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O XADREZ DA POLÍTICA.

Escrito por Abdon Mar­inho


O XADREZ DA POLÍTICA.

Por Abdon Marinho.

QUEM gravita em torno da política – políti­cos, jor­nal­is­tas, advo­ga­dos, etcetera –, sabe que alguns temas são incon­tornáveis, pois deles depen­dem os movi­men­tos de diver­sas out­ras peças é o que se chama xadrez político.

Na sem­ana pas­sada tive­mos dois fatos que podemos enquadrar em tal cat­e­go­ria: no cenário (ou tab­uleiro) local, a definição de quem será o can­didato do sen­hor Dino, gov­er­nador do estado; no cenário nacional, a fil­i­ação par­tidária do sen­hor Bol­sonaro.

Estes dois acon­tec­i­men­tos são incon­tornáveis para as eleições, tanto para a eleição nacional, de pres­i­dente da República quanto para as eleições locais, de gov­er­nador de estado, incriv­el­mente, como em um xadrez. essas “mex­i­das” de pedras estão rela­cionadas entre si.

Um ter­ceiro tema, mais de menor enver­gadura, foi a con­clusão das prévias do PSDB (ufa!) que escol­heu como can­didato da agremi­ação política à presidên­cia, o gov­er­nador de São Paulo, João Dória. Mas esse, como dito, um tema menor, que, con­forme avance a cam­panha, pode até se tornar irrel­e­vante.

Usando metá­foras dos cos­tumes, muito afeitas ao pres­i­dente da República, depois de dois anos “sendeiro” o sen­hor Bol­sonaro “casou-​se” no último dia 30 de novem­bro com um grande amor do pas­sado, o Par­tido Lib­eral — PL.

Dono de um coração volúvel, já tendo pas­sado por diver­sos out­ros “casa­men­tos” – nove ou dez –, sem nunca se “ape­gar” a nen­hum dos par­tidos por onde pas­sou, casou com o PL “de papel pas­sado e tudo mais” no régime de comunhão total de bens – neste caso, os bens de nen­hum dos dois, mais, sim, os bens de todo o povo brasileiro.

Com isso, os que temiam a pre­sença de um ex-​presidiário no Palá­cio do Planalto, o pesadelo acon­te­ceu bem mais cedo que o esper­ado.

O ex-​presidiário por cor­rupção no esquema do “men­salão do PT”, Walde­mar da Costa Neto, pres­i­dente do PL, que já vinha “despachando” numa das salas próx­i­mas a do pres­i­dente, poderá, pelo casa­mento em “comunhão total de bens” pas­sar a despachar da sala prin­ci­pal daquele palá­cio.

Para quem, até bem pouco tempo, “despachava” da Papuda, pas­sar a despachar dire­ta­mente da presidên­cia da República é um feito extra­ordinário. Um luxo, diria um amigo.

Emb­ora, a essa altura do campe­onato, os pre­tendentes já fos­sem escas­sos, o pres­i­dente pode­ria ter se “casado” com alguém com um pas­sado mais recatado, mas, provando que o “amor” só enx­erga as mel­hores qual­i­dades, optou jus­ta­mente pelo PL , com um longo pas­sado nos esque­mas de cor­rupção do Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT e com um coraçãoz­inho tão volúvel quanto o do próprio pres­i­dente, a ponto de “trair” sem nem mudar de roupa. Algo só com­parável ao outro sócio de poder igual­mente “enro­lado” com os esque­mas petis­tas, o Par­tido Pro­gres­sita — PP, que emb­ora “man­dando e des­man­dando” no atual gov­erno já “flerta” com “seu” grande amor do pas­sado, o PT.

Muito emb­ora o jogo da política seja o mais dinâmico, fico imag­i­nando como tem sido para os devota­dos bol­sonar­is­tas se con­vencerem – e jus­ti­fi­carem –, o fato do gov­erno que pen­savam surgido para acabar com a “velha política” e a cor­rupção ser hoje coman­dado pelos prin­ci­pais par­tidos do “cen­trão”, mas não só isso, os sócios majoritários do petismo nos escân­da­los do men­salão, do petrolão e tan­tos out­ros que ainda nem tive­mos tempo para desco­brir.

