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Meu tio viajou.

Escrito por Abdon Mar­inho


MEU TIO VIA­JOU.

Por Abdon Marinho.

PES­SOAL­MENTE só o con­heci quando fui tra­bal­har na Assem­bleia Leg­isla­tiva a par­tir de 1991. Eu, asses­sor do dep­utado Juarez Medeiros e ele um dos dep­uta­dos da oposição o que sem­pre nos per­mi­tia tro­car uma ou outra ideia.

Achava curiosa a história dos três Bened­i­tos, o primeiro, vereador por São Luís; o segundo, prefeito de Alto Ale­gre e o ter­ceiro, dep­utado estad­ual. Os fil­hos Rosário deten­tores de um humor inigualável.

E como sabiam de “cau­sos”; e como tin­ham histórias para con­tar.

Em 1994 por ocasião da eleição para o gov­erno do estado e tendo como can­didato o então senador Cafeteira, ficamos bem mais próx­i­mos. A cam­panha era coor­de­nada por um grupo muito pequeno, basi­ca­mente, eu, Chico Branco, Roberto de Paula, coman­dando o comitê; Ader­son Lago, Juarez Medeiros (can­didato a vice-​governador) e Bened­ito Ter­ceiro, tratando da parte política; o Dr. Laplace Pas­sos e João Ita­pary, cuidando do jurídico; Jesus Ita­pary cuidando do cofre vazio da cam­panha.

Lá, no comitê do Sítio Leal, que fora a casa de Cafeteira, e tinha, ainda, ares de residên­cia, quando não estavam pelo inte­rior fazendo cam­panha, está­va­mos tro­cando ideias e impressões políti­cas, con­tando piadas e rindo dos cau­sos. Ader­son mais “engen­heiro” focado na engen­haria da eleição; já Ter­ceiro, emb­ora, tam­bém, engen­heiro agrônomo, mais brin­cal­hão.

Como nos divertíamos naque­les bate-​papos.

Per­dida a eleição de 1994 e fin­d­ando os mandatos de dep­utado em março de 1995, pouco tempo depois a prefeita de São Luís, Con­ceição Andrade, con­vida para uma mis­são inglória: cuidar da limpeza da cap­i­tal, os ex-​deputados Juarez Medeiros, pres­i­dente da Col­iseu, Bened­ito Ter­ceiro, dire­tor administrativo-​financeiro e Car­los Guter­res, dire­tor téc­nico.

Juarez convidou-​nos para ir com ele para Col­iseu. Eu, para a Secretária-​Executiva e Roberto de Paula para a Asses­so­ria Jurídica.

Foram quase dois anos tra­bal­hando para “enx­u­gar gelo”. A empresa não tinha din­heiro para nada. Seu único cliente, a prefeitura, mal con­seguia man­dar os recur­sos sufi­cientes para pagar a folha de pes­soal, assim mesmo, só a folha líquida, não con­seguindo arcar, sequer, com os encar­gos prev­i­den­ciários e tra­bal­his­tas.

Foi um período de grande difi­cul­dade, mas que teve o extra­ordinário mérito de for­t­ale­cer os nos­sos laços de amizade.

Quando, em 1996, Juarez e Car­los Guter­res, saíram da empresa para out­ros desafios, Ter­ceiro assumiu a presidên­cia e eu o sub­sti­tui na Dire­to­ria Administrativa-​Financeira.

Foi no período em que está­va­mos pela Col­iseu que Ter­ceiro, um dia, começou a me chamar de “tio” – não sei se ainda era secretário-​executivo ou se já dire­tor.

O certo, é que pas­sou a referir-​se a mim, como “meu tio”. Era meu tio para cá, meu tio para lá. Para não ficar trás, tam­bém pas­sei a chamá-​lo de tio. Mais, não ape­nas eu pas­sei a chamá-​lo de tio, como tam­bém, os meus sócios, Wel­ger, Neto, Rodrigo, os fun­cionários do escritório. Pas­samos a chamar de tias, tam­bém, as meni­nas, Bethâ­nia e Verônica e a Darcy Ter­ceiro, a esposa. Todas “viraram” nos­sas tias e nós os seus tios.

