. O mín­imo que esperá­va­mos era que a nossa diplo­ma­cia «falasse grosso» em relação às graves vio­lações dos dire­itos humanos, às prisões arbi­trárias de opos­i­tores, às reit­er­adas arti­man­has do pres­i­dente Maduro para adiar a con­vo­cação do ref­er­endo pre­tendido pela oposição, etc. Não é o que vemos, pouca coisa mudou em relação ao com­por­ta­mento que man­tinha o gov­erno ante­rior. Diver­sos out­ros países, até mesmo o Estado do Vat­i­cano, tem tido uma posição mais efe­tiva em relação a crise venezue­lana que o Brasil. Basta dizer que a Igreja Católica vem cos­tu­rando o diál­ogo entre o gov­erno e a oposição. Diál­ogo este que não irá muito longe, trata-​se, tão somente, de uma cortina de fumaça para o gov­erno Maduro se man­ter no poder por mais um tempo ou que caia de podre.

Os dita­dores são assim: se acham mel­hor que todos e nunca sabem a hora de deixar o poder. Tra­bal­ham com a per­spec­tiva de se eternizarem nos car­gos que ocu­pam. Quando muito, e para venderem a ideia de uma democ­ra­cia, per­mitem um rodízio ou criam mecan­is­mos na con­sti­tu­ição a per­mi­tir reeleições infini­tas e diz­erem que foram eleitos pela von­tade do «povo».

Os casos estão aí, ao redor do mundo, no nosso con­ti­nente. A Venezuela é o exem­plo mais per­feito disso. O chav­ismo domi­nou todas as insti­tu­ições, manip­u­lou a pop­u­lação com políti­cas pop­ulis­tas man­ti­das às cus­tas das receitas abun­dantes ori­un­das das reser­vas de petróleo. Com isso, se deu ao luxo de aprovar a sua reeleição, depois as que­ria infini­tas e, em con­tra­partida, ofer­e­ceu o ref­er­endo revo­gatório: uma pos­si­bil­i­dade da pop­u­lação revogar o mandato do gov­er­nante. Ele, Chaves, pai da ideia, se sub­me­teu a um. E saiu can­tando vitória por ser um gov­erno que mais se sub­me­tera a eleições.

Naquela ocasião seus ali­a­dos, inclu­sive os daqui, não ape­nas ven­diam seus feitos como ten­tavam implan­tar o mod­elo boli­var­i­ano no Brasil. Chegaram a fazer cam­panha por alter­ação na Con­sti­tu­ição Fed­eral que per­mi­tisse a reeleição infinita do pres­i­dente, no caso especí­fico, do sen­hor Lula. Por muito pouco o Brasil não se tornou uma Venezuela, no seu pior.

Já naquela opor­tu­nidade, na Venezuela, como agora as insti­tu­ições estavam dom­i­nadas pelo grupo que se assen­horeou do poder. Tanto que são elas que sus­ten­tam o gov­erno apo­drecido do sen­hor Maduro. Sobre o tal ref­er­endo revo­gatório solic­i­tado pela oposição já cri­aram tan­tas regras casuís­ti­cas que difi­cil­mente acontecerá.

Os brasileiros que tanto defendiam o mod­elo venezue­lano, diante do caos que aquele país enfrenta, não dão um pio, nem em sol­i­dariedade aos que têm fome. Arran­jaram out­ras ban­deiras: serem con­tra a lim­i­tação de gas­tos — nos moldes que foram con­tra o Plano Real e a Lei de Respon­s­abil­i­dade Fis­cal; serem con­tra a reforma do ensino médio, que todos sabem pre­cisa ser refor­mado, com urgên­cia; e serem con­tra o gov­erno Temer, que eles mes­mos elegeram.

Abdon Mar­inho é advogado.

DIRE­ITO É PARA QUEM TEM, NÃO PARA QUEM GRITA MAIS ALTO.

Escrito por Abdon Mar­inho

DIRE­ITO É PARA QUEM TEM, NÃO PARA QUEM GRITA MAIS ALTO.

