AbdonMarinho - RSS

4934 Irv­ing Place
Pond, MO 63040

+1 (555) 456 3890
info@​company.​com

Uma par­tida em Mel­bourne. Um happy hour em Londres.

Escrito por Abdon Mar­inho


Uma par­tida em Mel­bourne. Um happy hour em Londres.

Por Abdon Mar­inho.

NESTE dia 30 de janeiro de 2022 chegou ao fim o Aberto da Aus­trália, que desde 1972 ocorre na cidade de Mel­bourne, primeiro torneio de tênis da tem­po­rada, com a final sendo dis­putada entre os tenistas Rafael Nadal (espan­hol) e Daniil Medvedev (russo). Com vitória do primeiro, que após cinco horas de uma par­tida des­gas­tante, con­quis­tou seu 21º Slam.

Emb­ora torneio pos­sua suas sur­pre­sas e nunca se possa prevê quem chegará à final, o grande ausente deste primeiro torneio – e talvez dos demais que ocor­rerão este ano –, foi o número um do mundo neste esporte, o sérvio Novak Djokovic, depor­tado da Aus­trália por não ter cumprido as exigên­cias esta­b­ele­ci­das pelo país com relação a vaci­nação con­tra a COVID-​19 – recaem, ainda sobre o tenista sus­peitas de que tenha prat­i­cado out­ras irreg­u­lar­i­dades na ten­ta­tiva de par­tic­i­par do torneio sem cumprir as exigên­cias impostas a todos.

O primeiro-​ministro do Reino Unido, Boris John­son (Alexan­der Boris de Pfef­fel John­son) não dev­erá manter-​se no comando do gov­erno por muito tempo. Se não renun­ciar ou for “renun­ci­ado” pelo comando do Par­tido Con­ser­vador, que lid­era desde 2019, é quase certo que colo­cará o próprio par­tido na “berlinda” nas próx­i­mas eleições.

Pesquisas recentes rev­e­lam que cerca de setenta por cento dos eleitores estão insat­is­feitos com a sua lid­er­ança, uma grande parte deles frustra­dos e irri­ta­dos por saberem que durante o lock­down que seu gov­erno impôs a toda a pop­u­lação, da rainha aos súdi­tos, ele e a cúpula do gov­erno se esbal­davam em fes­tin­has, con­frat­er­niza­ções e happy hours, em Down­ing Street, 10, a residên­cia ofi­cial e sede do gov­erno.

As duas situ­ações, emb­ora pareçam bem dis­tin­tas – um torneio de tênis, na Aus­trália e a pressão política pela renún­cia de um primeiro-​ministro, no Reino Unido –, elas têm muito mais em comum do que se imag­ina. E ambas rev­e­lam que algu­mas pes­soas pelo sta­tus e/​ou poder que con­quis­taram se acham supe­ri­ores ou mere­ce­do­ras de um trata­mento dis­tinto ao dis­pen­sado as demais pes­soas.

Imag­ino que o sen­hor Djokovic tenha pen­sado: — eu sou o número um do mundo no tênis, eles que pre­cisam da minha pre­sença. Vou lá, invento uma des­culpa qual­quer e par­ticipo do torneio sem cumprir as regras impostas a todos os demais par­tic­i­pantes da com­petição.

Já o sen­hor John­son e o seu gov­erno fiz­eram até pior.

Impuseram um rig­oroso lock­down aos cidadãos do Reino Unido – é clás­sica e tocante a imagem da rainha soz­inha, sem um filho, neto ou mesmo uma com­pan­hia que a ampara­sse durante o funeral do seu com­pan­heiro de mais de setenta anos –, impedindo encon­tros de até duas pes­soas, todo tipo de reunião e até mesmo que famil­iares se des­pedis­sem de seus entes queri­dos mor­tos pela pan­demia ou out­ras causas, enquanto eles tornaram-​se useiros e vezeiros de fes­tin­has pri­vadas com dezenas, talvez cen­te­nas de pes­soas, nos jardins da sede do gov­erno.

Nunca se fez valer com tanta pré­cisão o bor­dão: faça o que mando, não faça o que faço.

