TEMER É O QUE TEMOS.
O BRASIL revela-se um país dicotômico e antagônico. Antes que alguém venha dizer que quero falar difícil, vou logo esclarecendo: revela-se dividido (ainda que não seja ao meio) em duas partes em que uma se opõe absolutamente a outra, em tudo. Como trevas e luz; branco e preto; morte e vida; mortadela e coxinhas e por aí vai.
Neste cenário, alguém me indaga: – o senhor apoia o governo Temer?
A esta indagação costumo responder: – Temer é o que temos.
Ora, mais que uma resposta, trata-se de compreender a real situação do país e como chegamos até aqui.
O presidente, ainda em exercício, Michel Temer, é um subproduto da aliança desastrosa entre o PT e o PMDB que legou ao país a maior crise de todos os tempos, com a recessão nas alturas, a ameaça de termos a maior redução de PIB de toda nossa história, a inflação que não arrefece, e o desemprego que ceifou quase doze milhões de postos de trabalho. Mais, que nos legou a maior degradação moral e ética que se tem notícia na história da humanidade. Acredito que nem Roma, no seu declínio, experimentou o que vivenciamos atualmente por aqui.
As pessoas com um mínimo de discernimento sabiam que a aliança entre estas duas forças, tendo como coadjuvantes o que sempre existiu de pior na política nacional, era o caminho mais breve para a ruína total. E a ruína veio, só levou pouco mais de uma década para se mostrar em todo seu esplendor.
Muitos – entre os quais me incluo –, passamos de aliados a críticos logo nos primeiros dias, em 2003. Outros esperaram 2005, outros apenas agora começam a perceber que mais que as burras da nação, a «gangue» que se apoderou do poder, não levou apenas os recursos da nação, roubaram-nos, também, os sonhos.
Os mais ingênuos, imaginavam que as velhas raposas da política brasileira iriam usar os puros do Partido dos Trabalhadores – PT, para seus propósitos desonestos. Ainda hoje existem estes ingênuos a apontar como equivocada a aliança e os puros foram corrompidos pelos «homens maus» da política nacional. Não conseguem ver que o PT aprendeu tão rápido a lição da arte de aliviar os cofres públicos, que de alunos tornaram-se mestres. E, as velhas raposas da República dos Sarney, Jucá, Renan e Barbalho, meros aprendizes.
O presidente Temer faz parte de toda essa engrenagem. Seu partido só deixou a aliança que destruía o Brasil quando percebeu a chance real do impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff, vingar e, eles, os “peemedebistas», herdarem o poder.
Noutras palavras, Temer e seus correligionários do partido e de alguns satélites, fazem parte da herança, do legado com os quais nos brindou o Partido dos Trabalhadores – PT. Causa-me estranheza que tratem uns e outros como se nãos os conhecessem, como se fossem estranhos, como se não tivessem partilhados, em conjunto, dos mesmos desvios. Ora, a maioria da provas e acordos de colaboração são uníssonos e relatar que que as propinas eram dividas entre estes partidos, PT e PMDB à frente.
Embora, os ainda ingênuos (ou loucos), insistam na tese de que a presidente afastada poderia retornar ao poder, qualquer um sabe que ela já não tinha condições de governar o país antes, muito menos agora. A insistência nesta tese, tem apenas o condão de trazer mais atraso ao país, retardar o retorno à normalidade.
Ainda que fosse possível, o que teriam a oferecer? Nada. Continuariam levando o país à bancarrota, como fizeram nos últimos treze anos.
Nesta babel que se tornou a política brasileira, aparecem, ainda, alguns iluminados reclamando – acredito que pensando mais nos projetos de cunho pessoal que no país –, a realização, ainda este ano, de novas eleições presidenciais.
Ora, tal solução afrontaria totalmente a ordem constitucional vigente. A menos que houvesse uma renuncia dos titulares – e aí passando a chefia da nação ao presidente da Câmara, que está impedido, do Senado, que possui pedido de prisão e de afastamento – ou a aprovação de uma emenda constitucional de duvidosa constitucionalidade, nas duas casas do Congresso Nacional, em duas votações, em cada uma, com quorum qualificado. Já pensaram nisso? Não me parece exequível. Não diante da urgência que temos para fazer o país voltar a funcionar.
Qualquer um que não esteja querendo «jogar para a plateia» sabe da inviabilidade de tal proposta.
Leio, aliás, que esta é uma das promessas da presidente afastada na tentativa de angariar apoios para um possível retorno. Mais uma vez, como fez durante toda a campanha de 2014, coloca-se como porta-voz do marqueteiro (não sei qual, já que titular virou hóspede do Estado em Curitiba, Paraná), sabendo que está enganando o povo com um engodo. Primeiro que jamais faria tal proposta. Segundo, que, como já disse, não seria coisa fácil de acontecer e não dependeria unicamente dela.
Se quer ajudar o país, poderia começar renunciando. Depois teria legitimidade para cobrar a renúncia dos demais e cobrar a realização de novas eleições.
Mais, tudo isso, essa encenação toda, como dizia meu velho e saudoso pai, não passa de conversa para boi dormir.
O certo a fazer seria fortalecer o atual governo, como de união nacional, para superar a grave crise em que foi mergulhado país. Não temos mais tempo a perder e não temos, também, o direito de ficar inventando soluções fora da realidade e que só servem para alimentar boatos e instabilidade.
Encerro repetindo que Temer é o que temos. Trabalhar pelo insucesso do seu governo é trabalhar pelo fracasso do país. E isso, só interessa aos que não têm compromisso algum com o Brasil.
Abdon Marinho é advogado.