NA BUSCA DA COMPREENSÃO.
NESTES meus anos de existência tenho cultivado mais dúvidas que certezas. Não é que não saiba ou não compreenda tais situações. Até sei é compreendo. Minhas dúvidas, são basicamente, cultivavas pela necessidade de compreender os pontos de vistas opostos aos meus, mesmo, os mais incompreensíveis.
Um amigo costuma dizer que gostaria de assistir meu velório – não é, ao menos segundo ele, que deseje minha morte, longe disso –, para poder ver o comportamento da infinidade de pessoas com as quais tenho convivido e que pensam de forma tão distinta entre si. São pessoas de idade bem avançada, outros mal saídos da adolescência; capitalistas ferrenhos, mas também socialistas, comunistas; trabalhadores do campo e da cidade, operários, mas também empresários, proprietários de terras, indústrias e comércios; monarquistas e republicanos; presidencialistas e parlamentaristas; toda uma miríade de tipos sexuais que vai de Arnold Schwarzenegger – apenas para citar o exemplo do filme “Será Que Ele É?” – à “Priscila, a Rainha do Deserto” – também pelo mesmo motivo; católicos, protestantes, umbandistas, ateus e outras denominações religiosas ou não; até mesmo tucanos e petistas ou coxinhas e mortadela, fazem parte do círculo de amigos.
Cultivar a tolerância passa por não acreditar que somos os senhores da verdade, os donos da razão e também por procurar entender as razões daqueles que pensam ou professa crenças diferentes das nossas.
Nos últimos dias tenho me ocupado em procurar entender as razões que motivam pessoas, que até onde sei são sérias, a defenderem o governo da Sra. Dilma Rousseff.
Não falo aqui de uma massa de pessoas simples que são influenciadas por boatos – eficientemente disseminados –, de que a queda de Dilma, Lula e do PT, será fim dos programas sociais como o Bolsa Família, o Minha Casa Minha Vida, ProUNI e tantos outros.
Não falo, também, daquela massa de parasitas ligadas a diversos movimentos sociais ou sindicais visceralmente ligados à gênesis do PT e que, embora não façam parte oficialmente do partido, comunga de suas ideias e servem de inocentes úteis.
Tampouco falo daquelas pessoas com síndrome de Poliana que a despeito de todas as provas de que fomos vítimas de um estelionato eleitoral, não acreditam que colocaram uma quadrilha no poder que tem o único propósito de ficarem no poder e se locupletar.
Tampouco falo daqueles que, oportunistas, estão tirando suas vantagens pessoais: um roubo aqui, uma nomeação ali, uma indicação acolá, etc.
Além das motivações em maior ou menor grau discriminadas acima há ainda um grupo de pessoas que não se enquadram em nenhum deles e que defendem o atual governo. Pessoas esclarecidas, inteligentes, importantes, que vão inclusive à televisão dizer que um processo de impeachment previsto na Carta Constitucional é um golpe contra a democracia. Mais, que defendem o loteamento dos espaços públicos entre o que há de pior da política brasileira, sob o argumento que «precisam recompor a base de sustentação da presidente”.
Estas pessoas, repito, reputadas como sérias, defendem práticas que até então, pelo sei, foi a razão de entrarem na política ou para movimentos ou a levarem uma vida escorreita. Quantos não foram aqueles que nos pediram votos dizendo que tinham como propósito mudar as práticas da política nacional?
Outro dia, em rede nacional, vi um senador, que fora líder estudantil dos mais atuantes contra as práticas do ex-presidente Collor, defender, sem qualquer constrangimento, o loteamento dos cargos públicos com a escória da política nacional.
Este senador mereceu, com propriedade, o título que lhe foi posto por um oposicionista e companheiro de parlamento: de que ele deixara de ser um “cara-pintada» – referência ao movimento pró-impeachment de 1992, onde os manifestantes, sobretudo da juventude, pintavam a cara –, para se tornar um “cara-lavada”. Perfeito.
Nos últimos dias o governo e os seus têm feito tantas «estripulias» com os recursos públicos para se manterem no poder que conseguiram constranger o notório deputado Paulo Maluf. O mesmo deputado Maluf que se juntou a companheirada em 2012 para ganharem as eleições de São Paulo. Naquela oportunidade o ex-presidente Lula e o Sr. Haddad foram render homenagem a Maluf em sua casa, capitular diante daquele que, já no longínquo ano de 1984, virara sinônimo de corrupção. Lembram do verbo malufar? Fez muito sucesso entre 1984/85, no período que antecedeu a última eleição no Colégio Eleitoral que elegeu Tancredo Neves.
Pois é, Maluf se constrange com o jogo que o governo do Partido dos Trabalhadores – PT, tem feito, a ponto de dizer que estão entregando o Brasil a pessoas sabidamente corruptas e/ou sem preparo.