COR­RIA o ano de 1995 quando nós, estu­dantes de dire­ito da Uni­ver­si­dade Fed­eral do Maran­hão – UFMA, fomos chama­dos para uma assem­bleia no auditório cen­tral. Na pauta, delib­erar sobre a par­al­iza­ção da uni­ver­si­dade em apoio à greve de então, acho que era dos petroleiros. Cheguei cedo, sentei-​me na frente e me inscrevi para falar no evento. Movi­mento, clara­mente, orquestrado, se suce­diam os oradores num dis­curso monolítico de que devíamos par­al­isar a uni­ver­si­dade. Só me deixaram falar depois de muita luta, após pedir reti­radas vezes a palavra dizendo que estava inscrito.

Na minha vez de falar argu­mentei que o movi­mento teria como único efeito prej­u­dicar os estu­dantes, sem efeito prático algum diante de um gov­erno recém-​eleito, por larga maio­ria de votos e apoio popular.

A maio­ria da assem­bleia acabou por apoiar minha argu­men­tação e, em con­se­quên­cia, naquele ano o curso de dire­ito não entrou em greve o que nos per­mi­tiu con­cluir o curso no ano seguinte. Isso não teria acon­te­cido se eu – ou outra pes­soa – não estivesse pre­sente ou não me man­i­fes­tasse na dita reunião.

Lembrei-​me deste episó­dio diante do atual momento de ocu­pações de pré­dios públi­cos em protestos con­tra a chamada PEC do teto de gas­tos e con­tra a reforma do ensino médio.

Os dois motivos são na ver­dade pre­tex­tos para uma pauta política do grupo que foi ali­jado do poder no processo de impeach­ment. A ideia é provo­car o máx­imo de des­gaste político ao gov­erno do suces­sor e assim, tentarem voltar com uma can­di­datura com­pet­i­tiva em 2018. Os estu­dantes são usa­dos nesta pauta, como, aliás, sem­pre foram.

Argu­men­tam que a PEC do teto vai tirar recur­sos da saúde e da edu­cação. Ninguém diz quanto será reti­rado, como será.

Na ver­dade a pro­posta fala na manutenção dos inves­ti­men­tos do ano ante­rior mais a cor­reção da inflação e isso somente a par­tir de 2018, no caso da edu­cação. No caso da saúde, além de só começar a apli­cação da PEC no mesmo ano, os val­ores des­ti­na­dos à saúde pas­sarão de 13% (treze por cento) para 15% (quinze por cento) do Pro­duto Interno Bruto – PIB, o que rep­re­senta uma mel­hora nos val­ores que são investi­dos em quase 10 bil­hões. Claro que, num país como o nosso, todo recurso é pouco. Mas pior mesmo é o país «que­brar» e não ter como fazer inves­ti­mento algum.

O país fechará as con­tas este ano com um déficit de cerca de R$ 170 bil­hões e não se está falando em corte de gas­tos, está se lim­i­tando através de um teto aquilo que qual­quer um é capaz de enten­der: o gov­erno não pro­duz riquezas, o din­heiro que gasta com tudo é fruto dos impos­tos que pag­amos. Logo, ou se ade­qua os gas­tos ao que se arrecada ou ter-​se-​á que aumen­tar a arrecadação, com mais impos­tos para a sociedade.

Como ninguém apre­senta uma alter­na­tiva – mesmo porque ela não existe –, noutras palavras, estão se movi­men­tando pelo aumento dos impostos.

A ideia de que a PEC do teto rep­re­senta a «exter­mínio do futuro do país» é abso­lu­ta­mente falsa. Os gas­tos sem con­t­role, sim, rep­re­sen­tam o fim da expec­ta­tiva econômica do país, pois logo o descon­t­role, como já vinha ocor­rendo, pas­sará a ali­men­tar a inflação e, por con­se­quên­cia, levar à ruína toda a econo­mia do país.

Emb­ora a juven­tude ilu­dida não saiba, os mais vel­hos exper­i­men­ta­ram o que é a vida com hiper­in­flação, escassez de pro­du­tos, desem­prego e econo­mia em frangalhos.

O que está em curso é o velho embate político que sem­pre prej­u­di­cou o país. Não se trata de uma luta por mais recur­sos para a edu­cação, saúde ou inves­ti­men­tos soci­ais. Isso resta claro quando lem­bramos que, em 2015, a pres­i­dente Dilma Rouss­eff, na ten­ta­tiva de con­ter a crise econômica fez cortes expres­sivos nos orça­men­tos de diver­sos min­istérios. Só na edu­cação foram R$ 10 bil­hões, na saúde, assistên­cia social out­ros tantos.