Por estas par­a­gens, nos gru­pos de aplica­tivos e/​ou nas redes soci­ais, vi diver­sas pes­soas, até mesmo algu­mas suposta­mente esclare­ci­das, fazendo a defesa do tenista profis­sional argu­men­tando que o mesmo seria saudável, muito mais do que os vaci­na­dos e que não faria sen­tido deixá-​lo de fora do torneio.

Mesmo em gru­pos de aplica­tivos com­posto por advo­ga­dos tenho assis­tido a exal­tadas defe­sas do dire­ito a não vaci­nação e con­trários à exigên­cia de pas­s­aporte vaci­nal para o acesso aos órgãos públi­cos.

Emb­ora tenha por princí­pio o respeito às opiniões diver­gentes, con­forme já assen­tei em tex­tos ante­ri­ores, essa tão propa­gada “liber­dade indi­vid­ual” – a não ser que você habite um lugar com­ple­ta­mente ermo e não dependa de ninguém para viver –, não é (e nunca foi) abso­luta. Desde que o homem enten­deu ser mais van­ta­joso viver em sociedade do que soz­inho e criou as bases para orga­ni­za­ção do Estado que ele abdi­cou de parte de sua “liber­dade indi­vid­ual” – se é que teve algum dia.

Isso sig­nifica que somos livres den­tro dos lim­ites da lei “ninguém será obri­gado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em vir­tude de lei”, Art. 5º, II, da Con­sti­tu­ição Fed­eral. Só que mesmo essa garan­tia, que para todos parece tão cristalina, encontra-​se lim­i­tada pelo inter­esse cole­tivo.

Aquele Estado que nos primór­dios da civ­i­liza­ção você “con­cor­dou” em par­tic­i­par pode lhe impor diver­sas restrições, como esta, de só ter acesso a deter­mi­na­dos locais se com­pro­var ter aten­dido alguma exigên­cia imposta a todos.

Observo, inclu­sive, que por conta desta pan­demia tem país aprovando a vaci­nação com­pul­sória de seus cidadãos, ou seja, obrigá-​los a vacinar-​se ainda que não queiram.

Não con­heço a leg­is­lação aprovada, por­tanto não sei quais as repri­men­das impostas aos que se recusarem a vacinar-​se mas vemos que é algo muito mais “duro” que exigir-​se o “pas­s­aporte vaci­nal” para o acesso a algum local ou órgão público.

A per­gunta que caberia fazer seria se tais imposições e até mesmo leg­is­lação impondo vaci­nação com­pul­sória estariam acober­ta­dos pelo manto do “con­trato social” de que já trata­mos, con­forme esta­b­ele­cido nos ensi­na­men­tos do Hobbes, Locke e Rousseau.

Em tese, sim. A leg­is­lação impos­i­tiva foi elab­o­rada pelos rep­re­sen­tantes do povo, apli­cada por um gov­erno legí­timo, calçada no inter­esse cole­tivo e amparado por estu­dos cien­tí­fi­cos do mundo todo.

É impor­tante assen­tar que a liber­dade indi­vid­ual antes de ser uma con­strução legal é uma con­strução filosó­fica. É dizer, a liber­dade indi­vid­ual não exi­s­tiria sem um con­junto de regras a serem respeitadas por todos para lhe garan­tir a existên­cia.

A liber­dade é indi­vid­ual mas quem garante que ela exista é o cole­tivo, a sociedade como um todo e a orga­ni­za­ção política, fun­dada orig­i­nal­mente no “con­trato social”.

É isso que garante nossa liber­dade, a nossa pro­priedade e que alguém mais forte não nos prive dos nos­sos bens.

Tudo isso dito de outra forma, é o seguinte, emb­ora pareça para­doxal, a liber­dade indi­vid­ual não per­tence ao “indi­ví­duo”, antes, é um patrimônio da cole­tivi­dade.

Quando o gov­erno aus­traliano deter­mi­nou a expul­são do tenista sérvio, não se esper­ava outra coisa dele (gov­erno).

Na ver­dade, pela insistên­cia do atleta, o que se viu foi uma falsa polêmica.

Ora, de todos os países do mundo, a Aus­trália foi um dos que mais impôs restrições aos seus cidadãos e habi­tantes, talvez por isso o número de vidas per­di­das não tenha chegado, até aqui, a qua­tro mil mortes, não faria qual­quer sen­tido abrir con­cessões a um estrangeiro (ou a qual­quer um) que por von­tade própria, e até fazendo apolo­gia disso, recusou-​se a cumprir restrições impostas a todos – ainda que seja um atleta “número um” na sua modal­i­dade.

