AS URNAS E A VERDADE.
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- Criado: Quarta, 05 Outubro 2016 11:20
- Escrito por Abdon Marinho
AS URNAS E A VERDADE.
ENCERRADAS as eleições – ao menos o primeiro turno – não há como deixar de constatar alguns fatos. Alguém já disse que nas guerras a primeira vítima é a verdade. Talvez, por considerarem o processo eleitoral uma guerra e não uma manifestação legítima dos cidadãos, fizeram da verdade uma vítima que só aparece agora, quando o resultado das urnas não pode mais ser oculto de ninguém.
Um amigo me questionava sobre a «surpresa» que teria sido o resultado em determinado município onde alguém, supostamente em terceiro lugar, passou os dois que estavam à sua frente e sagrou-se vencedor. Não apenas este, mas diversos outros casos surgiram com a verdade das urnas.
Antes e agora, quando me perguntam sobre o que acho do que aconteceu ou qual será o resultado de determinado pleito, digo não saber; ou, que não tenho parâmetros para aferir sobre o resultado ou o que as as urnas revelarão adiante.
A constatação que faço tem a ver com o papel da imprensa, sobretudo da mídia digital, na forma como difundem as notícias.
Ora, para começo de conversa a grande maioria dos «jornalistas» não agem como tal. Durante as campanhas, movidos por interesses próprios, se ocupam do papel de assessores de imprensa deste ou daquele candidato recebendo por tal papel, de imediato ou esperando que o resultado das urnas favoreçam seus candidatos e aufiram as vantagens futuras.
Claro que nada temos contra os assessores de impressa dos candidatos, pelo contrário, são necessários e úteis. Trata-se de uma atividade nobre. Entretanto, os leitores/eleitores precisam saber que aquela notícia a qual o jornalista emprestou credibilidade não passa de uma matéria encomendada ou encaminhado por algum candidato.
Por dever de honestidade – poucos possuem ou sabem o que seja isso – deveriam comunicar aos leitores que os textos produzidos durante o período eleitoral refletem o posicionamento do autor sobre os candidatos.
Quantas vezes não vimos sites de notícias, blogues, e até jornais de renome, inflando, claramente, determinadas candidaturas de prefeitos e até mesmo de alguns vereadores? Quantas vezes não vimos matérias claramente pagas sobre determinados candidatos ou propaganda negativa de outros?
Aqui não se critica o direito do cidadão – seja jornalista ou não – de defender este ou aquele candidato, de possuir uma linha ideológica. Esse é um direito constitucional assegurado. A legislação eleitoral deixa claro este direito.
O que questionamos é a clara e deslavada tentativa de manipulação dos eleitores para influenciar o resultado das urnas.
Ainda durante o primeiro turno da eleição tomei conhecimento de uma denúncia gravíssima para democracia: noticiou-se que o governo estadual estaria orientando jornalistas, blogueiros e assemelhados a desenvolverem uma pauta de ataques a determinados candidatos. A notícia nunca foi – pelo menos não tomei conhecimento – desmentida formalmente. Se, de fato a tal reunião de unificação de pauta para «desconstruirem» determinados candidatos ocorreu, estamos diante de um crime e de um grave atentado à democracia, ainda mais quando o quando o governo estadual – que prometeu isenção na disputa –, se ocupa com os meios financeiros e de poder para perpetrar tal conduta.
Repito, se fizeram o que foi noticiado – e não desmentido –, praticou-se um crime, mais que isso, um atentado à democracia.
Eleições, é bom que deixe expresso, não é um território sem lei onde vale tudo.
O papel «desinformador» da imprensa só encontrou paralelo no comportamento vergonhoso dos institutos de pesquisas, que, a exemplo dos primeiros, tentaram (e conseguiram?) influenciar o resultado das eleições com seus números falsos.
Quem não viu, às vésperas das eleições, veículos de comunicação apresentando como potenciais vitoriosos candidatos que ficaram em terceiro e até quarto lugar quando as urnas foram abertas? Quem não testemunhou as diversas tentativas de institutos apresentarem seus resultados como a votando dos eleitores?
Já passa da hora de criarmos mecanismos que impeçam este tipo de coisa. Longe de mim querer censurar o trabalho de quem quer que seja, mesmo porque erros acontecem, existem oscilações na vontade do eleitor. Entretanto, não temos como não desconfiar que muitos institutos fraudaram seus números na tentativa de influenciar o resultado das urnas; no afã de manipular a vontade dos eleitores. Apresentaram pesquisas como peças de propagandas.
A sociedade brasileira, para o próximo turno e para os próximos pleitos, precisa ficar atenta para as criminosas tentativas de manipulação do processo eleitoral. Democracia é uma coisa séria e é o maior patrimônio de uma nação.
Por derradeiro, tenho como verdade das urnas a péssima representação que os cidadãos terão na esfera municipal e que, certamente, será ampliada para as demais.
Embora já seja lugar comum dizer que a atual representação é sempre pior que a anterior é melhor que a futura, confesso que nunca tinha visto tantos prefeitos eleitos e também, vereadores tão desprovidos de conteúdo ou história a abalizar o nobre papel de representantes do povo.
A impressão que fica é que aqueles que, certamente, não «darão» para nada, encontraram seu lugar nas prefeituras e câmaras municipais. Com poucas, mínimas exceções, a “galera medonha” chegou lá.
Os criminosos e a criminalização da política têm como consequência o afastamento das pessoas de bem, honestos, competentes e probos, para que a chusma ignara tomem de conta de tudo, pior, cada vez mais jovens, o que antes seria uma noticia alvissareira, ressurge como uma cruel ameaça pois prometem ficar muitos anos sendo sustentados com os nossos impostos.
Se pegamos o mapa dos eleitos, não apenas no Maranhão, mas no Brasil inteiro, veremos que as pessoas decentes eleitas são exceção.
O Brasil caminha a passos largos para o abismo.
Abdon Marinho é advogado.