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O fra­casso da ger­ação Pirapora.

Escrito por Abdon Mar­inho

O FRA­CASSO DA GER­AÇÃO PIRAPORA.

Por Abdon Marinho.

O SÍTIO PIRA­PORA, no Bairro Santo Antônio, na cap­i­tal do estado ocupa um lugar espe­cial, na memória afe­tiva da minha juven­tude. Era lá, em mea­dos dos anos oitenta, na esteira da rede­moc­ra­ti­za­ção do país, que par­tidos políti­cos, movi­men­tos soci­ais, cidadãos comuns, estu­dantes e tan­tos out­ros ativis­tas se reu­niam para dis­cu­tir a traçar dire­trizes para o novo momento político e para o estado que gostaríamos de fazer e viver.

A área, que ante­ri­or­mente fora maior, ced­era espaços as con­stantes invasões, ficando, por fim, uma estru­tura menor, com espaços para reuniões, refeitórios, alo­ja­mento, esta­ciona­mento, etc., que a igreja católica alu­gava aos segui­men­tos descritos acima.

Os par­tidos e movi­men­tos soci­ais traziam suas lid­er­anças de quase todos os municí­pios do estado e lá se reu­niam para sem­i­nários e debates políti­cos. Eram opor­tu­nidades pre­ciosas para con­hecer­mos diver­sas pes­soas e a real­i­dade social de cada municí­pio maranhense.

Nos finais de sem­ana pro­lon­ga­dos aproveitá­va­mos ainda mais esses momen­tos de ale­gria, sobre­tudo, nos inter­va­los ou ao fim do dia, antes do recol­hi­mento noturno.

Foi no Sítio Pira­pora que, em 1994, em um con­gresso do Par­tido Social­ista Brasileiro — PSB, o então senador Cafeteira aceitou dis­putar as eleições daquele ano numa das mais mem­o­ráveis cam­pan­has que o estado assis­tiu.

Em diver­sos out­ros momen­tos impor­tantes para a história política do Maran­hão, antes e depois de 1994, em situ­ações e reuniões que par­ticipei, o Sítio Pira­pora teve lugar.

Depois, muitos daque­les que lá estiveram se “eli­ti­zaram”, mesmo os par­tidos ditos pop­u­lares e pas­saram a fazer seus encon­tros em hotéis ou out­ros lugares lux­u­osos.

O leitor mais aflito e impa­ciente já deve estar se per­gun­tando a razão de tanta nos­tal­gia.

Pois bem, essas rem­i­nis­cên­cias têm como propósito infor­mar que foi em uma reunião destas no velho Pira­pora que os atu­ais man­datários do estado, há cerca de 35 anos, fiz­eram a pre­visão que chegariam ao poder.

Já tratei aqui, em out­ros momen­tos da reunião no Sítio Pira­pora onde um grupo de jovens dis­cu­tiam a situ­ação política do estado, estraté­gias políti­cas, alianças, e como pode­ria ser o Maran­hão no pós domínio do grupo Sar­ney – para os pre­sentes a razão de toda mis­éria e sofri­mento do nosso povo.

Eu estava lá. Pode­ria dizer: meni­nos eu vi, como disse Gonçalves Dias em Y-​Juca Pirama, quando o atual gov­er­nador, um jovem estu­dante uni­ver­sitário pre­viu que um dia seria gov­er­nador do Maran­hão e como seria difer­ente a real­i­dade política e econômica do nosso povo quando aquele dia chegasse.

A pre­visão seria a real­iza­ção de um sonho e, como tal, aplaudi­mos e fes­te­jamos.

Por sendas tor­tu­osas eis que a pre­visão se con­sumou, a difer­ença é que já cam­in­hando para o fim do mandato, daqui a oito meses, se for dis­putar o Senado da República ou um ano e dois meses, se pre­tender ficar até o fim, aquilo que em 198687 do século pas­sado fes­te­jamos como sendo um sonho, visto com os olhos de hoje, era uma ameaça.

Aque­les jovens “mor­tos” de felizes ante a pos­si­bil­i­dade de alguém da nossa ger­ação chegar ao poder, está­va­mos, na ver­dade, sendo ameaça­dos com tal vati­cino.

O sen­hor Dino – e sua turma dos quais alguns estiveram pre­sentes naquela reunião –, chegou ao poder em janeiro de 2015, já se vão quase sete anos, e ressal­vado um avanço aqui ou ali, o que temos, infe­liz­mente é que, naquilo que é essen­cial para povo e que se propôs fazer: reti­rar o Maran­hão da rabeira do desen­volvi­mento social e econômico, não avançou “um palmo”, pelo con­trário, os dados do Insti­tuto Brasileiro de Geografia e Estatís­ti­cas — IBGE, rev­e­lam que no atual gov­erno as coisas pio­raram muito para o nosso povo.

Cabe obser­var que os dados cole­ta­dos pela Orga­ni­za­ção das Nações Unidas (ONU) e diver­sos out­ros organ­is­mos idô­neos cor­rob­o­ram com dados do IBGE.

Ape­nas para se ter uma ideia, nos primeiros cinco anos do atual gov­erno mais de 400 mil pes­soas foram lança­dos na faixa de extrema pobreza no nosso estado.

Para os que se pre­ocu­pam com o estado e seu povo é forçoso recon­hecer, infe­liz­mente, que com a pan­demia tal situ­ação agravou-​se bem mais. Temo pelo que sairá depois que todas as estatís­ti­cas fecharem depois que o gov­erno findar.

O IBGE aponta que ape­nas 34,6% das pes­soas com idade supe­rior a 14 anos pos­sui algum tra­balho for­mal; para se ter uma ideia esse per­centual rep­re­senta a metade do per­centual do Estado de Santa Cata­rina (68,6%) e é bem menor que o indi­cador de Rondô­nia (54,1%), ape­nas para citar dois esta­dos que pos­suem semel­hanças com o Maran­hão.

Por outro lado, na mesma faixa de idade, a taxa de des­ocu­pação é 13,9%, con­tra 6,2% de Santa Cata­rina e 8,1% de Rondô­nia.

Mas não é só, 31,4% dos maran­henses sofrem restrições de acesso à edu­cação – e olha que este é o setor “menina dos olhos” do gov­erno –, 5,4% à pro­teção social; 24,9% à condições de mora­dia; 82,1% a serviços de sanea­mento básico; 34,4% a comu­ni­cação; 15,5% dos lares não pos­sui um ban­heiro exclu­sivo para o domicílio; 34,9% não pos­sui doc­u­mento de pro­priedade do imóvel que reside; 16,6% são os anal­fa­betos com 34,3% pos­suindo ape­nas o fun­da­men­tal incom­pleto.

Depois de sete anos de gov­erno um estado que pos­sui esse nível de indi­cadores com­prova, infe­liz­mente, o fra­casso de um mod­elo de gestão.

Ao meu sen­tir os atu­ais donatários não tin­ham um plano para desen­volver o estado e não o con­struíram ao longo dos anos, preferindo a política rasteira do “deixa como estar para ver como é que fica”.

Por outro, para pare­cerem “bem na fita” pas­saram a desen­volver políti­cas com­pen­satórias e a enga­nar o povo com maciços inves­ti­men­tos na mídia e na dis­tribuição de esmo­las: ces­tas bási­cas, bolsa isso, bolsa aquilo, vale isso, vale aquilo, etc.

Não ques­tiono a importân­cia de se assi­s­tir as pes­soas em condições de vul­ner­a­bil­i­dade com tudo que pre­cisam, ainda mais em tem­pos tão difí­ceis. Não ques­tiono a importân­cia de um restau­rante pop­u­lar ou do vale-​gás, etc.