O gov­erno perde­ria sua autori­dade e, pior, a sua legit­im­i­dade. Have­ria uma clara vio­lação ao “pacto social” fir­mado com os cidadãos.

Essa, aliás, é a mesma moti­vação que deve levar a queda do sen­hor John­son do comando do gov­erno do Reino Unido.

Ao se esbal­dar em “fes­tin­has” enquanto impunha aos cidadãos rig­orosas restrições, o gov­erno de John­son vio­lou o dever de leal­dade que deve exi­s­tir entre gov­er­nantes e gov­er­na­dos.

A insistên­cia dele em con­tin­uar no gov­erno mesmo depois de fla­grado em tal vio­lação de dever é ape­nas mais uma prova de que é menor que o cargo que ocupa.

Gov­er­nantes, cele­bri­dades, cidadãos, pre­cisam con­hecer os mecan­is­mos de fun­ciona­mento da sociedade e evitarem apolo­gias de bobagens.

É o que acho.

Abdon Mar­inho é advogado.

Bol­sonaro é a estraté­gia do cerol.

Escrito por Abdon Mar­inho


BOLSONARO E A ESTRATÉ­GIA DO CEROL.

Por Abdon Mar­inho.

MENINO É O CÃO. Ou: — menino é o retrato do cão.

Na minha aldeia, lá nos tem­pos de eu menino, incon­táveis foram as vezes que ouvi tais expressões. Eram out­ros tem­pos, com a meni­nada, desde a mais tenra idade cri­ada “solta”, pas­sando os dias na rua, só indo em casa para comer e/​ou para dormir. Muitas das vezes se pas­savam os dias fora de casa só retor­nando no fim do dia, sem que ninguém guardasse qual­quer pre­ocu­pação. Imaginava-​se, com razão, que os meni­nos estivessem nos açudes, igara­pés ou no mato, “pas­sar­in­hando”.

Se não apare­cia para o almoço, era porque com­era na casa de algum par­ente, viz­inho ou se ali­men­tara de fru­tas (man­gas, bananas, ananás ou qual­quer outra que fosse de época); se chegava a noti­cia de algum “malfeito”, o cinto já estava à espre­ita.

Começava-​se a estu­dar mais tarde, lá pelos seis ou sete anos e até mais. Findo o horário de escola ou nas férias, gan­há­va­mos o mundo.

Os mais vel­hos quando que­riam “se livrar” dos menores, mandava-​os procu­rar nin­hos de “avião”. E íamos.

Éramos cri­anças “raiz”, bem dis­tin­tas das cri­anças da atu­al­i­dade que tudo “melin­dra” ou que a qual­quer con­trariedade entram em choque ou cor­rem para “debaixo” da saia da mãe – e são extrema­mente depen­dentes.

Quando apare­cia um guri bem mais trav­esso dizia-​se: — Fulano é tão ruim, tão mau, tão mal­vadão que passa “cerol” na b … para cor­tar o p … dos colegas.

Para reg­istro, esta expressão é para ser inter­pre­tada no sen­tido figurado.

Aos desav­isa­dos, o cerol é uma mis­tura de vidro moído e cola, usada em linha de pipa, a fim de cor­tar a linha de outra pipa quando ambas estão voando.

Outro pas­satempo da infân­cia bem vivida.

Enquanto, na “boca da noite”, ouvia um antigo CD de Maysa e pen­sava no quadro político brasileiro voltado para as eleições pres­i­den­ci­ais que ocor­rerão este ano, socorreu-​me que a única estraté­gia para o atual pres­i­dente da República impedir a vitória do ex-​presidente Luiz Iná­cio Lula da Silva será recor­rer à “tática do cerol”, claro, tam­bém, em sen­tido fig­u­rado.

Das análises que faço, “a preço de hoje”, con­cluo que o bol­sonar­ismo tornou-​se o prin­ci­pal com­bustível para o petismo.

É dizer: quanto mais visível que o ex-​presidente Lula irá dis­putar o pleito con­tra o atual pres­i­dente, mas ele se for­t­alece e cristal­iza em ele­vado per­centual, com do outro, mais cinquenta por cento de eleitores que não dese­jam con­tin­uar com o atual gov­erno “de jeito nen­hum”.