No leilão de cargos em troca de votos contra o impedimento “deram» o Departamento Nacional de Obras Contra a Seca — DNOCS ao deputado/empresário fornecedor material para este tipo de obra.
Não tardam e entregam a administração dos bancos de sangue para os vampiros; os galinheiros para serem administrados por raposas.
Chegamos a tamanha degeneração que – embora a população esteja sofrendo com epidemias de Dengue, Zica, Chikungunya, gripe H1N1; com hospitais sucateados e sem darem conta da demanda; com pessoas morrendo na porta dos hospitais por falta de atendimento –, se coloca no “balcão de negócios”, o Ministério de Saúde e todos os cargos ligados ao setor. Chegaram ao limite da irresponsabilidade.
Estes fatos são públicos, não há quem ignore isso.
Apesar do governo está fazendo justamente o que jurou desde sempre combater, muitos daqueles que o defende, acham tais práticas normais.
São estas motivações que procuro entender.
Vejamos algumas situações:
Os defensores do governo dizem defender o serviço público de qualidade e eficiente. No governo incharam a máquina pública com apaniguados ao invés de aproveitar os quadros técnicos. Foram além, entregaram os fundos de pensão dos servidores para incompetentes e/ou corruptos que, munidos de propósitos inconfessáveis, causaram prejuízos/desvios de mais de R$ 50 bilhões de reais. Resultado: os trabalhadores a quem prometeram defender vão ter que contribuir mais e alongar o tempo de contribuição para terem direito a uma aposentadoria menos humilhante.
No caso dos fundos de pensão das estatais não avançaram apenas sobre o dinheiro público, foram buscar o dinheiro dos trabalhadores.
Adiante. Uma das bandeiras do governo e seus defensores sempre foi a Reforma Agraria. Encarregados de administrar o programa, desviaram – segundo contas do Tribunal de Contas da União –, mais de R$ 2,5 bilhões de reais, sem contar a distribuição de terras para pessoas que não tinham ou têm direito a receberem terras, como servidores, públicos, empresários e políticos.
Defensores das riquezas nacionais, tiraram o que puderam da nossa maior empresa, a Petrobras, nos últimos anos, só os prejuízos com a corrupção e má gestão, foram estimados, apenas para 2014, em mais de R$ 40 bilhões.
A falta de rodovias ou a deficiência na conservação das mesmas, ocasiona, todos os anos, milhares de mortos em todo Brasil. Desde que Lula/Dilma mandam no país este setor foi entregue aos políticos que têm mostrado pouca ou nenhuma capacidade de resolver estes gargalos. Já vão 13 anos de puro descaso, e segundo ameaçam, vai piorar.
Ainda no campo das estimativas, alguns cálculos indicam um «rombo» de cerca de 3 trilhões de reais nos últimos anos. Montaram sofisticados esquemas de desvios de recursos públicos justamente durante os governos que prometeram acabar com essa prática.
Como resultado disso tudo, o Brasil passou a ser uma espécie de “patinho feio” no cenário internacional ou tratado como piada pelos humoristas ao redor do mundo. Na economia, quase nenhum país nos leva a sério ou nos respeita.
Embora não tenhamos o direito de menosprezar o fato de sermos tratados como piadas ou de sermos um zero à esquerda no cenário econômico mundial, o mais grave deste legado desastroso é o que vemos aqui dentro: milhões de trabalhadores amargando o desemprego, famílias inteiras onde apenas um ou outro membro trabalha, as vezes nenhum, jovens a quem se nega a oportunidade de trabalho e a perspectiva de futuro. Este é o verdadeiro desastre.
Diante disso é que fico espantado com o fato de existirem pessoas esclarecidas – e não são todas “picaretas”, oportunistas ou corruptas – defendendo um governo que não possui mais quaisquer condições de governar e que o único aceno que no faz é com mais caos, desespero e desesperança para o nosso povo.
Será que ignoram o que é sabido por todos? Será que acham normal um projeto político de poder que espoliar a população, sobretudo, os mais frágeis? Será que acham normal desviarem, para si e para os seus, o patrimônio que é de todos os brasileiros?
O discurso “barrosista» de que os sucessores serão piores ou que a favor do impeachment tem o Cunha, Temer, o Jucá, não me convence. Pois seria como dizer: a companheirada rouba mais é nossa amiga.
Precisamos de um governo superior a tudo isso, uma nação onde os recursos públicos sejam investidos em favor de todos e sem desvios. Isso é possível. Embora a corrupção exista em todos os lugares, ela pode ser ao menos minorada ao invés de institucionalizada como continua a ocorrer por aqui.
Será que estas pessoas acham que o temos de melhor é o que vivenciamos nos últimos treze anos?
Só queria compreender.
Abdon Marinho é advogado.