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CHEGA! NÃO É, BOLSONARO?

Escrito por Abdon Mar­inho


JÁ CHEGA! NÃO É, BOLSONARO?

Por Abdon Marinho.

HAVIA prometido não falar sobre o sen­hor Bol­sonaro, a menos, claro, que ele fizesse alguma coisa bem inusi­tada, como, por exem­plo, chutar alguma mul­her grávida na Praça dos Três Poderes, no sen­tido lit­eral e com gravi­dade.

Assim deliberei, por enten­der que todo esse tumulto cau­sado pelo pres­i­dente e que tem o condão de enfraque­cer as posições do país, interna e exter­na­mente, não é fruto (ape­nas) da ignorân­cia, é tam­bém um método.

Para ele não importa o quanto ridículo e descon­tro­lado se mostre, o que importa é ficar na mídia, tornar-​se um assunto incon­tornável nos veícu­los de comu­ni­cação.

Se alguém tinha alguma dúvida sobre a efe­tiva apli­cação do dito pop­u­lar “falem mal, mas falem de mim”, não tem mais.

Firme neste propósito foi que deixei de comen­tar, dias atrás, a live/​escândalo em um pres­i­dente da República, sem qual­quer fil­tro e com base em infor­mações abso­lu­ta­mente fal­sas, afir­mou que a vacina con­tra COVID causava ou facil­i­tava a AIDS (Sín­drome da Imun­od­efi­ciên­cia Adquirida, na sigla em inglês).

Que espé­cie de imbe­cil, diante uma pan­demia que já ceifou mais de 5 mil­hões de vidas no mundo, só no Brasil, mais de 600 mil, que tem na vaci­nação em massa a chance de con­tro­lar o vírus e devolver a vida dos cidadãos à nor­mal­i­dade, seria capaz de uma fala tão irre­spon­sável?

O nosso país, os números estão aí para provar, é a prova mais elo­quente que a vaci­nação é efi­caz. Dimin­uí­mos o con­tá­gio e as mortes aos pata­mares mais baixos desde que a pan­demia se alas­trou no país.

A resposta para per­gunta ante­rior é respon­dida pelo próprio pres­i­dente. No seu “pas­seio” pela Itália quando suposta­mente dev­e­ria par­tic­i­par do Encon­tro do G-​20, segundo ele, deu um “pisão” no pé de Ângela Merkel, a chanceler alemã, quando ela virou pra olhar o autor da façanha, exclamou ao vê-​lo: —só podia ser você!

Como em roda de bar de “pé sujo”, a maior autori­dade do país, conta a única coisa de rel­e­vante que fez no encon­tro dos vinte países mais impor­tantes do mundo – já que nem apare­ceu para a foto ofi­cial no encon­tro –, “pisar” no pé de Ângela Merkel.

Pois bem, Merkel iden­ti­fi­cou o imbe­cil capaz de se van­glo­riar por pisar-​lhe o pé e por espal­har de forma irre­spon­sável que a vacina “causa” AIDS, sem qual­quer respaldo téc­nico e com base em uma “fake news” pro­movida por gru­pos anti-​vacinas ao redor do mundo, o “só podia ser você”, do qual se van­glo­riou, diz mais do que mil teses.

Só mesmo ele seria capaz de “ati­rar” con­tra a única coisa pos­i­tiva que vem acon­te­cendo no país, o sucesso na vaci­nação, com uma sus­peição tão cruel.

A AIDS, ape­sar da eficá­cia no seu trata­mento e das pes­soas con­seguirem con­viver com ela por toda a vida, ainda é uma doença cheia de estig­mas, que a acom­panha desde o seu surg­i­mento no iní­cio dos anos oitenta, de “peste gay à morte certa”.

Ao difundir que a vacina causaria AIDS um pres­i­dente da República, pelo efeito dev­as­ta­dor que causa, pode impedir dezenas de mil­hares de pes­soas de se imu­nizarem e perderem a vida por causa disso. Inclu­sive, pelo receio de con­traírem a AIDS e atraírem todos os seus estig­mas e pre­con­ceitos.

