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Eles” con­tin­uam os mesmos.

Escrito por Abdon Mar­inho

ELESCON­TIN­UAM OS MES­MOS.

Por Abdon Marinho.

O ASSUNTO incon­tornável – pelo menos para a política local –, foi a declar­ação do ex-​presidente Luiz Iná­cio Lula da Silva, que em entre­vista para os adu­ladores de sem­pre para as redes soci­ais declarou “de raspão” sobre o quadro político no Maran­hão “Nós defend­emos a can­di­datura do Flávio Dino. Agora, o com­pan­heiro Flávio Dino tem um can­didato, dele, que é o vice, que é do PSDB. Ele sabe que é difí­cil a gente apoiar o PSDB. Nós temos a can­di­datura do Wev­er­ton, então eles vão ter que se acer­tar lá para facil­i­tar a nossa vida”. (Texto col­hido do Blogue Atual 7).

Após a declar­ação de Lula a classe política local não falou mais de outra coisa, inclu­sive com muitos já apon­tando como sug­estão ao candidato/​vice-​governador uma mudança par­tidária para o PSB, par­tido atual do gov­er­nador, como forma de incluir a sucessão estad­ual no “bal­cão de negó­cios” entre os par­tidos.

A declar­ação do ex-​presidente muito emb­ora seja inusi­tada não chega ser sur­preen­dente.

Não sur­preende porque o Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT, Lula à frente, sem­pre fiz­eram seus cál­cu­los políti­cos pen­sando neles e nos seus inter­esses pes­soais e pro­je­tos de poder, os inter­esses do povo brasileiro (ou maran­hense), podem até con­ver­gir em algum momento, mas esse não é o obje­tivo prin­ci­pal.

Foi assim que o PT preferiu negar o apoio a Tan­credo Neves no Colé­gio Eleitoral, no iní­cio de 1985, para eles pouco impor­tava se o can­didato da ditadura mil­i­tar vencesse e adi­asse o fim do régime; foi assim que se opuseram a Con­sti­tu­ição de 1988; ao Plano Real, e a tan­tas out­ras coisas que fiz­eram o país avançar, pelo sim­ples fato de não terem sido pro­postas por eles.

Logo, não me sur­preende que con­tin­uem olhando para o próprio umbigo em detri­mento dos inter­esses do país.

Para eles, se não exi­s­tir a pos­si­bil­i­dade de vencerem as eleições pres­i­den­ci­ais que se aprox­i­mam, pref­erem que o país con­tinue a ser “des­gov­er­nado” pelo Bol­sonaro e pelo cen­trão.

Imag­inem que sur­gisse uma “ter­ceira via” que estivesse em condições eleitorais bem mel­hores que o can­didato do PT e sem o estigma que rep­re­senta essa divisão do país, alguém apos­taria um cen­tavo na pos­si­bil­i­dade do Lula e do PT desi­s­tirem da sua can­di­datura e apoiar essa ter­ceira via? Os que apos­tassem perde­riam o cen­tavo.

Na ver­dade, eles são os respon­sáveis e o prin­ci­pal “cabo eleitoral” do bol­sonar­ismo.

Entre­tanto, a declar­ação do ex-​presidente me parece inusi­tada, senão vejamos: o Lula quando elegeu-​se em 2002 foi através de uma aliança com o Par­tido Lib­eral — PL, de Walde­mar da Costa Neto, segundo dizem tal nego­ci­ação envolveu alguns mil­hões de motivos; o mesmo PL que abriga o atual pres­i­dente é que estará com o próx­imo, seja ele quem for; o mesmo PL que junto com o PT e os demais par­tidos do cen­trão pro­tag­oni­zaram todos os escân­da­los de cor­rupção que ocor­reram no país nos últi­mos vinte anos e, antes disso, nos gov­er­nos do PSDB.

Quando o ex-​presidente assumiu em 1º de janeiro de 2003, logo após, rece­ber a faixa pres­i­den­cial de Fer­nando Hen­rique Car­doso e fazer o famoso dis­curso con­tra a cor­rupção, com o capitão José Dirceu à frente, foram “nego­ciar” a República com o próprio PL, com Par­tido Pro­gres­sita — PP, de Ciro Nogueira; com o Par­tido Tra­bal­hista Brasileiro — PTB, de Roberto Jef­fer­son, e até mesmo com PMDB, de Sar­ney, Renan, Bar­balho, etc.

