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Frag­men­tos da história não contada.

Escrito por Abdon Mar­inho


FRAG­MEN­TOS DA HISTÓRIA NÃO CON­TADA.

Por Abdon Mar­inho.

DURANTE as exéquias de Ter­ceiro, logo após a missa de corpo pre­sente, quando a noite já prin­cip­i­ava engolir o dia, Juarez nos chama para pegar à fresca no lado de fora da sala onde velá­va­mos o querido amigo antes que fosse con­duzido à última morada.

Saí­mos eu, Ader­son Lago, que chegara prati­ca­mente comigo, no iní­cio da tarde; o próprio Juarez Medeiros, José Costa e Roberto de Paula.

Na varanda de outra sala funerária, em frente a qual repousava o saudoso amigo, ficamos a recor­dar os cau­sos do quadriênio em todos ali, inclu­sive o morto, estive­mos na Assem­bleia Leg­isla­tiva do Estado, eu e Roberto na condição de asses­sores; e os demais como rep­re­sen­tantes do povo.

Aquele foi um quadriênio de muitas histórias.

Juarez já vinha de um mandato ante­rior – fora eleito pelo grupo “Nossa Luta”, do PMDB, que depois tornou-​se o PSB, na eleição de Cafeteira, em 1986 –, era uma espé­cie de cicerone dos novos dep­uta­dos do campo da oposição ao qual se somava além dele e José Costa, pelo PSB; Luís Vila Nova e Domin­gos Dutra, pelo PT; Bened­ito Coroba, pelo PDT; Ader­son Lago e Bened­ito Ter­ceiro, pelo PDC, lig­a­dos ao senador e ex-​governador Cafeteira.

Foram anos diver­tidos. Tín­hamos out­ros tipos de políti­cos, ainda não se viven­ci­ava a política do “toma lá dá cá” em toda sua plen­i­tude. Mesmo nas hostes gov­ernistas tín­hamos dep­uta­dos bem prepara­dos, com história, senso de humor e bons de tiradas.

São estes frag­men­tos, que não con­sta em nen­hum livro, e que, cer­ta­mente, se perderão nas bru­mas do tempo.

Ader­son nos con­tou do antológico dis­curso do dep­utado Eliseu Fre­itas, ilus­tre rep­re­sen­tante de Barra do Corda.

Era uma manhã de sexta-​feira – nesses dias as sessões eram pela manhã –, sem nen­hum assunto impor­tante em pauta e com quase todos dep­uta­dos já tendo “descido para as bases”.

Pre­sentes na sessão ape­nas o dep­utado JJ Pereira, que pre­sidia os tra­bal­hos, o dep­utado Vila Nova, Ader­son Lago que já chegara atrasado e o dep­utado Eliseu que se inscreveu para falar em todos os tem­pos, do grande expe­di­ente às comu­ni­cações de par­tidos.

Com sua voz­inha pecu­liar, lá estava o dep­utado cordino em um dis­curso sem fim.

Pelas “tan­tas” o dep­utado Vila Nova pediu um aparte: — nobre dep­utado Eliseu, hoje é sexta-​feira, não tem ninguém nas gale­rias ou no comitê de imprensa, só esta­mos aqui eu, o sen­hor, o dep­utado Ader­son e o dep­utado JJ, o sen­hor não acha que dev­e­ria diminuir esse discurso?

Ao que Eliseu respon­deu: — nobre dep­utado Vila Nova, não estou aqui fazendo dis­curso para o sen­hor, para o dep­utado Ader­son, para o dep­utado JJ, para a plateia ou para imprensa, estou fazendo esse dis­curso para os meus eleitores da Barra do Corda, daqui a pouco pego a fita e mando para a minha rádio.

E encer­rou o aparte.

Acho que com todo sua sim­pli­ci­dade o dep­utado Eliseu estava certo, tanto assim que em 1992 elegeu-​se prefeito de Barra do Corda.