Os ami­gos mais chega­dos a nós a eles se ref­erem como meus tios.

Assim, neste mais de um quarto de século tem sido assim: só nos refe­r­i­mos a Ter­ceiro e aos famil­iares como tios e tias e eles se ref­erem a nós, do escritório, da mesma forma.

Serviu mais ainda para essa aprox­i­mação o fato do nosso escritório ficar a poucos pas­sos do pré­dio onde resi­dem.

Quando diag­nos­ti­cado com o câncer, acred­ito que tenha sido uma das primeiras pes­soas a ser avisa­dos. Um dia a tia Verônica chegou e me falou dos “pon­tos” da doença no pul­mão.

Ter­ceiro sem­pre encarou a doença, como a tudo: com inco­mum altivez e bom humor. Nunca deixando trans­pare­cer a dor ou o sofri­mento que o afli­gia.

Era assim com tudo, repito.

Dos nos­sos tem­pos de diri­gentes da Col­iseu “her­damos” uma Ação de Impro­bidade Admin­is­tra­tiva, que “corre” há 23 anos – já fomos absolvi­dos uma vez, o MPE recor­reu, o TJMA disse não haver provas e man­dou que retor­nasse para nova instrução –, um assunto que já me inco­modou bas­tante, mas que hoje só me causa pesar.

Cito este episó­dio porque na audiên­cia de instrução fui parte e advo­gado no feito pre­si­dido pelo então juiz João San­tana e lá acon­te­ceu um fato que ainda hoje conto por onde passo.

Após ser ouvido, pas­sei a acom­pan­har o depoi­mento dos demais. Quando chegou a vez de Ter­ceiro ser ouvido, o juiz per­gun­tou: — o sen­hor tem con­hec­i­mento das acusações que lhe são feitas pelo Min­istério Público? Gostaria de ouvi-​las?

— Por favor, excelên­cia, leia-​as. Responde-​lhe Ter­ceiro.

Ato con­tin­uou o juiz pas­sou a lista-​las: — doação de uma urna funerária para um gari; paga­mento de uma ajuda de custo a outro; paga­mento do funeral de um famil­iar de um fun­cionário; doação de uma den­tadura a outro. E por aí foi.

Ter­ceiro sabia de tudo isso. A ideia de pedir para juiz lê as acusações era ape­nas para mostrar o quanto de injus­ti­fi­cado era o processo.

Neste domingo, 14/​11, a ape­nas 15 dias do seu aniver­sário, meu tio via­jou.

Recebi a notí­cia após cam­in­har pelo sítio e con­statar, como ser­tanejo, que estava “bonito para chover”, abri o celu­lar e vi a notí­cia.

Difer­ente do afir­mado ele não mor­reu, pes­soas como o meu tio não mor­rem.

Ele ape­nas pegou sua Harley-​Davidson e via­jou. E, de lá, de onde estiver, vai con­tin­uar olhando por nós.

Boa viagem, meu tio. Vai com Deus.

Do sobrinho, Abdon.

CHEGA! NÃO É, BOLSONARO?

Escrito por Abdon Mar­inho


JÁ CHEGA! NÃO É, BOLSONARO?

Por Abdon Marinho.

HAVIA prometido não falar sobre o sen­hor Bol­sonaro, a menos, claro, que ele fizesse alguma coisa bem inusi­tada, como, por exem­plo, chutar alguma mul­her grávida na Praça dos Três Poderes, no sen­tido lit­eral e com gravi­dade.

Assim deliberei, por enten­der que todo esse tumulto cau­sado pelo pres­i­dente e que tem o condão de enfraque­cer as posições do país, interna e exter­na­mente, não é fruto (ape­nas) da ignorân­cia, é tam­bém um método.

Para ele não importa o quanto ridículo e descon­tro­lado se mostre, o que importa é ficar na mídia, tornar-​se um assunto incon­tornável nos veícu­los de comu­ni­cação.

Se alguém tinha alguma dúvida sobre a efe­tiva apli­cação do dito pop­u­lar “falem mal, mas falem de mim”, não tem mais.

