UMA GUERRA SEM VENCEDORES.
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- Criado: Segunda, 31 Outubro 2016 10:38
- Escrito por Abdon Marinho
UMA GUERRA SEM VENCEDORES.
QUEM venceu a eleição de São Luís neste segundo turno? Uma pergunta tola. Uma ligeira pesquisa revela que o atual prefeito, Edivaldo Holanda Júnior, sagrou-se vencedor ao obter 53,94% dos votos válidos, contra 46,06% dos votos do seu oponente, o deputado estadual Eduardo Braide.
Ao vencedor bastaria apenas um voto de diferença. Obteve mais de 40 mil, em termos percentuais, cerca de sete por cento.
Mas, além dos números, estamos diante de uma vitória a merecer festejos e fanfarras?
A análise deve ir além da adulação devotada aos eleitos e que nunca é desinteressada.
A expressão Vitória Pírrica ou Vitória de Pirro serve para designar aquela vitória obtida com um custo elevado. Leva esse nome em homenagem ao rei Pirro do Épiro, vencedor dos romanos na Batalha de Heracleia, em 280 a.C., e na Batalha de Ásculo, em 279 a.C., na chamada Guerra Pírrica, à custa de perdas irreparáveis ao seu exército.
O prefeito venceu a eleição, ocupará por mais quatro anos o Palácio de La Ravadiere. Mas, a que custo? Qual o nível de acerto firmou com os fiadores desta estreita vitória?
Quando se escala para batalhas generais do quilate do governador Flávio Dino, dos deputados Wewerton Rocha, Waldir Maranhão, Othelino Neto; lideranças como o secretário Márcio Jerry, presidente do PC do B, e tantos outros, dezenas de vereadores, e se obtém uma vitória com menos de dez por cento de diferença, todos se tornam sócios da conquista, todos desejarão seu quinhão.
Vou além. Quando questiono quem venceu e custo desta conquista, também me refiro aos conceitos e convicções que adquirimos e lutamos, do que seja uma democracia e como os líderes políticos nelas, devam se portar.
Vejamos, desde 1985, quando os prefeitos das capitais passaram a ser escolhidos através de eleições diretas, após os vinte e um anos do régime de exceção, não se ouvia falar tanto, com tanta intensidade de abuso de poder político, econômico e o que os valham.
Algo semelhante e ainda assim distante do que vimos nesta eleição – uma verdadeira guerra – se deu na eleição daquele ano, quando o candidato do «governo» fora apoiado pelo prefeito de então, pelo governador e até pelo presidente da República. O candidato fazia questão e até usou como slogan a expressão: «Força Total». E era a força total que se via com máquinas das prefeitura e do estado asfaltando ruas dia e noite, abrindo estradas, fazendo favores, distribuindo cestas básicas e tantos outros benefícios à população mais vulnerável.
Diante das infinitas denúncias de cidadãos que ouvi e vi pelos mais variados veículos de comunicação, não foi muito diferente do que ocorreu nesta eleição. E, com um agravamento, naquele tempo as coisas não eram divulgadas como hoje numa infinidade de blogs, redes sociais e demais veículos à soldo das administrações estadual e municipal o cria o efeito exponencial dos malfeitos.
Quem não cansou de ver a mídia do governo estadual divulgar suas ações, e estas mesmas serem divulgadas pelo candidato/prefeito na propaganda eleitoral? E estas mesmas propagandas serem replicadas por inúmeros blogueiros e perfis nas redes de internet e nos diversos modelos de mídias? Será que estas obras e ações continuarão com o mesmo furor daqui para frente?
O que se diz que fizeram nestas eleições (aqui estendo ao interior) – e não tenho motivos para duvidar – é absolutamente incompatível com a promessa feita pelo governador ao assumir o mandato: de que estava proclamando a República no Maranhão.
Não vejo como republicano um governo desequilibrar uma disputa eleitoral em favor de um candidato numa eleição municipal. E o desequilíbrio ocorreu com a execução de obras de asfaltamento e calçamento de ruas e outras medidas claramente exploradas como da suposta «parceria» estado/prefeitura que o próprio governador fez questão de enfatizar na propaganda do candidato que apoiava.