O ques­tiono é a falta de políti­cas públi­cas que desen­volvam o estado e retire as pes­soas das condições de vul­ner­a­bil­i­dades em que se encon­tram.

O estado mel­horou sub­stan­cial­mente sua arrecadação, recebe mais do que con­tribui com a arrecadação de trib­u­tos fed­erais, con­traiu diver­sos emprés­ti­mos e, ape­sar disso, aumen­tou o número de pes­soas em condições de vul­ner­a­bil­i­dade e depen­dentes das esmo­las do gov­erno, quase sem­pre uti­lizadas como moeda de troca por votos.

Mas essa não era uma das prin­ci­pais críti­cas ao grupo Sar­ney, man­ter as pes­soas mis­eráveis para se per­pet­u­arem no poder com a dis­tribuição de esmo­las?

Se no iní­cio do gov­erno tín­hamos a esper­ança – ou ilusão –, de que have­ria uma rup­tura com os mod­e­los arcaicos de gov­ernar, hoje, sete anos depois, esta­mos vendo qua não ape­nas man­tiveram com ampli­aram as vel­has práticas.

Não é sem razão que muitos dos ali­a­dos (ou ex-​aliados) do atual gov­er­nador que “enricaram” na política ao invés de respon­derem por desafi­arem toda leg­is­lação crim­i­nal do país – e algu­mas leis extrav­a­gantes –, ao invés de estarem pre­sos ou respon­dendo por seus deli­tos, estão per­cor­rendo o estado na busca de mais um mandato ele­tivo. E tem até os que pleit­eiam coman­dar o estado.

Em sete anos não tive­mos um gov­erno que bus­casse aproveitar as condições favoráveis do estado para desenvolvê-​lo – que são muitas e de todos con­heci­das –, ou, ao menos, fin­car as bases para o desen­volvi­mento.

O que temos é um estado muito mais pobre, com uma pop­u­lação de mis­eráveis que só aumenta e sem qual­quer per­spec­tiva de futuro e, pior, com alguns dos que pre­ten­dem governá-​lo, com um pron­tuário no lugar de uma biografia.

Como disse outro dia o maluco que dirige o país que os poupo de dizer o nome, “nada é tão ruim que não possa piorar”.

Esse é o o retrato do fra­casso da ger­ação Pira­pora. O fra­casso da nossa ger­ação. Tan­tos son­hos e tanto ide­al­ismo em vão.

Abdon Mar­inho é advogado.

A tragé­dia só é menor que o crime.

Escrito por Abdon Mar­inho

A TRAGÉ­DIA É MENOR QUE O CRIME.

Por Abdon Marinho.

ANTES do meu natalí­cio, em 8 de out­ubro, o Brasil reg­is­trará a triste e assom­brosa marca de 600 mil mor­tos pela COVID-​19. Nunca, em nen­hum momento da nossa história, havíamos pas­sado por tamanha provação.

O Brasil, em número de mortes pela pan­demia, só fica atrás dos Esta­dos Unidos da América, que reg­is­traram 700 mil mor­tos na sem­ana que findou.

Difer­ente do que pen­sei no iní­cio do ano, que o Brasil ultra­pas­saria os EUA em número do mor­tos, isso não ocor­reu, e já acred­ito que não ocorra, porque a ignorân­cia que ali­menta as cam­pan­has anti-​vacinas no irmão do norte são bem mais fortes que por aqui.

Os dados disponíveis lá e cá com­pro­vam o que os cien­tis­tas dizem desde o iní­cio da pan­demia: que a vaci­nação salva vidas.

Nos esta­dos onde houve forte adesão às nor­mas de dis­tan­ci­a­mento social e à vaci­nação os con­tá­gios e as mortes dimin­uíram enquanto que naque­les onde deu-​se o con­trário reg­is­tram um aumento de casos e, por con­se­quên­cia, de mortes.

A despeito de serem ricos e poderosos os amer­i­canos sem­pre tiveram, com razão, a fama de incul­tos ou bur­ros, para usar uma lin­guagem mais pop­u­lar, a pan­demia está provando que não foi à toa que con­struíram tal fama.

Hoje, os EUA reg­is­tram uma média de 1.500 mortos/​dia graças a refração à vaci­nação em massa, três vezes a média do Brasil, uma prova mais que elo­quente de que a ignorân­cia mata.

Mesmo com os números mostrando que as mortes estão ocor­rendo entre aque­les que não se vaci­naram e que são ínfi­mas as mortes entre os que foram imu­niza­dos, a ignorân­cia e falta de sol­i­dariedade con­tin­uam provo­cando esse número assus­ta­dor de víti­mas.

Outro dia, vi um memo­r­ial impro­visado naquele país em hom­e­nagem aos 700 mil mor­tos, até ali, uma mar de ban­deir­in­has bran­cas sim­bolizando cada vida per­dida. Mesmo de longe e pela tele­visão não tive como ficar indifer­ente.

Se nos Esta­dos Unidos podemos deb­itar à ignorân­cia o número de mor­tos, a reflexão que faze­mos para o Brasil é bem dis­tinta assim como as respon­s­abil­i­dades.

O EUA pos­suem uma vez e meia a pop­u­lação do Brasil (331 mil­hões e 211 mil­hões), têm 700 mil mor­tos por aqui quase 600 mil, o que numa regra de pro­por­cional­i­dade nos coloca à frente deles no triste rank­ing da tragé­dia.

Muito além do número absurdo de víti­mas que pan­demia tem feito no Brasil, o que se rev­ela mais grave e mais escan­daloso é a rev­e­lação de que, sem qual­quer base cien­tí­fica, gov­er­nantes e parte da ini­cia­tiva pri­vada ten­tou – e fez –, exper­i­men­tos cien­tí­fi­cos com a vida dos cidadãos, prin­ci­pal­mente dos mais despro­te­gi­dos: os idosos.

Houve um exper­i­mento cien­tí­fico em Man­aus, Ama­zonas, onde as pes­soas enfer­mas foram tratadas como coba­ias. Já falamos deste assunto aqui, no nosso site ante­ri­or­mente, retorno a ele para fazer um “link” com as infor­mações mais recentes.

Quem não assis­tiu, recomendo que se inteire do depoi­mento da advo­gada Bruna Morato na CPI da Pan­demia, no Senado da República.

Quando um advo­gado fala algo ele o faz com a con­sciên­cia do peso de suas palavras.

Então, quando a Dra. Morato diz que os pacientes da Pre­vent Senior foram feitos de “coba­ias” em exper­i­men­tos sobre medica­men­tos sem eficá­cia com­pro­vada se val­endo da vul­ner­a­bil­i­dade deles para par­tic­i­parem “novos trata­men­tos”, ela sabe da gravi­dade que tal imputação acar­reta.

Mas foi além. Disse que o hos­pi­tal não detal­hava os riscos que os pacientes cor­riam; que houve ordem para a real­iza­ção de testagem em massa dos supos­tos medica­men­tos por parte do dire­tor da Pre­vent Senior, com añuên­cia da cúpula da empresa.

A advo­gada rela­tou em rede nacional que médi­cos con­trários ao “trata­mento pre­coce” eram demi­ti­dos pela empresa ou sofriam retal­i­ações por não receitarem o “kit COVID”.

Uma outra infor­mação de gravi­dade ímpar relatada pela advo­gada foi que a empresa agia assim, tam­bém, por moti­vações econômi­cas, dis­tribuindo os kit’s de forma pre­ven­tiva porque não pos­suíam leitos sufi­cientes para aten­der seus clientes, acres­cen­tando que os médi­cos não tin­ham autono­mia sobre os tais kit’s que eram dis­tribuí­dos dire­ta­mente pela empresa aos pacientes e que o incen­tivo à uti­liza­ção das sub­stân­cias sem eficá­cia com­pro­vada con­tra a doença se dava por ser mais barato.