Os que hoje protes­tam enfi­aram a lín­gua no saco e nada dis­seram. E estavam diante de cortes reais no orça­mento anual.

Os que falam em out­ras alter­na­ti­vas ao lim­ite de gas­tos não imple­men­taram nen­huma nos treze anos em que estiveram à frente da nação.

A PEC fala em con­t­role de gas­tos no prazo de vinte anos. Mas o que impede de ser revista caso a econo­mia se recu­pere antes, o pais entre nos eixos? Nada. Emb­ora, deva­mos ter em mente que gov­erno nen­hum deve gas­tar além dos recur­sos que arrecada.

A outra moti­vação para as ocupações/​invasões é a chamada pro­posta de reforma do ensino médio. Ora, a reforma do ensino médio é uma pauta que existe desde sem­pre. No Con­gresso Nacional já existe uma pro­posta que se arrasta há um bom tempo.

Não lem­bro de tê-​los visto fazendo uma ocu­pação para que a reforma ande rápido. Não lem­bro de tê-​los visto man­dando um sub­sí­dio, uma proposta.

A pro­posta de reforma do ensino médio, ape­sar de encam­in­hada como Medida Pro­visória, pode e deve ser mel­ho­rada. O que impede os que se dizem «pre­ocu­pa­dos» pro­porem suas ideias? Nada. Será que são con­tra a reforma do ensino médio? Estão todos sat­is­feitos com a qual­i­dade do ensino ofer­tado? Se estão são mais irra­cionais do que se imagina.

Os valentes que ocu­pam esco­las enten­dem que mel­ho­rarão a qual­i­dade do ensino impedindo jovens que querem estu­dar. Trata-​se de uma punição dupla. Os alunos das esco­las públi­cas já estu­dam em condições des­fa­voráveis em relação aos estu­dantes das esco­las pri­vadas e, como agra­vante, pas­sam parte do ano sem poder estu­dar por conta de uma mino­ria que entende de ocu­par suas esco­las. Será que esperam mel­ho­rar a qual­i­dade do ensino impedindo os estu­dantes de estudarem?

Na ver­dade, nome de um falso democ­ra­tismo se aceita a imposição da von­tade da mino­ria em detri­mento dos anseios da maio­ria dos estu­dantes. O pior que é que as enti­dades que dev­e­riam defender os inter­esses da maio­ria se omitem.

Cheg­amos ao absurdo de sus­penderem o ENEM de cen­te­nas de alunos que fariam o exame em deter­mi­nada escola porque DEZ inva­sores se dizem «donos» da mesma. Pois é, DEZ supos­tos estu­dantes prej­u­dicam cen­te­nas de jovens que pas­saram o ano se preparando para o exame que é porta de entrada de diver­sas universidades.

Para os desco­la­dos estes dez inva­sores têm mais dire­ito à escola que cen­te­nas de out­ros jovens. Será que isso faz algum sentido?

Outro dia chamou-​me a atenção uma ten­ta­tiva de ocu­pação do Liceu Maran­hense. Estudei no Liceu nos anos 80 e fui um dos fun­dadores do seu grêmio estudantil.

As primeiras notí­cias sobre o episó­dio davam conta de repressão poli­cial ao movi­mento dos estu­dantes que que­riam ocu­par a quase bicen­tenária escola. Depois li a nota do pres­i­dente do grêmio estu­dan­til onde diz que aquele grêmio, após con­sulta aos estu­dantes da escola, decidi­ram por se posi­cionar con­tra as ocu­pações, enten­dendo que tal método de luta não rep­re­senta uma alter­na­tiva sen­sata e fere o dire­ito daque­les pre­ten­dem cumprir o cal­endário esco­lar. Depois a direção da escola esclare­ceu que mais que uma «ocu­pação» tratou-​se de uma invasão do pré­dio público por ele­men­tos estran­hos à escola e, por esta razão chamou a polícia.

A situ­ação parece absurda. Temos estu­dantes de out­ros esta­b­elec­i­men­tos – pelas infor­mações seriam da uni­ver­si­dade estad­ual – ten­tando arreg­i­men­tar mil­itân­cia para ocu­pação de uma escola em que os estu­dantes, através de sua rep­re­sen­tação, enten­deu ser inde­v­ida e que a direção da escola ado­tou a medida ade­quada à luz do dire­ito para repeli-​la.