Feliz­mente, autori­dades e cien­tis­tas do mundo inteiro cor­reram para des­men­tir, mais uma vez, a patranha.

Mas, e pelos motivos ditos no iní­cio, tinha deix­ado “pas­sar” esse absurdo, assim como não me ani­mou falar sobre o “pas­seio” pela Itália e seus des­do­bra­men­tos, desde a ausên­cia de qual­quer reunião bilat­eral impor­tante até a agressão a diver­sos jor­nal­is­tas no exer­cí­cio profis­sional.

Que­bro o “com­pro­misso” diante da notí­cia que li em diver­sos veícu­los da imprensa dando conta que vinte e um cien­tis­tas con­dec­o­ra­dos com a Ordem do Mérito Cien­tí­fico pelo pres­i­dente Jair Bol­sonaro (sem par­tido) decidi­ram recusar a hom­e­nagem em uma ação cole­tiva.

A decisão dos cien­tis­tas, segundo os próprios afir­maram na carta-​aberta, deu-​se após o pres­i­dente, em decreto datado do dia 5 de novem­bro, haver can­ce­lado a con­cessão da hon­raria a dois out­ros cien­tis­tas, tam­bém agra­ci­a­dos no primeiro decreto, Adele Ben­za­ken e Mar­cus Lac­erda.

Os motivos para os “desagra­ci­a­men­tos” foram essen­cial­mente “bol­sonar­is­tas”: Lac­erda foi um dos primeiros pesquisadores a demon­strar que cloro­quina é inefi­caz no trata­mento con­tra a Covid-​19. Já Ben­za­ken desagradou o Palá­cio do Planalto após pub­licar uma car­tilha des­ti­nada a homens trans, durante a época em que ocu­pava o cargo de dire­tora do depar­ta­mento de HIV/​Aids do Min­istério da Saúde, con­forme matéria da Revista Veja.

O decreto con­tro­ver­tido traz out­ras “bizarrices”, a começar pelo pres­i­dente da República se auto admi­tir na Ordem Nacional do Mérito Cien­tí­fico.

Nem sei se isso é legal­mente pre­visto, mas, vamos com­bi­nar, que colo­car Bol­sonaro e ciên­cia na mesma “página” não é algo razoável. Aliás, é algo tão desproposi­tado que só encon­tra lugar na auto con­cessão.

Ninguém mais, além do próprio Bol­sonaro, o acharia mere­ce­dor de ser incluído na tal Ordem do Mérito Cien­tí­fico, que acred­ito dev­e­ria ser des­ti­nada aos cien­tis­tas que efe­ti­va­mente ten­ham serviços cien­tí­fi­cos presta­dos ao país e a humanidade.

Bol­sonaro não ape­nas se acha mere­ce­dor, como se auto admi­tiu na Ordem dire­ta­mente na classe Grão-​Cruz e como Grão-​Mestre, vá ter autoes­tima ele­vada assim na casa do c…

O cara agora é grão-​mestre da Ordem do Mérito Cien­tí­fico. É algo tão inusi­tado quanto as dezenas de títu­los de “doutor hon­oris causa” que o ex-​presidente Lula cole­cio­nou ao redor do mundo.

São casos típi­cos em que o “hon­rado” desmerece a hon­raria.

Certa vez um amigo vereador de São Luís, per­gun­tou se não gostaria de rece­ber o título de cidadão do municí­pio. Disse que não era mere­ce­dor. Na ver­dade, já haviam “fulanizado” tanto o título que emb­ora me hon­rasse recebê-​lo, preferi dec­li­nar.

Acho que os cien­tis­tas que renun­cia­ram a hon­raria dev­e­riam ter renun­ci­ado à mesma, não ape­nas pela exclusão dos dois cole­gas, mas, sobre­tudo, por não com­bi­nar que cien­tis­tas de ver­dade inte­grem a mesma ordem cien­tí­fica que o sen­hor Bol­sonaro e, ainda mais, numa grad­u­ação infe­rior a dele, um notório inimigo da ciên­cia que tem tra­bal­hado com inco­mum ded­i­cação para destruir todo o avanço cien­tí­fico que foi con­struído no país até aqui.