Segundo a advo­gada a empresa Pre­vent Senior colaborou com a elab­o­ração dos pro­to­co­los pro­pa­gan­dea­dos pelo gov­erno fed­eral, notada­mente o pres­i­dente Bol­sonaro, aler­tando para um suposto “pacto” entre a equipe econômica e inte­grantes do “Min­istério da Saúde Para­lelo” para evi­tar medi­das restri­ti­vas. O obje­tivo seria “val­i­dar” o suposto estudo da Pre­vent Senior, para depois fazer uma cam­panha nacional de aber­tura da econo­mia brasileira; os médi­cos rep­re­sen­ta­dos por ela tin­ham a sen­sação que a empresa tinha o aval do Min­istério da Saúde para a real­iza­ção de exper­i­men­tos com os pacientes.

Ainda segundo a advo­gada, a empresa em questão manip­ulava dados do paciente para omi­tir as mortes por COVID, ocul­tando a infecção por COVID do ates­tado de óbito.

Este é um breve resumo, do que disse a advo­gada – que, repito, tem con­sciên­cia da gravi­dade de cada uma de suas palavras –, em uma CPI do Senado da República.

E ela disse muito mais do que con­segui resumir.

Como a reper­cussão do depoi­mento da advo­gada é bem menor do que a relevân­cia das suas palavras, acred­ito que isso ocorra por já estar­mos aneste­si­a­dos pelos acon­tec­i­men­tos no país. As mortes já são banais, números meras estatís­ti­cas, os crimes já não nos dizem nada ou, talvez, esta­mos todos numa espé­cie de “dèjà-​vu” cole­tivo ilusório de que os fatos agora relata­dos não acon­te­ce­ram agora mas há mais de setenta anos, durante a Segunda Guerra Mundial.

Exis­tem pon­tos – exceto pela cir­cun­stân­cia de que os envolvi­dos não são os respon­sáveis pela pan­demia –, que são com­patíveis com crimes de guerra ocor­ri­dos no con­flito mundial de 1939 a 1945 do século pas­sado.

Daquele con­flito é que traze­mos a lem­brança de exper­i­men­tos cien­tí­fi­cos com coba­ias humanas, espe­cial­mente pelo mais famoso dos médi­cos nazis­tas, Josef Men­gele (19111979), nos Cam­pos de Con­cen­tração.

Agora, no Brasil, quase oitenta anos depois daquele con­flito, ouvi­mos relatos de uma advo­gada, rep­re­sen­tando médi­cos, dizer que pacientes, prin­ci­pal­mente idosos frag­iliza­dos, foram usa­dos como “coba­ias” em pseu­dos exper­i­men­tos cien­tí­fi­cos, muitos deles já repu­di­a­dos pela comu­nidade cien­tí­fica mundial.

Em qual­quer outro lugar do mundo, o Min­istério Público e a Polí­cia Fed­eral estariam apu­rando tais fatos e não ape­nas assistindo as apu­rações de uma CPI.

Os fatos ocor­ri­dos no Brasil foram gravís­si­mos, na ver­dade, foram crimes prat­i­ca­dos por autori­dades e par­tic­u­lares con­tra a saúde dos cidadãos que provo­caram ou con­cor­reram com a morte de mil­hares de pes­soas. Essa é a ver­dade.

Fatos de tamanha gravi­dade não se coad­unam com silên­cios e omis­sões. Os que calam e os que se omitem tam­bém são cúm­plices.

Os médi­cos do país que tiveram con­hec­i­mento ou par­tic­i­param de exper­i­men­tos crim­i­nosos pre­cisam esclare­cer o seu papel nesse teatro de hor­rores.

Sabe-​se agora que outra oper­adora de Plano de Saúde, segundo um médico, ori­en­tou a mesma prática. Um paciente, segundo a mesma matéria, a quem receitaram medica­men­tos sem qual­quer eficá­cia, negaram-​lhe o oxigênio necessário.

Este escapou. Quan­tos não tiveram a mesma sorte?

Outro dia li ou vi em algum veículo de comu­ni­cação que o pres­i­dente da República em entre­vista para um par­tido político alemão teria dito que a pan­demia ape­nas abre­viara a vida de pes­soas que já iriam mor­rer mesmo em pouco tempo.

Uma suposta declar­ação tão “destram­bel­hada” e desprovida de empa­tia que custo acred­i­tar, ainda mais quando esta­mos diante de 600 mil vidas per­di­das para a pan­demia.

Mas, vive­mos tem­pos estran­hos, são tan­tas infor­mações em uma sem­ana que ten­demos a achar que tudo vai bem ou que nada acon­te­ceu.

O Brasil pre­cisa sair deste estu­por. Os brasileiros pre­cisamos pas­sar o país o limpo com a apu­ração e punição exem­plar para tan­tos quan­tos tenha prat­i­ca­dos ou con­cor­ri­dos com a prática de crimes.

Somente depois disso, podemos seguir em frente.

Abdon Mar­inho é advogado.

Abdon Mar­inho.

ANTES do meu natalí­cio, em 8 de out­ubro, o Brasil reg­is­trará a triste e assom­brosa marca de 600 mil mor­tos pela COVID-​19. Nunca, em nen­hum momento da nossa história, havíamos pas­sado por tamanha provação.

O Brasil, em número de mortes pela pan­demia, só fica atrás dos Esta­dos Unidos da América, que reg­is­traram 700 mil mor­tos na sem­ana que findou.

Difer­ente do que pen­sei no iní­cio do ano, que o Brasil ultra­pas­saria os EUA em número do mor­tos, isso não ocor­reu, e já acred­ito que não ocorra, porque a ignorân­cia que ali­menta as cam­pan­has anti-​vacinas no irmão do norte são bem mais fortes que por aqui.

Os dados disponíveis lá e cá com­pro­vam o que os cien­tis­tas dizem desde o iní­cio da pan­demia: que a vaci­nação salva vidas.

Nos esta­dos onde houve forte adesão às nor­mas de dis­tan­ci­a­mento social e à vaci­nação os con­tá­gios e as mortes dimin­uíram enquanto que naque­les onde deu-​se o con­trário reg­is­tram um aumento de casos e, por con­se­quên­cia, de mortes.

A despeito de serem ricos e poderosos os amer­i­canos sem­pre tiveram, com razão, a fama de incul­tos ou bur­ros, para usar uma lin­guagem mais pop­u­lar, a pan­demia está provando que não foi à toa que con­struíram tal fama.

Hoje, os EUA reg­is­tram uma média de 1.500 mortos/​dia graças a refração à vaci­nação em massa, três vezes a média do Brasil, uma prova mais que elo­quente de que a ignorân­cia mata.

Mesmo com os números mostrando que as mortes estão ocor­rendo entre aque­les que não se vaci­naram e que são ínfi­mas as mortes entre os que foram imu­niza­dos, a ignorân­cia e falta de sol­i­dariedade con­tin­uam provo­cando esse número assus­ta­dor de víti­mas.

Outro dia, vi um memo­r­ial impro­visado naquele país em hom­e­nagem aos 700 mil mor­tos, até ali, uma mar de ban­deir­in­has bran­cas sim­bolizando cada vida per­dida. Mesmo de longe e pela tele­visão não tive como ficar indifer­ente.

Se nos Esta­dos Unidos podemos deb­itar à ignorân­cia o número de mor­tos, a reflexão que faze­mos para o Brasil é bem dis­tinta assim como as respon­s­abil­i­dades.