Talvez jus­ti­fiquem repetindo o “mantra” tosco do seu guia: “mel­hor o cen­trão que o esquerdão”.

Em todo caso, não será tarefa fácil.

No próprio casa­mento de Bol­sonaro com Waldemar/​PL um dos fil­hos do “noivo”, Flávio Bol­sonaro, deitou falação con­tra um ex-​presidiário, no caso, o Lula, do PT, esquecendo-​se que estava ao lado de um outro ex-​presidiário, Waldemar/​PL, “noivo” do pai, e ex-​parceiro do outro ex-​presidiário em esque­mas diver­sos.

O senador filho do “noivo” não ape­nas “falava do boi em cima do couro”, falava do boi em cima do boi.

Deixando as metá­foras e pil­hérias de lado, a fil­i­ação do pres­i­dente ao PL traz con­se­quên­cias políti­cas inter­es­santes, a começar pelo próprio dis­curso do pres­i­dente que não poderá se pau­tar mais no com­bate à “velha política” ou à cor­rupção.

Vai falar de velha política “casado” com o PL, tendo como padrinho o cen­trão? Essa turma está no poder desde que Cabral chegou por aqui.

Vai falar de com­bate à cor­rupção com o gov­erno coman­dado e repleto de impli­ca­dos nos esque­mas de cor­rupção dos gov­er­nos ante­ri­ores? Não é algo fácil de se fazer.

Sobrará a pauta econômica.

Mas o que dizer da desval­oriza­ção cav­alar do real em relação ao dólar ou da inflação pas­sando dos dois dígi­tos, do empo­brec­i­mento das famílias, dos mil­hões de desem­pre­ga­dos e das famílias tendo que se ali­men­tar de lixo?

São desafios quase intransponíveis.

Noutra quadra, a fil­i­ação do pres­i­dente ao PL acaba por alterar diver­sas com­posições nos esta­dos.

Difer­ente do que que ocor­reu nas eleições de 2018, quando viu muitas cha­pas ou cam­pan­has “mis­tas”, o nível de aço­da­mento desta eleição não vai per­mi­tir isso.

Não con­sigo mais imag­i­nar o PL de Bol­sonaro e Josi­mar no palanque com Flávio Dino, do PSB, ou o PT de Lula.

E aqui começa o outro assunto intransponível da sem­ana: a decisão do atual gov­er­nador Flávio Dino em relação a sua sucessão.

Para a sur­presa de ninguém – pelo menos das pes­soas que con­vivem com a política e não é dada as paixões desme­di­das –, o sen­hor Dino anun­ciou que o “seu” can­didato a sucessão será o atual vice-​governador, Car­los Brandão.

Um dia antes da fumac­inha sair pela inex­is­tente cham­iné do Palá­cio dos Leões, um amigo me ligou com uma inda­gação per­ti­nente: — Abdon, o que é mesmo que Flávio tem a decidir? Ora, já se sabe que Josi­mar estará na oposição, nem par­ticipou da primeira reunião da chamada “base” de apoio ao gov­erno; o senador Wev­er­ton já disse que o foguete dele não tem ré; os out­ros dois can­didatos, Felipe Camarão e Sim­p­li­cio Araújo, não dese­jam e não tem base política sufi­ciente para “peitar” o gov­er­nador e aquele que será gov­er­nador a par­tir de abril; só lhe resta Brandão.

Tro­camos impressões por mais alguns min­u­tos sobre o tab­uleiro político.

No dia seguinte, em viagem para o inte­rior, fui alcançado mais de uma vez com a per­gunta: — já saiu a fumac­inha dos Leões?