No final daquele ano, segundo Juarez Medeiros, despediu-​se da Assem­bleia Leg­isla­tiva com um dis­curso onde dizia: — quero agrade­cer a todos dep­uta­dos, todos os fun­cionários desta Casa e dizer que aqui, nestes dois anos, aprendi muito, foi aqui que aprendi a chamar meus inimi­gos de vossa excelên­cia.

São poucos os políti­cos maran­henses tão engraça­dos quando Eliseu, pelo menos assim o vimos naque­les anos em foi dep­utado.

Certa vez, enquanto fazia um dis­curso, um adver­sário o ten­tou tirar do sério com um aparte: — nobre dep­utado eu tenho pena do sen­hor, não sei como o sen­hor con­segue dormir devendo tanto.

Eliseu retomando a palavra arrema­tou: — olhe nobre dep­utado o sen­hor não pre­cisa se pre­ocu­par comigo, é ver­dade que devo muito, mas só devo a banco e os ban­cos não cobram durante a noite, por isso durmo muito bem, obri­gado.

Fora da Casa de Manoel Bequimão, ainda tem a história do mesmo par­la­men­tar, que durante um comí­cio em Barra do Corda era insis­ten­te­mente asse­di­ado com um pedido de din­heiro de um eleitor. Já cansado com a insistên­cia disse para pas­sar na sua casa no dia seguinte.

Mal acor­dara no dia seguinte, o eleitor estava na sua porta: — Seu Eliseu, o sen­hor disse que pas­sasse hoje para rece­ber aquela ajuda, ‘tá’ lembrado?

Eliseu então respondeu-​lhe: — e tu pen­sas que eu sou “rapariga” para gan­har din­heiro durante a noite?

E encer­rou o assunto.

Oposto no estilo e no preparo era o dep­utado Kle­ber Branco, ilus­tre rep­re­sen­tante de Pedreiras, e que, certa vez, pro­tag­o­ni­zou um dos momen­tos icôni­cos da Assem­bleia naquele quadriênio, con­forme nos con­tou Juarez Medeiros.

Todos na Assem­bleia, dep­uta­dos, servi­dores, fre­quen­ta­dores das gale­rias e a imprensa estavam acos­tu­ma­dos a ouvir os sem­pre come­di­dos e bem fun­da­men­ta­dos dis­cur­sos do dep­utado pedreirense.

Naquela terça-​feira, com a Casa lotada, o dep­utado subiu à tri­buna e começou: — feio, hor­rível, hor­ro­roso, mal-​ajambrado, despro­por­cionado, desagradável, hor­rendo, mal-​apessoado, mal­pro­por­cionado, hor­rip­i­lante, medonho, mon­stru­oso, mal-​acabado …

Dep­uta­dos, pop­u­lares, imprensa, todos mudos, sem enten­der o que estava acon­te­cendo, ainda mais vindo de quem vinha, se olhavam incré­du­los, enquanto o dep­utado ia lis­tando quase duas dezenas de impre­cações e adje­tivos, para concluir:

— … merece muito bem o nome que tem: “Giná­sio Esportivo Car­los Melo”, muito obri­gado.

Com exceção do dep­utado Car­los Melo, o outro rep­re­sen­tante de Pedreiras, que estava na sessão, todos no recinto não con­tiveram a gar­gal­hada.

A história por trás do dis­curso é que na sem­ana ante­rior, o dep­utado Melo adver­sário paro­quial de Branco, estivera dis­tribuindo para os dep­uta­dos, jor­nal­is­tas e out­ras per­son­al­i­dades con­vites para uma série de inau­gu­rações que acon­te­ceriam em Pedreiras que era dirigido por sua esposa Graça Melo.

Daí o inusi­tado dis­curso para espez­in­har o adver­sário.

Ainda naquele quadriênio, um outro momento mar­cante foi quando Nagib Haickel, que pre­sidia a Casa “desmon­tou” um dis­curso de Bened­ito Coroba, do PDT.