O EUA pos­suem uma vez e meia a pop­u­lação do Brasil (331 mil­hões e 211 mil­hões), têm 700 mil mor­tos por aqui quase 600 mil, o que numa regra de pro­por­cional­i­dade nos coloca à frente deles no triste rank­ing da tragé­dia.

Muito além do número absurdo de víti­mas que pan­demia tem feito no Brasil, o que se rev­ela mais grave e mais escan­daloso é a rev­e­lação de que, sem qual­quer base cien­tí­fica, gov­er­nantes e parte da ini­cia­tiva pri­vada ten­tou – e fez –, exper­i­men­tos cien­tí­fi­cos com a vida dos cidadãos, prin­ci­pal­mente dos mais despro­te­gi­dos: os idosos.

Houve um exper­i­mento cien­tí­fico em Man­aus, Ama­zonas, onde as pes­soas enfer­mas foram tratadas como coba­ias. Já falamos deste assunto aqui, no nosso site ante­ri­or­mente, retorno a ele para fazer um “link” com as infor­mações mais recentes.

Quem não assis­tiu, recomendo que se inteire do depoi­mento da advo­gada Bruna Morato na CPI da Pan­demia, no Senado da República.

Quando um advo­gado fala algo ele o faz com a con­sciên­cia do peso de suas palavras.

Então, quando a Dra. Morato diz que os pacientes da Pre­vent Senior foram feitos de “coba­ias” em exper­i­men­tos sobre medica­men­tos sem eficá­cia com­pro­vada se val­endo da vul­ner­a­bil­i­dade deles para par­tic­i­parem “novos trata­men­tos”, ela sabe da gravi­dade que tal imputação acar­reta.

Mas foi além. Disse que o hos­pi­tal não detal­hava os riscos que os pacientes cor­riam; que houve ordem para a real­iza­ção de testagem em massa dos supos­tos medica­men­tos por parte do dire­tor da Pre­vent Senior, com añuên­cia da cúpula da empresa.

A advo­gada rela­tou em rede nacional que médi­cos con­trários ao “trata­mento pre­coce” eram demi­ti­dos pela empresa ou sofriam retal­i­ações por não receitarem o “kit COVID”.

Uma outra infor­mação de gravi­dade ímpar relatada pela advo­gada foi que a empresa agia assim, tam­bém, por moti­vações econômi­cas, dis­tribuindo os kit’s de forma pre­ven­tiva porque não pos­suíam leitos sufi­cientes para aten­der seus clientes, acres­cen­tando que os médi­cos não tin­ham autono­mia sobre os tais kit’s que eram dis­tribuí­dos dire­ta­mente pela empresa aos pacientes e que o incen­tivo à uti­liza­ção das sub­stân­cias sem eficá­cia com­pro­vada con­tra a doença se dava por ser mais barato.

Segundo a advo­gada a empresa Pre­vent Senior colaborou com a elab­o­ração dos pro­to­co­los pro­pa­gan­dea­dos pelo gov­erno fed­eral, notada­mente o pres­i­dente Bol­sonaro, aler­tando para um suposto “pacto” entre a equipe econômica e inte­grantes do “Min­istério da Saúde Para­lelo” para evi­tar medi­das restri­ti­vas. O obje­tivo seria “val­i­dar” o suposto estudo da Pre­vent Senior, para depois fazer uma cam­panha nacional de aber­tura da econo­mia brasileira; os médi­cos rep­re­sen­ta­dos por ela tin­ham a sen­sação que a empresa tinha o aval do Min­istério da Saúde para a real­iza­ção de exper­i­men­tos com os pacientes.

Ainda segundo a advo­gada, a empresa em questão manip­ulava dados do paciente para omi­tir as mortes por COVID, ocul­tando a infecção por COVID do ates­tado de óbito.

Este é um breve resumo, do que disse a advo­gada – que, repito, tem con­sciên­cia da gravi­dade de cada uma de suas palavras –, em uma CPI do Senado da República.

E ela disse muito mais do que con­segui resumir.

Como a reper­cussão do depoi­mento da advo­gada é bem menor do que a relevân­cia das suas palavras, acred­ito que isso ocorra por já estar­mos aneste­si­a­dos pelos acon­tec­i­men­tos no país. As mortes já são banais, números meras estatís­ti­cas, os crimes já não nos dizem nada ou, talvez, esta­mos todos numa espé­cie de “dèjà-​vu” cole­tivo ilusório de que os fatos agora relata­dos não acon­te­ce­ram agora mas há mais de setenta anos, durante a Segunda Guerra Mundial.

Exis­tem pon­tos – exceto pela cir­cun­stân­cia de que os envolvi­dos não são os respon­sáveis pela pan­demia –, que são com­patíveis com crimes de guerra ocor­ri­dos no con­flito mundial de 1939 a 1945 do século pas­sado.

Daquele con­flito é que traze­mos a lem­brança de exper­i­men­tos cien­tí­fi­cos com coba­ias humanas, espe­cial­mente pelo mais famoso dos médi­cos nazis­tas, Josef Men­gele (19111979), nos Cam­pos de Con­cen­tração.

Agora, no Brasil, quase oitenta anos depois daquele con­flito, ouvi­mos relatos de uma advo­gada, representando

A TRAGÉ­DIA É MENOR QUE O CRIME.

Por Abdon Marinho.

ANTES do meu natalí­cio, em 8 de out­ubro, o Brasil reg­is­trará a triste e assom­brosa marca de 600 mil mor­tos pela COVID-​19. Nunca, em nen­hum momento da nossa história, havíamos pas­sado por tamanha provação.

O Brasil, em número de mortes pela pan­demia, só fica atrás dos Esta­dos Unidos da América, que reg­is­traram 700 mil mor­tos na sem­ana que findou.

Difer­ente do que pen­sei no iní­cio do ano, que o Brasil ultra­pas­saria os EUA em número do mor­tos, isso não ocor­reu, e já acred­ito que não ocorra, porque a ignorân­cia que ali­menta as cam­pan­has anti-​vacinas no irmão do norte são bem mais fortes que por aqui.

Os dados disponíveis lá e cá com­pro­vam o que os cien­tis­tas dizem desde o iní­cio da pan­demia: que a vaci­nação salva vidas.

Nos esta­dos onde houve forte adesão às nor­mas de dis­tan­ci­a­mento social e à vaci­nação os con­tá­gios e as mortes dimin­uíram enquanto que naque­les onde deu-​se o con­trário reg­is­tram um aumento de casos e, por con­se­quên­cia, de mortes.

A despeito de serem ricos e poderosos os amer­i­canos sem­pre tiveram, com razão, a fama de incul­tos ou bur­ros, para usar uma lin­guagem mais pop­u­lar, a pan­demia está provando que não foi à toa que con­struíram tal fama.

Hoje, os EUA reg­is­tram uma média de 1.500 mortos/​dia graças a refração à vaci­nação em massa, três vezes a média do Brasil, uma prova mais que elo­quente de que a ignorân­cia mata.

Mesmo com os números mostrando que as mortes estão ocor­rendo entre aque­les que não se vaci­naram e que são ínfi­mas as mortes entre os que foram imu­niza­dos, a ignorân­cia e falta de sol­i­dariedade con­tin­uam provo­cando esse número assus­ta­dor de víti­mas.

Outro dia, vi um memo­r­ial impro­visado naquele país em hom­e­nagem aos 700 mil mor­tos, até ali, uma mar de ban­deir­in­has bran­cas sim­bolizando cada vida per­dida. Mesmo de longe e pela tele­visão não tive como ficar indifer­ente.

Se nos Esta­dos Unidos podemos deb­itar à ignorân­cia o número de mor­tos, a reflexão que faze­mos para o Brasil é bem dis­tinta assim como as respon­s­abil­i­dades.

