REVISITANDO TAUÁ-MIRIM.
O PRIMEIRO TURNO das eleições municipais de 1992, já se aproximava do fim, quando, no último debate com os postulantes, o candidato Evandro Bessa (PDC) pergunta à candidata Conceição Andrade do PSB: – candidata, como a senhora pretende resolver o grave problema do transporte escolar da comunidade de Tauá-Mirim? Responde Conceição Andrade: – vamos colocar uma linha de ônibus para lá. Tréplica de Evandro Bessa: – mas, candidata, lá é uma ilha.
Vinte e quatro anos depois não sei se sou fiel aos diálogos, peço perdão, mas o sentido foi este. Nos dias posteriores ao debate e vésperas da eleição que levaria Conceição Andrade e, o hoje, senador João Alberto, ao segundo turno, o vacilo geográfico da candidata socialista foi explorado à exaustão. Não tínhamos, ainda, internet ou redes sociais, porém os chargistas produziram inúmeras peças com ônibus aquáticos e outras situações de humor com o tema, as matérias jornalísticas, também, não deixaram por menos.
A pergunta de Evandro Bessa não foi uma «pegadinha» – tanto assim que passado o primeiro turno das eleições, ele e seu partido, emprestaram apoio à candidatura da socialista e, tendo ela vencido o pleito, em segundo turno, ele tornou-se um dos mais destacados colaboradores de sua administração –, alertava, já aquela época, para a dramática situação de isolamento e transporte precário daquelas famílias, principalmente das crianças que tinham que se deslocar da ilha para estudar.
A repentina notoriedade da Ilha de Tauá-Mirim, garantiu-lhe, ao menos durante o quadriênio do mandato de Conceição Andrade, uma atenção especial neste quesito. Logo no início do mandado, a secretaria de educação, sob o comando da professora Maria Eugênia Salles de Almeida, adquiriu uma lancha voadora com capacidade suficiente para transportar as crianças na travessia do canal.
Um curto alento.
No último dia 18 de maio, logo cedo, enquanto atravessava a Baía de São Marcos rumo à baixada, pela televisão do ferry boat, matéria nacional do programa «Bom Dia Brasil» que a situação daquela comunidade, sobretudo, das crianças que precisam estudar nas séries mais avançadas em escolas com melhor estrutura (??), é, ainda, muito grave. Dramática, até. A lancha comprada em 1993, deve ter se acabado, o transporte escolar, adquirido posteriormente, encontra-se quebrado, não se sabe há quanto tempo.
Como resultado, as crianças têm que se virar em frágeis canoas, sem qualquer equipamento de segurança, por vezes, ajudando com o remo. Vencida a travessia, ainda têm que caminhar um bom trecho de estrada até a escola – uma vez que o transporte escolar, que deveria levá-los no resto do percurso, também se encontra quebrado e/ou sem manutenção.
Situação pior, só mesmo a enfrentada pelas crianças menores que – não podem fazer a travessia – estão sem estudar desde o começo do ano, por falta de condições da escolinha da ilha que, às portas de junho, ainda não abriu as suas.
Estamos falando de um direito constitucional fundamental. Estamos falando do principal município maranhense. Estamos falando de um vergonhoso vexame.
A educação brasileira, embora, ainda engatinhando, em relação ao resto do mundo, não temos dúvidas que melhorou a partir da criação do FUNDEF (depois FUNDEB), na segunda metade dos anos noventa. As secretarias de educação passaram a contar com uma verba específica, muitas das vezes até maior que o FPM, para investirem na valorização dos professores – remunerando melhor e os qualificando –, bem como, na melhoria da estrutura das unidades escolares. Simultaneamente a isso, foram criados programas como de alimentação escolar, transporte escolar, dinheiro direto na escola, destinado a pequenos reparos; programas de construção de escolas e creches, e tantos outros.
Chega a impressionar que a capital do Maranhão ainda esteja às voltas com os mesmos problemas de 25, 30 anos atrás. Não tem dia que não assistamos à denúncias de escolas fechadas por falta de estrutura: escolas funcionando em casas alugadas e caindo aos pedaços; escolas funcionando em associações; escolinhas comunitárias; etc., sem contar a falta de transporte; alimentação; creches e a própria qualidade de ensino e comprometimento dos professores, sabido por todos, como a desejar.
A capital do Maranhão não está muito distante daquela realidade mostrada nos noticiosos sobre as vexatórias condições das escolas nos rincões mais atrasados do Maranhão. Se Tauá-Mirim volta a ser notícia, a sua realidade, grave e triste realidade, está bem distante de ser a única.
Abdon Marinho é advogado.