Coroba, um dos homens públi­cos mais prepara­dos int­elec­tual­mente do Maran­hão, quiçá do Brasil, fazia, se não me falha a memória, um con­tun­dente dis­curso con­tra o abuso de poder na política e nas eleições, com­pra de votos, etcetera, quando lhe aparteou Nagib.

— O dep­utado Coroba faz todo esse infla­mado dis­curso mas esquece que quando eu pas­sava por Itapecuru-​Mirim, nas min­has cam­pan­has dis­tribuindo bom­bons para as cri­anças, ele era o primeiro a cor­rer atrás do carro pedindo pra ele: “me dá uma tio Nagib! Me dá uma tio Nagib”.

Cer­ta­mente que Nagib, político das anti­gas, dis­tribuía bal­in­has e out­ros mimos para a cri­ançada, o que não sabe­mos é se Coroba estava entre elas.

O certo é que o dis­curso “mor­reu” e por tem­pos (ainda hoje) visu­al­izamos um rechonchud­inho Coroba cor­rendo atrás do carro de Nagib durante suas cam­pan­has pelo Itapecuru-​Mirim.

Ah, são tan­tas histórias deli­ciosas e engraçadas.

A política do Maran­hão tem é repleta de acon­tec­i­men­tos pitorescos. Mesmo na sua sim­pli­ci­dade os “rep­re­sen­tantes do povo” eram mais prepara­dos, tin­ham um mel­hor verniz civilizatório.

Há alguns anos com­binei com Raimundo Verde, antigo fun­cionário da Assem­bleia, arquivo vivo de tan­tos acon­tec­i­men­tos que um dia escreveríamos sobre o que viven­ci­amos naque­les anos, a morte traiçoeira levou-​o antes que real­izásse­mos tal sonho.

Minha con­dução chegou, despedi-​me dos ami­gos deixando para trás o velório de Ter­ceiro e tan­tas histórias a serem con­tadas.

Na estrada até São José de Riba­mar pouco falei, ape­nas refle­tia sobre quanto somos pas­sageiros.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

O XADREZ DA POLÍTICA.

Escrito por Abdon Mar­inho


O XADREZ DA POLÍTICA.

Por Abdon Marinho.

QUEM gravita em torno da política – políti­cos, jor­nal­is­tas, advo­ga­dos, etcetera –, sabe que alguns temas são incon­tornáveis, pois deles depen­dem os movi­men­tos de diver­sas out­ras peças é o que se chama xadrez político.

Na sem­ana pas­sada tive­mos dois fatos que podemos enquadrar em tal cat­e­go­ria: no cenário (ou tab­uleiro) local, a definição de quem será o can­didato do sen­hor Dino, gov­er­nador do estado; no cenário nacional, a fil­i­ação par­tidária do sen­hor Bol­sonaro.

Estes dois acon­tec­i­men­tos são incon­tornáveis para as eleições, tanto para a eleição nacional, de pres­i­dente da República quanto para as eleições locais, de gov­er­nador de estado, incriv­el­mente, como em um xadrez. essas “mex­i­das” de pedras estão rela­cionadas entre si.

Um ter­ceiro tema, mais de menor enver­gadura, foi a con­clusão das prévias do PSDB (ufa!) que escol­heu como can­didato da agremi­ação política à presidên­cia, o gov­er­nador de São Paulo, João Dória. Mas esse, como dito, um tema menor, que, con­forme avance a cam­panha, pode até se tornar irrel­e­vante.

Usando metá­foras dos cos­tumes, muito afeitas ao pres­i­dente da República, depois de dois anos “sendeiro” o sen­hor Bol­sonaro “casou-​se” no último dia 30 de novem­bro com um grande amor do pas­sado, o Par­tido Lib­eral — PL.

