A REPÚBLICA DOS NANICOS.
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- Criado: Quinta, 16 Junho 2016 12:23
- Escrito por Abdon Marinho
A REPÚBLICA DOS NANICOS.
O BRASIL enfrenta, acredito, sua maior crise política, econômica, moral e ética.
Sabem o que é mais desalentador? Saber que ao olharmos ao redor não encontraremos ninguém em quem confiar; uma única pessoa para podermos dizer que o Brasil se encontra em boas mãos. Falta um «timoneiro» ao Brasil, e isso não é de hoje.
Fico pensando: o que aconteceu com os homens públicos do país? Será que nunca os tivemos de verdade? Cadê o espírito público dos brasileiros? Será que, por aqui, alguém pensa além dos próprios interesses e dos seus familiares ou amigos?
São raros os dias em que a primeira coisa que faço não seja, antes mesmo de levantar da cama, verificar quem foi preso, qual o novo escândalo envolvendo os homens públicos brasileiros.
Será que descobriram o envolvimento do presidente interino em algo que o impeça de continuar? Será que presidente afastada foi apanhada em mais uma tramóia?
A política brasileira – com reflexos em todos os poderes e instituições –, tornou-se um território sem lei. Melhor, um território onde impera a lei do mais esperto e audacioso. Todos – com cada vez mais rara exceção –, preocupados em sangrar a nação.
Nunca tal realidade foi tão palpável quanto nestes dois últimos anos, com as revelações desencadeadas pela Operação Lava Jato.
Os números são assustadoramente elevados e dão conta do quanto a nação tem sido espoliada. Só um ministro recebia, de um único esquema, propina de 300 mil mensais. Um senador 40 milhões nos últimos oito anos, um outro 30, um ex-presidente 20, isso só para ficar na cúpula do PMDB. Só para este partido, só na Transpetro, sob o comando do senhor Sérgio Machado, foram desviados mais de R$ 100 milhões de reais para estes senhores, conforme suas próprias palavras.
Quantos mais e em quantos outros esquemas?
Nunca é demais lembrar que o esquemas operados pelo PT e PP também movimentaram nos últimos anos, a título de propinas, números, também, assustadores. Basta lembrar que no acordo de delação feito pelo senhor Barusco. Este senhor concordou em devolver quase 100 milhões de dólares. De dólares. E ele era o sub do sub. Estamos longe de chegar aos números reais da roubalheira.
Só na esteira do escândalo da Operação Lava Jato, verificamos que alcança quase todos os partidos e uma infinidade de políticos. Lembro que numa das conversas gravadas pelo senhor Machado consta a revelação de que no Congresso Nacional não haveria cinco parlamentares eleitos sem o uso de propina.
Trata-se uma desgraça, estamos falando de quase 600 parlamentares.
Outra coisa que choca é sabermos que a corrupção atinge ex-presidentes da República. Até agora, só não se encontra encalacrado com os desvios apurados no escândalo da Petrobras, o ex-presidente FHC, por enquanto. Uma ilação aqui ou ali, geralmente ligada à emenda que possibilitou a reeleição, mas nada apontando maiores envolvimentos. O que não quer dizer que não exista.
Noutra quadra, o que temos de forma cristalina é o envolvimento dos ex-mandantários. Não duvidamos que a corrupção sempre existiu no Brasil, desde sempre, durante o régime militar não foi diferente, mas não temos notícias de que os ex-presidentes militares enricaram no poder, pelo contrário, todos acabaram seus dias de forma modesta. Tampouco deixaram fortunas aos herdeiros.
As investigações revelam que as coisas mudaram de patamar com a redemocratização do Brasil. Já no governo Sarney a corrupção se revelou insaciável. Agora, através do acordo de Sérgio Machado temos a confirmação do envolvimento do ex-presidente no recebimento de propinas, tendo recebido, só de 2006 a 2014, quase 20 milhões no esquema operado por ele dentro da Transpetro.
O ex-presidente Collor dispensa comentários, aparece, ele próprio, em mais de um inquérito com recebedor de propinas de fontes diversas.
O ex-presidente Lula, segundo consta nas investigações, e, também, na colaboração do ex-deputado Pedro Corrêa chamou para a si, para o Palácio, a responsabilidade de comandar e distribuir o saque ao erário. Quem não lembra da partilha que fez entre PP e PMDB das propinas oriundas da diretoria de Abastecimento da Petrobras, comandada por Paulo Roberto Costa, o Paulinho?
As investigações também atingem a presidente afastada Dilma Rousseff, seja no financiamento ilegal de suas campanhas com dinheiro desviados de diversas obras e empresas públicas, inclusive através de ordens pessoais da mesma.
Mais grave. As colaborações de Odebrecht irão confirmar o que Nestor Ceveró já confessou: que a presidente afastada sabia de tudo, aí incluindo, a compra criminosa da Refinaria de Pasadena, no Texas, EUA, que sangrou a empresa (Petrobras) em quase um bilhão de dólares.
E, até o atual presidente interino, aparece na colaboração de Sérgio Machado como tendo solicitado que conseguisse «ajuda» para o candidato do seu partido (o velho PMDB de guerra), em São Paulo, nas eleições de 2012, tendo angariado para este fim, 1,5 milhão de reais.
A corrupção chegou aos comandantes do país. Não se trata uma «peteca» dispensada a um servidor público em troca de favorecimento pessoal. Trata-se de um esquema estruturado com comandos diversos e nunca à revelia dos mandatários da nação, com o objetivo de saquear os cofres públicos.
O que se depreende disso tudo – sempre ressalvando a existência dos inocentes, bem intencionados e honestos – é que o Brasil tornou-se a república da roubalheira. Isso justifica que políticos gastem fortunas para se elegerem e também o fato de muitos ingressarem na política «sem terem onde cairem mortos» e depois aparecerem com fortunas incalculáveis.
Quantos não conhecemos em tal situação? Qual o milagre?
O Brasil está diante de uma situação, acredito, sem paralelo e com sérios riscos do poder cair nas mãos de um aventureiro qualquer.
A classe política – por seus próprios «méritos» – não representa uma alternativa para sairmos da caótica situação em que nos encontramos.
As investigações revelam que não apenas os passaram e estão no poder se locupletaram de todas formas, também os principais candidatos ao cargo de presidente figuram nesta ou naquela lista de beneficiários ou de suspeitos de haverem recebidos benefícios indevidos para suas campanhas e até para si próprios.
Diante de tudo isso aparece de todos os lados os que dizem ser a culpa do «sistema», um ente abstrato responsável pelas propinas que irrigaram as campanhas e as contas pessoais dos políticos e dos seus.
Não. Nada disso. A culpa não é do sistema. A culpa é dos homens.
Falta ao Brasil homens públicos, homens com espírito público, capazes de colocar os interesses do país à frente dos próprios interesses, que pensem no Brasil antes de pensarem no bolso.
É isso, infelizmente, o que não vemos de norte a sul, em todos os rincões.
O Brasil tornou-se, definitivamente, a república dos nanicos, dos homens menores, dos corruptos.
O que podemos esperar do futuro?
Abdon Marinho é advogado.