A menos que fizesse como Roseana Sar­ney, em 2014, ou Luiz Rocha, em 1986, e decidisse ficar no gov­erno até o fim – abrindo mão de uma can­di­datura ao Senado da República –, para “tocar” com mão de ferro a própria sucessão, a opção por Brandão era a mais óbvia. Querendo ou não, será ele o gov­er­nador a par­tir de abril e já vem fazendo as vezes de gov­er­nador em quase todas as pau­tas públi­cas.

Não acred­ito que Flávio Dino tivesse “cor­agem” para pro­por que ape­nas cumprisse o restante do mandato para apoiar outro do grupo ou que ele (Brandão) aceitasse tal mis­são, como teria feito Luiz Rocha, suposta­mente, a pedido de Sar­ney, nas eleições de 1986.

E, iria fazer isso em bene­fí­cio de quem? Do senador Wev­er­ton Rocha, jus­ta­mente o que Flávio Dino menos con­fia e tem nele seu prin­ci­pal adver­sário político no estado? Aliás, sobre o senador pede­tista, um amigo que o con­hece bem mel­hor que eu soltou uma frase enig­mática, disse-​me: — Abdon, é alguém que não serve para amigo e muito menos para inimigo.

Como não o con­heço pes­soal­mente, não posso opinar sobre isso.

Mas voltando ao nosso assunto ou tab­uleiro, difer­ente do muitos dis­seram, acred­ito que o gov­er­nador, den­tro das condições que pos­suía, moveu as pedras cor­re­ta­mente: já disse quem era o seu can­didato e por quem vai tra­bal­har; e, deu um prazo – até janeiro –, para os par­tidos políti­cos da “base” se “acertarem” com o can­didato.

O gov­er­nador con­hece a máquina estad­ual, sabe que muitos inter­esses podem ser aco­moda­dos.

Foi um movi­mento acer­tado, esse tempo é sufi­ciente para que os out­ros políti­cos e até mesmo o cenário nacional exerça sua influên­cia na política local.

Não deve­mos perder de vista que com as alter­ações na leg­is­lação eleitoral, o prazo de domicílio eleitoral e fil­i­ação par­tidária pas­sou a ser de ape­nas 06 (seis) meses, sig­nif­i­cando que muitas coisas poderão acon­te­cer até lá.

Sobre uma aliança entre o senador Wev­er­ton Rocha, do PDT e Josi­mar de Maran­hãoz­inho, do PL, agora com Bol­sonaro, emb­ora possa até haver inter­esse de ambos, diante cenário nacional, acho difí­cil “vin­gar”.

Como disse acima, a política é incriv­el­mente dinâmica, vamos aguardar as próx­i­mas jogadas.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

Moro na ter­ceira via.

Escrito por Abdon Mar­inho


MORO NA TER­CEIRA VIA.

Por Abdon Marinho.

LEM­BRO que min­has primeiras lições de política tive-​as com um sen­horz­inho já ido nos anos e que morava a duas casas da casa de meu pai, em Gonçalves Dias, chamado Paulo Santu, lá pelos fins dos anos setenta e começo dos oitenta, quando saindo do povoado Cen­tro Novo, fomos habitar aquela urbe.

Seu Paulo morava em uma casa antiga sim­ples em estilo neo­clás­sico com janelas altas e pare­des grossas. Era alfa­bet­i­zado e gostava muito de política. Era, tam­bém, um “devoto” de Sar­ney – e digo devoto no sen­tido lit­eral –, na sala prin­ci­pal, a de vis­i­tas”, de cimento queimado e pare­des caiadas, em meio aos retratos dos san­tos, lá estava, emoldu­rado, o retrato de Sar­ney. Se não me falha a memória, ao lado de um Sagrado Coração de Jesus e um de Nossa Sen­hora. Era o retrato do Sar­ney acadêmico da Acad­e­mia Brasileira de Letras — ABL que o mesmo con­fec­cionara logo após a posse da ABL e man­dara dis­tribuir aos seus ali­a­dos Maran­hão afora, jun­ta­mente com um suple­mento com o dis­curso, alguma obra ou biografia.