Dono de um coração volúvel, já tendo pas­sado por diver­sos out­ros “casa­men­tos” – nove ou dez –, sem nunca se “ape­gar” a nen­hum dos par­tidos por onde pas­sou, casou com o PL “de papel pas­sado e tudo mais” no régime de comunhão total de bens – neste caso, os bens de nen­hum dos dois, mais, sim, os bens de todo o povo brasileiro.

Com isso, os que temiam a pre­sença de um ex-​presidiário no Palá­cio do Planalto, o pesadelo acon­te­ceu bem mais cedo que o esper­ado.

O ex-​presidiário por cor­rupção no esquema do “men­salão do PT”, Walde­mar da Costa Neto, pres­i­dente do PL, que já vinha “despachando” numa das salas próx­i­mas a do pres­i­dente, poderá, pelo casa­mento em “comunhão total de bens” pas­sar a despachar da sala prin­ci­pal daquele palá­cio.

Para quem, até bem pouco tempo, “despachava” da Papuda, pas­sar a despachar dire­ta­mente da presidên­cia da República é um feito extra­ordinário. Um luxo, diria um amigo.

Emb­ora, a essa altura do campe­onato, os pre­tendentes já fos­sem escas­sos, o pres­i­dente pode­ria ter se “casado” com alguém com um pas­sado mais recatado, mas, provando que o “amor” só enx­erga as mel­hores qual­i­dades, optou jus­ta­mente pelo PL , com um longo pas­sado nos esque­mas de cor­rupção do Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT e com um coraçãoz­inho tão volúvel quanto o do próprio pres­i­dente, a ponto de “trair” sem nem mudar de roupa. Algo só com­parável ao outro sócio de poder igual­mente “enro­lado” com os esque­mas petis­tas, o Par­tido Pro­gres­sita — PP, que emb­ora “man­dando e des­man­dando” no atual gov­erno já “flerta” com “seu” grande amor do pas­sado, o PT.

Muito emb­ora o jogo da política seja o mais dinâmico, fico imag­i­nando como tem sido para os devota­dos bol­sonar­is­tas se con­vencerem – e jus­ti­fi­carem –, o fato do gov­erno que pen­savam surgido para acabar com a “velha política” e a cor­rupção ser hoje coman­dado pelos prin­ci­pais par­tidos do “cen­trão”, mas não só isso, os sócios majoritários do petismo nos escân­da­los do men­salão, do petrolão e tan­tos out­ros que ainda nem tive­mos tempo para desco­brir.

Talvez jus­ti­fiquem repetindo o “mantra” tosco do seu guia: “mel­hor o cen­trão que o esquerdão”.

Em todo caso, não será tarefa fácil.

No próprio casa­mento de Bol­sonaro com Waldemar/​PL um dos fil­hos do “noivo”, Flávio Bol­sonaro, deitou falação con­tra um ex-​presidiário, no caso, o Lula, do PT, esquecendo-​se que estava ao lado de um outro ex-​presidiário, Waldemar/​PL, “noivo” do pai, e ex-​parceiro do outro ex-​presidiário em esque­mas diver­sos.

O senador filho do “noivo” não ape­nas “falava do boi em cima do couro”, falava do boi em cima do boi.

Deixando as metá­foras e pil­hérias de lado, a fil­i­ação do pres­i­dente ao PL traz con­se­quên­cias políti­cas inter­es­santes, a começar pelo próprio dis­curso do pres­i­dente que não poderá se pau­tar mais no com­bate à “velha política” ou à cor­rupção.

Vai falar de velha política “casado” com o PL, tendo como padrinho o cen­trão? Essa turma está no poder desde que Cabral chegou por aqui.

Vai falar de com­bate à cor­rupção com o gov­erno coman­dado e repleto de impli­ca­dos nos esque­mas de cor­rupção dos gov­er­nos ante­ri­ores? Não é algo fácil de se fazer.

Sobrará a pauta econômica.

