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NA BUSCA DA COMPREENSÃO.

Escrito por Abdon Mar­inho

NA BUSCA DA COMPREENSÃO.

NESTES meus anos de existên­cia tenho cul­ti­vado mais dúvi­das que certezas. Não é que não saiba ou não com­preenda tais situ­ações. Até sei é com­preendo. Min­has dúvi­das, são basi­ca­mente, cul­ti­vavas pela neces­si­dade de com­preen­der os pon­tos de vis­tas opos­tos aos meus, mesmo, os mais incompreensíveis.

Um amigo cos­tuma dizer que gostaria de assi­s­tir meu velório – não é, ao menos segundo ele, que deseje minha morte, longe disso –, para poder ver o com­por­ta­mento da infinidade de pes­soas com as quais tenho con­vivido e que pen­sam de forma tão dis­tinta entre si. São pes­soas de idade bem avançada, out­ros mal saí­dos da ado­lescên­cia; cap­i­tal­is­tas fer­ren­hos, mas tam­bém social­is­tas, comu­nistas; tra­bal­hadores do campo e da cidade, operários, mas tam­bém empresários, pro­pri­etários de ter­ras, indús­trias e comér­cios; monar­quis­tas e repub­li­canos; pres­i­den­cial­is­tas e par­la­men­taris­tas; toda uma miríade de tipos sex­u­ais que vai de Arnold Schwarzeneg­ger – ape­nas para citar o exem­plo do filme “Será Que Ele É?” – à “Priscila, a Rainha do Deserto” – tam­bém pelo mesmo motivo; católi­cos, protes­tantes, umban­dis­tas, ateus e out­ras denom­i­nações reli­giosas ou não; até mesmo tucanos e petis­tas ou cox­in­has e mor­tadela, fazem parte do cír­culo de amigos.

Cul­ti­var a tol­erân­cia passa por não acred­i­tar que somos os sen­hores da ver­dade, os donos da razão e tam­bém por procu­rar enten­der as razões daque­les que pen­sam ou pro­fessa crenças difer­entes das nossas.

Nos últi­mos dias tenho me ocu­pado em procu­rar enten­der as razões que moti­vam pes­soas, que até onde sei são sérias, a defend­erem o gov­erno da Sra. Dilma Rousseff.

Não falo aqui de uma massa de pes­soas sim­ples que são influ­en­ci­adas por boatos – efi­cien­te­mente dis­sem­i­na­dos –, de que a queda de Dilma, Lula e do PT, será fim dos pro­gra­mas soci­ais como o Bolsa Família, o Minha Casa Minha Vida, ProUNI e tan­tos outros.

Não falo, tam­bém, daquela massa de par­a­sitas lig­adas a diver­sos movi­men­tos soci­ais ou sindi­cais vis­ceral­mente lig­a­dos à gêne­sis do PT e que, emb­ora não façam parte ofi­cial­mente do par­tido, comunga de suas ideias e servem de inocentes úteis.

Tam­pouco falo daque­las pes­soas com sín­drome de Poliana que a despeito de todas as provas de que fomos víti­mas de um este­lion­ato eleitoral, não acred­i­tam que colo­caram uma quadrilha no poder que tem o único propósito de ficarem no poder e se locupletar.

Tam­pouco falo daque­les que, opor­tunistas, estão tirando suas van­ta­gens pes­soais: um roubo aqui, uma nomeação ali, uma indi­cação acolá, etc.

Além das moti­vações em maior ou menor grau dis­crim­i­nadas acima há ainda um grupo de pes­soas que não se enquadram em nen­hum deles e que defen­dem o atual gov­erno. Pes­soas esclare­ci­das, inteligentes, impor­tantes, que vão inclu­sive à tele­visão dizer que um processo de impeach­ment pre­visto na Carta Con­sti­tu­cional é um golpe con­tra a democ­ra­cia. Mais, que defen­dem o lotea­mento dos espaços públi­cos entre o que há de pior da política brasileira, sob o argu­mento que «pre­cisam recom­por a base de sus­ten­tação da presidente”.

Estas pes­soas, repito, rep­utadas como sérias, defen­dem práti­cas que até então, pelo sei, foi a razão de entrarem na política ou para movi­men­tos ou a levarem uma vida escor­re­ita. Quan­tos não foram aque­les que nos pedi­ram votos dizendo que tin­ham como propósito mudar as práti­cas da política nacional?