Eram tex­tos ou obras que o seu Paulo Santu lia com inigualável devoção. Nunca soube se chegou a con­hecer o ex-​presidente por quem nutria tanto apreço. Acred­ito que não.

Como amigo dos fil­hos –pois tinha uma vasta prole –, estava sem­pre por sua casa e vez ou outra con­ver­sava com ele.

Certa vez, falando sobre um político local, disse: —Ah, seu Paulo, agora Fulano se acabou. Ele, então me respon­deu: — Que nada, meu filho, todo cachorro tem suas pulgas.

Em outra situ­ação, tam­bém política, disse-​me que nunca vira alguém jogar pedras em árvores sem fru­tos. Além da clás­sica “não se chuta cachorro morto”.

Pois bem, faço essa intro­dução para aden­trar ao assunto prin­ci­pal deste texto: a via­bil­i­dade de uma ter­ceira via política pro­tag­on­i­zada pelo ex-​juiz e ex-​ministro Sér­gio Moro em um cenário de político de guerra onde se opõem os bol­sonar­is­tas e os lulis­tas.

Sem­pre achei que o brasileiro médio não é dado a rad­i­cal­iza­ção, preferindo um cam­inho mais ao cen­tro.

Disse isso em 2018 e acabei “que­brando a cara” pois uma grande parcela dos cidadãos brasileiros, cansa­dos com os des­gov­er­nos petis­tas, acabaram ele­gendo o sen­hor Bol­sonaro.

A despeito disso, acred­ito que a eleição do atual pres­i­dente foi um “ponto fora da curva”, que, acred­ito, não se repe­tirá em 2022.

Acred­ito, ainda, que o voto de protesto das últi­mas eleições dará lugar a uma decisão mais comedida.

Até então, por bene­fí­cio mútuo, as duas prin­ci­pais can­di­dat­uras postas apos­tavam na rad­i­cal­iza­ção dos dis­cur­sos.

Pois bem, a par­tir da fil­i­ação par­tidária de Moro os dois can­didatos acima começaram a mesclar os dis­cur­sos. Con­tin­uam apo­s­tando que a rad­i­cal­iza­ção poderá os levar a repe­tir o segundo turno de 2018, mas, já enx­er­gando que o “fator Moro” pode ser um complicador.

A prova disso é que se “uni­ram” nos ataques ao ex-​juiz.

Aí lem­brei das vel­has lições de Paulo Santu.

Se acham que a dis­puta se dará entre os dois, por quais motivos, ori­en­tam as “bases” e até mesmo pes­soal­mente, lançam ataques uni­formes a este can­didato? A resposta é que já devem ter descoberto que o pos­sível can­didato do Podemos tem poten­cial para crescer e ameaçar a vitória de ambos.

Primeiro, der­rotando um para ir para o segundo turno e, depois, der­rotando o que sobrar.

Não estivessem “vendo” tal pos­si­bil­i­dade, o com­por­ta­mento dos dois prin­ci­pais can­didatos seria outro: estim­u­lar o maior número de can­di­dat­uras da chamada “ter­ceira via”, frag­men­tando o máx­imo que pudessem tal votação e apostarem no dis­cur­sos rad­i­cais de sorte a repe­tirem o que ocor­reu há qua­tro anos.

Não deve­mos esque­cer o número recorde de abstenção, votos nulos ou bran­cos que tive­mos naquele pleito.

Nestes poucos dias após a fil­i­ação par­tidária, o ex-​juiz vem mostrando pos­suir a “liga” que pode agluti­nar todos os descon­tentes em torno de uma ter­ceira via.

As primeiras pesquisas ates­tam que já saiu na frente de Ciro Gomes, ex-​candidato à presidên­cia desde sem­pre e um dos quadros téc­ni­cos mais prepara­dos da República; e muito adi­ante dos demais nomes pos­tos que dev­erão dis­putar como “fig­u­rantes”.

