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QUEM COM A PENA FEREOU O PATO MANCO RI POR ÚLTIMO.

Escrito por Abdon Mar­inho


QUEM COM A PENA FEREOU O PATO MANCO RI POR ÚLTIMO.

Por Abdon Marinho.

NESTES dias de ócio virótico pus-​me a refle­tir sobre uma cat­e­go­ria de pes­soas que exis­tem desde os primór­dios da civ­i­liza­ção: os aduladores.

Não sobre os que devotam a out­rem os elo­gios mais imper­ti­nentes ou os atos de sabu­jice mais escan­car­a­dos.

Destes já tra­tou deste Salomão, nos seus provér­bios: “a teste­munha falsa não ficará livre do cas­tigo, e aquele que despeja men­ti­ras não sairá livre. Muitos adu­lam o gov­er­nante, e todos são ami­gos de quem lhe dá pre­sentes”. Provér­bios 19:59.

Pas­sando por Havé Sal­vador: “ Afasta-​se dos baju­ladores antes que eles se afastem ti quando não tiveres mais nada”.

Ou Tác­ito: “os adu­ladores são a pior espé­cie de inimi­gos”.

Ou Saint-​Clair Mello: “a pior espé­cie de rato é aquela que pro­lif­era nos escan­in­hos do poder”.

Ainda sobre o tema e a título de con­selho, disse-​nos Barack Obama, ex-​presidente da nação mais poderosa do mundo : “Livre-​se dos baju­ladores. Man­tenha perto de você pes­soas que te avisem quando você erra”.

E não podemos esque­cer que o próprio Nico­lau Maquiavel, no seu “O Príncipe”, dedicou-​se ao trata­mento do tema.

Poderíamos pas­sar dias repetindo o que já dis­seram os mais anti­gos e sábios do que eu sobre os adu­ladores, é um assunto ines­gotável.

Com anos-​luz de dis­tân­cia, eu mesmo, mais uma dúzia de vezes, já fui com­pelido a falar do tema.

Hoje ao retornar ao assunto faço numa outra abor­dagem: falarei dos adu­ladores como instru­men­tos da guerra política.

Quem acom­panha a política local já deve ter perce­bido críti­cas ao atual gov­er­nador e ao seu vice-​governador e can­didato à sucessão estad­ual antes inimag­ináveis.

Não que muitas delas não sejam dev­i­das – até pelo con­trário –, mas é que pas­saram os últi­mos sete anos, cegos e mudos quando o assunto era os descam­in­hos do gov­erno, para eles até as flat­ulên­cias das autori­dades tin­ham aroma de rosas.

E ai daque­les que ousassem dizer o con­trário, eram ata­ca­dos, desmere­ci­dos, escul­ham­ba­dos, desqual­i­fi­ca­dos e até mesmo ata­ca­dos em sua honra pes­soal.

Agora, os defeitos que nunca viram, aflo­ram, são ampli­a­dos; as qual­i­dades, se exi­s­tirem, viram defeitos.

Eu mesmo, quan­tas vezes não fui vítima disso? Algu­mas vezes cheguei a respon­der, não aos xerim­ba­bos de plan­tão, que ape­nas cumpriam ordens, mais dire­ta­mente aos patrões, aos patroci­nadores das imundas penas.

Foi de um destes que, por conta da minha defi­ciên­cia física, gan­hei o apelido de “pato manco”. Nunca liguei pra isso, exceto agora, para dizer que o pato manco acaba rindo por último.

Pois bem, como dizia, assis­ti­mos a uma divisão na facção gov­ernista, com cada qual das ban­das levando no inven­tário de par­tilha até os adu­ladores que infes­tam os órgãos públi­cos.

No iní­cio, cada um ainda querendo tirar van­ta­gens ou apo­s­tando na união, os xerim­ba­bos foram “ori­en­ta­dos” a ficar no “morde e asso­pra”, dizia-​se um agravo ali, mas deixando uma “deixa” para o caso de quer­erem voltar.