A cada despautério pro­ferido pelo pres­i­dente – e são muitos e são con­stantes –, aumenta o número dos que não votam nele “de jeito nen­hum”.

Noutras palavras, o “teto” do bol­sonar­ismo não é sufi­ciente para vencer o lulismo. Numa ale­go­ria infanto-​juvenil vejo Bol­sonaro como um pir­ralho que mal con­segue chutar as per­nas de um gigante.

A polar­iza­ção de que tanto se fala é uma miragem.

Não que o pres­i­dente não pos­sua um público fiel capaz de levá-​lo a um segundo turno das eleições – e por isso mesmo ele insiste em mantê-​lo fiel –, entre­tanto, pela avas­sal­adora rejeição que pos­sui é o adver­sário per­feito para o lulismo.

Não é razoável imag­i­nar que Bol­sonaro osten­tando uma rejeição que ultra­passa cinquenta por cento, fazendo e falando tudo que assis­ti­mos con­siga reverter o quadro político. Talvez se o Lula começar a chutar grávi­das nas praças.

Na ver­dade o Bol­sonaro serve ao propósito de ser o fiel escud­eiro de Lula, um San­cho Pança desajeitado e pitoresco, impedindo que out­ras can­di­dat­uras, com “estatura” para dis­putar de igual para igual com o ex-​presidente apareçam no cenário político.

Quanto mais ele rad­i­cal­iza no estoque inter­minável de desati­nos, mais ele man­tém unida sua base sec­tária e aumenta o número de eleitores do Lula – ainda que o odeiem –, pois pas­sam a vê-​lo como o anti Bol­sonaro.

Qual­quer um que con­heça os humores dos eleitores sabem que o Bol­sonaro não venceu as eleições pres­i­den­ci­ais por conta do seu apelo eleitoral – já nas eleições todos viam que não era capaz de artic­u­lar uma frase sim­ples com algum sen­tido –, a vitória se deveu ao ódio que uma parcela sig­ni­fica­tiva dos eleitores devotavam ao petismo, que gov­ernara o país por treze anos.

As eleições de 2018 foram as eleições do ódio, assim como as eleições deste ano serão igual­mente do ódio, se não sur­gir algum fato que altere este cenário.

São estes mes­mos eleitores “com ódio” que deram a vitória a Bol­sonaro que à mín­gua do surg­i­mento de uma can­di­datura que ultra­passe as intenções de votos do atual pres­i­dente, migrarão dire­ta­mente para a can­di­datura do ex-​presidente Lula.

Arrisco dizer que a única chance de Bol­sonaro vencer o Lula é não dis­putando as eleições con­tra ele.

Daí que surge a neces­si­dade do atual pres­i­dente uti­lizar a “estraté­gia ou tática do cerol” que con­si­s­tiria em sair da dis­puta para que um outro nome, de prefer­ên­cia que não esteja vin­cu­lado a ele e ao que rep­re­senta, para dis­putar com o ex-​presidente Lula, que ensaia e tra­balha incansavel­mente para dis­putar con­tra Bol­sonaro.

Ninguém vê os lulopetis­tas falarem ou cog­itarem das auguras pelas quais pas­sarão o sen­hor Bol­sonaro quando deixar a faixa de pres­i­dente e descer a rampa do Palá­cio do Planalto pela última vez.

Não divul­gam, por exem­plo, que os proces­sos que hoje responde e os que pas­sará a respon­der descerão junto com ele para a primeira instân­cia e que ele será sub­metido aos humores de pro­mo­tores e juízes de car­reira e que nada lhes devem.

Ninguém nem os vê, na ver­dade, fusti­gando como fariam noutros tem­pos con­tra o atual pres­i­dente.

A razão é a que disse acima: o mel­hor cabo eleitoral de Lula é o Bol­sonaro.

De outro modo, vimos ensa­iarem e desi­s­tirem – jun­ta­mente com o cen­trão, sim já estão jun­tos –, de uma “CPI vin­gança” con­tra o ex-​juiz Sér­gio Moro.

A razão da desistên­cia me pare­cem clara: chegaram à con­clusão que a “perseguição” fora de hora pode­ria des­per­tar o sen­ti­mento anti-​petismo e fazer com que Moro ultra­pas­sasse o adver­sário favorito: Bol­sonaro.