Mas não é só, todos – ou quase todos – auxiliares do governador estavam envolvidos diretamente na campanha do candidato/prefeito. Não se tratava de manifestação individual de cidadania. Era uma orquestração deliberada obediente a um comando central.
Numa República que mereça ser chamada assim, o mínimo que se pode esperar das autoridades é um distanciamento institucional da disputa, garantindo que os competidores tenham mesmo nível de armas. Não foi o que se viu.
E teve mais. Não lembro de ter ouvido, noutras oportunidades o que ouvi nestas eleições. Segundo dizem, dezenas de jornalistas/blogueiros, talvez centenas, estavam a serviço da prefeitura e do governo estadual para «desconstruir» o adversário ou adversários do candidato/prefeito, ou seja, essa infinidade de matérias negativas do candidato opositor, segundo dizem, estavam/estão sendo bancadas pelo cidadão contribuinte que vota, no prefeito, no opositor ou em quem quiser, mas o seu dinheirinho é usado em benefício de apenas um.
Não é de agora, serviços de «inteligência» ou para fazer «jogo sujo», investigar os adversários, soltar notícias sobre os mesmos sempre existiram. Embora não seja recomendável – acredito que o debate eleitoral deva ocorrer no campo das ideias –, não se tem como impedir. O que tem de diferente, repito, segundo dizem, é que o poder público, nas duas esferas esteve «bancando» este tipo de comportamento criminoso. Daí porque diversos blogueiros e jornalistas críticos dos governos municipal e/ou estadual passaram a só enxergar as qualidades de ambos e a pintar os opositores com as cores de satanás.
Como desgraça pouca é bobagem, ainda segundo dizem, informações sob a guarda e responsabilidade do Estado e informações de inquéritos e processos em cursos foram «facilitadas» para que chegassem ao conhecimento deste aparelho criminoso de difamação.
As notícias são graves e não guardam semelhança com as promessas do governador na sua campanha e por ocasião de sua posse e que precisam de um olhar atento das demais autoridades do Ministério Público e do Judiciário. Aliás, precisam que o próprio governador caia em si e perceba que tem algo fora de ordem. Essa não foi a luta que travamos durante toda a nossa vida pela alternância de poder no Maranhão.
A luta sempre foi por uma alternativa ao sarneysmo e não por um retorno ao vitorinismo ou algo pior. Não se trata de combater pessoas e sim, ideias, práticas. Se você assume em combater determinados métodos e passa, ao contrário, a praticá-los, não está sendo igual aos antecessores, está sim, sendo pior.
Se tem fundo de verdade tais notícias, estamos diante de um estado policial que usa poder para oprimir, difamar e constranger as pessoas que ousam discordar do governo.
Pois bem, com tudo isso, e ainda com a escalação do «batedor de pênalti», governador Flávio Dino, para decidir a partida – numa prática de inserções, segundo soube, consideradas abusivas pela justiça eleitoral –, conseguiu colocar apenas sete pontos percentuais à frente do adversário. Ainda mais, quando este adversário revelou-se possuir fragilidades intransponíveis no campo da ética, apontando, inclusive, como participe em escândalos indefensáveis. Tudo isso explorado à exaustão diante dos olhos da sociedade.
Ora, se para vencer um candidato com tantas fragilidades fez-se uso de todo esse arsenal, o que teriam de fazer para vencer alguém com bom nome, inatacável, com competência reconhecida?
Considerando todos esses fatos; considerando que até levar o candidato para votar o governador se prestou – e logo cedo para imagem ressoar o dia inteiro nos meios de comunicação –, não é sem razão indagar se houve algum vencedor nesta guerra. Se houve, estamos diante de uma autêntica vitória de Pirro.
Ao meu sentir, ninguém saiu vitorioso. Mas a maior derrota foi mesmo da esperança que um dia tivemos de ver o Maranhão longe de tantos vícios e caminhando para o desenvolvimento com democracia, com liberdade, com igualdade.
Como dizia o poeta: «vejo o futuro repetir o passado, vejo um museu de grandes novidades…»
Abdon Marinho é advogado.
(Texto sem correção).