AbdonMarinho - O XADREZ DA POLÍTICA.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sexta-​feira, 22 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

O XADREZ DA POLÍTICA.


O XADREZ DA POLÍTICA.

Por Abdon Marinho.

QUEM gravita em torno da política – políti­cos, jor­nal­is­tas, advo­ga­dos, etcetera –, sabe que alguns temas são incon­tornáveis, pois deles depen­dem os movi­men­tos de diver­sas out­ras peças é o que se chama xadrez político.

Na sem­ana pas­sada tive­mos dois fatos que podemos enquadrar em tal cat­e­go­ria: no cenário (ou tab­uleiro) local, a definição de quem será o can­didato do sen­hor Dino, gov­er­nador do estado; no cenário nacional, a fil­i­ação par­tidária do sen­hor Bol­sonaro.

Estes dois acon­tec­i­men­tos são incon­tornáveis para as eleições, tanto para a eleição nacional, de pres­i­dente da República quanto para as eleições locais, de gov­er­nador de estado, incriv­el­mente, como em um xadrez. essas “mex­i­das” de pedras estão rela­cionadas entre si.

Um ter­ceiro tema, mais de menor enver­gadura, foi a con­clusão das prévias do PSDB (ufa!) que escol­heu como can­didato da agremi­ação política à presidên­cia, o gov­er­nador de São Paulo, João Dória. Mas esse, como dito, um tema menor, que, con­forme avance a cam­panha, pode até se tornar irrel­e­vante.

Usando metá­foras dos cos­tumes, muito afeitas ao pres­i­dente da República, depois de dois anos “sendeiro” o sen­hor Bol­sonaro “casou-​se” no último dia 30 de novem­bro com um grande amor do pas­sado, o Par­tido Lib­eral — PL.

Dono de um coração volúvel, já tendo pas­sado por diver­sos out­ros “casa­men­tos” – nove ou dez –, sem nunca se “ape­gar” a nen­hum dos par­tidos por onde pas­sou, casou com o PL “de papel pas­sado e tudo mais” no régime de comunhão total de bens – neste caso, os bens de nen­hum dos dois, mais, sim, os bens de todo o povo brasileiro.

Com isso, os que temiam a pre­sença de um ex-​presidiário no Palá­cio do Planalto, o pesadelo acon­te­ceu bem mais cedo que o esper­ado.

O ex-​presidiário por cor­rupção no esquema do “men­salão do PT”, Walde­mar da Costa Neto, pres­i­dente do PL, que já vinha “despachando” numa das salas próx­i­mas a do pres­i­dente, poderá, pelo casa­mento em “comunhão total de bens” pas­sar a despachar da sala prin­ci­pal daquele palá­cio.

Para quem, até bem pouco tempo, “despachava” da Papuda, pas­sar a despachar dire­ta­mente da presidên­cia da República é um feito extra­ordinário. Um luxo, diria um amigo.

Emb­ora, a essa altura do campe­onato, os pre­tendentes já fos­sem escas­sos, o pres­i­dente pode­ria ter se “casado” com alguém com um pas­sado mais recatado, mas, provando que o “amor” só enx­erga as mel­hores qual­i­dades, optou jus­ta­mente pelo PL , com um longo pas­sado nos esque­mas de cor­rupção do Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT e com um coraçãoz­inho tão volúvel quanto o do próprio pres­i­dente, a ponto de “trair” sem nem mudar de roupa. Algo só com­parável ao outro sócio de poder igual­mente “enro­lado” com os esque­mas petis­tas, o Par­tido Pro­gres­sita — PP, que emb­ora “man­dando e des­man­dando” no atual gov­erno já “flerta” com “seu” grande amor do pas­sado, o PT.

Muito emb­ora o jogo da política seja o mais dinâmico, fico imag­i­nando como tem sido para os devota­dos bol­sonar­is­tas se con­vencerem – e jus­ti­fi­carem –, o fato do gov­erno que pen­savam surgido para acabar com a “velha política” e a cor­rupção ser hoje coman­dado pelos prin­ci­pais par­tidos do “cen­trão”, mas não só isso, os sócios majoritários do petismo nos escân­da­los do men­salão, do petrolão e tan­tos out­ros que ainda nem tive­mos tempo para desco­brir.

Talvez jus­ti­fiquem repetindo o “mantra” tosco do seu guia: “mel­hor o cen­trão que o esquerdão”.

Em todo caso, não será tarefa fácil.

No próprio casa­mento de Bol­sonaro com Waldemar/​PL um dos fil­hos do “noivo”, Flávio Bol­sonaro, deitou falação con­tra um ex-​presidiário, no caso, o Lula, do PT, esquecendo-​se que estava ao lado de um outro ex-​presidiário, Waldemar/​PL, “noivo” do pai, e ex-​parceiro do outro ex-​presidiário em esque­mas diver­sos.

O senador filho do “noivo” não ape­nas “falava do boi em cima do couro”, falava do boi em cima do boi.

Deixando as metá­foras e pil­hérias de lado, a fil­i­ação do pres­i­dente ao PL traz con­se­quên­cias políti­cas inter­es­santes, a começar pelo próprio dis­curso do pres­i­dente que não poderá se pau­tar mais no com­bate à “velha política” ou à cor­rupção.

