OS CARRÕES CRESCERAM.
Há quase dez anos (os fatos ocorreram em dezembro de 2005) o saudoso jornalista Walter Rodrigues nos narrava o caso do atropelamento e morte das senhoras Mareni Reis e sua filha Larissa Reis, quando saíam do trabalho com destino a suas casas na noite do dia 2 de dezembro de 2005, na avenida dos Holandeses.
As vítimas, que eram domésticas, foram atropeladas, segundo disseram diversas testemunhas, durante um «racha» que era cometido por dois filhinhos de papai, com seus carrões luxuosos importados.
Narrava, o jornalista, a verdadeira operação abafa que fora montada para que o caso não tivesse o destaque merecido e acabasse esquecido – como aliás foi – pela mídia e pelas autoridades.
Como um dos autores do delito era menor, entenderam que a autoridade policial que deveria apurar o caso seria a responsável pelos atos infracionais cometidos por crianças e adolescentes. Posteriormente, divulgou-se, que o Ministério Público Estadual interviera para impedir a divulgação do caso, supostamente, para não expor o menor envolvido e identificado.
Assim, nunca soube, com certeza, a identidade do segundo envolvido no «pega» que ceifou a vida de duas trabalhadoras.
Na época, ainda segundo testemunhos, o segundo envolvido seria o empresário Marcos Regadas Filho, que apresentou seu álibi, testemunhas e uma declaração do CEUMA dando conta que estivera naquela instituição fazendo uma prova com horário agendado entre as 19 e às 20:40 horas. É do texto de WR: Segundo o delegado José Fracinetti Couto, da Delegacia de Acidentes de Trânsito (DAT), o sinistro foi “mais ou menos às 20h30”.
Em entrevista ao mesmo jornalista, o empresário declarou que seria o maior interessado na apuração e esclarecimento de todos os fatos, uma vez que nada tinha com a morte das duas vítimas.
Deixou de explicar foi o curioso interesse da elite social, inclusive alguns ligados a ele através de parentesco por afinidade, ter movido céu e terra para que o fato não fosse divulgado. Pesquisas na internet revelam a quase total ausência de informações sobre o acontecido, acho que só o próprio WR e mais um ou outro.
A cortina de silêncio, o cordão de isolamento erguido em torno do episódio, nunca permitiu que se soubesse o que de fato ocorrera, quem seria o outro responsável, se conseguira identificar e punir todos os envolvidos.
A imprensa, que no calor dos acontecimentos, já ignorava ou fora «convencida» a ignorar o episódio, com o passar do tempo, esqueceu-o por completo. Nunca retornaram ao caso, nem para afirmar que o empresário, conforme o mesmo afirmara, era completamente inocente das acusações lançadas por detratores maldosos.
Este caso me veio à mente ao ver um piloto de helicóptero fazendo manobras que, a primeira vista, seriam ilegais e causavam risco à segurança de banhistas e aos barcos que transitavam pelo Rio Preguiças, em Barreirinhas, no final de semana prolongado pelo feriado da pátria.
Diante da repercussão inicial nas redes sociais e em alguns blogues, o empresário Marcos Regadas Filho (concidência?), veio a público declarar, que diferente do noticiado, não estava colocando em risco a vida de ninguém – muito pelo contrário –, estava numa manobra de salvamento vez que avistara um cidadão que imaginara está se afogando.
A fala do Olímpo parece ter sido suficiente para fazer calar os veículos de comunicação – que diariamente se ocupam em divulgar até briga de vizinhos –, subitamente, se deram por satisfeitos com as explicações e sequer se manifestaram cobrando uma investigação das autoridades aeronáuticas ou da marinha para esclarecer de forma cabal o episódio e as responsabilidades dos envolvidos.
Investigação seria/é necessária até mesmo para inocentar e reconhecer o mérito do empresário em tentar salvar uma vida. Até mesmo para pôr fim aos boatos de que as manobras foram feitas com intenção criminosa e que foi muito mais que uma. Até mesmo para fazer cessar as notícias de que fatos como estes são useiros e vezeiros nos finais de semana naquele município, para uma elite que se sente intocável pela lei, o que a faz pensar poder fazer tudo que quiser.
A ninguém serve o silêncio das autoridades diante dos abusos que são cometidos dia sim e no outro também. Barreirinhas mesmo, é um exemplo disso. Ainda hoje permanecem inúmeras construções invadindo áreas de preservação permanente à beira do rio. Anunciaram que iriam fazer cumprir a lei, mas ao que parece, também esqueceram.
O Brasil, o Maranhão e mesmo Barreirinhas, não podem continuar como «terra de ninguém», para os que pensam estarem imunes ao alcance da lei e das regras de convivência social.
Nada contra, que nos limites legais, e no recesso dos seus lares ou no espaço de suas vidas privadas, façam o que quiserem, inclusive, exercerem o direito de serem vulgares e deslumbrados. Fora disto, não podem matar, roubar ou colocar em risco a vida das pessoas como forma de compensação aos seus traumas e frustrações.
Já passa da hora de se pôr fim a estes e a tantos outros abusos. Quantas Marenis ou Larissas não perderam a vida nos últimos anos? Quantas mais perderão?
Abdon Marinho é advogado.