Bas­taria que olhas­sem para as condições em que se encon­tram as suas insti­tu­ições e uni­ver­si­dades.

Chega a ser ver­gonhoso que só ten­ham renun­ci­ado a hon­raria con­ce­dida após a exclusão dos dois cole­gas.

Com o gov­erno repleto de mil­itares – muitos já sem qual­quer brio –, fico imag­i­nando como rea­giriam se vis­sem um recruta ser alçado dire­ta­mente a patente de gen­eral. Cer­ta­mente é como se sen­tem os cien­tis­tas de ver­dade ao verem inte­grar uma ordem cien­tí­fica pes­soas como Jair Bol­sonaro, Mar­cos Ponte, Car­los França, Paulo Guedes e Mil­ton Ribeiro. Tudo gente boa e com vasta con­tribuição à ciên­cia nacional.

Em meio a tan­tos out­ros absur­dos, o pres­i­dente grão-​mestre da ordem cien­tí­fica, parece ape­nas mais uma bizarrice da nossa republi­queta de bananas que nem mere­ce­ria que gastásse­mos nosso tempo com ela e se o faço é ape­nas para teste­munhar o quão fundo já atin­gir­mos no que­sito da degradação moral.

O pres­i­dente se auto nomear Grão-​mestre da Ordem do Mérito Cien­tí­fico do Brasil, acho que já chega, não é, Bolsonaro?

Abdon Mar­inho é advogado.

P.S. Após a divul­gação do texto, difer­ente do con­sta no decreto da imagem, um amigo avisou-​me o pres­i­dente já era o grão-​mestre da tal ordem, por decreto de 2015. Ora, em sendo assim qual a neces­si­dade de ser “admi­tido” como grão-​mestre neste novo decreto? Além do mais, nos ter­mos da Con­sti­tu­ição Fed­eral ninguém é obri­gado a fazer algo senão em vir­tude da lei. Se não tem uma lei neste sen­tido ele pode­ria recusar a tal hon­raria e não pagar esse “mico”.

Des­culpem, ter­e­mos que falar de sexo.

Escrito por Abdon Mar­inho


DESCULPEM, TER­E­MOS QUE FALAR DE SEXO.

Por Abdon Marinho.

OPOR­TUNO que ini­cie este texto colo­cando um pedido de des­cul­pas no título. E faço isso, por enten­der que assunto de tal jaez jamais dev­e­ria ser objeto de dis­cussão, que se gaste “papel” ou “bytes” para tratar de um assunto que só diz respeito à vida pri­vada, a intim­i­dade das pes­soas. Dito de outra forma, o sexo con­sen­sual entre as pes­soas capazes não diz respeito a ninguém além dos cidadãos envolvi­dos, que podem levar uma vida pública ou longe dos olhos dos bis­bil­hoteiros.

Emb­ora esta seja uma pre­missa de fácil com­preen­são, o que temos assis­tido ao longo dos sécu­los até à atu­al­i­dade – quando todos dev­e­riam cuidar das próprias vidas –, é uma pre­ocu­pação injus­ti­fi­cada com tema fomen­tando debates acalo­rados em diver­sos cam­pos soci­ais.

Não faz muito tempo trata­mos aqui, no texto “O Book Rosa do Maran­hão”, do suposto “affair” envol­vendo um suposto dep­utado e/​ou a suposta uti­liza­ção de uma suposta condição sex­ual para fins de chan­ta­gens políti­cas.

O assunto retorna a pauta por conta da reper­cussão nacional a uma postagem, em redes soci­ais, onde um jogador de vôlei crit­i­cava, a rev­e­lação de que o atual Super­man, Joe Kent, é bis­sex­ual. O jogador de vôlei ironi­zou a infor­mação divul­gada pela DC Comics, que pub­lica a HQ. «Ah, é só um desenho, não é nada demais. Vai nessa que vai ver onde vamos parar.»