Outro dia, em rede nacional, vi um senador, que fora líder estu­dan­til dos mais atu­antes con­tra as práti­cas do ex-​presidente Col­lor, defender, sem qual­quer con­strang­i­mento, o lotea­mento dos car­gos públi­cos com a escória da política nacional.

Este senador mere­ceu, com pro­priedade, o título que lhe foi posto por um oposi­cionista e com­pan­heiro de par­la­mento: de que ele deixara de ser um “cara-​pintada» – refer­ên­cia ao movi­mento pró-​impeachment de 1992, onde os man­i­fes­tantes, sobre­tudo da juven­tude, pin­tavam a cara –, para se tornar um “cara-​lavada”. Perfeito.

Nos últi­mos dias o gov­erno e os seus têm feito tan­tas «estrip­u­lias» com os recur­sos públi­cos para se man­terem no poder que con­seguiram con­stranger o notório dep­utado Paulo Maluf. O mesmo dep­utado Maluf que se jun­tou a com­pan­heirada em 2012 para gan­harem as eleições de São Paulo. Naquela opor­tu­nidade o ex-​presidente Lula e o Sr. Had­dad foram ren­der hom­e­nagem a Maluf em sua casa, capit­u­lar diante daquele que, já no longín­quo ano de 1984, virara sinôn­imo de cor­rupção. Lem­bram do verbo mal­u­far? Fez muito sucesso entre 1984/​85, no período que ante­cedeu a última eleição no Colé­gio Eleitoral que elegeu Tan­credo Neves.

Pois é, Maluf se con­strange com o jogo que o gov­erno do Par­tido dos Tra­bal­hadores – PT, tem feito, a ponto de dizer que estão entre­gando o Brasil a pes­soas sabida­mente cor­rup­tas e/​ou sem preparo.

No leilão de car­gos em troca de votos con­tra o imped­i­mento “deram» o Depar­ta­mento Nacional de Obras Con­tra a Seca — DNOCS ao deputado/​empresário fornece­dor mate­r­ial para este tipo de obra.

Não tar­dam e entregam a admin­is­tração dos ban­cos de sangue para os vam­piros; os gal­in­heiros para serem admin­istra­dos por raposas.

Cheg­amos a tamanha degen­er­ação que – emb­ora a pop­u­lação esteja sofrendo com epi­demias de Dengue, Zica, Chikun­gunya, gripe H1N1; com hos­pi­tais sucatea­dos e sem darem conta da demanda; com pes­soas mor­rendo na porta dos hos­pi­tais por falta de atendi­mento –, se coloca no “bal­cão de negó­cios”, o Min­istério de Saúde e todos os car­gos lig­a­dos ao setor. Chegaram ao lim­ite da irresponsabilidade.

Estes fatos são públi­cos, não há quem ignore isso.

Ape­sar do gov­erno está fazendo jus­ta­mente o que jurou desde sem­pre com­bater, muitos daque­les que o defende, acham tais práti­cas normais.

São estas moti­vações que procuro entender.

Vejamos algu­mas situações:

Os defen­sores do gov­erno dizem defender o serviço público de qual­i­dade e efi­ciente. No gov­erno incharam a máquina pública com apanigua­dos ao invés de aproveitar os quadros téc­ni­cos. Foram além, entre­garam os fun­dos de pen­são dos servi­dores para incom­pe­tentes e/​ou cor­rup­tos que, munidos de propósi­tos incon­fessáveis, causaram prejuízos/​desvios de mais de R$ 50 bil­hões de reais. Resul­tado: os tra­bal­hadores a quem prom­e­teram defender vão ter que con­tribuir mais e alon­gar o tempo de con­tribuição para terem dire­ito a uma aposen­ta­do­ria menos humilhante.

No caso dos fun­dos de pen­são das estatais não avançaram ape­nas sobre o din­heiro público, foram bus­car o din­heiro dos trabalhadores.

Adi­ante. Uma das ban­deiras do gov­erno e seus defen­sores sem­pre foi a Reforma Agraria. Encar­rega­dos de admin­is­trar o pro­grama, desviaram – segundo con­tas do Tri­bunal de Con­tas da União –, mais de R$ 2,5 bil­hões de reais, sem con­tar a dis­tribuição de ter­ras para pes­soas que não tin­ham ou têm dire­ito a rece­berem ter­ras, como servi­dores, públi­cos, empresários e políticos.

