A SANGRIA DAS OBRAS PÚBLICAS.
CERTA VEZ perguntei a um empresário a razão as obras públicas brasileiras serem tão caras e tão mal feitas. Com a confiança só dispensada aos amigos, respondeu-me: – Abdon, são assim porque todo mundo quer um pedaço do dinheiro. Desde o que apresenta a proposta da obra até o responsável pelo pagamento. Não tem como funcionar e ter qualidade, arrematou.
Lembrei desta conversa ao ver uma matéria, outro dia, dando conta que em determinado município brasileiro uma obra orçada pelo poder público por quase 300 mil (270 mil), a população, em mutirão, conseguiu executar gastando apenas 5 mil. Mais, em curtíssimo espaço de tempo, salvo engano, cerca um mês.
O exemplo é esclarecedor (e aterrador), ainda que consideremos o trabalho voluntário prestado pelos munícipes a diferença entre o valor orçado e o que foi gasto é muito grande.
O exemplo de Barra Mansa, no Rio de Janeiro, é, em maior ou menor escala, uma amostra do que vem ocorrendo no resto do país e comprova o que já dizia meu pai: «meu filho, quem atira com pólvora alheia não toma chegada».
Andando pela cidade, as «Barra Mansa» se multiplicam.
Mais de uma vez, já tratei da obra de duplicação da MA 203, a Avenida dos Holandeses, na altura do Bairro Araçagy, já achava demais que estivessem em execução desde outubro de 2013, com prazo de 300 dias. ao custo de 10 milhões por quilômetro, quase 30 por três quilômetros. Já estamos em meados de 2016, 1000 dias do início das obras e a tal duplicação ainda não tem prazo para entrega. Pior, antes de ser entregue vai passar uma tal «requalificação» que vai consumir mais uma grande soma de recursos públicos e mais um bom tempo de paciência dos contribuintes.
Mas, desgraça pouca é bobagem. Até aqui, a qualidade da tal duplicação é sofrível, os buracos estão em toda extensão e, pela base que vi fazendo não vai melhorar muito, não. Deve ser mais uma daquelas feitas para durar um ou dois invernos. E, reparem que nem foi entregue.
Esta série de problemas e desacertos significam o respeito dispensado ao contribuinte. Como pode ser aceitável se «requalificar» uma obra que sequer chegou a ser concluída? Quem errou o projeto? Quem vai pagar por tais equívocos – além dos contribuintes, claro?
Há, ainda, uma questão essencial a ser respondida que é se o custo do quilômetro da duplicação não está elevado. Ainda mais se consideramos o aporte para a “requalificação» que farão.
Na saída da cidade vejo a alteração que fizeram nas imediações do aeroporto. Inegável que o fluxo do trânsito ficou bem melhor. Assim, como as outras alterações viárias feitas noutros pontos. O que questiono, além da qualidade das obras é o custo. A obra da Areinha antes da inauguração já revelava a péssima qualidade, e foi uma obra cara.
Na intervenção feita no aeroporto o que mais me assustou foi o preço, se não vi errado, quase R$ 3 milhões.
Na mesma esteira de fim de mandato, se anuncia uma intervenção nas rotatórias localizaras na Forquilha. Não são os viadutos prometidos há décadas. Pelo que vi vão apenas eliminar rotatória colocando no seu lugar um cruzamento e vão fazer umas vias nas extremidades.
Já ouvi dizer que tal intervenção está orçada em R$ 8 milhões. Em sendo verdade, vão gastar uma pequena fortuna para fazerem um «puxadinho», que, embora alivie um problema no momento, está bem longe de significar uma solução duradoura.
Não acredito e não tenho elementos, nem de longe, sobre malversação de recursos públicos nestas e em tantas outras obras. Apenas acho-as caras, principalmente, se considerarmos a qualidade das mesmas. Muitas não duram nem até a inauguração.
Quando se é pobre – como é o meu caso –, que o sou por parte de pai, mãe e parteira, tendemos a achar caras obras que passam de milhão. Por conta disso, ao passar por alguma delas, as examino e penso: «aí não “cabe» trinta, três ou oito milhões». Mas, como disse, talvez este pensamento esteja relacionado ao meu complexo de pobreza.
As autoridades, devem pensar que está tudo bem e até que estão gastando pouco.
É, quem atira com pólvora alheia não toma, mesmo, chegada, como diria meu pai.
Abdon Marinho é advogado.