A postagem do atleta cau­sou (e causa) enorme alvoroço, a ponto dos patroci­nadores ameaçarem reti­rar o patrocínio ao clube em que jogava e cul­mi­nar com a sua demis­são.

Por estas par­a­gens, foi um senador da República, tam­bém, através das redes soci­ais, que polem­i­zou ao criticar que um dos com­er­ci­ais da Sec­re­taria de Edu­cação do Estado, pre­gando a voltas às aulas fosse estre­lado por um ado­les­cente influ­en­ci­ador dig­i­tal transexual.

Insti­gado pelo com­bustível da política – ambos se iden­ti­fi­cam com as pau­tas do atual pres­i­dente da República –, os dois, o jogador e o senador, têm “sofrido” mais que “sovaco de alei­jado”, e antes que o escrete politi­ca­mente cor­reto venha para cima de mim, esclareço que posso fazer tal adje­ti­vação por ser “alei­jado”, logo, estou falando de mim.

O certo, meus ami­gos, é que essa pauta “tem ren­dido”. Vejam a que ponto cheg­amos, uma história em quadrin­hos e um com­er­cial no cen­tro dos debates políti­cos.

A per­gunta que não cala é: esse povo não tem nada mais impor­tante para fazer?

O atleta do vôlei, ape­sar das críti­cas que tem rece­bido e até do revés finan­ceiro sofrido, tem dito que man­tém suas críti­cas pois fun­dadas em seus val­ores pes­soais, encon­trando entre diver­sos segui­men­tos soci­ais, mesmo entre aque­les que não o con­hecia, defen­sores sob o argu­mento de que defen­dem a liber­dade de expressão ou mesmo que o país vive­ria sob uma suposta “ditadura gay”.

Muito emb­ora man­tendo a crítica que fez ao fato do com­er­cial estatal ter sido estre­lado por um ado­les­cente tran­sex­ual, o senador apagou a postagem das redes soci­ais e fez uma nota onde se des­cul­pava pela pub­li­cação ante­rior.

O senador, ques­tion­ado por um blogue a respeito do assunto: “Não é uma crítica à opção sex­ual. Man­tenho minha posição crítica em relação ao gov­erno do Estado, ao ten­tar influ­en­ciar out­ras cri­anças com essa pro­pa­ganda ofi­cial. Você mesmo, ao chamar a cri­ança de dig­i­tal influ­encer, recon­hece a capaci­dade dela de influ­en­ciar out­ras. Ora, se fosse uma pro­pa­ganda da cri­ança de batom, por exem­plo, não teria nada demais. Mas, neste caso, seria pri­vado. Por­tanto, volto a dizer, minha crítica política é única e exclu­si­va­mente ao gov­erno”, disse.

Sem querer “pas­sar pano”, vejo que ambas as pub­li­cações, estopins de toda a celeuma, muito emb­ora dis­tin­tas, têm uma raiz comum e partem de um pres­su­posto equiv­o­cado.

Ambos, jogador e senador, tratam a “situ­ação sex­ual” das pes­soas como “opção” e acham que essa opção pode ser “influ­en­ci­ada” por uma história em quadrin­hos que apre­senta o Joe Kent, filho nosso herói Clark Kent, como um jovem bis­sex­ual ou pelo fato de um dos com­er­ci­ais públi­cos chamando para a voltas às aulas ser estre­lado por um ado­les­cente tran­sex­ual.

Emb­ora desnecessário, pelo menos para as pes­soas com um mín­imo de instrução, tais pre­mis­sas são fal­sas. Noutras palavras, “viadagem” não pega.

Opção, ensina-​nos os dicionários, é um sub­stan­tivo fem­i­nino que sig­nifica “Ato, fac­ul­dade ou resul­tado de optar; livre escolha, prefer­ên­cia”. Quer um e exem­plo? Fulano fez opção de nunca casar. Ape­nas para ficar no tema.

