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A CEGUEIRA DE CADA UM E A POLÊMICA DE SEIS CENTAVOS.

Escrito por Abdon Mar­inho


A CEGUEIRA DE CADA UM E A POLÊMICA DE SEIS CEN­TAVOS.

Por Abdon Marinho.

O AMOR É CEGO, pon­tua um dito pop­u­lar ao longo dos sécu­los. O dito, de tão pop­u­lar, virou filme, virou livro …

O Brasil de hoje é a prova viva de que o dito que escuto desde cri­ança – e o qual nunca ques­tionei –, é a mais clara expressão da real­i­dade.

O ambi­ente de cegueira cole­tiva impede as pes­soas de enx­er­garem o que lhes salta aos olhos ou que lhes provam a lóg­ica, para acred­itarem e pre­garem o que lhes manda o coração – tradução para con­venci­mento pes­soal ou paixão pela causa.

O con­trário da paixão – bem pode­ria ser a indifer­ença –, é o ódio, que, como o amor, tam­bém é cego. Poder-​se-​ia dizer que o ódio é uma especie de amor com o sinal tro­cado.

O Brasil tem se tor­nado, repito, o lab­o­ratório das paixões mais irra­cionais.

Aos apaixon­a­dos pelo pres­i­dente da República mesmo os seus defeitos mais ater­radores soam como qual­i­dades – não tar­darão a defender a tor­tura, posto que já defen­dem a volta da ditadura, o AI-​5, fechamento do STF e do Con­gresso Nacional e, alguns mais rad­i­cais, até a elim­i­nação física de min­istros –, já para os cegos pelo ódio, mesmo alguma qual­i­dade – rara –, por ven­tura exis­tente na pes­soa ou no gov­erno, soa como defeito.

Aos apaixon­a­dos pelos opos­i­tores do pres­i­dente tam­bém acon­tece o mesmo: não con­seguem enx­er­gar além das suas qual­i­dades e pref­erem “pas­sar por cima” dos defeitos ou ignorá-​los.

A sem­ana que finda deparamo-​nos com o que acabo de falar.

Todos nós, direta ou indi­re­ta­mente, esta­mos sofrendo com o aumento dos preços dos com­bustíveis.

Não seria difer­ente, os preços dos com­bustíveis influên­cia em tudo. Do que colo­camos na mesa à ida ao cin­ema ou ao shop­ping, sem con­tar que gasolina a sete reais ninguém merece.

A questão dos preços dos com­bustíveis não é de difí­cil com­preen­são. Isso se você não fosse tratar com os apaixon­a­dos, senão vejamos.

Os apaixon­a­dos pelo pres­i­dente colo­cam toda a culpa pelos preços dos com­bustíveis nas alturas nos gov­er­nadores e dos impos­tos estad­u­ais.

Já para os apaixon­a­dos pelos opos­i­tores do pres­i­dente ou pelos que lhe nutrem ódio, a culpa é somente daquele.

Por estes dias o gov­er­nador do Maran­hão, sen­hor Flávio Dino, pub­li­cou nas suas redes soci­ais – e fez reper­cu­tir por todos os seus apaixon­a­dos –, o seguinte tex­tos: “Crim­i­nosos estão espal­hando que eu autor­izei o aumento de alíquota de imposto sobre gasolina no Maran­hão. Isso é MEN­TIRA. Coisa de ban­di­dos. Prob­lema de preços de com­bustíveis é nacional.

Crim­i­nosos que estão mentindo sobre aumento de com­bustíveis no Maran­hão dev­e­riam saber que não existe “tabela­mento de preços” de com­bustíveis. O gov­erno do Estado não tem poder de fixar preços de com­bustíveis. O imposto pre­visto na Con­sti­tu­ição incide sobre o preço de mercado”.

O gov­er­nador subiu nas “taman­cas” após a divul­gação de que o SEFAZ (gov­erno estad­ual) solic­i­tou, e o CON­FAZ autor­i­zou uma alter­ação no preço médio pon­der­ado ao con­sum­i­dor final no Estado Maran­hão, com ampla reper­cussão neg­a­tiva nas redes soci­ais e explo­rado à exaustão por seus adver­sários tradi­cionais e pelos “novos” adversários.

Diante disso o gov­er­nador veio com essa man­i­fes­tação que não explica, obje­ti­va­mente, o que se deu e qual a sua par­tic­i­pação na ele­vação dos preços.