Ambos, direção e grêmio agi­ram cor­re­ta­mente. O primeiro em con­sul­tar os alunos e o segundo por fazer aquilo que podia para impedir a invasão da escola. A poli­cia agiu como dev­e­ria e como se esper­ava. Se há uma ten­ta­tiva de invasão de uma pro­priedade, ou você faz uso da força para impedi-​la ou chama a polí­cia em seu socorro.

Entendi como fora de ordem foi o com­por­ta­mento da Sec­re­taria de Edu­cação, da Sec­re­taria de Segu­rança e do próprio gov­erno do estado que, em suas man­i­fes­tações, agi­ram como se estivessem reprovando a ação da poli­cia chamada para con­ter, de pronto, uma invasão de um pré­dio público por pes­soas estra­nhas à comu­nidade esco­lar. Só fal­taram pedir des­cul­pas por agir de forma correta.

Que­riam que a direção escola deix­as­sem a invasão ocor­rer? Que não chamasse a poli­cia? Que entre­gassem a escola aos «ocupantes/​militantes» e perdessem o ano letivo? Que seus alunos não formassem?

A ideia trans­mi­tida – ainda que invol­un­tari­a­mente –, nas várias notas, é que as autori­dades do alto escalão apoiam as invasões – a nota da SEDUC fala em pauta nacional – em detri­mento da comu­nidade de estu­dantes e de pro­fes­sores que querem con­cluir o ano letivo em paz e sem maiores prejuízos.

Como já explic­i­tado acima, as pau­tas têm viés político – como todo embate –, onde uma mino­ria, ao que parece, mostra-​se mais mere­ce­dora de dire­itos que o con­junto da sociedade.

Será que alguém, em sã con­sciên­cia, acha justo que mil­hões de estu­dantes sejam pri­va­dos de estu­dar porque uma mino­ria decidiu, como estraté­gia de luta política, ocu­par as esco­las? Ou que mil­hares de estu­dantes não façam o ENEM porque as esco­las estão ocu­padas, as vezes por uma cen­tena ou menos de estu­dantes? Os estu­dantes fil­i­a­dos as enti­dades têm mais dire­ito às esco­las que aque­les que ape­nas querem estudar?

Acred­ito que poucos estu­dantes lem­bram a última vez que tiveram um ano letivo reg­u­lar. Todo ano, por essa ou aquela razão, as aulas são par­al­isadas e os estu­dantes são man­da­dos para casa. Não é sem razão que o país «apanha» em todos rank­ings educacionais.

Acho que já passa da hora de alguém dar um basta nisso.

Abdon Mar­inho é advogado.

UMA GUERRA SEM VENCEDORES.

Escrito por Abdon Mar­inho

UMA GUERRA SEM VENCEDORES.

QUEM venceu a eleição de São Luís neste segundo turno? Uma per­gunta tola. Uma ligeira pesquisa rev­ela que o atual prefeito, Edi­valdo Holanda Júnior, sagrou-​se vence­dor ao obter 53,94% dos votos váli­dos, con­tra 46,06% dos votos do seu opo­nente, o dep­utado estad­ual Eduardo Braide.

Ao vence­dor bas­taria ape­nas um voto de difer­ença. Obteve mais de 40 mil, em ter­mos per­centu­ais, cerca de sete por cento.

Mas, além dos números, esta­mos diante de uma vitória a mere­cer fes­te­jos e fanfarras?

A análise deve ir além da adu­lação devotada aos eleitos e que nunca é desinteressada.

A expressão Vitória Pír­rica ou Vitória de Pirro serve para des­ig­nar aquela vitória obtida com um custo ele­vado. Leva esse nome em hom­e­nagem ao rei Pirro do Épiro, vence­dor dos romanos na Batalha de Her­a­cleia, em 280 a.C., e na Batalha de Ásculo, em 279 a.C., na chamada Guerra Pír­rica, à custa de per­das irreparáveis ao seu exército.

O prefeito venceu a eleição, ocu­pará por mais qua­tro anos o Palá­cio de La Ravadiere. Mas, a que custo? Qual o nível de acerto fir­mou com os fiadores desta estre­ita vitória?

