O BRASIL É MAIOR.
DAQUELES tumultuosos dias em que o Brasil, conflagrado, discutiu, votou e aprovou o impeachment do primeiro presidente eleito após a redemocratização do país, senhor Collor de Melo, trago na memória uma manchete de jornal ou revista (já não recordo direito) que dizia: «Eles pensavam que o Brasil era Alagoas».
O Brasil de hoje vive situação semelhante, temos uma presidente afastada e um presidente em exercício. O processo é traumático – até mais do que deveria – mas não é o «fim do mundo», basta dizer que o ex-presidente Collor votou neste outro impedimento. Tudo seria bem mais simples se fosse adotado no país o modelo parlamentarista. Mas essa é uma outra discursão.
O que me vem à cabeça é indagar: «O que “eles» pensavam que era o Brasil?» Será que, a exemplo de Collor, pensavam que o Brasil era uma republiqueta sem povo, sem instituições? Que o nosso povo continuaria a aceitar ser espoliado?
O exemplo mais claro que não tinham dimensão do que era este país foi a «quartelada» estudantil protagonizada pelo deputado Waldir Maranhão, presidente interino da Câmara, do ex-advogado-geral do União, Eduardo Cardozo e do governador do Maranhão, Flávio Dino. Pensaram que o Congresso Nacional era um congresso da UNE – União Nacional dos Estudantes ou da UBES – União Brasileira dos Estudantes Secundaristas. Entidades que desde muito perderam suas características para se tornarem longa manus de partidos políticos.
O governo, na pessoa da presidente afastada, e do seu círculo íntimo sabiam da tentativa desesperada, da «conspirata orquestrada por Maranhão. Esse conhecimento demonstra viverem num mundo paralelo, numa realidade diferente da vivida pelo resto da população. Qualquer um sabia que aquela tentativa desesperada não funcionaria, não tinha como ser levada a sério. Acho, até, que enfraqueceu o discurso da presidente afastada nesta reta final. Uma coisa de aloprados que causou um monumental prejuízo ao país.
Agora mesmo, no afastamento da presidente, mais uma prova de que não pensam no Brasil – talvez nunca tenham pensado. Será que acham normal não passarem as informações necessárias ao presidente em exercício para que a máquina pública continue funcionando de forma a não sofrer solução de continuidade? Será que acham saudável ao país anunciarem que não darão um dia de trégua ao novo governo?
Esse tipo de comportamento já não ocorre nem nos mais atrasados municípios maranhenses. A legislação estadual obriga um prefeito que sai a fazer a transição e a passar as informações ao sucessor.
Assim, devemos descartar que os aloprados pensassem que o Brasil era o Maranhão. Aqui, pelo menos nisso, já viramos essa página sabotagem.
Causa espanto que a presidente afastada tenha orientado seus ex-ministros a sumirem com as informações para que os ministérios e repartições não continuem funcionando normalmente sob novo comando.
O governo FHC, sucedido pelo senhor Lula, não só fez a transição como foi fiador das primeiras iniciativas do novo governo que se instalava. Esse é o comportamento que se espera de quem deixa o governo, de quem pensa no país.
Ao que parece, a presidente afastada, seu partido, seus aliados e liderados apostam e torcem para que o Brasil continue patinando, que o desemprego que maltrata os pais de famílias não diminua e os trabalhadores não tenham o que comer.
Deve fazer parte do ideário que os trabalhadores, os mais humildes tenham que sofrer para se tornarem “revolucionários”. Quanta tolice. Quanta maldade.
Não é isso que querem quando deixam de prestar as informações sobre a situação da máquina púbica, das receitas e das despesas? Não sabem que o fracasso do país penaliza, sO BRASIL É MAIOR.obretudo, os mais frágeis financeiramente? Será que é assim, sonegando dados e sabotando o novo governo que provam amar o povo?
A presidente afastada ao deixar o cargo repetiu – mais uma vez – o surrado discurso do golpe. Um golpe aprovado por 367 deputados federais e 55 senadores, e, com todos os atos praticados, até aqui, sob a supervisão da Suprema Corte. A argumentação soa como um profundo desrespeito para com as instituições que juraram respeitar e com as quais manteriam uma relação independente e harmônica.
Vou além, a presidente afastada e os seus, esquecem a principal razão dos fatos que culminaram com o seu afastamento: a população brasileira nas ruas. Será que para eles o povo é apenas um detalhe?
Pois é, esqueceram o principal: quem tirou o governo foi o povo. A oposição veio a reboque dos acontecimentos protagonizados por cidadãos comuns, gente do povo. Se não fossem as maiores manifestações populares já assistidas no país, o momento atual, com o segundo impeachment de presidente, em menos de 30 anos, não estaria acontecendo.
Apesar disso, o governo da presidente Dilma Rousseff e os seus, ignoraram do primeiro ao último dia o povo. Ao que parece continuarão a fazer isso, não, por não colaborarem – nunca fizeram isso com governo algum, pensam que só eles podem governar – mas sendo mesquinhos, a ponto de sonegar informações.
Até agora foram incapazes de reconhecer os erros que cometeram. Fingem desconhecer o mar de lama que tomou conta da máquina pública. Negam aquilo que é de conhecimento público: uma quadrilha especializada em desvios de recursos públicos, na cobrança de propinas e tantos outros «malfeitos» se apoderou do Estado de forma acintosa.
A cada dia uma revelação mais surpreendente que a anterior.
Um dia é a informação da propina na Petrobras, no outro são os desvios nos fundos de pensão, no seguinte que os financiamentos bancados no exterior pelo BNDES foram, também, uma fonte de desvios. O despropósito chegou ao ponto da cúpula partidária exigir, segundo disse um empresário em colaboração com a Justiça, propina retroativa.
Uma inovação para um país que já pensava conhecer de tudo.
Os meios de comunicação escancaram a dolorosa realidade todos dias. Ignoram.
A qualquer momento a realidade que tanto se recusam a reconhecer acabará por bater à porta de distintas ex-autoridades materializada em homens vestidos de preto com mandados a serem cumpridos.
Acontecendo isso, talvez se dêem conta que o Brasil sempre foi maior que todos aqueles que tentaram subjugá-lo, transformando numa republiqueta de bananas, maior que suas mazelas, maior que todos eles.
Abdon Marinho é advogado.