Não se pre­ocu­pem que vou explicar o que o gov­er­nador ocul­tou com sua “man­i­fes­tação para enga­nar trouxas”.

Antes, porém, vou tratar da ele­vação dos preços dos com­bustíveis de uma forma geral, aquilo que os devo­tos e apaixon­a­dos pelo pres­i­dente fazem questão de igno­rar e/​ou ocul­tar.

Como sabe­mos, o petróleo é uma com­mod­ity que tem seu preço deter­mi­nado pelo mer­cado inter­na­cional e cotado em dólar.

Isso quer dizer que se o preço do bar­ril de petróleo aumenta lá fora aqui sofr­ere­mos as con­se­quên­cias.

A outra vari­ante a influir no preço dos com­bustíveis aqui é a vari­ação do dólar. Ou seja, se a nossa moeda se desval­oriza em relação ao dólar as con­se­quên­cias são as ele­vações de preços aqui den­tro.

Pois bem, em janeiro de 2019, quando o atual pres­i­dente assumiu o comando do país a cotação do dólar era 1 dólar = 3,735 reais, hoje a cotação é 1 dólar = 5,309 reais.

Como podemos perce­ber a moeda brasileira perdeu cerca de 30% (trinta por cento) de seu valor. Não foi o dólar que se val­ori­zou foi o real que perdeu valor, esta­mos, prati­ca­mente com uma moeda podre.

Essa sem­ana a Apple divul­gou seus lança­men­tos. Os preços dos seus pro­du­tos variam de US$ 399 dólares a US$ 999 dólares, um ou outro chega US$ 1,079 dólares. É prati­ca­mente o mesmo preço de 20 anos atrás quando lançaram o primeiro iPhone.

Só que se antes, se o cidadão podia com­prar um bom apar­elho pagando 5 ou 6 mil reais, já com a carga trib­utária escor­chante, hoje esse mesmo apar­elho não sai por menos de 15 mil reais.

Nen­hum país do mundo – me refiro as democ­ra­cias em ascen­são –, reg­istrou tamanha perda no valor de sua moeda.

Mesmo durante a pan­demia o que vi de desval­oriza­ção não chegou a 4% (qua­tro por cento) – o que já é muito.

Ora, se olhar­mos para real­i­dade do Brasil e para de out­ros países nas mes­mas condições que o nosso não existe jus­ti­fica­tiva para tamanha desval­oriza­ção da nossa moeda – mesmo com a pan­demia o país reg­istrou recorde na pro­dução agrí­cola, apre­senta sinais de recu­per­ação con­sis­tentes e com vaci­nação já esta­mos quase saindo da pan­demia –, que não uma política econômica equiv­o­cada.

Outro fator a jus­ti­ficar tamanha desval­oriza­ção é a insta­bil­i­dade política, as declar­ações estapafúr­dias do pres­i­dente e dos inte­grantes do gov­erno.

Em out­ras palavras, o aumento do preço dos com­bustíveis, num primeiro momento, deve­mos deb­itar ao gov­erno fed­eral e em par­tic­u­lar ao sen­hor pres­i­dente, que tem con­tribuído, sobre­maneira, para a desval­oriza­ção da nossa moeda.

Como o gov­erno fed­eral tem sido inca­paz de pro­te­ger o real e por con­se­quên­cia as econo­mias dos cidadãos, pas­sou a ter­ce­i­rizar as respon­s­abil­i­dades pelo aumento dos com­bustíveis com os esta­dos, apon­tando a ele­vada carga de ICMS como a causa do aumento dos mes­mos.

É ver­dade que o ICMS dos esta­dos é ele­vado – gira em torno de 30% –, mas quando o litro da gasolina cus­tava menos de R$ 1,00 (um real), não reclamá­va­mos dos cen­tavos que pagá­va­mos a título de ICMS. aliás, nem nos pre­ocupá­va­mos em fazer tais con­tas.

Como diz um amigo meu, dez por cento de nada é nada, já dez por cento de um mil­hão é algo sig­ni­fica­tivo.

O mesmo vale para os trinta por cento dos com­bustíveis. Emb­ora fosse pouco quando o preço era baixo, a medida que o preço se elevou começou a fazer difer­ença.

E assim cheg­amos à razão da “zanga” do sua excelên­cia, o gov­er­nador do Maran­hão com as “acusações” de que ele­vara os preços dos com­bustíveis no estado.

