AbdonMarinho - SANGRIA DAS OBRAS PÚBLICAS.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

SAN­GRIA DAS OBRAS PÚBLICAS.

A SAN­GRIA DAS OBRAS PÚBLICAS.

CERTA VEZ per­gun­tei a um empresário a razão as obras públi­cas brasileiras serem tão caras e tão mal feitas. Com a con­fi­ança só dis­pen­sada aos ami­gos, respondeu-​me: – Abdon, são assim porque todo mundo quer um pedaço do din­heiro. Desde o que apre­senta a pro­posta da obra até o respon­sável pelo paga­mento. Não tem como fun­cionar e ter qual­i­dade, arrematou.

Lem­brei desta con­versa ao ver uma matéria, outro dia, dando conta que em deter­mi­nado municí­pio brasileiro uma obra orçada pelo poder público por quase 300 mil (270 mil), a pop­u­lação, em mutirão, con­seguiu exe­cu­tar gas­tando ape­nas 5 mil. Mais, em curtís­simo espaço de tempo, salvo engano, cerca um mês.

O exem­plo é esclare­ce­dor (e ater­rador), ainda que con­sid­er­e­mos o tra­balho vol­un­tário prestado pelos munícipes a difer­ença entre o valor orçado e o que foi gasto é muito grande.

O exem­plo de Barra Mansa, no Rio de Janeiro, é, em maior ou menor escala, uma amostra do que vem ocor­rendo no resto do país e com­prova o que já dizia meu pai: «meu filho, quem atira com pólvora alheia não toma chegada».

Andando pela cidade, as «Barra Mansa» se multiplicam.

Mais de uma vez, já tratei da obra de dupli­cação da MA 203, a Avenida dos Holan­deses, na altura do Bairro Araçagy, já achava demais que estivessem em exe­cução desde out­ubro de 2013, com prazo de 300 dias. ao custo de 10 mil­hões por quilômetro, quase 30 por três quilômet­ros. Já esta­mos em mea­dos de 2016, 1000 dias do iní­cio das obras e a tal dupli­cação ainda não tem prazo para entrega. Pior, antes de ser entregue vai pas­sar uma tal «requal­i­fi­cação» que vai con­sumir mais uma grande soma de recur­sos públi­cos e mais um bom tempo de paciên­cia dos contribuintes.

Mas, des­graça pouca é bobagem. Até aqui, a qual­i­dade da tal dupli­cação é sofrível, os bura­cos estão em toda exten­são e, pela base que vi fazendo não vai mel­ho­rar muito, não. Deve ser mais uma daque­las feitas para durar um ou dois inver­nos. E, reparem que nem foi entregue.

Esta série de prob­le­mas e desac­er­tos sig­nifi­cam o respeito dis­pen­sado ao con­tribuinte. Como pode ser aceitável se «requal­i­ficar» uma obra que sequer chegou a ser con­cluída? Quem errou o pro­jeto? Quem vai pagar por tais equívo­cos – além dos con­tribuintes, claro?

Há, ainda, uma questão essen­cial a ser respon­dida que é se o custo do quilômetro da dupli­cação não está ele­vado. Ainda mais se con­sid­er­amos o aporte para a “requal­i­fi­cação» que farão.

Na saída da cidade vejo a alter­ação que fiz­eram nas ime­di­ações do aero­porto. Inegável que o fluxo do trân­sito ficou bem mel­hor. Assim, como as out­ras alter­ações viárias feitas noutros pon­tos. O que ques­tiono, além da qual­i­dade das obras é o custo. A obra da Areinha antes da inau­gu­ração já rev­elava a pés­sima qual­i­dade, e foi uma obra cara.

Na inter­venção feita no aero­porto o que mais me assus­tou foi o preço, se não vi errado, quase R$ 3 milhões.

Na mesma esteira de fim de mandato, se anun­cia uma inter­venção nas rotatórias localizaras na Forquilha. Não são os viadu­tos prometi­dos há décadas. Pelo que vi vão ape­nas elim­i­nar rotatória colo­cando no seu lugar um cruza­mento e vão fazer umas vias nas extremidades.

Já ouvi dizer que tal inter­venção está orçada em R$ 8 mil­hões. Em sendo ver­dade, vão gas­tar uma pequena for­tuna para faz­erem um «puxad­inho», que, emb­ora alivie um prob­lema no momento, está bem longe de sig­nificar uma solução duradoura.

Não acred­ito e não tenho ele­men­tos, nem de longe, sobre malver­sação de recur­sos públi­cos nes­tas e em tan­tas out­ras obras. Ape­nas acho-​as caras, prin­ci­pal­mente, se con­sid­er­ar­mos a qual­i­dade das mes­mas. Muitas não duram nem até a inauguração.

Quando se é pobre – como é o meu caso –, que o sou por parte de pai, mãe e parteira, ten­demos a achar caras obras que pas­sam de mil­hão. Por conta disso, ao pas­sar por alguma delas, as exam­ino e penso: «aí não “cabe» trinta, três ou oito mil­hões». Mas, como disse, talvez este pen­sa­mento esteja rela­cionado ao meu com­plexo de pobreza.

As autori­dades, devem pen­sar que está tudo bem e até que estão gas­tando pouco.

É, quem atira com pólvora alheia não toma, mesmo, chegada, como diria meu pai.

Abdon Mar­inho é advogado.