Em 2005, quando eclodiu o escân­dalo do men­salão o pacto de poder con­tin­uou o mesmo, ape­nas aumen­tando os nacos de par­tic­i­pação de cada um no “butim repub­li­cano”, voltando os inter­esses para a roubal­heira na Petro­bras, no viria a ser con­hecido como escân­dalo do petrolão.

Na sucessão de Lula, em 2010, o pacto de poder priv­i­le­giou o PMDB, com cessão da vice-​presidência ao então pres­i­dente da agremi­ação, ex-​presidente da Câmara dos Dep­uta­dos Michel Temer, que viria a suceder Dilma Rouss­eff após o impeach­ment em 2016.

Todos estes par­tidos, incluindo o MDB, caso o Lula vença as eleições deste ano, estarão no gov­erno em 2023, o próprio Lula já faz gestões e irá bus­car todos eles para lhe dar sus­ten­tação e con­tin­uarem com as far­ras que pro­moveram nos gov­er­nos petis­tas de 2003 a 2016.

Mas o sen­hor Lula, na sua declar­ação para a política local, diz ser “difí­cil” para eles apoiarem o PSDB. O que teria o PSDB?

Vejam que o ex-​presidente nem se ref­ere o vice-​governador pelo nome – mostrando que a restrição não é ao nome, pode­ria ser o João, a Maria, o Pedro, qual­quer um –, preferindo dizer que é do PSDB e que é difí­cil apoiar alguém do PSDB.

A ninguém da plateia amestrada socorre per­gun­tar qual o ver­dadeiro motivo da difi­cul­dade para quem esteve com todas as leg­en­das já referi­das acima e que estarão jun­tos nova­mente, con­forme os cír­cu­los da política.

Qual a ver­dadeira razão de ser “difí­cil” apoiar alguém do PSDB quando o próprio pres­i­dente de honra deste par­tido, o ex-​presidente Fer­nando Hen­rique Car­doso, já até declarou voto em Lula na even­tu­al­i­dade de, no segundo turno, restarem ele e o atual pres­i­dente?

Ora, que moral teria o Lula – e o PT –, para impor qual­quer restrição ao PSDB depois de terem se “pros­ti­tuí­dos” com todas as leg­en­das do espec­tro político brasileiro, com espe­cial voraci­dade em avançar sobre os cofres públi­cos e da Petro­bras, em particular?

A restrição ao PSDB, cer­ta­mente não é pelo fato deste par­tido pos­suir um can­didato a pres­i­dente pois na mesma sen­tença em que disse ser “difí­cil” apoiar o PSDB, referiu-​se a can­di­datura do senador Wev­er­ton como “nós temos”, esquecendo-​se que o seu par­tido, PDT, tem can­di­datura própria à presidên­cia, Ciro Gomes, até mel­hor posi­cionada que a can­di­datura do PSDB, João Dória, atual gov­er­nador de São Paulo.

Na even­tu­al­i­dade da can­di­datura de Bol­sonaro esfacelar-​se ou dele vir a desi­s­tir – o que não descar­tado, uma vez pre­cis­ará da “pro­teção” de um foro priv­i­le­giado a par­tir de 2023 para escapar da cadeia –, todas as demais can­di­dat­uras con­tra Lula gan­harão um novo fôlego, podendo, inclu­sive, Ciro Gomes, PDT, vir a ser o grande adver­sário do ex-​presidente.

Logo, quando Lula diz, “nós temos” a can­di­datura de Wev­er­ton – e Wev­er­ton “fes­teja” isso dizendo ser “amigo-​raiz” dele –, estaria sug­erindo que o can­didato pede­tista, que é líder do seu par­tido, “traia” a can­di­datura de Ciro Gomes?

Pesando todas as situ­ações políti­cas e con­siderando a hipótese de não ter sexo no meio – em todas as situ­ações da vida que você não con­seguir explicar a par­tir de um raciocínio lógico, pode ter certeza que tem sexo –, soa-​me bem mais inusi­tada a declar­ação do ex-​presidente.

Basta olhar para a história, dos anos oitenta pra cá, que ver­e­mos que poucos políti­cos man­tiveram uma “amizade-​raiz” mais fidedigna com o ex-​presidente do que o atual gov­er­nador Flávio Dino e o grupo mais fiel ao seu entorno. Isso desde a ado­lescên­cia, “com­prando” quase todas as brigas do ex-​presidente e do petismo até os dias atu­ais, quando per­maneceu quase que soz­inho nos embates con­tra o atual pres­i­dente, inclu­sive sac­ri­f­i­cando inter­esses do estado que dirige.