O EUA pos­suem uma vez e meia a pop­u­lação do Brasil (331 mil­hões e 211 mil­hões), têm 700 mil mor­tos por aqui quase 600 mil, o que numa regra de pro­por­cional­i­dade nos coloca à frente deles no triste rank­ing da tragé­dia.

Muito além do número absurdo de víti­mas que pan­demia tem feito no Brasil, o que se rev­ela mais grave e mais escan­daloso é a rev­e­lação de que, sem qual­quer base cien­tí­fica, gov­er­nantes e parte da ini­cia­tiva pri­vada ten­tou – e fez –, exper­i­men­tos cien­tí­fi­cos com a vida dos cidadãos, prin­ci­pal­mente dos mais despro­te­gi­dos: os idosos.

Houve um exper­i­mento cien­tí­fico em Man­aus, Ama­zonas, onde as pes­soas enfer­mas foram tratadas como coba­ias. Já falamos deste assunto aqui, no nosso site ante­ri­or­mente, retorno a ele para fazer um “link” com as infor­mações mais recentes.

Quem não assis­tiu, recomendo que se inteire do depoi­mento da advo­gada Bruna Morato na CPI da Pan­demia, no Senado da República.

Quando um advo­gado fala algo ele o faz com a con­sciên­cia do peso de suas palavras.

Então, quando a Dra. Morato diz que os pacientes da Pre­vent Senior foram feitos de “coba­ias” em exper­i­men­tos sobre medica­men­tos sem eficá­cia com­pro­vada se val­endo da vul­ner­a­bil­i­dade deles para par­tic­i­parem “novos trata­men­tos”, ela sabe da gravi­dade que tal imputação acar­reta.

Mas foi além. Disse que o hos­pi­tal não detal­hava os riscos que os pacientes cor­riam; que houve ordem para a real­iza­ção de testagem em massa dos supos­tos medica­men­tos por parte do dire­tor da Pre­vent Senior, com añuên­cia da cúpula da empresa.

A advo­gada rela­tou em rede nacional que médi­cos con­trários ao “trata­mento pre­coce” eram demi­ti­dos pela empresa ou sofriam retal­i­ações por não receitarem o “kit COVID”.

Uma outra infor­mação de gravi­dade ímpar relatada pela advo­gada foi que a empresa agia assim, tam­bém, por moti­vações econômi­cas, dis­tribuindo os kit’s de forma pre­ven­tiva porque não pos­suíam leitos sufi­cientes para aten­der seus clientes, acres­cen­tando que os médi­cos não tin­ham autono­mia sobre os tais kit’s que eram dis­tribuí­dos dire­ta­mente pela empresa aos pacientes e que o incen­tivo à uti­liza­ção das sub­stân­cias sem eficá­cia com­pro­vada con­tra a doença se dava por ser mais barato.

Segundo a advo­gada a empresa Pre­vent Senior colaborou com a elab­o­ração dos pro­to­co­los pro­pa­gan­dea­dos pelo gov­erno fed­eral, notada­mente o pres­i­dente Bol­sonaro, aler­tando para um suposto “pacto” entre a equipe econômica e inte­grantes do “Min­istério da Saúde Para­lelo” para evi­tar medi­das restri­ti­vas. O obje­tivo seria “val­i­dar” o suposto estudo da Pre­vent Senior, para depois fazer uma cam­panha nacional de aber­tura da econo­mia brasileira; os médi­cos rep­re­sen­ta­dos por ela tin­ham a sen­sação que a empresa tinha o aval do Min­istério da Saúde para a real­iza­ção de exper­i­men­tos com os pacientes.

Ainda segundo a advo­gada, a empresa em questão manip­ulava dados do paciente para omi­tir as mortes por COVID, ocul­tando a infecção por COVID do ates­tado de óbito.

Este é um breve resumo, do que disse a advo­gada – que, repito, tem con­sciên­cia da gravi­dade de cada uma de suas palavras –, em uma CPI do Senado da República.

E ela disse muito mais do que con­segui resumir.

Como a reper­cussão do depoi­mento da advo­gada é bem menor do que a relevân­cia das suas palavras, acred­ito que isso ocorra por já estar­mos aneste­si­a­dos pelos acon­tec­i­men­tos no país. As mortes já são banais, números meras estatís­ti­cas, os crimes já não nos dizem nada ou, talvez, esta­mos todos numa espé­cie de “dèjà-​vu” cole­tivo ilusório de que os fatos agora relata­dos não acon­te­ce­ram agora mas há mais de setenta anos, durante a Segunda Guerra Mundial.

Exis­tem pon­tos – exceto pela cir­cun­stân­cia de que os envolvi­dos não são os respon­sáveis pela pan­demia –, que são com­patíveis com crimes de guerra ocor­ri­dos no con­flito mundial de 1939 a 1945 do século pas­sado.

Daquele con­flito é que traze­mos a lem­brança de exper­i­men­tos cien­tí­fi­cos com coba­ias humanas, espe­cial­mente pelo mais famoso dos médi­cos nazis­tas, Josef Men­gele (19111979), nos Cam­pos de Con­cen­tração.

Agora, no Brasil, quase oitenta anos depois daquele con­flito, ouvi­mos relatos de uma advo­gada, rep­re­sen­tando médi­cos, dizer que pacientes, prin­ci­pal­mente idosos frag­iliza­dos, foram usa­dos como “coba­ias” em pseu­dos exper­i­men­tos cien­tí­fi­cos, muitos deles já repu­di­a­dos pela comu­nidade cien­tí­fica mundial.

Em qual­quer outro lugar do mundo, o Min­istério Público e a Polí­cia Fed­eral estariam apu­rando tais fatos e não ape­nas assistindo as apu­rações de uma CPI.

Os fatos ocor­ri­dos no Brasil foram gravís­si­mos, na ver­dade, foram crimes prat­i­ca­dos por autori­dades e par­tic­u­lares con­tra a saúde dos cidadãos que provo­caram ou con­cor­reram com a morte de mil­hares de pes­soas. Essa é a ver­dade.

Fatos de tamanha gravi­dade não se coad­unam com silên­cios e omis­sões. Os que calam e os que se omitem tam­bém são cúm­plices.

Os médi­cos do país que tiveram con­hec­i­mento ou par­tic­i­param de exper­i­men­tos crim­i­nosos pre­cisam esclare­cer o seu papel nesse teatro de hor­rores.

Sabe-​se agora que outra oper­adora de Plano de Saúde, segundo um médico, ori­en­tou a mesma prática. Um paciente, segundo a mesma matéria, a quem receitaram medica­men­tos sem qual­quer eficá­cia, negaram-​lhe o oxigênio necessário.

Este escapou. Quan­tos não tiveram a mesma sorte?

Outro dia li ou vi em algum veículo de comu­ni­cação que o pres­i­dente da República em entre­vista para um par­tido político alemão teria dito que a pan­demia ape­nas abre­viara a vida de pes­soas que já iriam mor­rer mesmo em pouco tempo.

A TRAGÉ­DIA É MENOR QUE O CRIME.

Por Abdon Marinho.

ANTES do meu natalí­cio, em 8 de out­ubro, o Brasil reg­is­trará a triste e assom­brosa marca de 600 mil mor­tos pela COVID-​19. Nunca, em nen­hum momento da nossa história, havíamos pas­sado por tamanha provação.

O Brasil, em número de mortes pela pan­demia, só fica atrás dos Esta­dos Unidos da América, que reg­is­traram 700 mil mor­tos na sem­ana que findou.

Difer­ente do que pen­sei no iní­cio do ano, que o Brasil ultra­pas­saria os EUA em número do mor­tos, isso não ocor­reu, e já acred­ito que não ocorra, porque a ignorân­cia que ali­menta as cam­pan­has anti-​vacinas no irmão do norte são bem mais fortes que por aqui.