Já pas­saram: falam demais e depois ter que des­dizer, engolir o choro ou pedir des­culpa para não perder a sinecura, própria, do par­ente ou do amance­bado?

Hoje, parece-​nos, já não existe o “risco da união” e as milí­cias vir­tu­ais antes unidas na adu­lação já podem par­tir para o jogo de espal­har ofen­sas, criar fatos, desmere­cer os anti­gos ali­a­dos, agora adver­sários.

E começaram cedo. São estrat­a­ge­mas, ini­cial­mente, tidos por inofen­sivos, mas que têm um poten­cial de cresci­mento e divi­sion­ismo na sociedade.

Outro dia, estava anal­isando o que estaria por trás de deter­mi­nada can­di­datura quando pas­saram a tra­bal­har o mote “meu nego” con­tra “meu branco”.

Um referindo-​se à deter­mi­nado can­didato para dizer que o mesmo “seria do povo”; e outro para referir-​se ao adver­sário, como se este fosse, dig­amos, da “nobreza”, da elite, indifer­ente ao sofri­mento do povo e que até foi pas­sar férias nos Esta­dos Unidos enquanto o Maran­hão “afun­dava” em meio às enchentes dos rios.

A ideia sub­lim­i­nar de explo­rar o racismo como arma política no estado revela-​nos que as ordens dos mili­cianos dig­i­tais não con­hecem lim­ites, deve ser naquele estilo: espalha, “se colar colou”.

Muito emb­ora pareça ser um inocente e até colo­quial, vez que no dia a dia, até trata­mos as pes­soas do nosso con­vívio assim, não é.

Uma ex-​governadora até foi apel­i­dada de “a branca”, de um outro político dizia-​se que lavava as mãos com álcool depois que cumpri­men­tava um pobre – isso bem antes da pan­demia.

Ape­sar das pil­hérias mais inci­si­vas, nunca se teve em tais car­ac­ter­i­za­ções a explo­ração do racismo como arma política.

Como obser­vador da política de hoje vejo que estes ataques sob o mote cos­tumes “inocentes”está longe de se tratar de uma brin­cadeira inocente, na ver­dade trata-​se de um cál­culo político para explo­ração do racismo na política estadual.

Não me recordo de ter teste­munhado algo assim.

Esse é ape­nas um exem­plo de como o con­sór­cio dos adu­ladores vem sendo usado para influir na livre escolha dos cidadãos na sucessão estad­ual.

No outro lado tam­bém não tem “refresco” vi ou li que o senador dis­si­dente recla­mara da explo­ração que fiz­eram de um encon­tro que tivera com o min­istro da Saúde do gov­erno Bol­sonaro suposta­mente para bus­car recur­sos e medica­men­tos por conta da enchente.

A ver­são ven­dida pelos opos­i­tores foi que já se tra­tou de um primeiro aceno para bus­car apoio do bol­sonar­ismo no estado e que a tal tertúlia até tivera o aval do pres­i­dente ou mesmo que acon­te­cera uma “reunião sec­reta” entre o senador pede­tista e o pres­i­dente.

A “cam­panha” da fação gov­ernista parece ter feito “estra­gos” na estraté­gia do neo adver­sário, tanto que o próprio par­tiu para “guerra” reafir­mando ser “adver­sário” do atual pres­i­dente da República.

Aos reclames do senador pede­tista somou-​se a “sol­i­dariedade” inusi­tada do antigo desafeto e con­tendor das lides judi­ci­ais e prin­ci­pal ali­ado do pres­i­dente no estado, senador Roberto Rocha, que “defendeu” o “colega” nas redes soci­ais, dizendo que o mesmo era vítima das “milí­cias dig­i­tais” ban­cadas pelo gov­erno estad­ual.

Ora, ora, quem mel­hor para “jurar a desavença” do senador pede­tista com o pres­i­dente que o seu “líder” infor­mal?

A política é, real­mente, uma caix­inha de sur­pre­sas.