Firme neste propósito foi que deixei de comen­tar, dias atrás, a live/​escândalo em um pres­i­dente da República, sem qual­quer fil­tro e com base em infor­mações abso­lu­ta­mente fal­sas, afir­mou que a vacina con­tra COVID causava ou facil­i­tava a AIDS (Sín­drome da Imun­od­efi­ciên­cia Adquirida, na sigla em inglês).

Que espé­cie de imbe­cil, diante uma pan­demia que já ceifou mais de 5 mil­hões de vidas no mundo, só no Brasil, mais de 600 mil, que tem na vaci­nação em massa a chance de con­tro­lar o vírus e devolver a vida dos cidadãos à nor­mal­i­dade, seria capaz de uma fala tão irre­spon­sável?

O nosso país, os números estão aí para provar, é a prova mais elo­quente que a vaci­nação é efi­caz. Dimin­uí­mos o con­tá­gio e as mortes aos pata­mares mais baixos desde que a pan­demia se alas­trou no país.

A resposta para per­gunta ante­rior é respon­dida pelo próprio pres­i­dente. No seu “pas­seio” pela Itália quando suposta­mente dev­e­ria par­tic­i­par do Encon­tro do G-​20, segundo ele, deu um “pisão” no pé de Ângela Merkel, a chanceler alemã, quando ela virou pra olhar o autor da façanha, exclamou ao vê-​lo: —só podia ser você!

Como em roda de bar de “pé sujo”, a maior autori­dade do país, conta a única coisa de rel­e­vante que fez no encon­tro dos vinte países mais impor­tantes do mundo – já que nem apare­ceu para a foto ofi­cial no encon­tro –, “pisar” no pé de Ângela Merkel.

Pois bem, Merkel iden­ti­fi­cou o imbe­cil capaz de se van­glo­riar por pisar-​lhe o pé e por espal­har de forma irre­spon­sável que a vacina “causa” AIDS, sem qual­quer respaldo téc­nico e com base em uma “fake news” pro­movida por gru­pos anti-​vacinas ao redor do mundo, o “só podia ser você”, do qual se van­glo­riou, diz mais do que mil teses.

Só mesmo ele seria capaz de “ati­rar” con­tra a única coisa pos­i­tiva que vem acon­te­cendo no país, o sucesso na vaci­nação, com uma sus­peição tão cruel.

A AIDS, ape­sar da eficá­cia no seu trata­mento e das pes­soas con­seguirem con­viver com ela por toda a vida, ainda é uma doença cheia de estig­mas, que a acom­panha desde o seu surg­i­mento no iní­cio dos anos oitenta, de “peste gay à morte certa”.

Ao difundir que a vacina causaria AIDS um pres­i­dente da República, pelo efeito dev­as­ta­dor que causa, pode impedir dezenas de mil­hares de pes­soas de se imu­nizarem e perderem a vida por causa disso. Inclu­sive, pelo receio de con­traírem a AIDS e atraírem todos os seus estig­mas e pre­con­ceitos.

Feliz­mente, autori­dades e cien­tis­tas do mundo inteiro cor­reram para des­men­tir, mais uma vez, a patranha.

Mas, e pelos motivos ditos no iní­cio, tinha deix­ado “pas­sar” esse absurdo, assim como não me ani­mou falar sobre o “pas­seio” pela Itália e seus des­do­bra­men­tos, desde a ausên­cia de qual­quer reunião bilat­eral impor­tante até a agressão a diver­sos jor­nal­is­tas no exer­cí­cio profis­sional.

Que­bro o “com­pro­misso” diante da notí­cia que li em diver­sos veícu­los da imprensa dando conta que vinte e um cien­tis­tas con­dec­o­ra­dos com a Ordem do Mérito Cien­tí­fico pelo pres­i­dente Jair Bol­sonaro (sem par­tido) decidi­ram recusar a hom­e­nagem em uma ação cole­tiva.

A decisão dos cien­tis­tas, segundo os próprios afir­maram na carta-​aberta, deu-​se após o pres­i­dente, em decreto datado do dia 5 de novem­bro, haver can­ce­lado a con­cessão da hon­raria a dois out­ros cien­tis­tas, tam­bém agra­ci­a­dos no primeiro decreto, Adele Ben­za­ken e Mar­cus Lac­erda.