Os dados disponíveis lá e cá com­pro­vam o que os cien­tis­tas dizem desde o iní­cio da pan­demia: que a vaci­nação salva vidas.

Nos esta­dos onde houve forte adesão às nor­mas de dis­tan­ci­a­mento social e à vaci­nação os con­tá­gios e as mortes dimin­uíram enquanto que naque­les onde deu-​se o con­trário reg­is­tram um aumento de casos e, por con­se­quên­cia, de mortes.

A despeito de serem ricos e poderosos os amer­i­canos sem­pre tiveram, com razão, a fama de incul­tos ou bur­ros, para usar uma lin­guagem mais pop­u­lar, a pan­demia está provando que não foi à toa que con­struíram tal fama.

Hoje, os EUA reg­is­tram uma média de 1.500 mortos/​dia graças a refração à vaci­nação em massa, três vezes a média do Brasil, uma prova mais que elo­quente de que a ignorân­cia mata.

Mesmo com os números mostrando que as mortes estão ocor­rendo entre aque­les que não se vaci­naram e que são ínfi­mas as mortes entre os que foram imu­niza­dos, a ignorân­cia e falta de sol­i­dariedade con­tin­uam provo­cando esse número assus­ta­dor de víti­mas.

Outro dia, vi um memo­r­ial impro­visado naquele país em hom­e­nagem aos 700 mil mor­tos, até ali, uma mar de ban­deir­in­has bran­cas sim­bolizando cada vida per­dida. Mesmo de longe e pela tele­visão não tive como ficar indifer­ente.

Se nos Esta­dos Unidos podemos deb­itar à ignorân­cia o número de mor­tos, a reflexão que faze­mos para o Brasil é bem dis­tinta assim como as respon­s­abil­i­dades.

O EUA pos­suem uma vez e meia a pop­u­lação do Brasil (331 mil­hões e 211 mil­hões), têm 700 mil mor­tos por aqui quase 600 mil, o que numa regra de pro­por­cional­i­dade nos coloca à frente deles no triste rank­ing da tragé­dia.

Muito além do número absurdo de víti­mas que pan­demia tem feito no Brasil, o que se rev­ela mais grave e mais escan­daloso é a rev­e­lação de que, sem qual­quer base cien­tí­fica, gov­er­nantes e parte da ini­cia­tiva pri­vada ten­tou – e fez –, exper­i­men­tos cien­tí­fi­cos com a vida dos cidadãos, prin­ci­pal­mente dos mais despro­te­gi­dos: os idosos.

Houve um exper­i­mento cien­tí­fico em Man­aus, Ama­zonas, onde as pes­soas enfer­mas foram tratadas como coba­ias. Já falamos deste assunto aqui, no nosso site ante­ri­or­mente, retorno a ele para fazer um “link” com as infor­mações mais recentes.

Quem não assis­tiu, recomendo que se inteire do depoi­mento da advo­gada Bruna Morato na CPI da Pan­demia, no Senado da República.

Quando um advo­gado fala algo ele o faz com a con­sciên­cia do peso de suas palavras.

Então, quando a Dra. Morato diz que os pacientes da Pre­vent Senior foram feitos de “coba­ias” em exper­i­men­tos sobre medica­men­tos sem eficá­cia com­pro­vada se val­endo da vul­ner­a­bil­i­dade deles para par­tic­i­parem “novos trata­men­tos”, ela sabe da gravi­dade que tal imputação acar­reta.

Mas foi além. Disse que o hos­pi­tal não detal­hava os riscos que os pacientes cor­riam; que houve ordem para a real­iza­ção de testagem em massa dos supos­tos medica­men­tos por parte do dire­tor da Pre­vent Senior, com añuên­cia da cúpula da empresa.

A advo­gada rela­tou em rede nacional que médi­cos con­trários ao “trata­mento pre­coce” eram demi­ti­dos pela empresa ou sofriam retal­i­ações por não receitarem o “kit COVID”.

Uma outra infor­mação de gravi­dade ímpar relatada pela advo­gada foi que a empresa agia assim, tam­bém, por moti­vações econômi­cas, dis­tribuindo os kit’s de forma pre­ven­tiva porque não pos­suíam leitos sufi­cientes para aten­der seus clientes, acres­cen­tando que os médi­cos não tin­ham autono­mia sobre os tais kit’s que eram dis­tribuí­dos dire­ta­mente pela empresa aos pacientes e que o incen­tivo à uti­liza­ção das sub­stân­cias sem eficá­cia com­pro­vada con­tra a doença se dava por ser mais barato.

Segundo a advo­gada a empresa Pre­vent Senior colaborou com a elab­o­ração dos pro­to­co­los pro­pa­gan­dea­dos pelo gov­erno fed­eral, notada­mente o pres­i­dente Bol­sonaro, aler­tando para um suposto “pacto” entre a equipe econômica e inte­grantes do “Min­istério da Saúde Para­lelo” para evi­tar medi­das restri­ti­vas. O obje­tivo seria “val­i­dar” o suposto estudo da Pre­vent Senior, para depois fazer uma cam­panha nacional de aber­tura da econo­mia brasileira; os médi­cos rep­re­sen­ta­dos por ela tin­ham a sen­sação que a empresa tinha o aval do Min­istério da Saúde para a real­iza­ção de exper­i­men­tos com os pacientes.

Ainda segundo a advo­gada, a empresa em questão manip­ulava dados do paciente para omi­tir as mortes por COVID, ocul­tando a infecção por COVID do ates­tado de óbito.

Este é um breve resumo, do que disse a advo­gada – que, repito, tem con­sciên­cia da gravi­dade de cada uma de suas palavras –, em uma CPI do Senado da República.

E ela disse muito mais do que con­segui resumir.

Como a reper­cussão do depoi­mento da advo­gada é bem menor do que a relevân­cia das suas palavras, acred­ito que isso ocorra por já estar­mos aneste­si­a­dos pelos acon­tec­i­men­tos no país. As mortes já são banais, números meras estatís­ti­cas, os crimes já não nos dizem nada ou, talvez, esta­mos todos numa espé­cie de “dèjà-​vu” cole­tivo ilusório de que os fatos agora relata­dos não acon­te­ce­ram agora mas há mais de setenta anos, durante a Segunda Guerra Mundial.

Exis­tem pon­tos – exceto pela cir­cun­stân­cia de que os envolvi­dos não são os respon­sáveis pela pan­demia –, que são com­patíveis com crimes de guerra ocor­ri­dos no con­flito mundial de 1939 a 1945 do século pas­sado.

Daquele con­flito é que traze­mos a lem­brança de exper­i­men­tos cien­tí­fi­cos com coba­ias humanas, espe­cial­mente pelo mais famoso dos médi­cos nazis­tas, Josef Men­gele (19111979), nos Cam­pos de Con­cen­tração.

Agora, no Brasil, quase oitenta anos depois daquele con­flito, ouvi­mos relatos de uma advo­gada, rep­re­sen­tando médi­cos, dizer que pacientes, prin­ci­pal­mente idosos frag­iliza­dos, foram usa­dos como “coba­ias” em pseu­dos exper­i­men­tos cien­tí­fi­cos, muitos deles já repu­di­a­dos pela comu­nidade cien­tí­fica mundial.

Em qual­quer outro lugar do mundo, o Min­istério Público e a Polí­cia Fed­eral estariam apu­rando tais fatos e não ape­nas assistindo as apu­rações de uma CPI.