A menos que me provem o con­trário, é fato que o gov­erno estad­ual através da SEFAZ solic­i­tou a alter­ação do preço médio pon­der­ado ao con­sum­i­dor final, de R$ 5,7160/litro para R$ 5,9200/litro. Não vejo motivo para dis­cu­tir porque as por­tarias estão pub­li­cadas no diário ofi­cial.

O que essa alter­ação sig­nifica para o con­sum­i­dor? Sig­nifica que o valor do ICMS no caso da gasolina (mas a alter­ação se aplica a out­ros com­bustíveis) passa de R$ 1,74338 para R$ 1,8056 ou seja, para cada litro de gasolina nós, cidadãos, ire­mos pagar SEIS CEN­TAVOS a mais. Se de todo litro de gasolina que colocá­va­mos no carro R$ 1,7433 já ia para o cofre do gov­erno estad­ual, agora, deste mesmo litro irá para o cofre do estado R$ 1,8056, essa é a conta.

Sim, é ver­dade que não houve aumento da alíquota como os bol­sonar­is­tas mais afoitos espal­haram ou insin­uaram – pois a ninguém parece inter­es­sar a ver­dade é sim a ver­são –, mas, sim um aumento na base de cál­culo.

Isso sig­nifica dizer que mesmo que o dono do posto queira vender um litro de gasolina abaixo de R$ 5,9200/litro, ele pode fazer, mas arcando com o pre­juízo pois o ICMS será cobrado sobre aquele valor.

É isso apaixon­a­dos do Brasil e do Maran­hão, quando pararem no posto para abaste­cerem seus veícu­los não esqueçam de dizer: — muito obri­gado, sen­hor pres­i­dente! — muito obri­gado, sen­hor governador!

Abdon Mar­inho é advogado

O fim de uma era.

Escrito por Abdon Mar­inho


O FIM DE UMA ERA.

Por Abdon Marinho.

FOI COM PESAR que dias atrás recebi a notí­cia dando conta que o Jor­nal O Estado do Maran­hão deixará de cir­cu­lar na sua ver­são impressa em breve.

Ini­cial­mente a noti­cia cir­cu­lou como fux­ico ou boato; depois os veícu­los de comu­ni­cação, dig­amos, mais respon­sáveis deram a noti­cia como certa; e, por fim, saiu a noti­cia que a direção do grupo con­fir­mara a informação.

Fiquei triste. Inde­pen­dente de con­cor­dar com a linha edi­to­r­ial ou não do “matutino do outro lado da ponte”, como o apeli­dou um jor­nal­ista local, pelo menos durante as três últi­mas décadas o EMA fez parte da minha vida — com sessenta e dois anos, durante a metade deste tempo fui (sou leitor).

Quando tra­bal­hei na Assem­bleia Leg­isla­tiva (19911995) cul­tivei um hábito que car­rego até hoje: chegar mais cedo no tra­balho para ler as noti­cias do dia e começar o expe­di­ente infor­mado dos prin­ci­pais assuntos.

Foi naquela época que me tornei assí­duo leitor de jor­nais impres­sos. Lia-​os logo cedo. Quando o dep­utado Juarez Medeiros, com quem tra­bal­hava, chegava, por volta das 7 horas, vindo da Rádio Edu­cadora, onde apre­sen­tava um pro­grama nas primeiras horas da manhã, já trocá­va­mos as impressões sobre as noti­cias do dia, o anda­mento da polit­ica, a pauta da Assem­bleia naquele dia, etc.

No final do dia recor­tava as matérias que mais nos inter­es­sava, colava em folha de papel, descrevendo o veículo de comu­ni­cação, data e assunto para guardar em uma volu­mosa pasta A-​Z.

Foi naquele período, tam­bém, que con­heci e travei amizade com diver­sos jor­nal­is­tas que “cobriam” o par­la­mento.

A sala que ocu­pava, no antigo pré­dio da Rua do Egito, 144, ficava a pouco pas­sos da antes­sala do plenário e sem­pre estava por lá “brin­cando” com um ou outro jor­nal­ista.

Eles, volta e meia, tam­bém acor­riam para minha sala para tomar um cafez­inho (quando acabava o do setor de imprensa ou da antes­sala) e/​ou para saber as últi­mas novi­dades da seara oposicionista.

Com pil­héria e as vezes para fusti­gar algum jor­nal­ista do EMA dizia que fechavam tão cedo a edição do dia seguinte que se o gov­er­nador mor­resse à tarde o fato só seria divul­gado na edição sub­se­quente. Rsrsrs.