Tudo bem que Fre­itas Diniz*, que viveu quase noventa anos, por mais uma dezena de vezes, me disse ter con­hecido pou­cas pes­soas com um caráter tão duvi­doso quanto o ex-​presidente, mas daí a igno­rar a “amizade-​raiz” do atual gov­er­nador, sobre o qual nunca pairou dúvi­das quanto a inte­grar a “república de Planaltina”, ultra­passa todos os lim­ites.

Matu­tando sobre isso cheguei a pen­sar – atenção!! Não esta­mos impe­di­dos de pen­sar –, que a “inusi­tada” declar­ação de Lula seria parte de um “com­binemos” com o atual gov­er­nador.

O ex-​presidente ale­gria “difi­cul­dades” para apoiar alguém “do PSDB”, colo­caria na mesma fala a can­di­datura do PDT e diria que teriam que “se acertarem”.

Dino, por sua vez, ale­garia as “difi­cul­dades” e até a descon­fi­ança que pos­sui em relação ao can­didato pede­tista.

A solução: todos desi­s­tiriam para o surg­i­mento de um ter­ceiro nome. Neste caso, alguém com histórico de “amizade-​raiz” com o ex-​presidente Lula ou um nome do PT local.

Difí­cil será con­vencer Brandão a desi­s­tir da reeleição ou o senador pede­tista a colo­car marcha-​ré na can­di­datura.

Caso colo­quem difi­cul­dades no arranjo, Flávio Dino dará outra prova de “amizade-​raiz” e ficará no cargo para con­duzir o processo.

Em tal per­spec­tiva Brandão seria o nome para o Senado; Már­cio Jerry ou Felipe Camarão para o gov­erno.

Tudo pela paz e pelo sucesso de um “futuro” gov­erno petista.

Como diria aquele craque do fute­bol brasileiro, só falta com­bi­nar com os rus­sos.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

*Domin­gos Fre­itas Diniz Neto 19332021), engen­heiro civil, ex-​deputado fed­eral, um dos fun­dadores do Par­tido dos Tra­bal­hadores PT.

QUEM COM A PENA FEREOU O PATO MANCO RI POR ÚLTIMO.

Escrito por Abdon Mar­inho


QUEM COM A PENA FEREOU O PATO MANCO RI POR ÚLTIMO.

Por Abdon Marinho.

NESTES dias de ócio virótico pus-​me a refle­tir sobre uma cat­e­go­ria de pes­soas que exis­tem desde os primór­dios da civ­i­liza­ção: os aduladores.

Não sobre os que devotam a out­rem os elo­gios mais imper­ti­nentes ou os atos de sabu­jice mais escan­car­a­dos.

Destes já tra­tou deste Salomão, nos seus provér­bios: “a teste­munha falsa não ficará livre do cas­tigo, e aquele que despeja men­ti­ras não sairá livre. Muitos adu­lam o gov­er­nante, e todos são ami­gos de quem lhe dá pre­sentes”. Provér­bios 19:59.

Pas­sando por Havé Sal­vador: “ Afasta-​se dos baju­ladores antes que eles se afastem ti quando não tiveres mais nada”.

Ou Tác­ito: “os adu­ladores são a pior espé­cie de inimi­gos”.

Ou Saint-​Clair Mello: “a pior espé­cie de rato é aquela que pro­lif­era nos escan­in­hos do poder”.

Ainda sobre o tema e a título de con­selho, disse-​nos Barack Obama, ex-​presidente da nação mais poderosa do mundo : “Livre-​se dos baju­ladores. Man­tenha perto de você pes­soas que te avisem quando você erra”.

E não podemos esque­cer que o próprio Nico­lau Maquiavel, no seu “O Príncipe”, dedicou-​se ao trata­mento do tema.

Poderíamos pas­sar dias repetindo o que já dis­seram os mais anti­gos e sábios do que eu sobre os adu­ladores, é um assunto ines­gotável.

Com anos-​luz de dis­tân­cia, eu mesmo, mais uma dúzia de vezes, já fui com­pelido a falar do tema.