Se vencerem virão com “força total” con­tra e ex-​juiz e mais força ainda con­tra o futuro ex-​presidente Bol­sonaro.

Não é fora de propósito, por­tanto, que Bol­sonaro renun­cie ao cargo para dis­putar um mandato de senador ou de dep­utado com o obje­tivo de con­tin­uar usufruindo da pro­teção e do foro priv­i­le­giado que um mandato par­la­men­tar ofer­ece.

Ele próprio, mais de uma vez, já rev­elou o justo receio de vir a ser preso ao deixar o poder.

Se pos­suir uma oculta e insus­peita inteligên­cia que até agora não deu con­hec­i­mento à pop­u­lação brasileira, pode­ria ten­tar – e não duvido que viesse a con­seguir –, uma anis­tia nego­ci­ada pelo gov­erno do pres­i­dente Mourão junto ao Con­gresso Nacional.

E, com um man­dado par­la­men­tar nas mãos teria muito mais tran­quil­i­dade para fazer o que tem feito ao longo dos anos com inques­tionável com­petên­cia: cul­tuar o ócio.

Bem difer­ente será a vida pós presidên­cia, sem mandato, sem tri­buna, com o capim nascendo na porta, com infini­tas “bron­cas” a resolver e con­tando com uma “célere” má-​vontade do Poder Judi­ciário e do Min­istério Público.

É quase certo que os seus piores pesade­los serão con­cretiza­dos.

Pode até ser que eu esteja com­ple­ta­mente errado, mas, se fosse o Bol­sonaro, por via das dúvi­das, prepararia um cerol bem grosso.

Pois como dizia famoso político maran­hense: quem viver verá.

Abdon Mar­inho é advogado.

Eles” con­tin­uam os mesmos.

Escrito por Abdon Mar­inho

ELESCON­TIN­UAM OS MES­MOS.

Por Abdon Marinho.

O ASSUNTO incon­tornável – pelo menos para a política local –, foi a declar­ação do ex-​presidente Luiz Iná­cio Lula da Silva, que em entre­vista para os adu­ladores de sem­pre para as redes soci­ais declarou “de raspão” sobre o quadro político no Maran­hão “Nós defend­emos a can­di­datura do Flávio Dino. Agora, o com­pan­heiro Flávio Dino tem um can­didato, dele, que é o vice, que é do PSDB. Ele sabe que é difí­cil a gente apoiar o PSDB. Nós temos a can­di­datura do Wev­er­ton, então eles vão ter que se acer­tar lá para facil­i­tar a nossa vida”. (Texto col­hido do Blogue Atual 7).

Após a declar­ação de Lula a classe política local não falou mais de outra coisa, inclu­sive com muitos já apon­tando como sug­estão ao candidato/​vice-​governador uma mudança par­tidária para o PSB, par­tido atual do gov­er­nador, como forma de incluir a sucessão estad­ual no “bal­cão de negó­cios” entre os par­tidos.

A declar­ação do ex-​presidente muito emb­ora seja inusi­tada não chega ser sur­preen­dente.

Não sur­preende porque o Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT, Lula à frente, sem­pre fiz­eram seus cál­cu­los políti­cos pen­sando neles e nos seus inter­esses pes­soais e pro­je­tos de poder, os inter­esses do povo brasileiro (ou maran­hense), podem até con­ver­gir em algum momento, mas esse não é o obje­tivo prin­ci­pal.

Foi assim que o PT preferiu negar o apoio a Tan­credo Neves no Colé­gio Eleitoral, no iní­cio de 1985, para eles pouco impor­tava se o can­didato da ditadura mil­i­tar vencesse e adi­asse o fim do régime; foi assim que se opuseram a Con­sti­tu­ição de 1988; ao Plano Real, e a tan­tas out­ras coisas que fiz­eram o país avançar, pelo sim­ples fato de não terem sido pro­postas por eles.

Logo, não me sur­preende que con­tin­uem olhando para o próprio umbigo em detri­mento dos inter­esses do país.

Para eles, se não exi­s­tir a pos­si­bil­i­dade de vencerem as eleições pres­i­den­ci­ais que se aprox­i­mam, pref­erem que o país con­tinue a ser “des­gov­er­nado” pelo Bol­sonaro e pelo cen­trão.