Mas o que dizer da desval­oriza­ção cav­alar do real em relação ao dólar ou da inflação pas­sando dos dois dígi­tos, do empo­brec­i­mento das famílias, dos mil­hões de desem­pre­ga­dos e das famílias tendo que se ali­men­tar de lixo?

São desafios quase intransponíveis.

Noutra quadra, a fil­i­ação do pres­i­dente ao PL acaba por alterar diver­sas com­posições nos esta­dos.

Difer­ente do que que ocor­reu nas eleições de 2018, quando viu muitas cha­pas ou cam­pan­has “mis­tas”, o nível de aço­da­mento desta eleição não vai per­mi­tir isso.

Não con­sigo mais imag­i­nar o PL de Bol­sonaro e Josi­mar no palanque com Flávio Dino, do PSB, ou o PT de Lula.

E aqui começa o outro assunto intransponível da sem­ana: a decisão do atual gov­er­nador Flávio Dino em relação a sua sucessão.

Para a sur­presa de ninguém – pelo menos das pes­soas que con­vivem com a política e não é dada as paixões desme­di­das –, o sen­hor Dino anun­ciou que o “seu” can­didato a sucessão será o atual vice-​governador, Car­los Brandão.

Um dia antes da fumac­inha sair pela inex­is­tente cham­iné do Palá­cio dos Leões, um amigo me ligou com uma inda­gação per­ti­nente: — Abdon, o que é mesmo que Flávio tem a decidir? Ora, já se sabe que Josi­mar estará na oposição, nem par­ticipou da primeira reunião da chamada “base” de apoio ao gov­erno; o senador Wev­er­ton já disse que o foguete dele não tem ré; os out­ros dois can­didatos, Felipe Camarão e Sim­p­li­cio Araújo, não dese­jam e não tem base política sufi­ciente para “peitar” o gov­er­nador e aquele que será gov­er­nador a par­tir de abril; só lhe resta Brandão.

Tro­camos impressões por mais alguns min­u­tos sobre o tab­uleiro político.

No dia seguinte, em viagem para o inte­rior, fui alcançado mais de uma vez com a per­gunta: — já saiu a fumac­inha dos Leões?

A menos que fizesse como Roseana Sar­ney, em 2014, ou Luiz Rocha, em 1986, e decidisse ficar no gov­erno até o fim – abrindo mão de uma can­di­datura ao Senado da República –, para “tocar” com mão de ferro a própria sucessão, a opção por Brandão era a mais óbvia. Querendo ou não, será ele o gov­er­nador a par­tir de abril e já vem fazendo as vezes de gov­er­nador em quase todas as pau­tas públi­cas.

Não acred­ito que Flávio Dino tivesse “cor­agem” para pro­por que ape­nas cumprisse o restante do mandato para apoiar outro do grupo ou que ele (Brandão) aceitasse tal mis­são, como teria feito Luiz Rocha, suposta­mente, a pedido de Sar­ney, nas eleições de 1986.

E, iria fazer isso em bene­fí­cio de quem? Do senador Wev­er­ton Rocha, jus­ta­mente o que Flávio Dino menos con­fia e tem nele seu prin­ci­pal adver­sário político no estado? Aliás, sobre o senador pede­tista, um amigo que o con­hece bem mel­hor que eu soltou uma frase enig­mática, disse-​me: — Abdon, é alguém que não serve para amigo e muito menos para inimigo.

Como não o con­heço pes­soal­mente, não posso opinar sobre isso.

Mas voltando ao nosso assunto ou tab­uleiro, difer­ente do muitos dis­seram, acred­ito que o gov­er­nador, den­tro das condições que pos­suía, moveu as pedras cor­re­ta­mente: já disse quem era o seu can­didato e por quem vai tra­bal­har; e, deu um prazo – até janeiro –, para os par­tidos políti­cos da “base” se “acertarem” com o can­didato.

O gov­er­nador con­hece a máquina estad­ual, sabe que muitos inter­esses podem ser aco­moda­dos.