Não con­sta em nen­hum estudo ou mesmo nas práti­cas da vida que, quanto à sex­u­al­i­dade, o cidadão ou cidadã tenha essa fac­ul­dade, possa optar, fazer essa livre escolha ou exercer esse dire­ito de prefer­ên­cia.

Ora, desde que Kal-​El chegou aqui vindo do plan­eta Kryp­ton man­dado por seu pai Jor-​El, ante a iminên­cia de explosão daquele plan­eta e foi ado­tado Jonathan Kent e Martha Kent e pas­sou a chamar-​se Clark Joseph Kent, em 1938 – já se vão 83 anos –, engatando pouco tempo depois uma relação e depois casa­mento com Lois Lane, que todos os super-​heróis são “pegadores” sem que isso tenha impe­dido ou inspi­rado mil­hões de cri­anças e ado­les­centes homos­sex­u­ais a virarem het­eros­sex­u­ais.

Nem mesmo uma legião de super-​heróis e heroí­nas foram capazes de fazer isso. Nem o Fan­tasma, o Man­drake, o Aqua­man, o Homem-​Aranha ou mesmo o Bat­man – se bem que sem­pre pairou aquela dúvida em relação ao Robin, não é?

Mesmo que a condição sex­ual das pes­soas fosse uma “opção” como a tra­tou o jogador e o senador, o risco de alguém se deixar “influ­en­ciar para virar gay” seria nulo ou próx­imo disso, pois rara­mente se encon­tra alguém que goste de sofrer diu­tur­na­mente pre­con­ceitos e dis­crim­i­nações.

O que encon­tramos, feliz­mente, cada vez mais fre­quente, são pes­soas que resolveram viver suas vidas com altivez e dig­nidade sem se pre­ocu­parem com o que pensa os demais no seu entorno.

Seres humanos, não impor­tando a idade, cor, raça, religião ou situ­ação sex­ual, pre­cisam de acol­hi­mento, amor e respeito.

Quando vejo um jogador profis­sional, promis­sor ou de sucesso e um senador da República, bem como, os mil­hares ou mil­hões pes­soas que comungam com o que pen­sam, se expres­sarem como fiz­eram não imag­ino que os moti­vam o ódio. Talvez até exista, mas acred­ito que são movi­dos por con­ceitos (ou pre­con­ceitos) que não têm lugar, nos nos­sos dias, na ciên­cia ou nos princí­pios cristãos.

Uma história em quadrin­hos ou um com­er­cial, repito, por mais influ­entes que sejam seus pro­tag­o­nistas não têm o poder de mod­i­ficar a sex­u­al­i­dade de ninguém, por outro lado, podem influ­en­ciar para que ten­ham respeito e tol­erân­cia com a diver­si­dade, cada vez mais pre­sentes em suas vidas.

Quando o senador diz: “Nada con­tra a opção sex­ual de alguém. Agora querer obri­gar a aceitação desta opção de alguns como regra e apolo­gia a prática homos­sex­ual isso não dá para aceitar!!!”, acred­ito que cometa um duplo equívoco (ou mais) primeiro, como dito, por achar que sex­u­al­i­dade é uma “opção” e, depois, por querer “obri­gar” as pes­soas que tem uma condição sex­ual dis­tinta da sua a viverem na clan­des­tinidade, tran­ca­dos eter­na­mente no armário do pre­con­ceito.

Ora, se tem com­er­ci­ais estre­la­dos por todo tipo de pes­soas, por não um ou mais com uma pes­soa tran­sex­ual? Qual é o mal que isso pode causar? Ah, vai influ­en­ciar as cri­anças ou ado­les­centes a virarem gays. Me per­doem mas isso é lou­cura.

A jovem que pro­tag­on­iza o com­er­cial da Sec­re­taria Estad­ual de Edu­cação já pos­suía quase meio mil­hão de seguidores – acho que depois deste episó­dio con­siga out­ros mil­hares. Vão proibir a inter­net – prin­ci­pal veículo de comu­ni­cação da juven­tude –, por conta da “má-​influência” que ela possa causar nas cri­anças e ado­les­centes?