Imag­inem que sur­gisse uma “ter­ceira via” que estivesse em condições eleitorais bem mel­hores que o can­didato do PT e sem o estigma que rep­re­senta essa divisão do país, alguém apos­taria um cen­tavo na pos­si­bil­i­dade do Lula e do PT desi­s­tirem da sua can­di­datura e apoiar essa ter­ceira via? Os que apos­tassem perde­riam o cen­tavo.

Na ver­dade, eles são os respon­sáveis e o prin­ci­pal “cabo eleitoral” do bol­sonar­ismo.

Entre­tanto, a declar­ação do ex-​presidente me parece inusi­tada, senão vejamos: o Lula quando elegeu-​se em 2002 foi através de uma aliança com o Par­tido Lib­eral — PL, de Walde­mar da Costa Neto, segundo dizem tal nego­ci­ação envolveu alguns mil­hões de motivos; o mesmo PL que abriga o atual pres­i­dente é que estará com o próx­imo, seja ele quem for; o mesmo PL que junto com o PT e os demais par­tidos do cen­trão pro­tag­oni­zaram todos os escân­da­los de cor­rupção que ocor­reram no país nos últi­mos vinte anos e, antes disso, nos gov­er­nos do PSDB.

Quando o ex-​presidente assumiu em 1º de janeiro de 2003, logo após, rece­ber a faixa pres­i­den­cial de Fer­nando Hen­rique Car­doso e fazer o famoso dis­curso con­tra a cor­rupção, com o capitão José Dirceu à frente, foram “nego­ciar” a República com o próprio PL, com Par­tido Pro­gres­sita — PP, de Ciro Nogueira; com o Par­tido Tra­bal­hista Brasileiro — PTB, de Roberto Jef­fer­son, e até mesmo com PMDB, de Sar­ney, Renan, Bar­balho, etc.

Em 2005, quando eclodiu o escân­dalo do men­salão o pacto de poder con­tin­uou o mesmo, ape­nas aumen­tando os nacos de par­tic­i­pação de cada um no “butim repub­li­cano”, voltando os inter­esses para a roubal­heira na Petro­bras, no viria a ser con­hecido como escân­dalo do petrolão.

Na sucessão de Lula, em 2010, o pacto de poder priv­i­le­giou o PMDB, com cessão da vice-​presidência ao então pres­i­dente da agremi­ação, ex-​presidente da Câmara dos Dep­uta­dos Michel Temer, que viria a suceder Dilma Rouss­eff após o impeach­ment em 2016.

Todos estes par­tidos, incluindo o MDB, caso o Lula vença as eleições deste ano, estarão no gov­erno em 2023, o próprio Lula já faz gestões e irá bus­car todos eles para lhe dar sus­ten­tação e con­tin­uarem com as far­ras que pro­moveram nos gov­er­nos petis­tas de 2003 a 2016.

Mas o sen­hor Lula, na sua declar­ação para a política local, diz ser “difí­cil” para eles apoiarem o PSDB. O que teria o PSDB?

Vejam que o ex-​presidente nem se ref­ere o vice-​governador pelo nome – mostrando que a restrição não é ao nome, pode­ria ser o João, a Maria, o Pedro, qual­quer um –, preferindo dizer que é do PSDB e que é difí­cil apoiar alguém do PSDB.

A ninguém da plateia amestrada socorre per­gun­tar qual o ver­dadeiro motivo da difi­cul­dade para quem esteve com todas as leg­en­das já referi­das acima e que estarão jun­tos nova­mente, con­forme os cír­cu­los da política.

Qual a ver­dadeira razão de ser “difí­cil” apoiar alguém do PSDB quando o próprio pres­i­dente de honra deste par­tido, o ex-​presidente Fer­nando Hen­rique Car­doso, já até declarou voto em Lula na even­tu­al­i­dade de, no segundo turno, restarem ele e o atual pres­i­dente?

Ora, que moral teria o Lula – e o PT –, para impor qual­quer restrição ao PSDB depois de terem se “pros­ti­tuí­dos” com todas as leg­en­das do espec­tro político brasileiro, com espe­cial voraci­dade em avançar sobre os cofres públi­cos e da Petro­bras, em particular?