Foi um movi­mento acer­tado, esse tempo é sufi­ciente para que os out­ros políti­cos e até mesmo o cenário nacional exerça sua influên­cia na política local.

Não deve­mos perder de vista que com as alter­ações na leg­is­lação eleitoral, o prazo de domicílio eleitoral e fil­i­ação par­tidária pas­sou a ser de ape­nas 06 (seis) meses, sig­nif­i­cando que muitas coisas poderão acon­te­cer até lá.

Sobre uma aliança entre o senador Wev­er­ton Rocha, do PDT e Josi­mar de Maran­hãoz­inho, do PL, agora com Bol­sonaro, emb­ora possa até haver inter­esse de ambos, diante cenário nacional, acho difí­cil “vin­gar”.

Como disse acima, a política é incriv­el­mente dinâmica, vamos aguardar as próx­i­mas jogadas.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

Moro na ter­ceira via.

Escrito por Abdon Mar­inho


MORO NA TER­CEIRA VIA.

Por Abdon Marinho.

LEM­BRO que min­has primeiras lições de política tive-​as com um sen­horz­inho já ido nos anos e que morava a duas casas da casa de meu pai, em Gonçalves Dias, chamado Paulo Santu, lá pelos fins dos anos setenta e começo dos oitenta, quando saindo do povoado Cen­tro Novo, fomos habitar aquela urbe.

Seu Paulo morava em uma casa antiga sim­ples em estilo neo­clás­sico com janelas altas e pare­des grossas. Era alfa­bet­i­zado e gostava muito de política. Era, tam­bém, um “devoto” de Sar­ney – e digo devoto no sen­tido lit­eral –, na sala prin­ci­pal, a de vis­i­tas”, de cimento queimado e pare­des caiadas, em meio aos retratos dos san­tos, lá estava, emoldu­rado, o retrato de Sar­ney. Se não me falha a memória, ao lado de um Sagrado Coração de Jesus e um de Nossa Sen­hora. Era o retrato do Sar­ney acadêmico da Acad­e­mia Brasileira de Letras — ABL que o mesmo con­fec­cionara logo após a posse da ABL e man­dara dis­tribuir aos seus ali­a­dos Maran­hão afora, jun­ta­mente com um suple­mento com o dis­curso, alguma obra ou biografia.

Eram tex­tos ou obras que o seu Paulo Santu lia com inigualável devoção. Nunca soube se chegou a con­hecer o ex-​presidente por quem nutria tanto apreço. Acred­ito que não.

Como amigo dos fil­hos –pois tinha uma vasta prole –, estava sem­pre por sua casa e vez ou outra con­ver­sava com ele.

Certa vez, falando sobre um político local, disse: —Ah, seu Paulo, agora Fulano se acabou. Ele, então me respon­deu: — Que nada, meu filho, todo cachorro tem suas pulgas.

Em outra situ­ação, tam­bém política, disse-​me que nunca vira alguém jogar pedras em árvores sem fru­tos. Além da clás­sica “não se chuta cachorro morto”.

Pois bem, faço essa intro­dução para aden­trar ao assunto prin­ci­pal deste texto: a via­bil­i­dade de uma ter­ceira via política pro­tag­on­i­zada pelo ex-​juiz e ex-​ministro Sér­gio Moro em um cenário de político de guerra onde se opõem os bol­sonar­is­tas e os lulis­tas.

Sem­pre achei que o brasileiro médio não é dado a rad­i­cal­iza­ção, preferindo um cam­inho mais ao cen­tro.

Disse isso em 2018 e acabei “que­brando a cara” pois uma grande parcela dos cidadãos brasileiros, cansa­dos com os des­gov­er­nos petis­tas, acabaram ele­gendo o sen­hor Bol­sonaro.

A despeito disso, acred­ito que a eleição do atual pres­i­dente foi um “ponto fora da curva”, que, acred­ito, não se repe­tirá em 2022.