Não tratarei desta questão de fundo no pre­sente texto até porque já falei disso há mais de um ano – se não me falha a memória –, e voltarei a tratar em um texto especí­fico.

Os cam­in­hos do bol­sonar­ismo no estado ren­derão muitos debates, muito emb­ora me pareça claro para onde irá, no final.

O pre­sente texto, entre­tanto, é para tratar daquilo que fiz­eram com os adver­sários e ou inimi­gos imag­inários e que agora começam a sen­tir (e a recla­mar) dos supos­tos ataques que estariam sofrendo.

Não achavam “engraçado” quando eram com os out­ros? Ou quando par­tiam para con­stranger jor­nal­is­tas e blogueiros com infini­tas ações judi­ci­ais?

Pois é, como diz o dito pop­u­lar, “quem com o ferro fere, com ferro será ferido”. No caso, mais ade­quado será dizer “quem com a pena fere …”.

O mais engraçado é que são basi­ca­mente as mes­mas penas que usaram para ferir os out­ros as “con­tingên­cias” da política as usam para feri-​los.

Uma doce iro­nia para mostrar que o “pato manco” ri por último.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

Barra Tor­res “pisa” mãe de Bol­sonaro, que foge.

Escrito por Abdon Mar­inho

BARRA TOR­RES PISA MÃE DE BOL­SONARO, QUE FOGE.

Por Abdon Marinho.

ANTIGA­MENTE, há muito anos, lá na minha aldeia quando havia uma rusga entre dois meni­nos era comum que se fizesse dois riscos na terra sim­bolizando as mães dos con­tendores.

Riscos feitos, era aguardar quem iria pas­sar o pé sobre a “mãe” do outro para ini­ciar a peleja até que hou­vesse um vence­dor ou a turma do “deixa disso” apartasse a briga.

Na quinta-​feira, 6 de janeiro de 2022, o pres­i­dente da República, Jair Bol­sonaro, fez os dois riscos no chão ao sug­erir inter­esses sub­al­ter­nos da ANVISA na aprovação da vacina pediátrica da Pfizer para cri­anças de cinco a onze anos.

Em uma entre­vista, onde revelava-​se desin­for­mação sobre o número de víti­mas naquela faixa etária, que segundo o próprio Min­istério da Saúde, ultra­passa três cen­te­nas de mortes, disse sua excelên­cia: “Qual é o inter­esse da Anvisa por trás disso aí? Qual o inter­esse daque­las pes­soas taradas por vacina? É pela sua vida? É pela sua saúde?»

Qual seria o inter­esse “por trás” de uma agên­cia reg­u­ladora do Estado?

Foi essa insin­u­ação mal­dosa da parte do pres­i­dente, lev­an­tando dúvi­das sobre uma decisão téc­nica da agên­cia que levou o gen­eral Barra Tor­res a “pisar” o risco cor­re­spon­dente à mãe do pres­i­dente, na nossa ale­go­ria, e escora-​lo com um soco de dire­ita nas “fuças”.

A Anvisa nada fez senão aprovar uma med­icação (vaci­nas) para cri­anças de 5 a 11 anos na esteira do que fiz­eram, desde o ano pas­sado, out­ras grandes e respeitáveis agên­cias, como a amer­i­cana e a europeia, sem que ninguém sug­erisse ou insin­u­asse que a aprovação se deu porque tais agên­cias tin­ham “inter­esse por trás disso aí”.

O que as agên­cias fazem é apu­rar com rigor extremo os riscos que um medica­mento ou imu­nizante pode trazer para quem o ingerir ou inoc­u­lar. Apu­rado o risco faz-​se o cote­ja­mento entre as van­ta­gens e desvan­ta­gens de se aprovar o medica­mento e/​ou imu­nizante.

No caso em tela as agên­cias chegaram à con­clusão que as van­ta­gens são infini­ta­mente maiores que as desvan­ta­gens oca­sion­adas por alguma inter­cor­rên­cia ou efeito colat­eral que, segundo as pesquisas, são rarís­si­mos e/​ou desprezíveis.