Defen­sores das riquezas nacionais, tiraram o que pud­eram da nossa maior empresa, a Petro­bras, nos últi­mos anos, só os pre­juí­zos com a cor­rupção e má gestão, foram esti­ma­dos, ape­nas para 2014, em mais de R$ 40 bilhões.

A falta de rodovias ou a defi­ciên­cia na con­ser­vação das mes­mas, oca­siona, todos os anos, mil­hares de mor­tos em todo Brasil. Desde que Lula/​Dilma man­dam no país este setor foi entregue aos políti­cos que têm mostrado pouca ou nen­huma capaci­dade de resolver estes gar­ga­los. Já vão 13 anos de puro descaso, e segundo ameaçam, vai piorar.

Ainda no campo das esti­ma­ti­vas, alguns cál­cu­los indicam um «rombo» de cerca de 3 tril­hões de reais nos últi­mos anos. Mon­taram sofisti­ca­dos esque­mas de desvios de recur­sos públi­cos jus­ta­mente durante os gov­er­nos que prom­e­teram acabar com essa prática.

Como resul­tado disso tudo, o Brasil pas­sou a ser uma espé­cie de “pat­inho feio” no cenário inter­na­cional ou tratado como piada pelos humoris­tas ao redor do mundo. Na econo­mia, quase nen­hum país nos leva a sério ou nos respeita.

Emb­ora não ten­hamos o dire­ito de menosprezar o fato de ser­mos trata­dos como piadas ou de ser­mos um zero à esquerda no cenário econômico mundial, o mais grave deste legado desas­troso é o que vemos aqui den­tro: mil­hões de tra­bal­hadores amar­gando o desem­prego, famílias inteiras onde ape­nas um ou outro mem­bro tra­balha, as vezes nen­hum, jovens a quem se nega a opor­tu­nidade de tra­balho e a per­spec­tiva de futuro. Este é o ver­dadeiro desastre.

Diante disso é que fico espan­tado com o fato de exi­s­tirem pes­soas esclare­ci­das – e não são todas “picare­tas”, opor­tunistas ou cor­rup­tas – defend­endo um gov­erno que não pos­sui mais quais­quer condições de gov­ernar e que o único aceno que no faz é com mais caos, deses­pero e deses­per­ança para o nosso povo.

Será que igno­ram o que é sabido por todos? Será que acham nor­mal um pro­jeto político de poder que espo­liar a pop­u­lação, sobre­tudo, os mais frágeis? Será que acham nor­mal desviarem, para si e para os seus, o patrimônio que é de todos os brasileiros?

O dis­curso “bar­ro­sista» de que os suces­sores serão piores ou que a favor do impeach­ment tem o Cunha, Temer, o Jucá, não me con­vence. Pois seria como dizer: a com­pan­heirada rouba mais é nossa amiga.

Pre­cisamos de um gov­erno supe­rior a tudo isso, uma nação onde os recur­sos públi­cos sejam investi­dos em favor de todos e sem desvios. Isso é pos­sível. Emb­ora a cor­rupção exista em todos os lugares, ela pode ser ao menos mino­rada ao invés de insti­tu­cional­izada como con­tinua a ocor­rer por aqui.

Será que estas pes­soas acham que o temos de mel­hor é o que viven­ci­amos nos últi­mos treze anos?

Só que­ria compreender.

Abdon Mar­inho é advogado.

UM VELÓRIO DEMORADO.

Escrito por Abdon Mar­inho

UM VELÓRIO DEMORADO.

CON­FESSO: se tem algo que gosto é uma frase bem feita. Admiro quem sabe jun­tar letras e palavras e expres­sar uma um ideia sin­gu­lar, única, inscrevê-​la para a pos­teri­dade. Talvez por isso tam­bém dê tanto valor aos ditos populares.

Nos últi­mos dias tenho pen­sado numa frase dita pelo senador Del­cí­dio do Ama­ral, ex-​líder do Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT e do gov­erno. Segundo ele próprio, teria dito ao ex-​presidente Luís Iná­cio Lula da Silva:

» – Pres­i­dente, enter­ramos nos­sos mor­tos em covas rasas, quando menos esper­amos, eles ressuscitam».