Hoje ao retornar ao assunto faço numa outra abor­dagem: falarei dos adu­ladores como instru­men­tos da guerra política.

Quem acom­panha a política local já deve ter perce­bido críti­cas ao atual gov­er­nador e ao seu vice-​governador e can­didato à sucessão estad­ual antes inimag­ináveis.

Não que muitas delas não sejam dev­i­das – até pelo con­trário –, mas é que pas­saram os últi­mos sete anos, cegos e mudos quando o assunto era os descam­in­hos do gov­erno, para eles até as flat­ulên­cias das autori­dades tin­ham aroma de rosas.

E ai daque­les que ousassem dizer o con­trário, eram ata­ca­dos, desmere­ci­dos, escul­ham­ba­dos, desqual­i­fi­ca­dos e até mesmo ata­ca­dos em sua honra pes­soal.

Agora, os defeitos que nunca viram, aflo­ram, são ampli­a­dos; as qual­i­dades, se exi­s­tirem, viram defeitos.

Eu mesmo, quan­tas vezes não fui vítima disso? Algu­mas vezes cheguei a respon­der, não aos xerim­ba­bos de plan­tão, que ape­nas cumpriam ordens, mais dire­ta­mente aos patrões, aos patroci­nadores das imundas penas.

Foi de um destes que, por conta da minha defi­ciên­cia física, gan­hei o apelido de “pato manco”. Nunca liguei pra isso, exceto agora, para dizer que o pato manco acaba rindo por último.

Pois bem, como dizia, assis­ti­mos a uma divisão na facção gov­ernista, com cada qual das ban­das levando no inven­tário de par­tilha até os adu­ladores que infes­tam os órgãos públi­cos.

No iní­cio, cada um ainda querendo tirar van­ta­gens ou apo­s­tando na união, os xerim­ba­bos foram “ori­en­ta­dos” a ficar no “morde e asso­pra”, dizia-​se um agravo ali, mas deixando uma “deixa” para o caso de quer­erem voltar.

Já pas­saram: falam demais e depois ter que des­dizer, engolir o choro ou pedir des­culpa para não perder a sinecura, própria, do par­ente ou do amance­bado?

Hoje, parece-​nos, já não existe o “risco da união” e as milí­cias vir­tu­ais antes unidas na adu­lação já podem par­tir para o jogo de espal­har ofen­sas, criar fatos, desmere­cer os anti­gos ali­a­dos, agora adver­sários.

E começaram cedo. São estrat­a­ge­mas, ini­cial­mente, tidos por inofen­sivos, mas que têm um poten­cial de cresci­mento e divi­sion­ismo na sociedade.

Outro dia, estava anal­isando o que estaria por trás de deter­mi­nada can­di­datura quando pas­saram a tra­bal­har o mote “meu nego” con­tra “meu branco”.

Um referindo-​se à deter­mi­nado can­didato para dizer que o mesmo “seria do povo”; e outro para referir-​se ao adver­sário, como se este fosse, dig­amos, da “nobreza”, da elite, indifer­ente ao sofri­mento do povo e que até foi pas­sar férias nos Esta­dos Unidos enquanto o Maran­hão “afun­dava” em meio às enchentes dos rios.

A ideia sub­lim­i­nar de explo­rar o racismo como arma política no estado revela-​nos que as ordens dos mili­cianos dig­i­tais não con­hecem lim­ites, deve ser naquele estilo: espalha, “se colar colou”.

Muito emb­ora pareça ser um inocente e até colo­quial, vez que no dia a dia, até trata­mos as pes­soas do nosso con­vívio assim, não é.

Uma ex-​governadora até foi apel­i­dada de “a branca”, de um outro político dizia-​se que lavava as mãos com álcool depois que cumpri­men­tava um pobre – isso bem antes da pan­demia.

Ape­sar das pil­hérias mais inci­si­vas, nunca se teve em tais car­ac­ter­i­za­ções a explo­ração do racismo como arma política.

Como obser­vador da política de hoje vejo que estes ataques sob o mote cos­tumes “inocentes”está longe de se tratar de uma brin­cadeira inocente, na ver­dade trata-​se de um cál­culo político para explo­ração do racismo na política estadual.

Não me recordo de ter teste­munhado algo assim.

Esse é ape­nas um exem­plo de como o con­sór­cio dos adu­ladores vem sendo usado para influir na livre escolha dos cidadãos na sucessão estad­ual.