Os motivos para os “desagra­ci­a­men­tos” foram essen­cial­mente “bol­sonar­is­tas”: Lac­erda foi um dos primeiros pesquisadores a demon­strar que cloro­quina é inefi­caz no trata­mento con­tra a Covid-​19. Já Ben­za­ken desagradou o Palá­cio do Planalto após pub­licar uma car­tilha des­ti­nada a homens trans, durante a época em que ocu­pava o cargo de dire­tora do depar­ta­mento de HIV/​Aids do Min­istério da Saúde, con­forme matéria da Revista Veja.

O decreto con­tro­ver­tido traz out­ras “bizarrices”, a começar pelo pres­i­dente da República se auto admi­tir na Ordem Nacional do Mérito Cien­tí­fico.

Nem sei se isso é legal­mente pre­visto, mas, vamos com­bi­nar, que colo­car Bol­sonaro e ciên­cia na mesma “página” não é algo razoável. Aliás, é algo tão desproposi­tado que só encon­tra lugar na auto con­cessão.

Ninguém mais, além do próprio Bol­sonaro, o acharia mere­ce­dor de ser incluído na tal Ordem do Mérito Cien­tí­fico, que acred­ito dev­e­ria ser des­ti­nada aos cien­tis­tas que efe­ti­va­mente ten­ham serviços cien­tí­fi­cos presta­dos ao país e a humanidade.

Bol­sonaro não ape­nas se acha mere­ce­dor, como se auto admi­tiu na Ordem dire­ta­mente na classe Grão-​Cruz e como Grão-​Mestre, vá ter autoes­tima ele­vada assim na casa do c…

O cara agora é grão-​mestre da Ordem do Mérito Cien­tí­fico. É algo tão inusi­tado quanto as dezenas de títu­los de “doutor hon­oris causa” que o ex-​presidente Lula cole­cio­nou ao redor do mundo.

São casos típi­cos em que o “hon­rado” desmerece a hon­raria.

Certa vez um amigo vereador de São Luís, per­gun­tou se não gostaria de rece­ber o título de cidadão do municí­pio. Disse que não era mere­ce­dor. Na ver­dade, já haviam “fulanizado” tanto o título que emb­ora me hon­rasse recebê-​lo, preferi dec­li­nar.

Acho que os cien­tis­tas que renun­cia­ram a hon­raria dev­e­riam ter renun­ci­ado à mesma, não ape­nas pela exclusão dos dois cole­gas, mas, sobre­tudo, por não com­bi­nar que cien­tis­tas de ver­dade inte­grem a mesma ordem cien­tí­fica que o sen­hor Bol­sonaro e, ainda mais, numa grad­u­ação infe­rior a dele, um notório inimigo da ciên­cia que tem tra­bal­hado com inco­mum ded­i­cação para destruir todo o avanço cien­tí­fico que foi con­struído no país até aqui.

Bas­taria que olhas­sem para as condições em que se encon­tram as suas insti­tu­ições e uni­ver­si­dades.

Chega a ser ver­gonhoso que só ten­ham renun­ci­ado a hon­raria con­ce­dida após a exclusão dos dois cole­gas.

Com o gov­erno repleto de mil­itares – muitos já sem qual­quer brio –, fico imag­i­nando como rea­giriam se vis­sem um recruta ser alçado dire­ta­mente a patente de gen­eral. Cer­ta­mente é como se sen­tem os cien­tis­tas de ver­dade ao verem inte­grar uma ordem cien­tí­fica pes­soas como Jair Bol­sonaro, Mar­cos Ponte, Car­los França, Paulo Guedes e Mil­ton Ribeiro. Tudo gente boa e com vasta con­tribuição à ciên­cia nacional.

Em meio a tan­tos out­ros absur­dos, o pres­i­dente grão-​mestre da ordem cien­tí­fica, parece ape­nas mais uma bizarrice da nossa republi­queta de bananas que nem mere­ce­ria que gastásse­mos nosso tempo com ela e se o faço é ape­nas para teste­munhar o quão fundo já atin­gir­mos no que­sito da degradação moral.