Os fatos ocor­ri­dos no Brasil foram gravís­si­mos, na ver­dade, foram crimes prat­i­ca­dos por autori­dades e par­tic­u­lares con­tra a saúde dos cidadãos que provo­caram ou con­cor­reram com a morte de mil­hares de pes­soas. Essa é a ver­dade.

Fatos de tamanha gravi­dade não se coad­unam com silên­cios e omis­sões. Os que calam e os que se omitem tam­bém são cúm­plices.

Os médi­cos do país que tiveram con­hec­i­mento ou par­tic­i­param de exper­i­men­tos crim­i­nosos pre­cisam esclare­cer o seu papel nesse teatro de hor­rores.

Sabe-​se agora que outra oper­adora de Plano de Saúde, segundo um médico, ori­en­tou a mesma prática. Um paciente, segundo a mesma matéria, a quem receitaram medica­men­tos sem qual­quer eficá­cia, negaram-​lhe o oxigênio necessário.

Este escapou. Quan­tos não tiveram a mesma sorte?

Outro dia li ou vi em algum veículo de comu­ni­cação que o pres­i­dente da República em entre­vista para um par­tido político alemão teria dito que a pan­demia ape­nas abre­viara a vida de pes­soas que já iriam mor­rer mesmo em pouco tempo.

Uma suposta declar­ação tão “destram­bel­hada” e desprovida de empa­tia que custo acred­i­tar, ainda mais quando esta­mos diante de 600 mil vidas per­di­das para a pan­demia.

Mas, vive­mos tem­pos estran­hos, são tan­tas infor­mações em uma sem­ana que ten­demos a achar que tudo vai bem ou que nada acon­te­ceu.

O Brasil pre­cisa sair deste estu­por. Os brasileiros pre­cisamos pas­sar o país o limpo com a apu­ração e punição exem­plar para tan­tos quan­tos tenha prat­i­ca­dos ou con­cor­ri­dos com a prática de crimes.

Somente depois disso, podemos seguir em frente.

Abdon Mar­inho é advogado.

Uma suposta declar­ação tão “destram­bel­hada” e desprovida de empa­tia que custo acred­i­tar, ainda mais quando esta­mos diante de 600 mil vidas per­di­das para a pan­demia.

Mas, vive­mos tem­pos estran­hos, são tan­tas infor­mações em uma sem­ana que ten­demos a achar que tudo vai bem ou que nada acon­te­ceu.

O Brasil pre­cisa sair deste estu­por. Os brasileiros pre­cisamos pas­sar o país o limpo com a apu­ração e punição exem­plar para tan­tos quan­tos tenha prat­i­ca­dos ou con­cor­ri­dos com a prática de crimes.

Somente depois disso, podemos seguir em frente.

Abdon Mar­inho é advogado.

médi­cos, dizer que pacientes, prin­ci­pal­mente idosos frag­iliza­dos, foram usa­dos como “coba­ias” em pseu­dos exper­i­men­tos cien­tí­fi­cos, muitos deles já repu­di­a­dos pela comu­nidade cien­tí­fica mundial.

Em qual­quer outro lugar do mundo, o Min­istério Público e a Polí­cia Fed­eral estariam apu­rando tais fatos e não ape­nas assistindo as apu­rações de uma CPI.

Os fatos ocor­ri­dos no Brasil foram gravís­si­mos, na ver­dade, foram crimes prat­i­ca­dos por autori­dades e par­tic­u­lares con­tra a saúde dos cidadãos que provo­caram ou con­cor­reram com a morte de mil­hares de pes­soas. Essa é a ver­dade.

Fatos de tamanha gravi­dade não se coad­unam com silên­cios e omis­sões. Os que calam e os que se omitem tam­bém são cúm­plices.

Os médi­cos do país que tiveram con­hec­i­mento ou par­tic­i­param de exper­i­men­tos crim­i­nosos pre­cisam esclare­cer o seu papel nesse teatro de hor­rores.

Sabe-​se agora que outra oper­adora de Plano de Saúde, segundo um médico, ori­en­tou a mesma prática. Um paciente, segundo a mesma matéria, a quem receitaram medica­men­tos sem qual­quer eficá­cia, negaram-​lhe o oxigênio necessário.

Este escapou. Quan­tos não tiveram a mesma sorte?

Outro dia li ou vi em algum veículo de comu­ni­cação que o pres­i­dente da República em entre­vista para um par­tido político alemão teria dito que a pan­demia ape­nas abre­viara a vida de pes­soas que já iriam mor­rer mesmo em pouco tempo.

Uma suposta declar­ação tão “destram­bel­hada” e desprovida de empa­tia que custo acred­i­tar, ainda mais quando esta­mos diante de 600 mil vidas per­di­das para a pan­demia.

Mas, vive­mos tem­pos estran­hos, são tan­tas infor­mações em uma sem­ana que ten­demos a achar que tudo vai bem ou que nada acon­te­ceu.

O Brasil pre­cisa sair deste estu­por. Os brasileiros pre­cisamos pas­sar o país o limpo com a apu­ração e punição exem­plar para tan­tos quan­tos tenha prat­i­ca­dos ou con­cor­ri­dos com a prática de crimes.

Somente depois disso, podemos seguir em frente.

Abdon Mar­inho é advogado.

A vitória do cinismo.

Escrito por Abdon Mar­inho



A VITÓRIA DO CIN­ISMO.

Por Abdon Mar­inho.

NESTES últi­mos dias tenho lem­brado de um querido amigo, o Dr. João Dam­a­s­ceno Mor­eira, his­to­ri­ador e advo­gado bril­hante, que nos deixou pre­co­ce­mente no agosto do des­gosto de 2018.

Dr. João ou Dr. Dam­a­s­ceno, como o chamava, ao visitar-​me vez ou outra e lançar críti­cas às elites diri­gentes deste estado, cos­tu­mava dizer: — excelên­cia, nos não temos o dire­ito de ser­mos cíni­cos; não podemos fin­gir que não esta­mos vendo o que está diante de nós.

Tenho pen­sado no extinto amigo e nessa sua exor­tação diante de uma con­statação que há algum tempo me chama atenção: ninguém – ou quase ninguém – fala mais em cor­rupção na política estad­ual. É como se esse câncer, que nega saúde, edu­cação e leva a mis­éria ao nosso povo, tivesse deix­ado de exi­s­tir.

Lem­bro que quando ini­ciei na mil­itân­cia política há mais trinta anos tín­hamos a pre­ocu­pação de com­bat­er­mos o maus hábitos da política local, iden­ti­fi­ca­dos com os nichos de cor­rupção eterniza­dos do poder para revert­er­mos os recur­sos fru­tos dos alcances em bene­fí­cios para a pop­u­lação.

Quan­tas vezes o Sítio Pira­pora não teste­munhou tais debates? Muitos deles, inclu­sive, com a par­tic­i­pação destes que hoje ocu­pam os mais ele­va­dos car­gos no estado.

Às por­tas de mais uma eleição estad­ual, inclu­sive, como muitos can­didatos já em plena cam­panha para car­gos em dis­putas (gov­er­nador, senador, dep­utado fed­eral e estad­ual), não vemos no meio político ou na imprensa local quais­quer ques­tion­a­men­tos sobre a vida pre­gressa – e atual –, destes postulantes.

A per­gunta mais comez­inha seria: como fiz­eram for­tuna na vida pública? Como estas pes­soas que con­hece­mos, prati­ca­mente, desde que nasce­ram e sabe­mos que não tin­ham de onde her­dar e que não gan­haram dezenas de vezes da “mega sena da virada” se tornaram mul­ti­m­il­ionários? Felizes pro­pri­etários de fazen­das; empre­sas, man­sões, car­rões, aviões e até iates de luxo? Como enricaram fazendo política?