Quando se escala para batal­has gen­erais do quilate do gov­er­nador Flávio Dino, dos dep­uta­dos Wew­er­ton Rocha, Waldir Maran­hão, Oth­e­lino Neto; lid­er­anças como o secretário Már­cio Jerry, pres­i­dente do PC do B, e tan­tos out­ros, dezenas de vereadores, e se obtém uma vitória com menos de dez por cento de difer­ença, todos se tor­nam sócios da con­quista, todos dese­jarão seu quinhão.

Vou além. Quando ques­tiono quem venceu e custo desta con­quista, tam­bém me refiro aos con­ceitos e con­vicções que adqui­r­i­mos e luta­mos, do que seja uma democ­ra­cia e como os líderes políti­cos nelas, devam se portar.

Vejamos, desde 1985, quando os prefeitos das cap­i­tais pas­saram a ser escol­hi­dos através de eleições dire­tas, após os vinte e um anos do régime de exceção, não se ouvia falar tanto, com tanta inten­si­dade de abuso de poder político, econômico e o que os valham.

Algo semel­hante e ainda assim dis­tante do que vimos nesta eleição – uma ver­dadeira guerra – se deu na eleição daquele ano, quando o can­didato do «gov­erno» fora apoiado pelo prefeito de então, pelo gov­er­nador e até pelo pres­i­dente da República. O can­didato fazia questão e até usou como slo­gan a expressão: «Força Total». E era a força total que se via com máquinas das prefeitura e do estado asfal­tando ruas dia e noite, abrindo estradas, fazendo favores, dis­tribuindo ces­tas bási­cas e tan­tos out­ros bene­fí­cios à pop­u­lação mais vulnerável.

Diante das infini­tas denún­cias de cidadãos que ouvi e vi pelos mais vari­a­dos veícu­los de comu­ni­cação, não foi muito difer­ente do que ocor­reu nesta eleição. E, com um agrava­mento, naquele tempo as coisas não eram divul­gadas como hoje numa infinidade de blogs, redes soci­ais e demais veícu­los à soldo das admin­is­trações estad­ual e munic­i­pal o cria o efeito expo­nen­cial dos malfeitos.

Quem não can­sou de ver a mídia do gov­erno estad­ual divul­gar suas ações, e estas mes­mas serem divul­gadas pelo candidato/​prefeito na pro­pa­ganda eleitoral? E estas mes­mas pro­pa­gan­das serem repli­cadas por inúmeros blogueiros e per­fis nas redes de inter­net e nos diver­sos mod­e­los de mídias? Será que estas obras e ações con­tin­uarão com o mesmo furor daqui para frente?

O que se diz que fiz­eram nes­tas eleições (aqui estendo ao inte­rior) – e não tenho motivos para duvi­dar – é abso­lu­ta­mente incom­patível com a promessa feita pelo gov­er­nador ao assumir o mandato: de que estava procla­mando a República no Maranhão.

Não vejo como repub­li­cano um gov­erno dese­qui­li­brar uma dis­puta eleitoral em favor de um can­didato numa eleição munic­i­pal. E o dese­qui­líbrio ocor­reu com a exe­cução de obras de asfal­ta­mento e calça­mento de ruas e out­ras medi­das clara­mente explo­radas como da suposta «parce­ria» estado/​prefeitura que o próprio gov­er­nador fez questão de enfa­ti­zar na pro­pa­ganda do can­didato que apoiava.

Mas não é só, todos – ou quase todos – aux­il­iares do gov­er­nador estavam envolvi­dos dire­ta­mente na cam­panha do candidato/​prefeito. Não se tratava de man­i­fes­tação indi­vid­ual de cidada­nia. Era uma orques­tração delib­er­ada obe­di­ente a um comando central.

Numa República que mereça ser chamada assim, o mín­imo que se pode esperar das autori­dades é um dis­tan­ci­a­mento insti­tu­cional da dis­puta, garan­ti­ndo que os com­peti­dores ten­ham mesmo nível de armas. Não foi o que se viu.