Antes da pop­u­lar­iza­ção da inter­net e dos jor­nais serem divul­ga­dos em edições eletrôni­cas, tinha o hábito de com­prar as edições de domingo – na impos­si­bil­i­dade de entre­garem no sitio onde moro –, um amigo tinha a mis­são de ir lá deixá-​los logo cedo.

Colo­cava os jor­nais ao lado da rede e lia-​os, quase que inte­gral­mente. Gostava do cheiro da tinta fresca no papel e ficava zan­gado se algum amigo que sem­pre me vis­i­tava aos domin­gos deix­avam os meus jor­nais desar­ru­ma­dos ou fora de ordem.

Mais tarde, pelas dez ou onze horas, começava a sessão de lig­ações para os ami­gos, prin­ci­pal­mente Ader­son Lago e/​ou Wal­ter Rodrigues, para tro­car ideias sobre os fatos noti­ci­a­dos.

Em relação ao EMA, apel­i­dado por nós de “diário ofi­cial” por sua lig­ação com os gov­er­nantes de plan­tão, sem­pre sobrava uma crítica em relação ao viés gov­ernista das notí­cias, vez ou outra um xinga­mento mais áspero e muitas vezes até uma inter­pelação judi­cial ou alguma ação por um fato ou outro.

Como disse ante­ri­or­mente, o pesar pelo fechamento de mais um jor­nal impresso no nosso país, se deve, não por alin­hamento ou con­cordân­cia edi­to­r­ial, mas, prin­ci­pal­mente, pelo fato de tais dis­cordân­cia sem­pre ocor­rerem em um outro nível – geral­mente bem mais ele­vado.

O meu sen­ti­mento (ou saudo­sismo) é que esta­mos per­dendo algo. Talvez a elegân­cia da escrita, o con­hec­i­mento histórico, o comed­i­mento da política.

A imprensa escrita profis­sional apre­senta uma mel­hor lin­guagem e um con­teúdo mais denso.

Quan­tas vezes não dis­cuti com meus ami­gos – além das questões políti­cas –, os tex­tos escrito por um ou outro arti­c­ulista?

— Ih, rapaz! Viu a col­una de fulano hoje no EMA, no Pequeno, no Impar­cial? Ou, o que você achou do artigo escrito por beltrano?

Um dos assun­tos sem­pre pre­sentes nos diál­o­gos era a col­una do ex-​presidente Sar­ney na capa do jor­nal.

Sem­pre sobrava uma análise mais apro­fun­dada ou uma crítica mais ácida.

Como sou grande fã de charge, sem­pre que uma me chamava a atenção não deix­ava de comen­tar ou fazer uma ou outra obser­vação.

São tan­tas lem­branças. Lem­bro de situ­ações, dos diál­o­gos, dos ami­gos que já se foram, daque­les que perdemos con­tatos, de out­ros e out­ros.

Nunca escrevi para o jor­nal, uma vez ou outra alguma matéria fez refer­ên­cia algum texto meu.

Uma vez, em um dos tri­bunais da cidade, um colega com afinidade com o “matutino do outro lado da ponte” sug­eriu que pode­ria pub­licar algum artigo na col­una de opinião. Argu­mentei que lá não gostam muito do que escrevo.

Desde que soube do anun­ci­ado fechamento do jor­nal pas­sei a sen­tir como se parte do meu pas­sado tam­bém estivesse partindo.

É o fim de uma era. Uma pena.

Abdon Mar­inho é advogado.

Obser­vatório das eleições: DINO E AS POMBAS.

Escrito por Abdon Mar­inho


Obser­vatório das eleições:

DINO E AS POM­BAS.

Por Abdon Marinho.

UM AMIGO indaga:

— Abdon, como estás vendo essas defeções no grupo do gov­er­nador Flávio Dino?

A per­gunta foi feita na sexta-​feira ou sábado após o dep­utado fed­eral Josi­mar de Maran­hãoz­inho, cer­cado por um grupo de prefeitos anun­ciar que sairia can­didato ao gov­erno e recla­mar que ele e os seus nunca foram “queri­dos” pelo chamado “núcleo duro” do gov­erno, aque­las pes­soas que por história ou por “adoção” achegaram-​se ao gov­er­nador e lhes devota uma fidel­i­dade “can­ina”. Dizem até que se o sen­hor Dino pedir que cessem a res­pi­ração por meia hora os indig­i­ta­dos mor­rem mas cumprem a determinação.

Essa infor­mação é rel­e­vante e será uti­lizada mais lá para frente.