Os cidadãos, acred­i­ta­mos que uma agên­cia reg­u­ladora com tamanha respon­s­abil­i­dade não iria aprovar alguma coisa a ser min­istrada a estes cidadãos moti­vada por “inter­esses por trás disso aí”.

Chega a ser ina­cred­itável que um pres­i­dente da República coloque em dúvida o tra­balho de agên­cia reg­u­ladora do Estado e a hon­radez dos seus inte­grantes.

Chega a ser mais ina­cred­itável, ainda, que a Procuradoria-​Geral da República e o Con­gresso Nacional se man­tenha, até agora, diante de fatos de tamanha gravi­dade como se nada tivesse acon­te­cido e guarde um silên­cio sepul­cral.

Chega a ser bisonho que a honra da pátria ultra­jada pelos despautérios da excelên­cia que pre­side o país tenha sido feita por uma emis­sora de tele­visão, a Rede Globo, que em edi­to­r­ial no seu prin­ci­pal noti­cioso, o Jor­nal Nacional, repôs as coisas aos seus dev­i­dos ter­mos e ainda “puxou” a orelha da autori­dade na mesma quinta-​feira.

Mas a resposta ver­dadeira­mente acacha­pante veio na “nota-​pisa” de Bar­ras Tor­res, no sábado.

A nota de Barra Tor­res é de uma sin­geleza cor­tante e rev­ela muito mais pelo não dito que pelo dito.

Começa por dizer serviu ao país por 32 anos, como Ofi­cial Gen­eral da Mar­inha, pau­tando a vida pes­soal na aus­teri­dade e na honra.

Quem não teria honra?

Prossegue dizendo que como cristão, bus­cou cumprir os man­da­men­tos, muito emb­ora tenha abraçado a car­reira das armas. Nunca tendo lev­an­tado falso testemunho.

Quem teria cometido falso teste­munho e/​ou vio­lado os mandamentos?

Con­tinua dizendo que vai mor­rer sem con­hecer a riqueza mas que mor­rerá digno.

Quem será que enri­cou a si e aos seus no serviço público e por isso seria indigno?

Veja que no iní­cio da nota Tor­res assenta que serviu ao país por 32 anos na car­reira mil­i­tar e tam­bém como médico.

No mesmo pará­grafo em que diz que mor­rerá sem con­hecer a riqueza porém digno, diz que nunca se apro­priou de nada que não fosse seu e que não pre­tende fazer isso frente à Anvisa.

Seria uma indi­reta aque­les que tomavam (ou tomam) os salários dos servi­dores de seus gabi­netes nos esque­mas con­heci­dos como “rachadinhas”?

Con­tinua dizendo que preza pelos val­ores morais que seus pais praticaram e que pelo exem­plo deles somou ao seu caráter.

Veja que cada afir­mação sus­cita uma per­gunta.

Ao dizer isso, estaria dizendo que o pres­i­dente carece de val­ores morais?

E já se aprox­i­mando do final, o desafio acacha­pante, o “piso no risco da mãe” ao dizer que se ele, pres­i­dente, pos­suir infor­mações que lev­an­tem qual­quer indí­cio de cor­rupção dele, que não perca tempo ou pre­varique, mas, deter­mine ime­di­ata inves­ti­gação poli­cial.

O chama­mento à razão do pres­i­dente da República pelo diri­gente da Anvisa é o fato prin­ci­pal da nota.

Ele diz que se o pres­i­dente insinua sem pos­suir sequer indí­cios está sendo leviano ou, se pos­sui e não manda inves­ti­gar, comete o crime de pre­var­i­cação, artigo 319 do Código Penal.

Num gesto de grandeza der­radeiro, Bar­ras Tor­res dar a chance do pres­i­dente se retratar, dizendo que seria um gesto de grandeza se retratar caso não pos­sua infor­mações ou indí­cios de quais­quer irreg­u­lar­i­dades prat­i­cadas pelo mis­sivista, apelando ao Deus que o pres­i­dente tanto cita.