Acred­ito, ainda, que o voto de protesto das últi­mas eleições dará lugar a uma decisão mais comedida.

Até então, por bene­fí­cio mútuo, as duas prin­ci­pais can­di­dat­uras postas apos­tavam na rad­i­cal­iza­ção dos dis­cur­sos.

Pois bem, a par­tir da fil­i­ação par­tidária de Moro os dois can­didatos acima começaram a mesclar os dis­cur­sos. Con­tin­uam apo­s­tando que a rad­i­cal­iza­ção poderá os levar a repe­tir o segundo turno de 2018, mas, já enx­er­gando que o “fator Moro” pode ser um complicador.

A prova disso é que se “uni­ram” nos ataques ao ex-​juiz.

Aí lem­brei das vel­has lições de Paulo Santu.

Se acham que a dis­puta se dará entre os dois, por quais motivos, ori­en­tam as “bases” e até mesmo pes­soal­mente, lançam ataques uni­formes a este can­didato? A resposta é que já devem ter descoberto que o pos­sível can­didato do Podemos tem poten­cial para crescer e ameaçar a vitória de ambos.

Primeiro, der­rotando um para ir para o segundo turno e, depois, der­rotando o que sobrar.

Não estivessem “vendo” tal pos­si­bil­i­dade, o com­por­ta­mento dos dois prin­ci­pais can­didatos seria outro: estim­u­lar o maior número de can­di­dat­uras da chamada “ter­ceira via”, frag­men­tando o máx­imo que pudessem tal votação e apostarem no dis­cur­sos rad­i­cais de sorte a repe­tirem o que ocor­reu há qua­tro anos.

Não deve­mos esque­cer o número recorde de abstenção, votos nulos ou bran­cos que tive­mos naquele pleito.

Nestes poucos dias após a fil­i­ação par­tidária, o ex-​juiz vem mostrando pos­suir a “liga” que pode agluti­nar todos os descon­tentes em torno de uma ter­ceira via.

As primeiras pesquisas ates­tam que já saiu na frente de Ciro Gomes, ex-​candidato à presidên­cia desde sem­pre e um dos quadros téc­ni­cos mais prepara­dos da República; e muito adi­ante dos demais nomes pos­tos que dev­erão dis­putar como “fig­u­rantes”.

Par­tidos grandes como o União Brasil (ex-​DEM e PSL) e per­son­agens impor­tantes, como o gen­eral aposen­tado San­tos Cruz, já se aprox­i­mam do Podemos e do ex-​juiz que, como can­didato, não ficou devendo muitos aos profis­sion­ais da política.

Do outro lado, emb­ora muito fortes, temos o Lula e o Bol­sonaro.

Os últi­mos acon­tec­i­men­tos rev­e­lam que o Lula e o petismo, depois de tudo, até mesmo de uma tem­po­rada como hós­pedes do estado, não apren­deram nada.

Con­tin­uam “ado­radores” de ditaduras asquerosas ao redor do mundo; defen­sores de pau­tas atrasadas; insul­tando a inteligên­cia do povo brasileiro e inca­pazes de uma autocrítica.

São os mes­mos Lula e PT que se opuseram a eleição no Colé­gio Eleitoral, em 1985, a Con­sti­tu­ição de 1988, a Plano Real; que defend­eram e par­tic­i­param da destru­ição da Venezuela; que extra­di­taram atle­tas persegui­dos para Cuba e que acham que eleições na Nicarágua com todo tipo de repressão é com­parável ao processo eleitoral da Ale­manha.

Por mais que ten­tem con­ser­tar a fala do Lula, a ver­dade é que ele acha que se Ângela Merkel pôde ficar no poder 16 anos, o seu amigo Daniel Ortega tam­bém pode, inde­pen­dente do faça para isso, inclu­sive, pren­der toda a oposição. Não foi assim na defesa do chav­ismo quando engen­dravam a destru­ição da Venezuela?