Par­tidos grandes como o União Brasil (ex-​DEM e PSL) e per­son­agens impor­tantes, como o gen­eral aposen­tado San­tos Cruz, já se aprox­i­mam do Podemos e do ex-​juiz que, como can­didato, não ficou devendo muitos aos profis­sion­ais da política.

Do outro lado, emb­ora muito fortes, temos o Lula e o Bol­sonaro.

Os últi­mos acon­tec­i­men­tos rev­e­lam que o Lula e o petismo, depois de tudo, até mesmo de uma tem­po­rada como hós­pedes do estado, não apren­deram nada.

Con­tin­uam “ado­radores” de ditaduras asquerosas ao redor do mundo; defen­sores de pau­tas atrasadas; insul­tando a inteligên­cia do povo brasileiro e inca­pazes de uma autocrítica.

São os mes­mos Lula e PT que se opuseram a eleição no Colé­gio Eleitoral, em 1985, a Con­sti­tu­ição de 1988, a Plano Real; que defend­eram e par­tic­i­param da destru­ição da Venezuela; que extra­di­taram atle­tas persegui­dos para Cuba e que acham que eleições na Nicarágua com todo tipo de repressão é com­parável ao processo eleitoral da Ale­manha.

Por mais que ten­tem con­ser­tar a fala do Lula, a ver­dade é que ele acha que se Ângela Merkel pôde ficar no poder 16 anos, o seu amigo Daniel Ortega tam­bém pode, inde­pen­dente do faça para isso, inclu­sive, pren­der toda a oposição. Não foi assim na defesa do chav­ismo quando engen­dravam a destru­ição da Venezuela?

E sobre a cor­rupção nos gov­er­nos petis­tas? Insul­tam o povo com o dis­curso que nunca ocor­reu, tudo foi “perseguição do Moro”.

Fin­gem esque­cer que desde que chegaram ao poder, em 2003, se asso­cia­ram as maiores quadrilhas espe­cial­izadas em aliviar os cofres públi­cos; que o “men­salão” e depois o “petrolão” san­graram o país em bil­hões e bil­hões de dólares – pois cor­rupção que vale a pena tem que ser em dólar –, e que o Lula só está solto por conta de “inex­plicáveis” artifí­cios jurídi­cos e não por ser inocente.

Outro dia li que fal­tavam U$ 14 bil­hões de dólares para “fechar” a conta da inocên­cia do Lula. Este é o mon­tado recur­sos recu­per­a­dos ou a recu­perar antes que o “acórdão envol­vendo todo mundo” acabasse com a “Lava a Jato”.

Acred­ito que está conta diga respeito “ape­nas” aos que foram e estavam sendo recu­per­a­dos pela Oper­ação Lava Jato de Curitiba.

E o Bol­sonaro? O Bol­sonaro é ape­nas um pân­dego que nunca gov­ernou, nunca teve aptidão para gov­ernar e que nunca gov­ernará; o que diz durante o dia – nestes quase três anos de “des­gov­erno” –, foi des­men­tido no começo da noite, no máx­imo, no dia seguinte.

Com­pul­sivo pela men­tira e despreparado a não mais poder, fez disso uma estraté­gia para se man­ter no poder ainda iludindo uma massa de incau­tos, quando, na ver­dade, o gov­erno é exer­cido pelo “cen­trão”.

Sim, o mesmo cen­trão que foi :sócio majoritário” das ban­dal­has do petismo.

O mantra do incauto Bol­sonaro é dizer que é mel­hor ser do “cen­trão” do que do “esquerdão”, dis­curso tosco para a massa ignara.

Sem falar nas out­ras maze­las, como crise cam­bial, crise ambi­en­tal, crise san­itária, desmonte do serviço público, “rachad­in­has”, “micheques”, cartão cor­po­ra­tivo e ter­mos virado cha­cota no cenário inter­na­cional, mas, ape­nas, na prin­ci­pal “plataforma” do bol­sonar­ismo: o com­bate à cor­rupção, segundo dizem, o “bol­solão”, que nada mais é do que o velho “men­salão” dos gov­er­nos petis­tas, já con­sumiu, só esse ano, mais de R$ 30 bil­hões de reais.