Voltando às min­has memórias de ser­tanejo, nota de Bar­ras Tor­res ao pres­i­dente da República é aquilo que se chamava de “pisa con­ver­sada”, em que pai ou a mãe ao “dis­ci­pli­nar o filho” ia dizendo as razões e motivos de cada “lapada”. Muitas das vezes a con­versa era mais dolorida que a própria “pisa”.

A resposta do pres­i­dente à nota altiva de Barra Tor­res, veio nesta segunda-​feira, 10, provando ser inca­paz de sus­ten­tar em pé o que diz sen­tado, ensaiou um pedido de des­cul­pas, engoliu o choro e disse, tam­bém, em entre­vista à Jovem Pan: “Me sur­preendi com a carta dele. Não tinha motivo para aquilo. Eu falei o que está por trás do que a Anvisa vem fazendo? Ninguém acu­sou ninguém de cor­rupção. Por enquanto, não tenho o que fazer no tocante a isso aí”.

Dito isso, se tivesse sido na minha aldeia, teria cor­rido para debaixo da saia da mãe.

Meu pai cos­tu­mava dizer que cada um “mede os out­ros com sua régua”.

Acos­tu­mado a ser des­men­tido dia sim e no outro tam­bém; a ser chamado (e provado) que não pos­sui qual­quer apego à segu­rança do que diz ou noutras palavras, um men­tiroso con­tu­maz, Bol­sonaro se sur­preende que exis­tam pes­soas com hom­bri­dade para defender a própria honra.

O pres­i­dente não sente o menor con­strang­i­mento ao ser con­frontado com as inver­dades que pro­fere ou ao ser pub­li­ca­mente des­men­tido. Sim­ples­mente dar de ombros e conta outra.

A sur­presa de Bol­sonaro tam­bém é decor­rente da leniên­cia das demais insti­tu­ições e poderes da República que ao longo dos últi­mos três anos o tem tratado como inim­putável.

Quando disse: “Qual o inter­esse da Anvisa por trás disso aí?” que­ria dizer o que mesmo?

No pedido de “penico” a Barra Tor­res ou para fugir à pecha de leviano ou de pre­var­i­cador saiu-​se com essa: “Não acu­sei a Anvisa de cor­rupção, per­gun­tei o que está por trás dessa gana, dessa sanha vaci­natória”.

O enviesado pedido de des­cul­pas por parte de Bol­sonaro, difer­ente do que pre­tendeu Barra Tor­res está longe de ser um gesto de grandeza do pres­i­dente, pelo con­trário é ape­nas uma ten­ta­tiva de escapar de uma desmor­al­iza­ção ainda maior.

Desde que coman­dante da Anvisa divul­gou a nota em repú­dio às declar­ações do pres­i­dente, que este assunto gan­hou destaque no seio da sociedade. Com quase cem por cento dos comen­tários favoráveis ao chefe da Anvisa e con­trários ao pres­i­dente.

Imag­ino que que no meio dos mil­itares, um dos pilares do bol­sonar­ismo, a reper­cussão tenha sido ainda maior.

Barra Tor­res pode ter aberto uma porta para aque­les que, por fidel­i­dade ou dever, ainda se deixam humil­har pelo pres­i­dente.

Final­izo dizendo que aceitos ou não o pedido de des­cul­pas pelos envolvi­dos, talvez essa con­tenda sirva para o pres­i­dente (se pos­suir capaci­dade para tal) rever seus val­ores e enten­der muitos não aceitam que lhes tirem a honra.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

A escravidão do falso enga­ja­mento político.

Escrito por Abdon Mar­inho

A escravidão do falso enga­ja­mento político.

Por Abdon Marinho.

UM AMIGO afirma inda­gando: —nunca mais escrevestes!?

Respondo: — ape­nas duas sem­anas.

Ele prossegue: — mas por qual motivo?

Retruco: — ora, era Natal, Ano Novo.

Já no ano pas­sado (ou no ante­rior) aler­tava sobre essa doença – ou seria escravidão –, que tem acometido o povo brasileiro: o falso enga­ja­mento político.