Difí­cil per­querir sobre o que tinha em mente ao pro­ferir frase tão certeira e ade­quada aos dias atu­ais. Refiro-​me às con­se­quên­cias e des­do­bra­men­tos da oper­ação da Polí­cia Fed­eral den­tro das inves­ti­gações da Lava Jato e que gan­hou o sug­es­tivo nome de «Car­bono 14″ – aos desav­isa­dos, um dos vários méto­dos de inves­ti­gar o pas­sado, fazer datação.

A oper­ação inves­tiga, entre out­ras coisas, um pos­sível repasse de din­heiro ao empresário Ronan Maria Pinto, como objeto de uma pos­sível chan­tagem aos inte­grantes do par­tido, para que não con­tasse o que sabia sobre esque­mas de cor­rupção que teriam relação com a morte do ex-​prefeito de Santo André (SP), Celso Daniel.

Em sendo ver­dadeira, ainda em sen­tido fig­u­rado, o afir­mado pelo senador Del­cí­dio do Ama­ral de que seus com­pan­heiros de par­tido enter­raram os seus mor­tos em cova rasa, no caso Celso Daniel, em sen­tido mate­r­ial, a cova (nem mesmo rasa) nunca exis­tiu. Para o assom­bro das lid­er­anças políti­cas do par­tido, este cadáver nunca foi enter­rado em cova alguma, per­manece o espec­tro mor­tuário em um velório sem fim desde o já longín­quo ano de 2002. Volta e meia surge uma fato, uma situ­ação nova a per­tur­bar o sossego da companheirada.

Se se tratasse o pre­sente texto de um ensaio sobre o espiritismo poderíamos dizer que a recusa do morto em deixar este plano deve-​se aos negó­cios não resolvi­dos e que pre­cisam ser esclare­ci­dos para que possa, em fim, des­cansar em paz. Claro que esta ideia passa longe da orig­i­nal­i­dade. Vimos e nos emo­cionamos com algo assim no filme Ghost – Do Outro Lado da Vida, com Patrick Swayze, Demi Moore, Whoopi Gold­berg, Tony Gold­wyn e Rick Aviles como protagonistas.

Assim como no filme, o prefeito de Santo André, segundo apon­tam algu­mas lin­has de inves­ti­gação e espec­u­lações pode ter tido a morte encomen­dada por seus com­pan­heiros pela eminên­cia de vir atra­pal­har esque­mas cor­rup­tos mil­ionários, desvios de recur­sos da prefeitura dirigida por ele. No filme era a lavagem de din­heiro de cartéis mafiosos através do banco.

O velório de Celso Daniel já dura mais de 14 anos. O seu assas­si­nato, pas­sado todo esse tempo, ainda é envolto em mis­térios, a começar pela moti­vação, cir­custân­cia ou pelo tanto de mortes de pes­soas rela­cionadas a ele – já foram sete até aqui –, bem como, pelas sus­peitas veladas e as diver­sas histórias de chan­ta­gens envol­vendo pes­soas da cúpula do Par­tido dos Tra­bal­hadores – PT.

As sus­peitas, ainda que nunca provadas, sem­pre encon­traram eco no com­por­ta­mento dis­sim­u­lado com que trataram a questão. No poder há treze anos, os com­pan­heiros de par­tido do morto nunca mostraram muito inter­esse em elu­ci­dar sua morte. Sem­pre man­tendo uma estranha dis­tân­cia, quando pode­riam ter solic­i­tado, inclu­sive, que a Polí­cia Fed­eral entrasse nas inves­ti­gações junto com a polí­cia paulista. Nada. Até parece que tra­bal­havam com o hipótese de que tudo seria per­dido nas bru­mas do tempo.

Os fatos são teimosos. Apare­cem ainda que sejam através de «Car­bono 14″. Ou como diria o senador Del­cí­dio ao ex-​presidente Lula, os mor­tos ressus­ci­tam quando menos esperam.