O pres­i­dente se auto nomear Grão-​mestre da Ordem do Mérito Cien­tí­fico do Brasil, acho que já chega, não é, Bolsonaro?

Abdon Mar­inho é advogado.

P.S. Após a divul­gação do texto, difer­ente do con­sta no decreto da imagem, um amigo avisou-​me o pres­i­dente já era o grão-​mestre da tal ordem, por decreto de 2015. Ora, em sendo assim qual a neces­si­dade de ser “admi­tido” como grão-​mestre neste novo decreto? Além do mais, nos ter­mos da Con­sti­tu­ição Fed­eral ninguém é obri­gado a fazer algo senão em vir­tude da lei. Se não tem uma lei neste sen­tido ele pode­ria recusar a tal hon­raria e não pagar esse “mico”.

Des­culpem, ter­e­mos que falar de sexo.

Escrito por Abdon Mar­inho


DESCULPEM, TER­E­MOS QUE FALAR DE SEXO.

Por Abdon Marinho.

OPOR­TUNO que ini­cie este texto colo­cando um pedido de des­cul­pas no título. E faço isso, por enten­der que assunto de tal jaez jamais dev­e­ria ser objeto de dis­cussão, que se gaste “papel” ou “bytes” para tratar de um assunto que só diz respeito à vida pri­vada, a intim­i­dade das pes­soas. Dito de outra forma, o sexo con­sen­sual entre as pes­soas capazes não diz respeito a ninguém além dos cidadãos envolvi­dos, que podem levar uma vida pública ou longe dos olhos dos bis­bil­hoteiros.

Emb­ora esta seja uma pre­missa de fácil com­preen­são, o que temos assis­tido ao longo dos sécu­los até à atu­al­i­dade – quando todos dev­e­riam cuidar das próprias vidas –, é uma pre­ocu­pação injus­ti­fi­cada com tema fomen­tando debates acalo­rados em diver­sos cam­pos soci­ais.

Não faz muito tempo trata­mos aqui, no texto “O Book Rosa do Maran­hão”, do suposto “affair” envol­vendo um suposto dep­utado e/​ou a suposta uti­liza­ção de uma suposta condição sex­ual para fins de chan­ta­gens políti­cas.

O assunto retorna a pauta por conta da reper­cussão nacional a uma postagem, em redes soci­ais, onde um jogador de vôlei crit­i­cava, a rev­e­lação de que o atual Super­man, Joe Kent, é bis­sex­ual. O jogador de vôlei ironi­zou a infor­mação divul­gada pela DC Comics, que pub­lica a HQ. «Ah, é só um desenho, não é nada demais. Vai nessa que vai ver onde vamos parar.»

A postagem do atleta cau­sou (e causa) enorme alvoroço, a ponto dos patroci­nadores ameaçarem reti­rar o patrocínio ao clube em que jogava e cul­mi­nar com a sua demis­são.

Por estas par­a­gens, foi um senador da República, tam­bém, através das redes soci­ais, que polem­i­zou ao criticar que um dos com­er­ci­ais da Sec­re­taria de Edu­cação do Estado, pre­gando a voltas às aulas fosse estre­lado por um ado­les­cente influ­en­ci­ador dig­i­tal transexual.

Insti­gado pelo com­bustível da política – ambos se iden­ti­fi­cam com as pau­tas do atual pres­i­dente da República –, os dois, o jogador e o senador, têm “sofrido” mais que “sovaco de alei­jado”, e antes que o escrete politi­ca­mente cor­reto venha para cima de mim, esclareço que posso fazer tal adje­ti­vação por ser “alei­jado”, logo, estou falando de mim.

O certo, meus ami­gos, é que essa pauta “tem ren­dido”. Vejam a que ponto cheg­amos, uma história em quadrin­hos e um com­er­cial no cen­tro dos debates políti­cos.

A per­gunta que não cala é: esse povo não tem nada mais impor­tante para fazer?