No outro lado tam­bém não tem “refresco” vi ou li que o senador dis­si­dente recla­mara da explo­ração que fiz­eram de um encon­tro que tivera com o min­istro da Saúde do gov­erno Bol­sonaro suposta­mente para bus­car recur­sos e medica­men­tos por conta da enchente.

A ver­são ven­dida pelos opos­i­tores foi que já se tra­tou de um primeiro aceno para bus­car apoio do bol­sonar­ismo no estado e que a tal tertúlia até tivera o aval do pres­i­dente ou mesmo que acon­te­cera uma “reunião sec­reta” entre o senador pede­tista e o pres­i­dente.

A “cam­panha” da fação gov­ernista parece ter feito “estra­gos” na estraté­gia do neo adver­sário, tanto que o próprio par­tiu para “guerra” reafir­mando ser “adver­sário” do atual pres­i­dente da República.

Aos reclames do senador pede­tista somou-​se a “sol­i­dariedade” inusi­tada do antigo desafeto e con­tendor das lides judi­ci­ais e prin­ci­pal ali­ado do pres­i­dente no estado, senador Roberto Rocha, que “defendeu” o “colega” nas redes soci­ais, dizendo que o mesmo era vítima das “milí­cias dig­i­tais” ban­cadas pelo gov­erno estad­ual.

Ora, ora, quem mel­hor para “jurar a desavença” do senador pede­tista com o pres­i­dente que o seu “líder” infor­mal?

A política é, real­mente, uma caix­inha de sur­pre­sas.

Não tratarei desta questão de fundo no pre­sente texto até porque já falei disso há mais de um ano – se não me falha a memória –, e voltarei a tratar em um texto especí­fico.

Os cam­in­hos do bol­sonar­ismo no estado ren­derão muitos debates, muito emb­ora me pareça claro para onde irá, no final.

O pre­sente texto, entre­tanto, é para tratar daquilo que fiz­eram com os adver­sários e ou inimi­gos imag­inários e que agora começam a sen­tir (e a recla­mar) dos supos­tos ataques que estariam sofrendo.

Não achavam “engraçado” quando eram com os out­ros? Ou quando par­tiam para con­stranger jor­nal­is­tas e blogueiros com infini­tas ações judi­ci­ais?

Pois é, como diz o dito pop­u­lar, “quem com o ferro fere, com ferro será ferido”. No caso, mais ade­quado será dizer “quem com a pena fere …”.

O mais engraçado é que são basi­ca­mente as mes­mas penas que usaram para ferir os out­ros as “con­tingên­cias” da política as usam para feri-​los.

Uma doce iro­nia para mostrar que o “pato manco” ri por último.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

Barra Tor­res “pisa” mãe de Bol­sonaro, que foge.

Escrito por Abdon Mar­inho

BARRA TOR­RES PISA MÃE DE BOL­SONARO, QUE FOGE.

Por Abdon Marinho.

ANTIGA­MENTE, há muito anos, lá na minha aldeia quando havia uma rusga entre dois meni­nos era comum que se fizesse dois riscos na terra sim­bolizando as mães dos con­tendores.

Riscos feitos, era aguardar quem iria pas­sar o pé sobre a “mãe” do outro para ini­ciar a peleja até que hou­vesse um vence­dor ou a turma do “deixa disso” apartasse a briga.

Na quinta-​feira, 6 de janeiro de 2022, o pres­i­dente da República, Jair Bol­sonaro, fez os dois riscos no chão ao sug­erir inter­esses sub­al­ter­nos da ANVISA na aprovação da vacina pediátrica da Pfizer para cri­anças de cinco a onze anos.

Em uma entre­vista, onde revelava-​se desin­for­mação sobre o número de víti­mas naquela faixa etária, que segundo o próprio Min­istério da Saúde, ultra­passa três cen­te­nas de mortes, disse sua excelên­cia: “Qual é o inter­esse da Anvisa por trás disso aí? Qual o inter­esse daque­las pes­soas taradas por vacina? É pela sua vida? É pela sua saúde?»

Qual seria o inter­esse “por trás” de uma agên­cia reg­u­ladora do Estado?

Foi essa insin­u­ação mal­dosa da parte do pres­i­dente, lev­an­tando dúvi­das sobre uma decisão téc­nica da agên­cia que levou o gen­eral Barra Tor­res a “pisar” o risco cor­re­spon­dente à mãe do pres­i­dente, na nossa ale­go­ria, e escora-​lo com um soco de dire­ita nas “fuças”.