Aliás, um fato novo lança ainda mais sus­peição ao com­por­ta­mento já «esquisito» das lid­er­anças do Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT. Como larga­mente noti­ci­ado, tão logo foi des­en­cadeada a oper­ação «Car­bono 14″, advo­ga­dos de Paulo Okamoto, pres­i­dente do Insti­tuto Lula, ingres­saram na justiça com diver­sas medi­das para anu­lar essa oper­ação, incluindo recla­mação ao STF sob o argu­mento de que aquele tri­bunal já proibira que a 13ª Vara da Justiça Fed­eral do Paraná, fizesse inves­ti­gação rela­cionada ao ex-​presidente Lula, e que esta oper­ação seria um des­do­bra­mento de uma ante­rior em que o mesmo estivera implicado.

O que temem essas lid­er­anças par­tidárias com essa inves­ti­gação que pode elu­ci­dar o assas­si­nato ainda hoje não total­mente esclare­cido de um com­pan­heiro de par­tido que foi coor­de­nador da cam­panha pres­i­den­cial vito­riosa que os levou ao poder? Que razões pos­suem para não querer que estes fatos seja esclare­ci­dos? Não parece estranho?

Um dito pop­u­lar, bem antigo, pode lançar – em reverso – luz a esta questão, diz: «Quem não deve não teme».

Uma frase, esta de autor maran­hense con­hecido, Coelho Neto, soa como um rasgo de esper­ança: «A men­tira é um manto esfar­ra­pado e curto, que não con­segue jamais escon­der a verdade».

As pes­soas de bem, pre­cisamos acred­i­tar que a ver­dade sobre aquele crime virá a tona para, final­mente, saber­mos quem foram os cul­pa­dos e as cir­cun­stân­cias – deve­mos isso a família –, que sejam os cul­pa­dos punidos (todos eles), encerrando-​se um velório que já duram qua­torze lon­gos anos e o morto possa des­cansar em paz.

Abdon Mar­inho é advogado.

RODOVIAS DA MORTE E DO DESPERDÍCIO.

Escrito por Abdon Mar­inho

RODOVIAS DA MORTE E DO DESPERDÍCIO.

O ASSAS­SI­NATO da baila­r­ina e pro­fes­sora Ana Duarte ocor­rido no sábado de aleluia, deu dis­cur­sos aos políti­cos maran­henses, tanto aqui, Assem­bleia Leg­isla­tiva, quanto em Brasília, no Con­gresso Nacional. Quase todos, ainda que bem inten­ciona­dos, trataram de fazer seu pros­elit­ismo barato pegando carona com a morte na intenção de “se vender” aos incau­tos. Já no dia do crime, pelas redes soci­ais, o gov­er­nador anun­ciou que deter­mi­naria a Procuradoria-​Geral o ingresso de ação judi­cial que per­mi­tisse ao estado fazer a recu­per­ação da via com ônus a ser ressar­cido pela União ou Denit; depois soube que a ação seria só para obri­gar o órgão a fazer a recu­per­ação. De certo, na esteira da tragé­dia, o DENIT colo­cou alguns tra­bal­hadores para uma recu­per­ação emer­gen­cial nas áreas mais críticos.

Nas casas leg­isla­ti­vas os demais políti­cos se revesaram na cobrança – justa e necessária – da obra de dupli­cação da BR 135, única via de acesso a cap­i­tal pelo solo, obra que se arrasta desde 2012, e que, até agora, ninguém diz, com certeza quando vai acabar.

O mais triste e con­strange­dor de tudo isso é que foi necessário ocor­rer uma tragé­dia para que o assunto fosse colo­cado na ordem do dia pela classe política – ao menos por uns dias. Já, já esque­cem e tudo volta a ser como era antes.

Por que digo isso? O latrocínio ocor­rido era uma tragé­dia mais que anun­ci­ada, assim, como quase todo dia ocor­rem aci­dentes naquela BR, os assaltos tam­bém já eram uma rotina. Como só notí­cia quando ocorre uma ou mais morte, poucos, até então, tomaram con­hec­i­mento dos riscos que era/​é sair da cap­i­tal em cer­tos horários. Não sabiam, por exem­plo que os malfeitores, em bando, se aproveitam da pés­sima condição da estrada e da necessária redução da veloci­dade por parte dos motoris­tas e até, dos aci­dentes cau­sa­dos pelos bura­cos exis­tentes, para assaltar os motoristas.

