AbdonMarinho - O DESPERTAR DA SERPENTE.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

O DES­PER­TAR DA SERPENTE.

O DES­PER­TAR DA SERPENTE.

AH, SÃO LUÍS! Que ingrato é o futuro que te espera.

Vez ou outra me vejo a pen­sar na lenda da “ser­pente encan­tada”, aquela onde está nar­rada que sob as fun­dações da cidade se encon­tra adorme­cida uma ser­pente de pro­porções desco­mu­nais crescendo sem parar, e que, quando sua cauda encontrar-​se com a cabeça, toda a cidade ruirá e a ilha desa­pare­cerá para sempre.

Será mesmo?

Não creio. Pois, se assim fosse, a ser­pente teria que se apres­sar e des­per­tar o quanto antes. Anal­iso o quadro sucessório. Os can­didatos colo­ca­dos à dis­posição dos munícipes – emb­ora ninguém ouse dizer pub­li­ca­mente, até porque muitos dos for­madores de opinião estão com­pro­meti­dos com este ou aquele can­didato, ressal­vadas as exceções, que ape­nas jus­ti­fi­cam a regra –, são de tal forma incon­sis­tentes nas suas pro­postas que acred­ito não sobrará nada para ser destruído quando a ser­pente des­per­tar do seu mere­cido sono.

Os can­didatos, até onde sei, são pes­soas bonís­si­mas, não con­heço, no trato pes­soal, nada que os desabone. Mesmo o que está no mandato (e por isso mais exposto), é mere­ce­dor dos maiores elo­gios no campo pes­soal, os mais ínti­mos dizem, como um elo­gio: é uma moça. Inde­pen­dente da outra quase una­n­im­i­dade que aponta sua admin­is­tração como das menos efi­cientes para não dizer coisa pior.

Os dire­itos de respostas que sua col­i­gação con­seguiu nas pro­pa­gan­das adver­sárias ates­tam isso: chega a ser risível o prefeito da cap­i­tal, depois de qua­tro anos, pedir dire­ito de resposta para dizer que fez três esco­las, cuja capaci­dade das mes­mas, somadas não passa de mil alunos; ou que está con­stru­indo uma ou outra ali: e que se encon­tra em anda­mento a lic­i­tação de uma outra.

A ini­cia­tiva – pedir o dire­ito de resposta e o con­seguir – tem até o condão de reti­rar dos adver­sários o tempo, mas os esclarec­i­men­tos que presta retrata o quanto sua admin­is­tração não cor­re­spon­deu ao que se esper­ava e se espera de uma prefeito da cap­i­tal. Mil vagas numa pop­u­lação de mais de um mil­hão de habi­tantes, me per­doem, não é nada.

Os out­ros (menos expos­tos), não se tem muito, tam­bém, do que falar, até porque, néó­fi­tos no teste da admin­is­tração pública, não tiveram a chance de errar.

Mas, pelo fato de serem pes­soas, me per­mi­tam a licença, “boas para casar”, os cre­den­ciam a gerirem uma cidade com prob­le­mas mon­u­men­tais? A pre­parem a cidade para os novos desafios de uma econo­mia glob­al­izada? Para as grandes deman­das que já estão pre­sentes e que aumen­tarão sub­stan­cial­mente quando ini­ciar a siderúr­gica que os chi­ne­ses pre­ten­dem fazer em Bacabeira? Ou caso a Zona de Expor­tação do Maran­hão — ZEMA, seja aprovada e implan­tada na capital?

Acred­ito que não. A maio­ria nem toca neste assunto. Aliás, não vi ninguém falar no assunto.

Ape­sar disso, não duvido das boas intenções dos can­didatos. Até acred­ito que queiram o mel­hor para cidade. O que não vejo, e as pro­postas não deixam claro, é como irão trans­for­mar a boa intenção em real­i­dade. Sem con­tar o fato de não enx­er­gar­mos nas pro­postas a iden­ti­fi­cação, clara, dos prin­ci­pais prob­le­mas e a forma que irão enfrentá-​los.

A rigor a cam­panha da cap­i­tal tornou-​se uma embate de mar­queteiros auda­ciosos – e como são audaciosos.