A Anvisa nada fez senão aprovar uma med­icação (vaci­nas) para cri­anças de 5 a 11 anos na esteira do que fiz­eram, desde o ano pas­sado, out­ras grandes e respeitáveis agên­cias, como a amer­i­cana e a europeia, sem que ninguém sug­erisse ou insin­u­asse que a aprovação se deu porque tais agên­cias tin­ham “inter­esse por trás disso aí”.

O que as agên­cias fazem é apu­rar com rigor extremo os riscos que um medica­mento ou imu­nizante pode trazer para quem o ingerir ou inoc­u­lar. Apu­rado o risco faz-​se o cote­ja­mento entre as van­ta­gens e desvan­ta­gens de se aprovar o medica­mento e/​ou imu­nizante.

No caso em tela as agên­cias chegaram à con­clusão que as van­ta­gens são infini­ta­mente maiores que as desvan­ta­gens oca­sion­adas por alguma inter­cor­rên­cia ou efeito colat­eral que, segundo as pesquisas, são rarís­si­mos e/​ou desprezíveis.

Os cidadãos, acred­i­ta­mos que uma agên­cia reg­u­ladora com tamanha respon­s­abil­i­dade não iria aprovar alguma coisa a ser min­istrada a estes cidadãos moti­vada por “inter­esses por trás disso aí”.

Chega a ser ina­cred­itável que um pres­i­dente da República coloque em dúvida o tra­balho de agên­cia reg­u­ladora do Estado e a hon­radez dos seus inte­grantes.

Chega a ser mais ina­cred­itável, ainda, que a Procuradoria-​Geral da República e o Con­gresso Nacional se man­tenha, até agora, diante de fatos de tamanha gravi­dade como se nada tivesse acon­te­cido e guarde um silên­cio sepul­cral.

Chega a ser bisonho que a honra da pátria ultra­jada pelos despautérios da excelên­cia que pre­side o país tenha sido feita por uma emis­sora de tele­visão, a Rede Globo, que em edi­to­r­ial no seu prin­ci­pal noti­cioso, o Jor­nal Nacional, repôs as coisas aos seus dev­i­dos ter­mos e ainda “puxou” a orelha da autori­dade na mesma quinta-​feira.

Mas a resposta ver­dadeira­mente acacha­pante veio na “nota-​pisa” de Bar­ras Tor­res, no sábado.

A nota de Barra Tor­res é de uma sin­geleza cor­tante e rev­ela muito mais pelo não dito que pelo dito.

Começa por dizer serviu ao país por 32 anos, como Ofi­cial Gen­eral da Mar­inha, pau­tando a vida pes­soal na aus­teri­dade e na honra.

Quem não teria honra?

Prossegue dizendo que como cristão, bus­cou cumprir os man­da­men­tos, muito emb­ora tenha abraçado a car­reira das armas. Nunca tendo lev­an­tado falso testemunho.

Quem teria cometido falso teste­munho e/​ou vio­lado os mandamentos?

Con­tinua dizendo que vai mor­rer sem con­hecer a riqueza mas que mor­rerá digno.

Quem será que enri­cou a si e aos seus no serviço público e por isso seria indigno?

Veja que no iní­cio da nota Tor­res assenta que serviu ao país por 32 anos na car­reira mil­i­tar e tam­bém como médico.

No mesmo pará­grafo em que diz que mor­rerá sem con­hecer a riqueza porém digno, diz que nunca se apro­priou de nada que não fosse seu e que não pre­tende fazer isso frente à Anvisa.

Seria uma indi­reta aque­les que tomavam (ou tomam) os salários dos servi­dores de seus gabi­netes nos esque­mas con­heci­dos como “rachadinhas”?

Con­tinua dizendo que preza pelos val­ores morais que seus pais praticaram e que pelo exem­plo deles somou ao seu caráter.

Veja que cada afir­mação sus­cita uma per­gunta.

Ao dizer isso, estaria dizendo que o pres­i­dente carece de val­ores morais?

E já se aprox­i­mando do final, o desafio acacha­pante, o “piso no risco da mãe” ao dizer que se ele, pres­i­dente, pos­suir infor­mações que lev­an­tem qual­quer indí­cio de cor­rupção dele, que não perca tempo ou pre­varique, mas, deter­mine ime­di­ata inves­ti­gação poli­cial.