No caso da pro­fes­sora, o latrocínio ocor­reu na área dupli­cada da via, pelo que li, na altura do km 15, já den­tro da ilha, mas, assaltos ocor­rem, como rotina, em diver­sos pon­tos, prin­ci­pal­mente, no Campo de Per­izes. Já ouvi relatos de que os meliantes ficam escon­di­dos no capim esperando o mel­hor momento para come­ter seus crimes. Tal situ­ação era de con­hec­i­mento das autori­dades. A própria elu­ci­dação do crime con­tra a pro­fes­sora pou­cas horas depois é prova de que sabiam onde bus­car os cul­pa­dos. Se já sabiam da rotina de assaltos – ao menos os ban­di­dos com atu­ação no setor – por que não os pren­deram antes? Foi o primeiro delito? Se não, por que estavam soltos?

Uma parcela dos crimes são fru­tos da opor­tu­nidade, a facil­i­dade que têm os ban­di­dos, em con­sor­cio ou não para cometê-​los. Emb­ora o ditado “a ocasião faz o ladrão” não esteja cor­reta, o ladrão já está feito, a opor­tu­nidade e facil­i­dade o faz agir com desenvoltura.

Quando os políti­cos, diante do caso con­creto, apon­taram para falta de con­ser­vação e prin­ci­pal­mente para a caótica dupli­cação da via – que não ter­mina nunca e que con­some rios de din­heiro – iden­ti­fi­cam ape­nas uma parte do problema.

Não tenho dúvi­das quanto a importân­cia da dupli­cação da via e do pouco caso que as autori­dades fazem da obra.

Vejamos, essa primeira etapa (Estiva a Bacabeira), com pouco mais de 26 km, tem orça­mento pre­visto de pouco mais R$ 504 mil­hões – até aqui. Emb­ora a moeda brasileira esteja desval­orizada, trata-​se de um valor sig­ni­fica­tivo, um pelo outro, cada quilometro está saindo por mais e R$ 18 mil­hões de reais. Obras semel­hantes ao redor do mundo e em condições mais adver­sas chegam a cus­tar menos. Tam­bém não faz muito sen­tido tamanha demora numa obra feita em solo. Temos visto obras mais com­plexas, real­izadas em condições bem mais adver­sas, como na neve, no mar ou locais remo­tos, ocor­rem em menos tempo que esta – só para lem­brar, já con­sumiu mais de qua­tro anos e ainda não sabem quando entregam.

Quando dize­mos que os nos­sos rep­re­sen­tantes, diante do caso das manchetes, só apon­tam parte do prob­lema é porque não vejo dis­cur­sos ou ques­tion­a­men­tos sobre a baixa qual­i­dade das obras real­izadas no Maran­hão, tanto as sobre a respon­s­abil­i­dade da União como as real­izadas sobre os aus­pí­cios do estado e dos municípios.

Só pode haver um propósito – que não deve ser dos mel­hores – nisso tudo. Não poucos os ami­gos já me con­fes­saram (já tratei disso noutras opor­tu­nidades), preferir via­jar pelos esta­dos viz­in­hos, ainda que tendo que fazer um per­curso maior que via­jar pelas vias que cor­tam o estado.

Não pre­cisa ser um gênio para perce­ber a razão. Vejam a prin­ci­pal rodovia que corta o estado, a BR 135, a maior parte parece uma tábua de pir­ulito, em que pese as for­tu­nas gas­tar anual­mente em obras de recu­per­ação. Até mesmo no mil­ionário tre­cho já dupli­cado, em alguns lugares a pista apre­senta defeitos. Este é o prin­ci­pal exem­plo, mas os out­ros não ficam muito atrás. As BR’s 222 e 316, estão sem­pre sofrendo refor­mas e todos os anos os bura­cos estão lá a desafiar a engen­haria. Quan­tas vezes não foi recu­per­ado o tre­cho entre Miranda do Norte e Santa Luzia? Quem viaja por lá não tem boas refer­ên­cias. O tre­cho Santa Luzia Açailân­dia que acho nem foi inte­gral­mente con­cluído e a buraque­ira já inf­er­niza a vida dos motoris­tas. A mesma situ­ação, em maior ou menor grau das demais rodovias.

O que dizer das rodovias estaduais?