E sobre a cor­rupção nos gov­er­nos petis­tas? Insul­tam o povo com o dis­curso que nunca ocor­reu, tudo foi “perseguição do Moro”.

Fin­gem esque­cer que desde que chegaram ao poder, em 2003, se asso­cia­ram as maiores quadrilhas espe­cial­izadas em aliviar os cofres públi­cos; que o “men­salão” e depois o “petrolão” san­graram o país em bil­hões e bil­hões de dólares – pois cor­rupção que vale a pena tem que ser em dólar –, e que o Lula só está solto por conta de “inex­plicáveis” artifí­cios jurídi­cos e não por ser inocente.

Outro dia li que fal­tavam U$ 14 bil­hões de dólares para “fechar” a conta da inocên­cia do Lula. Este é o mon­tado recur­sos recu­per­a­dos ou a recu­perar antes que o “acórdão envol­vendo todo mundo” acabasse com a “Lava a Jato”.

Acred­ito que está conta diga respeito “ape­nas” aos que foram e estavam sendo recu­per­a­dos pela Oper­ação Lava Jato de Curitiba.

E o Bol­sonaro? O Bol­sonaro é ape­nas um pân­dego que nunca gov­ernou, nunca teve aptidão para gov­ernar e que nunca gov­ernará; o que diz durante o dia – nestes quase três anos de “des­gov­erno” –, foi des­men­tido no começo da noite, no máx­imo, no dia seguinte.

Com­pul­sivo pela men­tira e despreparado a não mais poder, fez disso uma estraté­gia para se man­ter no poder ainda iludindo uma massa de incau­tos, quando, na ver­dade, o gov­erno é exer­cido pelo “cen­trão”.

Sim, o mesmo cen­trão que foi :sócio majoritário” das ban­dal­has do petismo.

O mantra do incauto Bol­sonaro é dizer que é mel­hor ser do “cen­trão” do que do “esquerdão”, dis­curso tosco para a massa ignara.

Sem falar nas out­ras maze­las, como crise cam­bial, crise ambi­en­tal, crise san­itária, desmonte do serviço público, “rachad­in­has”, “micheques”, cartão cor­po­ra­tivo e ter­mos virado cha­cota no cenário inter­na­cional, mas, ape­nas, na prin­ci­pal “plataforma” do bol­sonar­ismo: o com­bate à cor­rupção, segundo dizem, o “bol­solão”, que nada mais é do que o velho “men­salão” dos gov­er­nos petis­tas, já con­sumiu, só esse ano, mais de R$ 30 bil­hões de reais.

Isso só através das chamadas “emen­das de rela­tor”, que Bol­sonaro pode­ria ter vetado e não fez, já levaram, “na cara dura”, dos cofres da viúva.

E vejam que coisa inter­es­sante: nos tem­pos da “nova política” do bol­sonar­ismo não querem nem que a pat­uleia saiba quem se locu­ple­tou do din­heiro público, “transparên­cia só daqui pra frente”.

Será que esse povo não “cora” de con­strang­i­mento ao defend­erem tais absur­dos? Quer dizer que as excelên­cias “levam” trinta bi do orça­mento da União e os idio­tas pagadores de impos­tos não têm nem o dire­ito de saber. É isso mesmo? Essa é a nova política?

Neste cenário de “Mad Max”, em que o povo brasileiro se depara com a pos­si­bil­i­dade de retorno ao desas­tre petista ou con­tin­uar com o gov­erno do cen­trão tendo à frente um pres­i­dente que “não diz coisa com coisa”, não é fora de propósito o aparec­i­mento de uma “ter­ceira via” capaz de se opor a ambos.

É assim que vejo essa ráp­ida ascen­são de Moro na ter­ceira via, sem con­tar que é muito engraçado assi­s­tir os lulopetis­tas e os bol­sonar­is­tas “unidos” con­tra alguma coisa.

Abdon Mar­inho é advogado.