Isso só através das chamadas “emen­das de rela­tor”, que Bol­sonaro pode­ria ter vetado e não fez, já levaram, “na cara dura”, dos cofres da viúva.

E vejam que coisa inter­es­sante: nos tem­pos da “nova política” do bol­sonar­ismo não querem nem que a pat­uleia saiba quem se locu­ple­tou do din­heiro público, “transparên­cia só daqui pra frente”.

Será que esse povo não “cora” de con­strang­i­mento ao defend­erem tais absur­dos? Quer dizer que as excelên­cias “levam” trinta bi do orça­mento da União e os idio­tas pagadores de impos­tos não têm nem o dire­ito de saber. É isso mesmo? Essa é a nova política?

Neste cenário de “Mad Max”, em que o povo brasileiro se depara com a pos­si­bil­i­dade de retorno ao desas­tre petista ou con­tin­uar com o gov­erno do cen­trão tendo à frente um pres­i­dente que “não diz coisa com coisa”, não é fora de propósito o aparec­i­mento de uma “ter­ceira via” capaz de se opor a ambos.

É assim que vejo essa ráp­ida ascen­são de Moro na ter­ceira via, sem con­tar que é muito engraçado assi­s­tir os lulopetis­tas e os bol­sonar­is­tas “unidos” con­tra alguma coisa.

Abdon Mar­inho é advogado.

Breve raio x do fracasso.

Escrito por Abdon Mar­inho


BREVE RAIO X DO FRACASSO.

Por Abdon Marinho.

Em algum texto já devo ter con­tado o curioso episó­dio que teste­munhei há, aprox­i­mada­mente, uma década, ocor­rido em um dos municí­pios que prestava asses­so­ria. Repe­tirei por ter tudo a ver com o que sucede no pre­sente, no nosso estado.

Certa vez fui con­vi­dado a par­tic­i­par de uma reunião de iní­cio de exer­cí­cio naquele municí­pio que tanto gostei de tra­bal­har, sobre­tudo, pelas amizades que fiz.

A reunião ocor­ria em um salão paro­quial ou clube e já se encon­trava total­mente tomado quando cheguei.

O prefeito que pre­sidia a reunião chamou-​me para tomar assento ao seu lado na mesa e começamos por ouvir os relatórios das real­iza­ções de cada sec­re­taria no ano que pas­sara.

Os secretários iam rela­tando os seus feitos e recebendo os aplau­sos da assistên­cia.

Até que chegou a vez da secretária de assistên­cia social – e esse o relato que até hoje me chama a atenção –, que comu­ni­cou o grande feito de uma gestão no ano ante­rior: graças ao esforço dela e da sua equipe, haviam mais que dobrado, prati­ca­mente, trip­li­cado, o número de ben­efi­ciários do pro­grama “Bolsa-​Família”, no municí­pio.

Quando ter­mi­nou a explanação, de longe, foi a mais aplau­dida, quase um min­uto de aplau­sos vibrantes.

Com meus botões, refle­tia: estariam aplaudindo o fato de tanta gente pre­cisar de um auxílio social para sobre­viver? Não mere­ce­riam mais aplau­sos se tivesse desen­volvido pro­gra­mas de ger­ação de renda que reti­rassem as pes­soas da humil­hante fila da mis­éria?

Pas­sa­dos tan­tos anos, prin­ci­pal­mente agora, aquele momento, com toda sua vivaci­dade, ainda per­manece vivo na minha memória.

Não tem como não faz­er­mos uma cruel analo­gia com a catarse daquele momento com o que assis­ti­mos diari­a­mente, achamos nor­mal e até aplaudi­mos.