Vive­mos dias como se nada mais impor­tasse para o mundo e para a sociedade do que as próx­i­mas eleições ou o que fez esse ou aquele político.

Assim, tornou-​se comum que junto com as men­sagens natali­nas ou de “ano bom” rece­ber­mos “tex­tões” com pros­elit­ismo político a favor ou con­tra deter­mi­nadas pes­soas ou pautas.

No Brasil chegou-​se ao ponto, pas­mem, de antes da Ceia de Natal ou de Ano Novo, ao invés de estar­mos con­ver­sando com famil­iares e ami­gos, con­tanto piadas, cau­sos os remem­o­rando histórias da família para que não se perca no tempo e sejam recor­dadas por ger­ações futuras, estar­mos “batendo pan­elas” den­tro de casa ou nas varan­das dos edifí­cios – tudo dev­i­da­mente reg­istrado com uma hor­rível fil­magem de celu­lar (que até hoje não apren­deram fazer) para serem com­par­til­hadas em algum canal de tele­visão e, com certeza, nas redes soci­ais.

Vejam, esta­mos falando do dia de Natal, data máx­ima da cri­stan­dade em que todas as atenções dev­e­riam se voltar para o aniver­sari­ante do dia; esta­mos falando do Ano Novo, data máx­ima da sol­i­dariedade e da paz mundial.

Nada disso mais importa aos brasileiros. Família, ami­gos, con­frat­er­niza­ções são detal­hes, a única coisa que importa real­mente, inde­pen­dente da ini­mizades ou destru­ição que isso possa causar, infe­liz­mente, é a data da próx­ima eleição, e da próx­ima, e das seguintes …e por aí vai.

O brasileiro não encerra o seu pros­elit­ismo tosco com o resul­tado de uma eleição, não existe um dia de trégua para que o eleito possa ten­tar fazer o que se propôs, já temos uma pauta visando o próx­imo pleito, para daí a qua­tro, oito, doze, dezes­seis …, pelo resto da vida.

Cheg­amos a um nível de tamanha estu­pidez em que a pes­soa mais impor­tante na vida do cidadão não é o seu pai, o seu irmão, o seu amigo de lon­gas datas, aquele que lhe socor­reu sem­pre que pre­cisou. A pes­soa mais impor­tante na vida do cidadão brasileiro é o seu can­didato, aquele que encarna seus sen­ti­men­tos ou pre­con­ceitos – mesmo os mais mesquin­hos.

Há alguns dias um amigo me disse que já tem anos que não fala com um dos seus irmãos.

É comum que hajam desavenças entre famil­iares e até mesmo que fiquem “intri­ga­dos” o que não é nor­mal, como no caso, é que esta ini­mizade se dê por conta de um político, por conta de um defender uma pauta ou ideias e o outro defender out­ras pau­tas e ideias.

Por mais absurdo que possa pare­cer, isso é o que mais vem ocor­rendo no Brasil.

Não temos uma família – se existe é para jus­ti­ficar a regra –, que não esteja fra­cionada por desavenças políti­cas. Não par­til­ham mais as ceias de Natal, Ano Novo, Pás­coa ou mesmo o aniver­sário de um patri­arca ou de uma matri­arca em família ou, se fazem isso, é quase certo que tal evento não acabe bem.

Em relação as amizades nem se fala. Quan­tas delas, que pare­ciam inque­bran­táveis deixaram de exi­s­tir por conta de uma pauta política insana?

Se fiz­er­mos uma breve análise, mesmo em um ciclo restrito, ver­e­mos o mal que este falso enga­ja­mento político tem cau­sado.

O pior é que ninguém parece dis­posto nem a voltar a dialogar com o antigo “mel­hor amigo” ou famil­iar “mais querido”.

O que inter­essa mesmo é aniquilação total do “inimigo”, sem perdão e sem piedade.