Estes ques­tion­a­men­tos, que con­sidero primários, não vejo a imprensa local ou mesmo a nacional faz­erem e, tam­pouco, inves­ti­garem e ofer­e­cerem à sociedade tais respostas, para que escolha seus rep­re­sen­tantes e diri­gentes de forma con­sciente e infor­mada.

Muito pelo con­trário, como pis­toleiros ou jagunços, estão a serviço dos que enrique­ce­ram às cus­tas do din­heiro público, jus­ta­mente mas­carando suas biografias e trans­for­mando ladrões do din­heiro público em heróis.

Certa feita o gov­er­nador do estado – não faz muito tempo –, disse saber o motivo algu­mas pes­soas pos­tu­larem o comando do estado e as chaves dos cofres da “viúva”. Não deu detal­hes, não apre­sen­tou nomes; não disse se eram seus ali­a­dos ou adver­sários.

Eu, con­ver­sando com meus botões, me per­gun­tei: por que sua excelên­cia não esclarece sobre a quem se ref­ere? Por que colo­car a todos sobre sus­peição? Em sendo ali­a­dos, por que nos últi­mos sete anos con­frat­er­ni­zou e comungou com tais ladrões?

Vive­mos no Maran­hão (e tam­bém no Brasil) tem­pos de silên­cio e omis­são cúm­plices.

O nosso estado, em par­tic­u­lar, é uma aldeia. Tudo se sabe. Conhece-​se a vida de todos. Logo, o elo­quente silên­cio que teste­munhamos é o silên­cio da cumpli­ci­dade, o “cala-​boca” do cin­ismo que impera na relações entre as “novas” elites e entre estas e os “novos” for­madores de opinião.

São todos cúm­plices da ban­dal­heira; da cor­rupção e da mis­éria que assom­bra os pais de famílias.

Tal qual as famílias mafiosas de out­rora, impuseram um “código de silên­cio”: tu não falas de mim, eu não falo de ti e jun­tos com­pramos o silên­cio da mídia (aliás, com­pramos a mídia inteira), os supos­tos mem­bros do que habituou-​se chamar sociedade civil e “lava­mos a nossa história” – ou pron­tuário.

É assim, como dizia Vieira, no Maran­hão é cada vez mais comum ver­mos na mesma roda cru­ci­fi­carem o “ladrãoz­inho de gal­in­has” se exal­tar e fes­te­jar os maiores ladões da República.

O mesmo cínico que fica indig­nado com o pre­juízo cau­sado a uma pes­soa ou empresa nada mais tem, além de elo­gios, àque­les que roubam um estado inteiro.

Os indi­cadores soci­ais apon­tam que mil­hões de brasileiros foram lança­dos à mis­éria nos últi­mos anos. Só no Maran­hão, dizem, foram 400 mil lança­dos ao fla­gelo da fome e da pobreza abso­luta.

Estran­hamente, neste mesmo período, nunca vimos a classe política ficar tão rica.

Lem­bro que antiga­mente não inco­mum um político brasileiro morar em bairro pop­u­lar ou anda de ônibus. Hoje, se fazem isso, é ape­nas para “apare­cer” ou fazer uma “mídia” posando de pop­u­lar. Nos bair­ros pop­u­lares ou ônibus só os vemos através de out­door ou dos bus­door geral­mente pagos com os recur­sos dos con­tribuintes.

Vejam que não faço apolo­gia à mis­éria, longe disso, defendo o dire­ito das pes­soas “mel­horem de vida”, entre­tanto, o que esta­mos teste­munhando é um abismo entre rep­re­sen­tantes e rep­re­sen­ta­dos e que parte deste abismo se deu com a “apro­pri­ação” de recur­sos públi­cos – ou seja, dos rep­re­sen­ta­dos –, deixando os primeiros, cada vez mais ricos e os segun­dos, cada vez mais pobres.

É bem ver­dade que os políti­cos brasileiros sem­pre gan­haram bem – muito bem –, se com­para­r­mos aos seus con­gêneres ao redor do mundo, mas nada capaz de jus­ti­ficar o “fausto” em que vivem na atu­al­i­dade.

Trata-​se, na ver­dade, de recur­sos públi­cos ilegí­ti­mos que estão sendo drena­dos para o enriquec­i­mento pes­soal, com todas as suas dis­torções, diante da cumpli­ci­dade e cin­ismo de boa parte da sociedade.

Hoje temos um par­la­mento que não se con­strange em leg­is­lar em “causa própria”, na defesa dos próprios inter­esses quase sem­pre antagôni­cos aos inter­esses do povo.

São diver­sos mecan­is­mos a favore­cer a cor­rupção – o assunto proibido –, seja nos repasses de recur­sos para as cam­pan­has e par­tidos; seja nas chamadas emen­das par­la­mentares; seja no chamado “orça­mento para­lelo”; seja na impunidade e destru­ição dos órgãos de con­t­role e fis­cal­iza­ção.

E é jus­ta­mente quando a cor­rupção se torna tão acin­tosa que assis­ti­mos ao silên­cio cúm­plice e o cin­ismo dos que sem­pre se arvo­raram como “elite pen­sante do país”.

Por estes dias cir­cu­lou em algum veículo de comu­ni­cação e gru­pos de What­sApp a noti­cia que um político estad­ual – destes que con­hece­mos desde o nasci­mento –, adquirira um lux­u­oso iate de 80 pés ao custo de 20 mil­hões para o seu lazer no Rio Preguiças ou no litoral do estado.

Não sei se é ver­dade. Se o iate de fato per­tence ao par­la­men­tar, etc.

O que sei, caso seja ver­dade, é que tal aquisição, assim como os aviões de luxo, as man­sões e aparta­men­tos nababescos, rep­re­sen­tam um acinte aos cidadãos maran­henses, quando mais da metade da pop­u­lação do estado vivem abaixo da linha da pobreza, dos quais, como dito ante­ri­or­mente, 400 mil lança­dos à mis­éria no atual gov­erno.

Mesmo que o cidadão com­pro­vasse capaci­dade finan­ceira para aquisição, que provasse por A mais B a origem lícita dos dos recur­sos, seria acin­toso para a pop­u­lação tanto exibi­cionismo diante da mis­éria do povo.

Com metade da pop­u­lação estad­ual pas­sando fome, quanto daria para com­prar em ces­tas bási­cas o valor de um iate, de um avião, de uma man­são e tan­tos out­ros “brin­que­dos” que têm origem nos recur­sos públi­cos?

Repito, nada tenho con­tra a “pros­peri­dade” da pes­soas. Não se trata disso. O que se ques­tiona é o cin­ismo destas pes­soas que tanto prom­e­teram “lib­er­tar” o povo da situ­ação de mis­éria em que sem­pre estiveram ostentarem bens adquiri­dos de forma duvi­dosa jus­ta­mente quando tan­tos da pop­u­lação foram lança­dos na mis­éria.

Uma releitura do “Ser­mão do Bom ladrão”, de Vieira, não ficaria a dever se fosse: “basta sen­hor, que eu porque roubo em uma canoa ou uma bici­cleta, sou ladrão e vós que roubas em suas man­sões, aviões ou iates é chamado de excelência?”.

A indifer­ença e osten­tação destes “novos ricos” que “se fiz­eram” dizendo rep­re­sen­tar o povo não é mais grave que o cin­ismo cúm­plice de boa parcela da sociedade.

Esta, sim, a ver­dadeira des­graça.

São estas pes­soas, que não têm o “dire­ito de serem cíni­cos” os ver­dadeiros culpados.

Para o nosso des­gosto e, cer­ta­mente, o des­gosto do saudoso Dr. Dam­a­s­ceno, o cin­ismo venceu.

Abdon Mar­inho é advo­gado.