As emis­so­ras de rádio e tele­visão, redes soci­ais e a mídia em geral, sobre­tudo nos horários nobres, divul­gam, como pro­pa­ganda ofi­cial, que o gov­erno estad­ual deter­mi­nou que nos restau­rantes pop­u­lares o prato da refeição seja ven­dido a um real; divul­gam, tam­bém, a dis­tribuição de mil­hares de ces­tas bási­cas às famílias em situ­ação de mis­éria e vul­ner­a­bil­i­dade.

Quando vejo a pujante pro­pa­ganda ofi­cial falando no número de ces­tas bási­cas dis­tribuí­das ou o prato de comida a um real, a primeira coisa que me ocorre é a lem­brança da secretária que dobrou o número de pes­soas inscritas no “Bolsa-​Família”.

Fra­cas­sado no propósito de reti­rar as famílias da mis­éria – que aumen­tou em relação aos gov­er­nos ante­ri­ores –, gov­erno gasta uma for­tuna em pro­pa­ganda da mis­éria, exal­tando o prato de comida a um real e a dis­tribuição de mil­hares de ces­tas bási­cas.

E não pensem que eu me oponho a esse tipo de ação gov­er­na­men­tal de baratear o preço da comida no restau­rante pop­u­lar e muito menos a dis­tribuição de mil­hares de ces­tas bási­cas, ape­nas con­stato, com pesar, com muito pesar, que o gov­erno estad­ual fra­cas­sou em diminuir a desigual­dade ou a pobreza no estado – ao invés disso a aumen­tou.

Segundo o IBGE mais de 74% (setenta e qua­tro por cento) da pop­u­lação maran­hense sobre­vive com menos de um salário mín­imo nacional. Pelos dados do mesmo insti­tuto esta­mos falando de um número supe­rior a 5 mil­hões de cidadãos vivendo nesta situ­ação de indigên­cia. Se já é difí­cil viver gan­hando mais de um salário mín­imo cujo poder de com­pra é insu­fi­ciente para com­prar duas ces­tas bási­cas, imag­inem a vida de setenta e qua­tro por cento da pop­u­lação vivendo com menos de um salário mín­imo por mês.

Um agra­vante é que os dados ter­ríveis sobre o Maran­hão são ante­ri­ores à pan­demia. Ainda saindo da situ­ação pandêmica, é visível que a pobreza no país e, prin­ci­pal­mente, no estado aumen­tou mais ainda.

A mis­éria é tamanha que até o grupo Sar­ney, que domi­nou o estado por quase meio século, e são “doutores” no assunto se dizem inco­moda­dos com os números do atual gov­erno e o fustiga por isso.

Assim, parece fazer sen­tido – ao menos para eles –, que tal qual a secretária de assistên­cia social de quem falei no iní­cio, fes­te­jem a dis­tribuição de ces­tas ou baratea­mento do prato feito no restau­rante pop­u­lar.

Muito emb­ora sejam os números da mis­éria o mais nefasto legado do atual gov­erno, temos diver­sos out­ros motivos para ates­tar a sua inapetên­cia na gestão pública.

Vejamos as obras – ou a ausên­cia delas.

Temos difi­cul­dades em encon­trar obras de vul­tos do atual gov­erno. Não temos notí­cia de nen­huma obra estru­tu­rante para o desen­volvi­mento do estado.

Com muito boa von­tade – muito boa von­tade, mesmo –, poderíamos citar a ponte sobre o Rio Per­icumã, lig­ando os municí­pios de Bequimão e Cen­tral do Maran­hão, que vai diminuir a dis­tân­cia em quase cem quilômet­ros para diver­sos municí­pios da Baixada.

Essa obra, entre­tanto, se arrasta desde 2015, é até capaz do atual gov­er­nador não inaugurá-​la, e é mar­cada por polêmi­cas, a prin­ci­pal delas, o fato do con­sór­cio em con­luio com o gov­erno, tentarem por todas as for­mas esqui­var de pagar os trib­u­tos aos dois municí­pios ou tentarem mas­carar tais paga­men­tos, moti­vando inúmeras ações de exe­cuções fis­cais.