O Brasil não con­segue mais confraternizar-​se. Nem as tragé­dias – e esta­mos diante de várias –, parece pos­suir “liga” sufi­ciente para selar qual­quer união, antes, é motivo para mais con­flito e desagre­gação.

Muito emb­ora para um cidadão comum, que ainda pos­sua capaci­dade para dis­cernir pareça que viva­mos em um inferno dan­tesco, para os políti­cos é como se ELES vivessem em um paraíso na terra.

Vejam, os nos­sos políti­cos – e é assim no mundo todo –, são nar­ci­sis­tas por natureza, tudo que eles mais dese­jam é serem admi­ra­dos e cul­tua­dos; é que os seus lid­er­a­dos os ten­ham como refer­ên­cia acima de quais­quer out­ras, é para isso que tra­bal­ham incansavel­mente.

Daí terem encon­trado o paraíso que tanto alme­jaram na atual quadra política do país.

Imag­inem que gas­tando muito pouco – quase nada –, ape­nas ali­men­tando nos vários veícu­los de comu­ni­cação, prin­ci­pal­mente nas redes soci­ais, suas pau­tas e pre­con­ceitos con­seguem man­ter um “exército de desmi­o­la­dos” os admi­rando e capazes defendê-​los de tudo e con­tra todos.

Como disse, estão no paraíso – e nem pre­cis­aram mor­rer para isso, até porque, imagina-​se que depois de mor­tos, irão direto, sem dire­ito a um des­canso no pur­gatório, para o inferno –, sendo admi­ra­dos, cul­tua­dos, defen­di­dos mesmo quando prati­cam os maiores absur­dos, como quando roubam o din­heiro da saúde, da edu­cação, do sanea­mento básico, da assistên­cia social, das políti­cas públi­cas de apoio à juven­tude, à pesquisa, etc.

Os nos­sos políti­cos con­seguiram o que seus con­gêneres ficaram longe de con­seguir ao redor do mundo: serem aplau­di­dos por suas víti­mas, por aque­les que sabem que são rou­ba­dos sem tréguas por eles.
Agi­mos como se os “nos­sos” políti­cos fos­sem o cen­tro do uni­verso. Pior, agi­mos como se fos­sem o cen­tro do “nosso” universo.

O nosso país vive essa estranha real­i­dade em que os cidadãos têm a falsa ilusão de que são poli­ti­za­dos e que esse seu enga­ja­mento político é deci­sivo para um futuro de pros­peri­dade para todos, quando na real­i­dade, se tornaram um “exército de escravos” das pau­tas políti­cas mais absur­das enquanto seus fal­sos líderes sagraram, san­gram ou se preparam para san­grar a nação.

Faz-​se necessário que os brasileiros refli­ta­mos sobre o que vem ocor­rendo no nosso país, mas, sobre­tudo, nas nos­sas vidas.

A pior escravidão não é aquela que nos impõem, a pior escravidão é aquela que nos impo­mos.

A única “van­tagem” da escravidão que nos impo­mos em relação aquela que nos é imposta é que desta podemos nos lib­er­tar por nós mes­mos, a par­tir da capaci­dade que pos­suí­mos de avaliar os nos­sos erros e de faz­er­mos uma autocrítica do nosso com­por­ta­mento.

Um apelo urgente que pre­cisamos fazer é que pre­cisamos dar uma chance à razão e a racional­i­dade; olhar­mos para den­tro de nós mes­mos e nos lib­er­ta­mos dos gril­hões que “nós” nos impo­mos.

Se for­mos capazes de faz­er­mos isso – e acred­ito que ser­e­mos –, ire­mos exper­i­men­tar a ver­dadeira liber­dade, aquela que não depen­der­e­mos de políti­cos ou líderes para nos mostrar o mel­hor cam­inho para seguirmos.

Assim estare­mos pron­tos para encarar não ape­nas um novo ano, uma nova década, estare­mos pron­tos para encar­ar­mos uma nova vida.

Esta é a nossa primeira reflexão para o ano que se ini­cia. Que venha 2022!

Abdon Mar­inho é advo­gado.