O chama­mento à razão do pres­i­dente da República pelo diri­gente da Anvisa é o fato prin­ci­pal da nota.

Ele diz que se o pres­i­dente insinua sem pos­suir sequer indí­cios está sendo leviano ou, se pos­sui e não manda inves­ti­gar, comete o crime de pre­var­i­cação, artigo 319 do Código Penal.

Num gesto de grandeza der­radeiro, Bar­ras Tor­res dar a chance do pres­i­dente se retratar, dizendo que seria um gesto de grandeza se retratar caso não pos­sua infor­mações ou indí­cios de quais­quer irreg­u­lar­i­dades prat­i­cadas pelo mis­sivista, apelando ao Deus que o pres­i­dente tanto cita.

Voltando às min­has memórias de ser­tanejo, nota de Bar­ras Tor­res ao pres­i­dente da República é aquilo que se chamava de “pisa con­ver­sada”, em que pai ou a mãe ao “dis­ci­pli­nar o filho” ia dizendo as razões e motivos de cada “lapada”. Muitas das vezes a con­versa era mais dolorida que a própria “pisa”.

A resposta do pres­i­dente à nota altiva de Barra Tor­res, veio nesta segunda-​feira, 10, provando ser inca­paz de sus­ten­tar em pé o que diz sen­tado, ensaiou um pedido de des­cul­pas, engoliu o choro e disse, tam­bém, em entre­vista à Jovem Pan: “Me sur­preendi com a carta dele. Não tinha motivo para aquilo. Eu falei o que está por trás do que a Anvisa vem fazendo? Ninguém acu­sou ninguém de cor­rupção. Por enquanto, não tenho o que fazer no tocante a isso aí”.

Dito isso, se tivesse sido na minha aldeia, teria cor­rido para debaixo da saia da mãe.

Meu pai cos­tu­mava dizer que cada um “mede os out­ros com sua régua”.

Acos­tu­mado a ser des­men­tido dia sim e no outro tam­bém; a ser chamado (e provado) que não pos­sui qual­quer apego à segu­rança do que diz ou noutras palavras, um men­tiroso con­tu­maz, Bol­sonaro se sur­preende que exis­tam pes­soas com hom­bri­dade para defender a própria honra.

O pres­i­dente não sente o menor con­strang­i­mento ao ser con­frontado com as inver­dades que pro­fere ou ao ser pub­li­ca­mente des­men­tido. Sim­ples­mente dar de ombros e conta outra.

A sur­presa de Bol­sonaro tam­bém é decor­rente da leniên­cia das demais insti­tu­ições e poderes da República que ao longo dos últi­mos três anos o tem tratado como inim­putável.

Quando disse: “Qual o inter­esse da Anvisa por trás disso aí?” que­ria dizer o que mesmo?

No pedido de “penico” a Barra Tor­res ou para fugir à pecha de leviano ou de pre­var­i­cador saiu-​se com essa: “Não acu­sei a Anvisa de cor­rupção, per­gun­tei o que está por trás dessa gana, dessa sanha vaci­natória”.

O enviesado pedido de des­cul­pas por parte de Bol­sonaro, difer­ente do que pre­tendeu Barra Tor­res está longe de ser um gesto de grandeza do pres­i­dente, pelo con­trário é ape­nas uma ten­ta­tiva de escapar de uma desmor­al­iza­ção ainda maior.

Desde que coman­dante da Anvisa divul­gou a nota em repú­dio às declar­ações do pres­i­dente, que este assunto gan­hou destaque no seio da sociedade. Com quase cem por cento dos comen­tários favoráveis ao chefe da Anvisa e con­trários ao pres­i­dente.

Imag­ino que que no meio dos mil­itares, um dos pilares do bol­sonar­ismo, a reper­cussão tenha sido ainda maior.

Barra Tor­res pode ter aberto uma porta para aque­les que, por fidel­i­dade ou dever, ainda se deixam humil­har pelo pres­i­dente.

Final­izo dizendo que aceitos ou não o pedido de des­cul­pas pelos envolvi­dos, talvez essa con­tenda sirva para o pres­i­dente (se pos­suir capaci­dade para tal) rever seus val­ores e enten­der muitos não aceitam que lhes tirem a honra.

Abdon Mar­inho é advo­gado.