Não duvido se, ao tér­mino da obra, deixarem os municí­pios sem os paga­men­tos dev­i­dos. Tudo isso por culpa do gov­erno, que desafiando a leg­is­lação, não fez os descon­tos dos trib­u­tos dire­ta­mente na fonte.

Lem­bro que quando can­didato o atual gov­er­nador prom­e­teu fazer da MA 006, a rodovia de inte­gração do Maran­hão. Essa estrada tem mais de 2 mil quilômet­ros, vai de Apicum-​Açu, no extremo norte a Alto Par­naíba, no extremo sul do estado.

Uma promessa vã. Já fin­d­ando o sétimo ano de gov­erno, não temos notí­cia de um quilômetro feito visando dotar a tal MA dos req­ui­si­tos para inte­grar o estado. Parece-​me que a única coisa útil que fiz­eram foi per­mi­tir a fed­er­al­iza­ção de uma parte da pista na região sul.

Outra obra de vulto, por assim dizer, mas desta vez na saúde é o urgente e necessário Hos­pi­tal da Ilha. Da obra, finan­ciada com recur­sos dos ban­cos de fomento, as noti­cias que chegam – e que pre­cisam ser checadas pelas autori­dades de con­t­role –, é que o físico não “casa” com o finan­ceiro nem a pau, noutras palavras o que já enter­raram na obra é muito supe­rior ao que foi feito até aqui.

Dizem que enquanto ensa­iam inau­gu­rar pelo menos um pedac­inho do hos­pi­tal para o atual gov­er­nador não ficar tão mal na fita, vão cau­sando pre­juí­zos a diver­sos pequenos empresários que locaram equipa­men­tos ou prestaram serviços na obra. Ameaçando “que­brar” os coita­dos.

Infe­liz­mente, o Maran­hão se ressente de uma oposição atu­ante que pro­cure inves­ti­gar e apu­rar os des­ti­nos dos recur­sos da obra, que, pelos boatos, não resistem a 15 min­u­tos de inves­ti­gação séria.

À mín­gua de obras próprias, vemos o gov­erno estad­ual, tam­bém em rica pro­pa­ganda apre­sen­tar – ou dar a enten­der –, como suas, ou inteira­mente suas, obras como a urban­iza­ção da ponta do São Fran­cisco, o pro­longa­mento da Litorânea ou a reforma e ampli­ação da MA 203, a Estrada da Raposa, entre out­ras.

Obras ban­cadas com recur­sos da União, úteis e impor­tantes, mas muito mal exe­cu­tadas pelo gov­erno estad­ual.

Não sat­is­feito ape­nas em ocul­tar ou mas­carar a real­i­dade, muitas das vezes partem para a men­tira ou para a real­i­dade para­lela.

Outro dia, numa rede social do gov­er­nador, o próprio escreveu uma not­inha espan­tosa ou de quem descon­hece o sen­tido das palavras.

Sobre a rodovia lig­ando o Povoado Triân­gulo, em D. Pedro ao Povoado Dezes­sete, em Codó, sua excelên­cia assen­tou tratar-​se de uma rodovia “nova” que iriam “inau­gu­rar”, no mesmo post ainda disse que as rodovias que “faze­mos” inte­grariam diver­sas regiões, etc.

Ora, a MA 026, já exis­tia desde muito tempo, em 1994 foi implan­tada como MA, total­mente con­struída, com pontes, bueiros, tendo sido inte­gral­mente asfal­tada. Não se trata, abso­lu­ta­mente, como divul­gou a autori­dade, de uma rodovia “nova” ou mesmo a ser inau­gu­rada, tam­pouco é cabível dizer que fez, a menos que não con­heça o sen­tido das palavras.

Esse, ami­gos, é ape­nas um breve raio x do fra­casso que tem sido o atual gov­erno.

Abdon Mar­inho é advogado.