E teve mais. Não lem­bro de ter ouvido, noutras opor­tu­nidades o que ouvi nes­tas eleições. Segundo dizem, dezenas de jornalistas/​blogueiros, talvez cen­te­nas, estavam a serviço da prefeitura e do gov­erno estad­ual para «descon­struir» o adver­sário ou adver­sários do candidato/​prefeito, ou seja, essa infinidade de matérias neg­a­ti­vas do can­didato opos­i­tor, segundo dizem, estavam/​estão sendo ban­cadas pelo cidadão con­tribuinte que vota, no prefeito, no opos­i­tor ou em quem quiser, mas o seu din­heir­inho é usado em bene­fí­cio de ape­nas um.

Não é de agora, serviços de «inteligên­cia» ou para fazer «jogo sujo», inves­ti­gar os adver­sários, soltar notí­cias sobre os mes­mos sem­pre exi­s­ti­ram. Emb­ora não seja recomendável – acred­ito que o debate eleitoral deva ocor­rer no campo das ideias –, não se tem como impedir. O que tem de difer­ente, repito, segundo dizem, é que o poder público, nas duas esferas esteve «ban­cando» este tipo de com­por­ta­mento crim­i­noso. Daí porque diver­sos blogueiros e jor­nal­is­tas críti­cos dos gov­er­nos munic­i­pal e/​ou estad­ual pas­saram a só enx­er­gar as qual­i­dades de ambos e a pin­tar os opos­i­tores com as cores de satanás.

Como des­graça pouca é bobagem, ainda segundo dizem, infor­mações sob a guarda e respon­s­abil­i­dade do Estado e infor­mações de inquéri­tos e proces­sos em cur­sos foram «facil­i­tadas» para que chegassem ao con­hec­i­mento deste apar­elho crim­i­noso de difamação.

As notí­cias são graves e não guardam semel­hança com as promes­sas do gov­er­nador na sua cam­panha e por ocasião de sua posse e que pre­cisam de um olhar atento das demais autori­dades do Min­istério Público e do Judi­ciário. Aliás, pre­cisam que o próprio gov­er­nador caia em si e perceba que tem algo fora de ordem. Essa não foi a luta que trava­mos durante toda a nossa vida pela alternân­cia de poder no Maranhão.

A luta sem­pre foi por uma alter­na­tiva ao sar­neysmo e não por um retorno ao vitorin­ismo ou algo pior. Não se trata de com­bater pes­soas e sim, ideias, práti­cas. Se você assume em com­bater deter­mi­na­dos méto­dos e passa, ao con­trário, a praticá-​los, não está sendo igual aos ante­ces­sores, está sim, sendo pior.

Se tem fundo de ver­dade tais notí­cias, esta­mos diante de um estado poli­cial que usa poder para oprimir, difamar e con­stranger as pes­soas que ousam dis­cor­dar do governo.

Pois bem, com tudo isso, e ainda com a escalação do «bate­dor de pênalti», gov­er­nador Flávio Dino, para decidir a par­tida – numa prática de inserções, segundo soube, con­sid­er­adas abu­si­vas pela justiça eleitoral –, con­seguiu colo­car ape­nas sete pon­tos per­centu­ais à frente do adver­sário. Ainda mais, quando este adver­sário revelou-​se pos­suir frag­ili­dades intransponíveis no campo da ética, apon­tando, inclu­sive, como par­ticipe em escân­da­los inde­fen­sáveis. Tudo isso explo­rado à exaustão diante dos olhos da sociedade.

Ora, se para vencer um can­didato com tan­tas frag­ili­dades fez-​se uso de todo esse arse­nal, o que teriam de fazer para vencer alguém com bom nome, inat­acável, com com­petên­cia reconhecida?

Con­siderando todos esses fatos; con­siderando que até levar o can­didato para votar o gov­er­nador se prestou – e logo cedo para imagem ressoar o dia inteiro nos meios de comu­ni­cação –, não é sem razão inda­gar se houve algum vence­dor nesta guerra. Se houve, esta­mos diante de uma autên­tica vitória de Pirro.

Ao meu sen­tir, ninguém saiu vito­rioso. Mas a maior der­rota foi mesmo da esper­ança que um dia tive­mos de ver o Maran­hão longe de tan­tos vícios e cam­in­hando para o desen­volvi­mento com democ­ra­cia, com liber­dade, com igualdade.

Como dizia o poeta: «vejo o futuro repe­tir o pas­sado, vejo um museu de grandes novidades…»

Abdon Mar­inho é advogado.

(Texto sem correção).