O atleta do vôlei, ape­sar das críti­cas que tem rece­bido e até do revés finan­ceiro sofrido, tem dito que man­tém suas críti­cas pois fun­dadas em seus val­ores pes­soais, encon­trando entre diver­sos segui­men­tos soci­ais, mesmo entre aque­les que não o con­hecia, defen­sores sob o argu­mento de que defen­dem a liber­dade de expressão ou mesmo que o país vive­ria sob uma suposta “ditadura gay”.

Muito emb­ora man­tendo a crítica que fez ao fato do com­er­cial estatal ter sido estre­lado por um ado­les­cente tran­sex­ual, o senador apagou a postagem das redes soci­ais e fez uma nota onde se des­cul­pava pela pub­li­cação ante­rior.

O senador, ques­tion­ado por um blogue a respeito do assunto: “Não é uma crítica à opção sex­ual. Man­tenho minha posição crítica em relação ao gov­erno do Estado, ao ten­tar influ­en­ciar out­ras cri­anças com essa pro­pa­ganda ofi­cial. Você mesmo, ao chamar a cri­ança de dig­i­tal influ­encer, recon­hece a capaci­dade dela de influ­en­ciar out­ras. Ora, se fosse uma pro­pa­ganda da cri­ança de batom, por exem­plo, não teria nada demais. Mas, neste caso, seria pri­vado. Por­tanto, volto a dizer, minha crítica política é única e exclu­si­va­mente ao gov­erno”, disse.

Sem querer “pas­sar pano”, vejo que ambas as pub­li­cações, estopins de toda a celeuma, muito emb­ora dis­tin­tas, têm uma raiz comum e partem de um pres­su­posto equiv­o­cado.

Ambos, jogador e senador, tratam a “situ­ação sex­ual” das pes­soas como “opção” e acham que essa opção pode ser “influ­en­ci­ada” por uma história em quadrin­hos que apre­senta o Joe Kent, filho nosso herói Clark Kent, como um jovem bis­sex­ual ou pelo fato de um dos com­er­ci­ais públi­cos chamando para a voltas às aulas ser estre­lado por um ado­les­cente tran­sex­ual.

Emb­ora desnecessário, pelo menos para as pes­soas com um mín­imo de instrução, tais pre­mis­sas são fal­sas. Noutras palavras, “viadagem” não pega.

Opção, ensina-​nos os dicionários, é um sub­stan­tivo fem­i­nino que sig­nifica “Ato, fac­ul­dade ou resul­tado de optar; livre escolha, prefer­ên­cia”. Quer um e exem­plo? Fulano fez opção de nunca casar. Ape­nas para ficar no tema.

Não con­sta em nen­hum estudo ou mesmo nas práti­cas da vida que, quanto à sex­u­al­i­dade, o cidadão ou cidadã tenha essa fac­ul­dade, possa optar, fazer essa livre escolha ou exercer esse dire­ito de prefer­ên­cia.

Ora, desde que Kal-​El chegou aqui vindo do plan­eta Kryp­ton man­dado por seu pai Jor-​El, ante a iminên­cia de explosão daquele plan­eta e foi ado­tado Jonathan Kent e Martha Kent e pas­sou a chamar-​se Clark Joseph Kent, em 1938 – já se vão 83 anos –, engatando pouco tempo depois uma relação e depois casa­mento com Lois Lane, que todos os super-​heróis são “pegadores” sem que isso tenha impe­dido ou inspi­rado mil­hões de cri­anças e ado­les­centes homos­sex­u­ais a virarem het­eros­sex­u­ais.

Nem mesmo uma legião de super-​heróis e heroí­nas foram capazes de fazer isso. Nem o Fan­tasma, o Man­drake, o Aqua­man, o Homem-​Aranha ou mesmo o Bat­man – se bem que sem­pre pairou aquela dúvida em relação ao Robin, não é?

Mesmo que a condição sex­ual das pes­soas fosse uma “opção” como a tra­tou o jogador e o senador, o risco de alguém se deixar “influ­en­ciar para virar gay” seria nulo ou próx­imo disso, pois rara­mente se encon­tra alguém que goste de sofrer diu­tur­na­mente pre­con­ceitos e dis­crim­i­nações.

O que encon­tramos, feliz­mente, cada vez mais fre­quente, são pes­soas que resolveram viver suas vidas com altivez e dig­nidade sem se pre­ocu­parem com o que pensa os demais no seu entorno.