A restrição ao PSDB, cer­ta­mente não é pelo fato deste par­tido pos­suir um can­didato a pres­i­dente pois na mesma sen­tença em que disse ser “difí­cil” apoiar o PSDB, referiu-​se a can­di­datura do senador Wev­er­ton como “nós temos”, esquecendo-​se que o seu par­tido, PDT, tem can­di­datura própria à presidên­cia, Ciro Gomes, até mel­hor posi­cionada que a can­di­datura do PSDB, João Dória, atual gov­er­nador de São Paulo.

Na even­tu­al­i­dade da can­di­datura de Bol­sonaro esfacelar-​se ou dele vir a desi­s­tir – o que não descar­tado, uma vez pre­cis­ará da “pro­teção” de um foro priv­i­le­giado a par­tir de 2023 para escapar da cadeia –, todas as demais can­di­dat­uras con­tra Lula gan­harão um novo fôlego, podendo, inclu­sive, Ciro Gomes, PDT, vir a ser o grande adver­sário do ex-​presidente.

Logo, quando Lula diz, “nós temos” a can­di­datura de Wev­er­ton – e Wev­er­ton “fes­teja” isso dizendo ser “amigo-​raiz” dele –, estaria sug­erindo que o can­didato pede­tista, que é líder do seu par­tido, “traia” a can­di­datura de Ciro Gomes?

Pesando todas as situ­ações políti­cas e con­siderando a hipótese de não ter sexo no meio – em todas as situ­ações da vida que você não con­seguir explicar a par­tir de um raciocínio lógico, pode ter certeza que tem sexo –, soa-​me bem mais inusi­tada a declar­ação do ex-​presidente.

Basta olhar para a história, dos anos oitenta pra cá, que ver­e­mos que poucos políti­cos man­tiveram uma “amizade-​raiz” mais fidedigna com o ex-​presidente do que o atual gov­er­nador Flávio Dino e o grupo mais fiel ao seu entorno. Isso desde a ado­lescên­cia, “com­prando” quase todas as brigas do ex-​presidente e do petismo até os dias atu­ais, quando per­maneceu quase que soz­inho nos embates con­tra o atual pres­i­dente, inclu­sive sac­ri­f­i­cando inter­esses do estado que dirige.

Tudo bem que Fre­itas Diniz*, que viveu quase noventa anos, por mais uma dezena de vezes, me disse ter con­hecido pou­cas pes­soas com um caráter tão duvi­doso quanto o ex-​presidente, mas daí a igno­rar a “amizade-​raiz” do atual gov­er­nador, sobre o qual nunca pairou dúvi­das quanto a inte­grar a “república de Planaltina”, ultra­passa todos os lim­ites.

Matu­tando sobre isso cheguei a pen­sar – atenção!! Não esta­mos impe­di­dos de pen­sar –, que a “inusi­tada” declar­ação de Lula seria parte de um “com­binemos” com o atual gov­er­nador.

O ex-​presidente ale­gria “difi­cul­dades” para apoiar alguém “do PSDB”, colo­caria na mesma fala a can­di­datura do PDT e diria que teriam que “se acertarem”.

Dino, por sua vez, ale­garia as “difi­cul­dades” e até a descon­fi­ança que pos­sui em relação ao can­didato pede­tista.

A solução: todos desi­s­tiriam para o surg­i­mento de um ter­ceiro nome. Neste caso, alguém com histórico de “amizade-​raiz” com o ex-​presidente Lula ou um nome do PT local.

Difí­cil será con­vencer Brandão a desi­s­tir da reeleição ou o senador pede­tista a colo­car marcha-​ré na can­di­datura.

Caso colo­quem difi­cul­dades no arranjo, Flávio Dino dará outra prova de “amizade-​raiz” e ficará no cargo para con­duzir o processo.

Em tal per­spec­tiva Brandão seria o nome para o Senado; Már­cio Jerry ou Felipe Camarão para o gov­erno.

Tudo pela paz e pelo sucesso de um “futuro” gov­erno petista.

Como diria aquele craque do fute­bol brasileiro, só falta com­bi­nar com os rus­sos.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

*Domin­gos Fre­itas Diniz Neto 19332021), engen­heiro civil, ex-​deputado fed­eral, um dos fun­dadores do Par­tido dos Tra­bal­hadores PT.