AbdonMarinho - AS URNAS E A VERDADE.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

AS URNAS E A VERDADE.

AS URNAS E A VERDADE.

ENCER­RADAS as eleições – ao menos o primeiro turno – não há como deixar de con­statar alguns fatos. Alguém já disse que nas guer­ras a primeira vítima é a ver­dade. Talvez, por con­sid­er­arem o processo eleitoral uma guerra e não uma man­i­fes­tação legí­tima dos cidadãos, fiz­eram da ver­dade uma vítima que só aparece agora, quando o resul­tado das urnas não pode mais ser oculto de ninguém.

Um amigo me ques­tion­ava sobre a «sur­presa» que teria sido o resul­tado em deter­mi­nado municí­pio onde alguém, suposta­mente em ter­ceiro lugar, pas­sou os dois que estavam à sua frente e sagrou-​se vence­dor. Não ape­nas este, mas diver­sos out­ros casos sur­gi­ram com a ver­dade das urnas.

Antes e agora, quando me per­gun­tam sobre o que acho do que acon­te­ceu ou qual será o resul­tado de deter­mi­nado pleito, digo não saber; ou, que não tenho parâmet­ros para aferir sobre o resul­tado ou o que as as urnas rev­e­larão adiante.

A con­statação que faço tem a ver com o papel da imprensa, sobre­tudo da mídia dig­i­tal, na forma como difun­dem as notícias.

Ora, para começo de con­versa a grande maio­ria dos «jor­nal­is­tas» não agem como tal. Durante as cam­pan­has, movi­dos por inter­esses próprios, se ocu­pam do papel de asses­sores de imprensa deste ou daquele can­didato recebendo por tal papel, de ime­di­ato ou esperando que o resul­tado das urnas favoreçam seus can­didatos e aufi­ram as van­ta­gens futuras.

Claro que nada temos con­tra os asses­sores de impressa dos can­didatos, pelo con­trário, são necessários e úteis. Trata-​se de uma ativi­dade nobre. Entre­tanto, os leitores/​eleitores pre­cisam saber que aquela notí­cia a qual o jor­nal­ista emprestou cred­i­bil­i­dade não passa de uma matéria encomen­dada ou encam­in­hado por algum candidato.

Por dever de hon­esti­dade – poucos pos­suem ou sabem o que seja isso – dev­e­riam comu­nicar aos leitores que os tex­tos pro­duzi­dos durante o período eleitoral refletem o posi­ciona­mento do autor sobre os candidatos.

Quan­tas vezes não vimos sites de notí­cias, blogues, e até jor­nais de renome, inflando, clara­mente, deter­mi­nadas can­di­dat­uras de prefeitos e até mesmo de alguns vereadores? Quan­tas vezes não vimos matérias clara­mente pagas sobre deter­mi­na­dos can­didatos ou pro­pa­ganda neg­a­tiva de outros?

Aqui não se crit­ica o dire­ito do cidadão – seja jor­nal­ista ou não – de defender este ou aquele can­didato, de pos­suir uma linha ide­ológ­ica. Esse é um dire­ito con­sti­tu­cional asse­gu­rado. A leg­is­lação eleitoral deixa claro este direito.

O que ques­tion­amos é a clara e deslavada ten­ta­tiva de manip­u­lação dos eleitores para influ­en­ciar o resul­tado das urnas.

Ainda durante o primeiro turno da eleição tomei con­hec­i­mento de uma denún­cia gravís­sima para democ­ra­cia: noticiou-​se que o gov­erno estad­ual estaria ori­en­tando jor­nal­is­tas, blogueiros e assemel­ha­dos a desen­volverem uma pauta de ataques a deter­mi­na­dos can­didatos. A notí­cia nunca foi – pelo menos não tomei con­hec­i­mento – des­men­tida for­mal­mente. Se, de fato a tal reunião de unifi­cação de pauta para «descon­stru­irem» deter­mi­na­dos can­didatos ocor­reu, esta­mos diante de um crime e de um grave aten­tado à democ­ra­cia, ainda mais quando o quando o gov­erno estad­ual – que prom­e­teu isenção na dis­puta –, se ocupa com os meios finan­ceiros e de poder para per­pe­trar tal conduta.

Repito, se fiz­eram o que foi noti­ci­ado – e não des­men­tido –, praticou-​se um crime, mais que isso, um aten­tado à democracia.

Eleições, é bom que deixe expresso, não é um ter­ritório sem lei onde vale tudo.

O papel «desin­for­mador» da imprensa só encon­trou para­lelo no com­por­ta­mento ver­gonhoso dos insti­tu­tos de pesquisas, que, a exem­plo dos primeiros, ten­taram (e con­seguiram?) influ­en­ciar o resul­tado das eleições com seus números falsos.

Quem não viu, às vésperas das eleições, veícu­los de comu­ni­cação apre­sen­tando como poten­ci­ais vito­riosos can­didatos que ficaram em ter­ceiro e até quarto lugar quando as urnas foram aber­tas? Quem não teste­munhou as diver­sas ten­ta­ti­vas de insti­tu­tos apre­sentarem seus resul­ta­dos como a votando dos eleitores?

Já passa da hora de cri­ar­mos mecan­is­mos que impeçam este tipo de coisa. Longe de mim querer cen­surar o tra­balho de quem quer que seja, mesmo porque erros acon­te­cem, exis­tem oscilações na von­tade do eleitor. Entre­tanto, não temos como não descon­fiar que muitos insti­tu­tos frau­daram seus números na ten­ta­tiva de influ­en­ciar o resul­tado das urnas; no afã de manip­u­lar a von­tade dos eleitores. Apre­sen­taram pesquisas como peças de propagandas.

A sociedade brasileira, para o próx­imo turno e para os próx­i­mos pleitos, pre­cisa ficar atenta para as crim­i­nosas ten­ta­ti­vas de manip­u­lação do processo eleitoral. Democ­ra­cia é uma coisa séria e é o maior patrimônio de uma nação.

Por der­radeiro, tenho como ver­dade das urnas a pés­sima rep­re­sen­tação que os cidadãos terão na esfera munic­i­pal e que, cer­ta­mente, será ampli­ada para as demais.

Emb­ora já seja lugar comum dizer que a atual rep­re­sen­tação é sem­pre pior que a ante­rior é mel­hor que a futura, con­fesso que nunca tinha visto tan­tos prefeitos eleitos e tam­bém, vereadores tão desprovi­dos de con­teúdo ou história a abalizar o nobre papel de rep­re­sen­tantes do povo.

A impressão que fica é que aque­les que, cer­ta­mente, não «darão» para nada, encon­traram seu lugar nas prefeituras e câmaras munic­i­pais. Com pou­cas, mín­i­mas exceções, a “galera medonha” chegou lá.

Os crim­i­nosos e a crim­i­nal­iza­ção da política têm como con­se­quên­cia o afas­ta­mento das pes­soas de bem, hon­estos, com­pe­tentes e pro­bos, para que a chusma ignara tomem de conta de tudo, pior, cada vez mais jovens, o que antes seria uma noti­cia alvis­sareira, ressurge como uma cruel ameaça pois prom­e­tem ficar muitos anos sendo sus­ten­ta­dos com os nos­sos impostos.

Se peg­amos o mapa dos eleitos, não ape­nas no Maran­hão, mas no Brasil inteiro, ver­e­mos que as pes­soas decentes eleitas são exceção.

O Brasil cam­inha a pas­sos lar­gos para o abismo.

Abdon Mar­inho é advogado.