Acho que é a China – a ditadura comu­nista –, que ensaia algo neste sen­tido. Vão copiar?

Ah, a pre­ocu­pação do senador é com o uso do din­heiro público numa pro­pa­ganda ofi­cial que vai “influ­en­ciar” out­ras cri­anças.

Ainda por este viés, não assiste razão ao nobre rep­re­sen­tante do estado.

O “din­heiro público”, quase sem­pre uti­lizado para engor­dar con­tas pri­vadas de políti­cos, destina-​se a pro­moção do bem comum, do desen­volvi­mento, da igual­dade e frater­nidade entre os cidadãos, isso implica que todos, e digo todos no seu sen­tido mais amplo, devem ser des­ti­natários e agentes do que os recur­sos públi­cos podem pro­mover.

Um com­er­cial que um ado­les­cente het­eros­sex­ual pode­ria ser ape­nas “mais um”, ao ser pro­tag­on­i­zado por um ado­les­cente tran­sex­ual sig­nifica para tan­tos out­ros mil­hares ou mil­hões ao redor do mundo que eles tam­bém “exis­tem”.

Um der­radeiro argu­mento quanto à falá­cia do uso do din­heiro público “para a pro­moção da homos­sex­u­al­i­dade” é que na hora de cobrar impos­tos os gov­er­nantes não cobram con­forme a “opção sex­ual” de cada um, mas, sim, de todos indis­tin­ta­mente, logo, se tem com­er­ci­ais estre­la­dos por het­eros­sex­u­ais por que não pelos demais?

Encerro, dizendo que o jogador e o senador acabaram fazendo uma opção pela tolice e “jog­a­ram” a bola fora.

No mais, a vida é breve. Aproveitem como quis­erem e pud­erem.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

A imor­tal­i­dade contestada.

Escrito por Abdon Mar­inho

A IMOR­TAL­I­DADE CON­TES­TADA.

Por Abdon Marinho.

CINÉ­FILO, trago na memória os filmes que mais me emo­cionaram ao longo dos anos. Entre estes destaco a trilo­gia “O Poderoso Chefão”, magis­tral obra Fran­cis Ford Cop­pola. Logo no iní­cio do primeiro filme, lançado no Brasil em 1972, aparece o chefão Vito Cor­leone, na inter­pre­tação estu­penda de Mar­lon Brando, recebendo o agradec­i­mento e um “beija-​mão” por um “favor” prestado a um agente funerário, que humilde­mente e com claro temor per­gunta como poderá pagar pelo que foi feito.

Na minha lem­brança é mais ou menos assim. Respondendo-​lhe D. Cor­leone que no momento certo saberá como pagar pelo obséquio.

Guar­dem essa cena.

À ilha do Maran­hão cheguei, de forma defin­i­tiva, em 1985, para ini­ciar o ensino médio no Liceu Maran­hense, por­tanto, há quase quarenta anos. Não lem­bro, em todos estes anos de ter teste­munhado, nem mesmo de “ouvir falar” de ques­tion­a­men­tos sobre as escol­has dos imor­tais da Acad­e­mia Maran­hense de Letras — AML.

De tão dis­cre­tos, os imor­tais, pouco se sabe deles ou o que fazem e muito menos das eleições que real­izam para a escolha do suces­sor do “morto-​rotativo”. Talvez, aqui e ali, algum buchi­cho ou decepção com esta ou aquela escolha. Nada que ultra­pas­sas­sem os umbrais da Casa, na Rua da Paz, quando muito, chegando ao Senad­inho da Praça João Lis­boa, logo à frente, assim mesmo, “cor­rendo” ape­nas entre uma seletís­sima plateia.

Nada que des­per­tasse o inter­esse dos cidadãos que pre­cisam acor­dar cedo para “gan­harem” o sus­tento das suas famílias.

Era assim. Não é mais.