Respondi ao amigo querido:

— ah, meu caro, vejo como “As Pom­bas”, de Raimundo Correia.

O amigo olhou-​me com cara de quem não enten­deu bul­h­u­fas, e completei.

— Não te recor­das do soneto “As Pom­bas”, obri­gatório nos tem­pos de colégio?

E recitei o que lem­brava:

Vai-​se a primeira pomba despertada…

Vai-​se outra mais… mais outra… enfim dezenas

Das pom­bas vão-​se dos pom­bais, apenas

Raia san­guínea e fresca a madrugada.

E à tarde, quando a rígida nortada

Sopra, aos pom­bais, de novo elas, serenas,

Ruflando as asas, sacud­indo as penas,

Voltam todas em bando e em revoada…

Tam­bém dos corações onde abotoam

Os son­hos, um a um, céleres voam,

Como voam as pom­bas dos pombais;

No azul da ado­lescên­cia as asas soltam,

Fogem… Mas aos pom­bais as pom­bas voltam,

E eles aos corações não voltam mais”.

E con­clui: — A difer­ença é que não sabe­mos se, como no poema, as pom­bas de Dino retornarão na segunda estrofe.

A digressão sobre o poeta maran­hense Raimundo Cor­reia, expoente do Par­nasian­ismo e que viveu entre os anos de 1859 a 1911, foi ape­nas para não perder a piada, muito emb­ora os movi­men­tos dos seus, agora ex-​aliados, em muito se pareça com a revoada das pom­bas do soneto e sirva para con­fir­mar o que previ há quase sete anos.

Quando o sen­hor Dino elegeu-​se gov­er­nador escrevi-​lhe uma cara pública – além do meu site foi divul­gada no jor­nal Pequeno, no dia ou um dia após aque­las eleições –, naquela carta pon­tif­i­cava que o gov­er­nador se elegera “sem dever nada a ninguém” – o grupo Sar­ney desmoronara de exaustão e o can­didato que apre­sen­tou pos­suía inques­tionáveis restrições –, e que o povo o escol­hera para fazer um gov­erno novo, difer­ente.

Acres­cen­tava que pela forma como fora eleito pode­ria fazer um gov­erno que, de fato, rep­re­sen­tasse uma rup­tura com o “antigo régime”, refor­mando e reestru­tu­rando o estado.

Ao meu sen­tir era o cor­reto a fazer. O sen­hor Dino pode­ria ter enx­u­gado a máquina pública, exonerando todos aque­les que estavam no poder há décadas, substituindo-​os por téc­ni­cos, alta­mente capac­i­ta­dos que operassem a mudança esper­ada por seus eleitores – entre os quais nunca me incluí.

A leitura que fiz na ocasião foi que o sen­hor Dino não pre­cis­aria daque­les quadros – ou out­ros já ceva­dos nos maus hábitos –, e que a reforma que pode­ria pro­mover nas estru­turas do estado fariam dele uma lid­er­ança inques­tionável por diver­sas ger­ações.

Como sabe­mos, o cor­reio extrav­iou a carta, que não chegou ao des­ti­natário – às vezes, penso que pode­ria ter man­dado um e-​mail ou What­sApp –, ou, se chegou, a autori­dade fez-​lhe ouvi­dos moucos.

O certo é que o sen­hor Dino preferiu, ao invés de enx­u­gar a máquina pública, expandi-​la ainda mais, além de for­t­ale­cer pes­soas que, por sua história pes­soal, estavam (estão) longe de rep­re­sen­tar os anseios de mudanças que o levou ao poder no já dis­tante 2014.

Em diver­sos tex­tos, que escrevi pos­te­ri­or­mente, ques­tionei a opção de sua excelên­cia, dizendo, inclu­sive, que a lid­er­ança dele, pelas escol­has que fez, era uma “lid­er­ança emprestada”, sem con­tar que em muitos aspec­tos – e tam­bém em decor­rên­cia disso –, o Estado empo­bre­ceu e regrediu em desen­volvi­mento. Já se con­tando nos mil­hares os maran­henses que a gestão Dino levou à mis­éria.

Por incrível que pareça o gov­erno Dino con­seguiu “cavar” um pouco mais o nosso fosso de mis­er­abil­i­dade.

Este, porém, é assunto para ser tratado em texto especí­fico. Volte­mos ao nosso observatório.

Imag­ino que a estraté­gia de sua excelên­cia tenha sido chamar todos para perto para, como se dizia out­rora, “matar de faca”. Ou noutras palavras lid­erar a todos, com­pat­i­bi­lizando seus inter­esses às cus­tas do sofrido povo do Maran­hão.