Vai falar de velha política “casado” com o PL, tendo como padrinho o cen­trão? Essa turma está no poder desde que Cabral chegou por aqui.

Vai falar de com­bate à cor­rupção com o gov­erno coman­dado e repleto de impli­ca­dos nos esque­mas de cor­rupção dos gov­er­nos ante­ri­ores? Não é algo fácil de se fazer.

Sobrará a pauta econômica.

Mas o que dizer da desval­oriza­ção cav­alar do real em relação ao dólar ou da inflação pas­sando dos dois dígi­tos, do empo­brec­i­mento das famílias, dos mil­hões de desem­pre­ga­dos e das famílias tendo que se ali­men­tar de lixo?

São desafios quase intransponíveis.

Noutra quadra, a fil­i­ação do pres­i­dente ao PL acaba por alterar diver­sas com­posições nos esta­dos.

Difer­ente do que que ocor­reu nas eleições de 2018, quando viu muitas cha­pas ou cam­pan­has “mis­tas”, o nível de aço­da­mento desta eleição não vai per­mi­tir isso.

Não con­sigo mais imag­i­nar o PL de Bol­sonaro e Josi­mar no palanque com Flávio Dino, do PSB, ou o PT de Lula.

E aqui começa o outro assunto intransponível da sem­ana: a decisão do atual gov­er­nador Flávio Dino em relação a sua sucessão.

Para a sur­presa de ninguém – pelo menos das pes­soas que con­vivem com a política e não é dada as paixões desme­di­das –, o sen­hor Dino anun­ciou que o “seu” can­didato a sucessão será o atual vice-​governador, Car­los Brandão.

Um dia antes da fumac­inha sair pela inex­is­tente cham­iné do Palá­cio dos Leões, um amigo me ligou com uma inda­gação per­ti­nente: — Abdon, o que é mesmo que Flávio tem a decidir? Ora, já se sabe que Josi­mar estará na oposição, nem par­ticipou da primeira reunião da chamada “base” de apoio ao gov­erno; o senador Wev­er­ton já disse que o foguete dele não tem ré; os out­ros dois can­didatos, Felipe Camarão e Sim­p­li­cio Araújo, não dese­jam e não tem base política sufi­ciente para “peitar” o gov­er­nador e aquele que será gov­er­nador a par­tir de abril; só lhe resta Brandão.

Tro­camos impressões por mais alguns min­u­tos sobre o tab­uleiro político.

No dia seguinte, em viagem para o inte­rior, fui alcançado mais de uma vez com a per­gunta: — já saiu a fumac­inha dos Leões?

A menos que fizesse como Roseana Sar­ney, em 2014, ou Luiz Rocha, em 1986, e decidisse ficar no gov­erno até o fim – abrindo mão de uma can­di­datura ao Senado da República –, para “tocar” com mão de ferro a própria sucessão, a opção por Brandão era a mais óbvia. Querendo ou não, será ele o gov­er­nador a par­tir de abril e já vem fazendo as vezes de gov­er­nador em quase todas as pau­tas públi­cas.

Não acred­ito que Flávio Dino tivesse “cor­agem” para pro­por que ape­nas cumprisse o restante do mandato para apoiar outro do grupo ou que ele (Brandão) aceitasse tal mis­são, como teria feito Luiz Rocha, suposta­mente, a pedido de Sar­ney, nas eleições de 1986.

E, iria fazer isso em bene­fí­cio de quem? Do senador Wev­er­ton Rocha, jus­ta­mente o que Flávio Dino menos con­fia e tem nele seu prin­ci­pal adver­sário político no estado? Aliás, sobre o senador pede­tista, um amigo que o con­hece bem mel­hor que eu soltou uma frase enig­mática, disse-​me: — Abdon, é alguém que não serve para amigo e muito menos para inimigo.

Como não o con­heço pes­soal­mente, não posso opinar sobre isso.

Mas voltando ao nosso assunto ou tab­uleiro, difer­ente do muitos dis­seram, acred­ito que o gov­er­nador, den­tro das condições que pos­suía, moveu as pedras cor­re­ta­mente: já disse quem era o seu can­didato e por quem vai tra­bal­har; e, deu um prazo – até janeiro –, para os par­tidos políti­cos da “base” se “acertarem” com o can­didato.

O gov­er­nador con­hece a máquina estad­ual, sabe que muitos inter­esses podem ser aco­moda­dos.

Foi um movi­mento acer­tado, esse tempo é sufi­ciente para que os out­ros políti­cos e até mesmo o cenário nacional exerça sua influên­cia na política local.

Não deve­mos perder de vista que com as alter­ações na leg­is­lação eleitoral, o prazo de domicílio eleitoral e fil­i­ação par­tidária pas­sou a ser de ape­nas 06 (seis) meses, sig­nif­i­cando que muitas coisas poderão acon­te­cer até lá.

Sobre uma aliança entre o senador Wev­er­ton Rocha, do PDT e Josi­mar de Maran­hãoz­inho, do PL, agora com Bol­sonaro, emb­ora possa até haver inter­esse de ambos, diante cenário nacional, acho difí­cil “vin­gar”.

Como disse acima, a política é incriv­el­mente dinâmica, vamos aguardar as próx­i­mas jogadas.

Abdon Mar­inho é advo­gado.