Depois do suposto episó­dio de cunho sex­ual homo­erótico que teria tido como ator prin­ci­pal um par­la­men­tar da Casa de Manoel Beck­man foi a vez da atenção da pat­uleia ser tomada pela eleição na Casa de Antônio Lobo.

Tal celeuma, desta vez, deu-​se porque ninguém menos que o gov­er­nador do estado, sen­hor Flávio Dino, “botou na cabeça” que era o nome ideal para sentar-​se na cadeira que fora do seu pai, Sálvio Dino, ocu­pante da cadeira 32 na AML, fale­cido no ano de 2020, vítima da pan­demia do novo coro­n­avírus (COVID-​19).

A polêmica teve lugar porque sendo o Maran­hão uma pequena aldeia e São Luís o seu núcleo, não há quem não saiba da vida de todo mundo.

Por estas par­a­gens, ninguém duvida da inteligên­cia de sua excelên­cia, tido por muitos, como muito inteligente, um dos mel­hores de sua ger­ação.

Menino pre­coce que con­cluiu os estu­dos fun­da­men­tal e médio no Colé­gio dos Irmãos Maris­tas, na Rua Grande, “de primeira” ingres­sou no con­cor­rido curso de dire­ito da Uni­ver­si­dade Fed­eral do Maran­hão e, em seguida, foi aprovado, quase que simul­tane­a­mente, em dois con­cur­sos públi­cos espe­cialís­si­mos: de pro­fes­sor da própria uni­ver­si­dade fed­eral em que estu­dara e de juiz fed­eral da Primeira Região – este último, em primeiro lugar, como fazem sem­pre questão de enfa­ti­zar –, não pas­saria des­perce­bido do escrutínio público.

Como pro­fes­sor uni­ver­sitário sem­pre teve suas aulas con­cor­ri­das, como jurista, notada­mente no Tri­bunal Regional Eleitoral — TRE/​MA, onde os debates fervil­havam naque­las tardes às vésperas e logo depois das eleições, travava debates jurídi­cos sub­stan­ciosos, ainda mais quando encon­trava um bom procu­rador regional eleitoral – e tive­mos muitos, e com eles aprendemos.

Assim, tal qual uma cele­bri­dade (ou sub), tendo a vida acom­pan­hada – por seus méri­tos, diga-​se –, cau­sou “estran­heza” e polêmica a pos­tu­lação e escolha de sua excelên­cia para a casa literária.

Muito emb­ora o novo imor­tal tenha apre­sen­tado um acervo de livros e arti­gos escritos ao longo dos anos, não se tem con­hec­i­mento que nen­hum deles tenha qual­quer apelo literário.

São escritos téc­ni­cos, geral­mente volta­dos para a área do dire­ito, e alguns para a política.

Per­manecem ocul­tos dos muitos fãs, que acom­pan­ham a vida do novo imor­tal, qual­quer soneto, qual­quer romance, qual­quer crônica com apelo literário ou mesmo uma resenha escrita ou pub­li­cada dos clás­si­cos que declarou ter lido por imposição do pai-​acadêmico.

Faz sen­tido a inqui­etação dos críti­cos, pois sendo uma “acad­e­mia de letras”, que teve na sua origem a inspi­ração de Gonçalves Dias, nosso poeta maior, e pos­suiu no seu quadro de fun­dadores int­elec­tu­ais como Antônio Lobo, Alfredo de Assis Cas­tro, Astolfo Mar­ques, Bar­bosa de Godois, Cor­rêa de Araújo, Clodoaldo de Fre­itas, Domin­gos Quadro, Fran Pax­eco, God­ofredo Mendes Viana, Xavier de Car­valho, Ribeiro do Ama­ral e Vieira da Silva e depois tan­tos out­ros recon­heci­dos por inúmeras obras literárias, o ingresso de alguém que a despeito da recon­hecida inteligên­cia, não pos­sua – pub­li­ca­mente –, uma única obra com estofo literário.

Resta aos críti­cos imag­inarem que os romances, sone­tos, crôni­cas literárias ou ver­sos tor­tos, ao estilo “batat­inha quando cresce ‘espar­rama’ pelo chão” … ainda ven­ham.