Seres humanos, não impor­tando a idade, cor, raça, religião ou situ­ação sex­ual, pre­cisam de acol­hi­mento, amor e respeito.

Quando vejo um jogador profis­sional, promis­sor ou de sucesso e um senador da República, bem como, os mil­hares ou mil­hões pes­soas que comungam com o que pen­sam, se expres­sarem como fiz­eram não imag­ino que os moti­vam o ódio. Talvez até exista, mas acred­ito que são movi­dos por con­ceitos (ou pre­con­ceitos) que não têm lugar, nos nos­sos dias, na ciên­cia ou nos princí­pios cristãos.

Uma história em quadrin­hos ou um com­er­cial, repito, por mais influ­entes que sejam seus pro­tag­o­nistas não têm o poder de mod­i­ficar a sex­u­al­i­dade de ninguém, por outro lado, podem influ­en­ciar para que ten­ham respeito e tol­erân­cia com a diver­si­dade, cada vez mais pre­sentes em suas vidas.

Quando o senador diz: “Nada con­tra a opção sex­ual de alguém. Agora querer obri­gar a aceitação desta opção de alguns como regra e apolo­gia a prática homos­sex­ual isso não dá para aceitar!!!”, acred­ito que cometa um duplo equívoco (ou mais) primeiro, como dito, por achar que sex­u­al­i­dade é uma “opção” e, depois, por querer “obri­gar” as pes­soas que tem uma condição sex­ual dis­tinta da sua a viverem na clan­des­tinidade, tran­ca­dos eter­na­mente no armário do pre­con­ceito.

Ora, se tem com­er­ci­ais estre­la­dos por todo tipo de pes­soas, por não um ou mais com uma pes­soa tran­sex­ual? Qual é o mal que isso pode causar? Ah, vai influ­en­ciar as cri­anças ou ado­les­centes a virarem gays. Me per­doem mas isso é lou­cura.

A jovem que pro­tag­on­iza o com­er­cial da Sec­re­taria Estad­ual de Edu­cação já pos­suía quase meio mil­hão de seguidores – acho que depois deste episó­dio con­siga out­ros mil­hares. Vão proibir a inter­net – prin­ci­pal veículo de comu­ni­cação da juven­tude –, por conta da “má-​influência” que ela possa causar nas cri­anças e ado­les­centes?

Acho que é a China – a ditadura comu­nista –, que ensaia algo neste sen­tido. Vão copiar?

Ah, a pre­ocu­pação do senador é com o uso do din­heiro público numa pro­pa­ganda ofi­cial que vai “influ­en­ciar” out­ras cri­anças.

Ainda por este viés, não assiste razão ao nobre rep­re­sen­tante do estado.

O “din­heiro público”, quase sem­pre uti­lizado para engor­dar con­tas pri­vadas de políti­cos, destina-​se a pro­moção do bem comum, do desen­volvi­mento, da igual­dade e frater­nidade entre os cidadãos, isso implica que todos, e digo todos no seu sen­tido mais amplo, devem ser des­ti­natários e agentes do que os recur­sos públi­cos podem pro­mover.

Um com­er­cial que um ado­les­cente het­eros­sex­ual pode­ria ser ape­nas “mais um”, ao ser pro­tag­on­i­zado por um ado­les­cente tran­sex­ual sig­nifica para tan­tos out­ros mil­hares ou mil­hões ao redor do mundo que eles tam­bém “exis­tem”.

Um der­radeiro argu­mento quanto à falá­cia do uso do din­heiro público “para a pro­moção da homos­sex­u­al­i­dade” é que na hora de cobrar impos­tos os gov­er­nantes não cobram con­forme a “opção sex­ual” de cada um, mas, sim, de todos indis­tin­ta­mente, logo, se tem com­er­ci­ais estre­la­dos por het­eros­sex­u­ais por que não pelos demais?

Encerro, dizendo que o jogador e o senador acabaram fazendo uma opção pela tolice e “jog­a­ram” a bola fora.

No mais, a vida é breve. Aproveitem como quis­erem e pud­erem.

Abdon Mar­inho é advo­gado.