O Maran­hão con­traiu bil­hões de reais em emprés­ti­mos para obras rodoviárias. Já nos anos que ante­ced­eram as eleições de 2014, anunciava-​se a interli­gação de todas sedes dos municí­pios por vias asfal­tadas. Dis­se­mos na época que este tipo de obra era bem-​vinda, mas aler­tava, diante dos exem­p­los que já cansamos de externar, para o risco da falta de fis­cal­iza­ção destas obras. Não pre­cisamos ir muito longe para ver a qual­i­dade destas obras.

Se não me engano a pre­visão era gas­tar mais de bil­hão em obras rodoviárias e mais um bil­hão em obras den­tro das sedes dos municípios.

Não pre­ciso dizer que a maior parte deste asfalto e, por con­se­quên­cia, deste din­heiro, foi emb­ora junto com o o inverno.

A van­tagem das pre­visões que faze­mos no Maran­hão sobre estas coisas é que não cor­re­mos o risco de errar. Podemos apos­tar, sem medo de perder, que as obras real­izadas serão mal feitas e demoradas.

Desde que me entendo por gente, como se dizia lá no meu inte­rior, que leio e vejo obras de recu­per­ação da MA 014, uma das mais impor­tantes da Baix­ada maran­hense, por estes dias vi que está em curso mais uma recu­per­ação. Em 201213 esta mesma via estava sendo recu­per­ada. Ninguém é respon­s­abi­lizado pelo fato da reforma ante­rior não ter durado dois anos?

A falta de dura­bil­i­dade das obras se espal­ham por todas. Não faz muito tempo o próprio gov­er­nador anun­ciou a recu­per­ação do tre­cho Cujupe – Pin­heiro, pas­sei lá outro dia e estavam recu­perando a recuperação.

Um texto sobre obras mal feitas não ficaria com­pleto se não falásse­mos da mil­ionária dupli­cação da MA 203, a famosa Estrada da Raposa, uma mísera obra de 3 km ao custo de R$ 30 mil­hões de reais, isso mesmo, dez mil­hões de reais por quilometro, den­tro da ilha de São Luís. Esta obra se arrasta desde 2014, esta­mos no ter­ceiro ano e obra não mostra sinais de con­clusão. Pior que isso, a qual­i­dade é de fazer ver­gonha a qual­quer pes­soa, até mesmo a nós con­tribuintes. Pas­sando por lá duas vezes ao dia, não con­sigo acred­i­tar que uma obra naquele padrão custe tanto aos cofres públicos.

O que dizer, ainda, da infinita reforma que fazem fazem na MA 201, a Estada de Riba­mar, onde a buraque­ira inf­er­niza a vida dos cidadãos que pre­cisam percorre-​la todos os dias para tra­bal­har, estu­dar, lazer ou mesmo para ir rezar? O estado las­timável das MA’s que cor­tam a ilha é um retrato de todas as demais no resto do Maran­hão, uma vergonha.

Por estas e por tan­tas out­ras, não vis­lum­bro a pos­si­bil­i­dade do gov­er­nador Flávio Dino con­cretizar uma de suas promes­sas de cam­panha mais inter­es­sante: trans­for­mar a MA 006 na via de inte­gração do Maran­hão. Uma via lig­ando o estado de norte a sul trans­portando nosso povo e nos­sas riquezas.

Infe­liz­mente, Alto Par­naíba e Apicum-​Açu só estão próx­i­mos na dis­posição dos nomes dos municí­pios quando os colo­camos em ordem alfabética. No mundo da geografia real, são mais de 1000 km (1.202) de estradas a serem feitas e recu­per­adas. No ritmo, no custo e na qual­i­dade em que são feitas as obras no estado, este é um sonho para a posteridade.

O Brasil, sobre­tudo, o Maran­hão, pre­cisa, com urgên­cia ímpar, criar mecan­ismo de con­t­role de obras públi­cas que esta­beleça um “seguro” con­tra a má qual­i­dade e demora com a respon­s­abi­liza­ção pecu­niária e penal dos esper­tal­hões que entregam gato por lebre.

Se out­ros países con­seguem con­struir vias que duram décadas, muitas já estão até cen­tenárias, como é que aqui, prin­ci­pal­mente, no nosso estado, não con­seguimos? Qual é o mistério?

Será que ninguém se per­gunta a razão destas obras durarem tão pouco? Será que ninguém indaga a razão de serem tão caras? Será que ninguém per­gunta o que acon­tece com o din­heiro público?

Tan­tas perguntas.

Abdon Mar­inho é advogado.