Estes críti­cos guardam o mesmo otimismo que tiveram os inte­grantes da acad­e­mia do Nobel quando con­ced­eram o prêmio Nobel da Paz ao recém-​eleito pres­i­dente amer­i­cano Barack Obama. Na época os críti­cos dis­seram que o prêmio seria pelo que ele suposta­mente faria como pres­i­dente.

A vida, às vezes, nos coloca diante de sutis iro­nias. Querem uma? Na mesma sem­ana, prati­ca­mente no mesmo dia, em que fez-​se morto o jor­nal­ista e escritor Jon­aval Medeiros Cunha San­tos, o J.M. Cunha San­tos, autos de “Meu Cal­endário em Pedaços” – seu primeiro livro; “O Esparadrapo de Março”, “A Madru­gada dos Alcoóla­tras”, “Paquito, o Anjo Doido” e “Odis­séia dos Pivetes”, Cunha San­tos estava escrevendo mais um livro: “Ter­ceiro Tes­ta­mento” e de infini­tos e mem­o­ráveis arti­gos literários, que nunca foi lem­brado para qual­quer cadeira na Casa de Antônio Lobo, Flávio Dino, com “escasso” acervo literário, tornou-​se imor­tal.

O engraçado, após a imor­tal­i­dade de sua excelên­cia, foi a “chuva” de comen­tários que recebi.

Um amigo me ligou para dizer que o novo imor­tal era como os faróis da edu­cação, que em boa hora um antigo gov­erno semeou pelo estado, indaguei o motivo é ele sem con­ter o riso com­ple­tou: — ora, Abdon, é alto, “redondo” e pos­sui uma bib­lioteca bem “pequen­ina”. O “bem pequen­ina” foi para reforçar.

Um outro amigo escreveu, com fina iro­nia, na sua rede social que o próx­imo passo seria o sen­hor Bol­sonaro candidatar-​se a uma vaga na Acad­e­mia Brasileira de Letras — ABL.

E choveram comen­tários, críti­cas, insin­u­ações, quase nen­huma elo­giosa.

Um amigo em fla­grante pil­héria (mas com inco­mum gen­erosi­dade) disse: — Ah, Abdon, o próx­imo imor­tal da AML será você, tenho certeza que os seus tex­tos têm mais ape­los literários do que os tex­tos do novo imor­tal.

Já espan­tando qual­quer sug­estão neste sen­tido, deixo claro não sou can­didato a nada. Talvez, a tomar um tijela de juçara com camarão seco, se rece­ber um con­vite. Rsrsrs.

Voltando ao assunto sério, serviu para açu­lar a polêmica e fomen­tar a “con­tes­tação” a imor­tal­i­dade de sua excelên­cia na AML, o “apadrin­hamento” que ele bus­cou junto ao imor­tal – em todos os sen­ti­dos e digo isso ape­nas para não perder a piada –, José Sar­ney, o Dom José.

Tal qual na película de Cop­pola, o que mais teve foi quem se per­gun­tasse, o que estaria por trás daquele “beija-​mão”.

Até o Jor­nal Folha de São Paulo fez matéria sobre o “acordo” Dino-​Sarney.

Por óbvio que D. José, no episó­dio do “beija-​mão” não deve ter pedido nada ao gov­er­nador, não é do seu feitio tratar de assun­tos mate­ri­ais de chofre, mas, cer­ta­mente, como se deu com D. Cor­leone, anotou o favor prestado na conta dos “haveres”, que um dia, cer­ta­mente, chegará. Talvez um apoio para alguém “seu” chegar a um dos tri­bunais ou virá pres­i­dente, talvez um acordo político que aumente o quin­hão dos “seus” na par­tilha do poder a par­tir do ano que vem, tanto na esfera local quanto nacional, quem sabe uma ajuda do novo imor­tal na “escrit­u­ração” de uma nova biografia.

Seja o que for, um dia a conta chegará. E será paga por todos os maran­henses.

Abdon Mar­inho é advogado.