Antes da cam­panha, por exem­plo, a cidade fervil­hava de prob­le­mas. Eram os bura­cos, nas ruas, a edu­cação que não saia do lugar, as humil­hantes filas para mar­car ou con­seguir uma con­sulta; o esgoto que não chega a quem pre­cisa, a água que ainda é um bem raro na maio­ria dos lares.

Diante de tudo isso, nos aparece a pro­pa­ganda do atual prefeito para nos vender a ideia de que ele é “com­pe­tente e expe­ri­ente”. Como, cara-​pálida, se ainda ontem – segundo ampla­mente divul­gado – o seu gov­erno era rejeitado por quase setenta por cento dos munícipes?

Só mesmo a audá­cia jus­ti­fica dizer que o atual gestor faz uma admin­is­tração competente.

O pior é que não vemos os demais can­didatos ques­tionarem tal mote. Talvez con­cor­dem com ele ou não ten­ham nada a apre­sen­tar para mostrar que o que foi feito (ou não feito) pode­ria ter sido difer­ente, na efi­ciên­cia ou no resultado.

Diante da inér­cia dos demais can­didatos em con­testarem a ideia de que o atual gestor é com­pe­tente e expe­ri­ente, talvez ele até o seja, mas se com­parado aos demais competidores.

Vejamos, se há a con­cordân­cia, inclu­sive, dos demais com­peti­dores, de que o gestor atual é com­pe­tente e expe­ri­ente, por isso mesmo, mere­ce­dor do voto, sig­nifica que ter­e­mos mais do mesmo, a con­tin­u­ação da exper­iên­cia e com­petên­cia dos últi­mos qua­tro anos.

Será que isso mesmo que a cidade quer e pre­cisa? Um gov­erno expe­ri­ente, com­pe­tente e de continuação?

Um outro equiv­oco – e que envolve o silên­cio obse­quioso do gov­erno estad­ual – é forma como “ven­dem” parce­ria prefeitura/​estado na real­iza­ção de obras na cap­i­tal. Pas­sam a ideia de que só con­tin­uarão com a parce­ria se o atual gestor for recon­duzido nas eleições de outubro.

Ora, se bem me lem­bro, o próprio gov­er­nador, por ocasião da posse, anun­ciou a pat­uleia que estava “fun­dando” a República no Maran­hão. Que tipo de república é essa onde o comando do estado só man­tém parce­ria se o eleitor escol­her o can­didato preferido do gov­er­nador? Seria esta uma República? Talvez a república dos coronéis.

Vejam, até quero acred­ita que a ideia do gov­erno não seja essa. Mas resta implíc­ito na pro­pa­ganda, ainda que de forma indi­reta ou sub­lim­i­nar – para usar um jargão jurídico –, que as tais parce­rias só vão con­tin­uar se o atual gestor for eleito. E não vemos ninguém, nem do gov­erno, nem os opos­i­tores do atual prefeito con­tes­tar, dizer que não é nada disso.

Como dizia papai, quem cala consente.

Encerro exter­nando meu pro­fundo desalento com os can­didatos pos­tos e, prin­ci­pal­mente, com o que demostraram até aqui, neste ini­cio de cam­panha. Ainda esta­mos no começo da cam­panha – emb­ora já prin­cipie o fim –, vamos torcer que digam a que vieram e o que têm a oferecer.

Essa falta de per­spec­tiva me faz lem­brar uma con­versa que tive com um velho amigo do inte­rior do estado. Questionava-​o sobre os suces­sivos equívo­cos nas escol­has dos gestores daquele municí­pio, já iam para a ter­ceira ou quarta eleição e sem­pre um pior que o outro, até parece que a cidade foi fun­dada num cemitério de burros.

Disse-​lhe: – Meu amigo, o povo deste teu municí­pio não sabe escol­her um prefeito que preste?

Respondeu-​me com uma metá­fora que lem­bro até hoje: – Doutor, se eu vou no mer­cado e só encon­tro à venda frango, só posso com­prar frango, só vou comer frango.

São Luís, ao que parece, foi acometida por uma escassez de can­didatos jamais vista. Você olha para um lado, olha para outro e fica com sen­sação de vai comer frango por mais qua­tro anos.

Ah, São Luís! Pouca coisa restará quando a ser­pente despertar.

FELIZ ANIVER­SÁRIO, CIDADE QUERIDA.

Abdon Mar­inho é advogado.