A CONSPIRATA DOS LENÇÓIS.
VIAJAVA ao extremo norte do estado, quando, em Luís Domingues, me alcançou a notícia, ainda meio truncada de que “tomaram» o PDT de Léo Costa. Incomunicável a maior parte do tempo, logo que consegui acessar uma rede de internet, vi a mensagem deste amigo.
Dizia: – Dr., tomaram o partido do Léo.
Respondi-lhe: – Como foi isso, rapaz? Por que deixaram o nosso “baianinho» sem partido? *
No meu retorno à ilha procurei informar-me sobre o que se passava nos lençóis. Em meio a tantos desencontro de informações, ao que me parece, a que mais se aproxima da verdade é a que diz: “as lideranças do PDT conversaram com prefeito Léo na tentativa de dissuadi-lo a disputar a eleição, argumentando que o mesmo não ia bem nas pesquisas, como não conseguiram convencê-lo, fizeram uma intervenção, tomando-lhe o comando do partido”.
Justificativas para a intervenção, decerto, surgirão para todos os gostos e interesses, não me voltarei a elas.
Ainda que os motivos para a intervenção fossem justos e estivessem dentro da legalidade formal, o ato foi, ética e moralmente reprovável. Como diria meu pai, se vivo fosse, faltou consideração.
Nas indagações sobre o acontecido descobri que o ex-governador Jackson Lago colocara um apelido em Léo Costa, chamava-o de Pero Vaz de Caminha. O apelido era uma alusão ao fato de Léo ter redigido a primeira ata do partido por ocasião de sua fundação e ter respondido por sua secretaria-geral nos primeiros cinco anos de existência.
Com trinta e cinco anos de filiação partidária integra aquilo que seus adversários, no município de onde atua politicamente, apelidaram, jocosamente, de “pedetistas de pés amarelos”, em referência a cor amarela que ficava nos pés após de 10 (dez) dias, ou mais, andando a pé no barro difundindo a mensagem do partido e a importância da política como instrumento de mudança nos destinos das pessoas.
Esta, aliás, sempre foi a ideia que o moveu, juntamente com outros companheiros, como Jackson Lago, Neiva Moreira, Policarpo Neto, Reginaldo Teles, Maria Lúcia Teles, Agenor Gomes, e tantos outros a apostarem no trabalhismo de Leonel Brizola e não seguirem no movimento da moda daquele momento que era o petismo de Lula, muito mais presente nas universidades e comunidades de base da Igreja Católica.
A política do Maranhão tem uma história que se confunde com a vida destas lideranças, pessoas que se dedicaram a construir uma alternativa de poder colocando os cidadãos como protagonistas de seus próprios destinos em oposição ao coronelismo representado pelo grupo Sarney, da política distante do povo.
A política pela política, o poder pelo poder, nunca foram razões válidas para o afastamento do convívio dos seus na busca de “evangelizar”, convencer o cidadão de que o seu voto vale mais que uma moto, um par de sandálias, um prato de comida.
Esta, a Politica verdadeira, com “P» maiúsculo, não fez de tais lideranças milionários, pelo contrário, muitos fizeram-na movidos por sonhos, não sendo poucas as vezes que sofreram necessidade, ficaram sem ter como fazer o supermercado ou pagar as contas no fim do mês.
Na outra quadra, os que fizeram da política um negócio, enricaram, tornaram-se donos de empresas, imóveis diversos, aviões, carros de luxo, etc. Como conseguiram isso, tendo como oficio unicamente os mandatos conseguidos com os votos dos cidadãos mais humildes? Conciliaram os mandatos com a gestão dos negócios ou usaram os mandatos para desviar os recursos que deveriam ser investidos em favor do povo a quem juraram defender?
A conspirata de Barreirinhas, incomodou-me pessoalmente. Ao meu sentir simboliza a degradação da política brasileira, onde os interesses pessoais ou de uns poucos desconhecem a história e o respeito que deve haver entre as pessoas.
O que temos assistido nestas eleições são os “donos” das legendas em âmbito local/estadual e até nacional, fazerem negócios com os partidos, negociando-os de qualquer jeito, atendendo, sabe se lá a quê interesses.
Denunciei tal situação na tribuna do TRE na sessão de quinta-feira, 28 de julho.
Hoje, a forma mais fácil de ganhar uma eleição deixou de ser conquistar o voto com o debate de ideias e sim impedir que o adversário dispute a eleição, fazendo qualquer tipo de conchavo nas instâncias superiores dos partidos.
No caso de Barreirinhas, segundo dizem, houve um pacto entre o PDT e o PC do B, uma espécie de «Tratado de Tordesilhas» (consta o termo numa nota), em que os líderes destes partidos dividiram o estado em áreas de influência, um se comprometendo a tirar do caminho os «adversários incômodos», sem qualquer preocupação. Em assim sendo, trata-se de uma vergonha inominável.
Ah, dirão, o Léo Costa não tinha a menor chance na disputa eleitoral ou, o que interessa na política é vencer a eleição.
A argumentação fere de morte a razão de toda a luta que foi travada no Maranhão. Quantas não foram as vezes em que entramos na disputa já sabendo que não tínhamos chance alguma? A prevalecer tal lógica deveríamos ter desistido lá atrás, não teríamos fundado os partidos, não teríamos batido de porta em porta na busca de convencer os cidadãos sobre a importância de votar, de não vender o voto, etc. Como voltar as estas casas? O que dizer a estes cidadãos?
Ora, teria sido mas cômodo cada um, ao invés de lutar para transformar sonhos em realidade, irem cuidar de suas próprias vidas, de suas famílias e deixar a política com os profissionais da política, esta com “P” minúsculo que enxergam no resultado das urnas a razão e o fim da luta.
A Conspirata dos Lençóis, ainda que tenha um êxito momentâneo, materializado na vitória de quem aproveita a retirada de Léo Costa da disputa, representa, na verdade, uma derrota dos homens de bem, daqueles que deram suas vidas, que sacrificaram suas famílias em nome de um sonho coletivo. O político Léo Costa é apenas a primeira vítima das qualidades do cidadão Léo Costa, alguém que está muito além dos interesses mesquinhos e pessoais que tomara de assalto a política maranhense.
Costumo dizer que eleição foram feitas para uns perderem e outros ganharem. O que não podemos perder, em nenhuma das duas situações, é a dignidade, a famosa, mas em desuso, vergonha na cara.
Abdon Marinho é advogado.
(*)Nota: Há um tempo, em conversas com amigos íntimos comuns, coloquei em Léo Costa o apelido de “baianinho”, uma alusão ao seu estilo excessivamente pacífico, cordado, desligado das preocupações terrenas, digo que ele atingiu o nirvana muito antes de qualquer monge budista. A estes mesmos amigos, quando vão ou estão em Barreirinhas indago: – vais à Bahia? Como está nossa Bahia? Léo nem desconfia.