O prob­lema é que não fez o “dever de casa” ou não “com­bi­nou com os rus­sos”.

Agora muitos destes, que o gov­er­nador jul­gava “ali­a­dos” ou “lid­er­a­dos”, for­t­ale­ci­dos politi­ca­mente às cus­tas das políti­cas públi­cas que dev­e­ria imple­men­tar – e não imple­men­tou –, estes políti­cos – muitos dos quais deixaram até de ser impor­tu­na­dos pela polí­cia e justiça –, começam a revoada, tal qual “As Pom­bas”, de Cor­reia.

O primeiro a lev­an­tar voo do “ninho” gov­ernista foi o senador pede­tista Wev­er­ton Rocha que, indifer­ente a suposto acordo fir­mado já foi para rua em autên­ti­cos comí­cios – graças a omis­são prov­i­den­cial do Min­istério Público e da Justiça Eleitoral –, onde disse que é um foguete, e como tal, não pos­sui marcha-​ré.

Noutras palavras, disse – e como tal se artic­ula –, que será can­didato inde­pen­dente da von­tade do gov­er­nador que o tinha como lid­er­ado e a quem muito aju­dou – de todas as formas.

Mas não é só. O senador pede­tista e/​ou o seu grupo tra­bal­ham forte­mente con­tra o sen­hor Dino na ideia de enfraquecê-​lo e trazê-​lo “pelo beiço” para a sua candidatura.

Já se artic­u­lou com diver­sos ali­a­dos que Dino tinha como “ seus” e que se far­taram no “gov­erno de todos eles”, como os dep­uta­dos fed­erais e estad­u­ais, secretários de estado, lid­er­anças, etc.; já disse ou man­dou dizer que poderá ter um can­didato a senador para enfrentar a can­di­datura Dino pela vaga única; já desan­cou o vice-​governador Car­los Brandão, dizendo que este não nasceu para lid­erar, ape­nas para ser vice – reg­istro que tendo perce­bido o excesso, divul­gou vídeo pedindo des­cul­pas, depois que o gov­er­nador reclamou da falta de “humil­dade” ou por ter perce­bido que aquele que pre­tende pegar gal­inha não diz “xô”.

Muito emb­ora não acred­ite que Brandão gov­er­nador deixe de dis­putar ao único cargo que pode con­cor­rer para apoiar alguém que disse que ele só serve para vice, jamais tit­u­lar.

Mas já vi de tudo na política do Maran­hão.

Além disso faz intenso serviço de artic­u­lação para “con­quis­tar” prefeitos e lid­er­anças políti­cas lig­adas ao gov­er­nador ao passo que a mídia que con­trola dia sim e no outro tam­bém, fustiga ou desmerece o gov­erno no qual todos se far­taram.

A segunda “pomba” a lev­an­tar voo, o dep­utado fed­eral Josi­mar de Maran­hãoz­inho, como já disse ante­ri­or­mente, “inven­tou” a des­culpa mais bisonha para deixar Dino e os seus segu­rando a “brocha”.

Disse que não se sen­tia “querido” pelo gov­er­nador e pelo ciclo próx­imo.

Dizia um amigo meu lá atrás, muito lá atrás, que a pior sen­sação que pode acome­ter um ser humano é a sen­sação de “não ser querido”.

Fico imag­i­nando que o sen­hor dep­utado vem “sofrendo” esse tempo todo, quase sete anos, sem dizer nada, “engolindo o sapo” no cal­ado. Foi e é muito “sofri­mento”. Tem todo o “dire­ito” de dizer que não aguenta mais.

Assim vão se as pom­bas do sen­hor Dino, a primeira, a segunda, a ter­ceira… quan­tas mais? Retornarão ao fim do dia? Ou Dino é que terá que voar com elas?

O sen­hor Dino que sofre esse “per­rengue” com a revoada do seu pom­bal, tam­bém é vítima de um pecado que enx­erga nos out­ros: a arrogân­cia e falta de humil­dade.

Julgou-​se líder inques­tionável quando, em ver­dade, pelo que parece, foi ludib­ri­ado por out­ros bem mais esper­tos que ele, que se pro­te­geram e se for­t­ale­ce­ram no seu gov­erno gan­hando mus­cu­latura, inclu­sive, para chantageá-​lo.

E lá se vão as pombas…

Abdon Mar­inho é advo­gado.