AbdonMarinho - RSS

4934 Irv­ing Place
Pond, MO 63040

+1 (555) 456 3890
info@​company.​com

UM SILÊN­CIO CONSTRANGEDOR.

Escrito por Abdon Mar­inho

UM SILÊN­CIO CONSTRANGEDOR.

Logo no ini­cio do ano, se não me falha a memória, em março, o dep­utado fed­eral Hildo Rocha (PMDB/​MA), em pro­nun­ci­a­mento na tri­buna da Câmara dos Dep­uta­dos acu­sou o Tri­bunal Regional Eleitoral do Maran­hão de nego­ciar decisões em proces­sos de cas­sação de políti­cos, tirando o dire­ito de quem tinha para dar a quem não tinha. Assev­er­ava que aquela corte agia como autên­tico bal­cão de negócios.

Naquela opor­tu­nidade, escrevi um texto inti­t­u­lado “O silên­cio é a pior resposta”, onde cobrava uma posição do tri­bunal no sen­tido de apu­rar a denun­cia do dep­utado, afi­nal tratava-​se de um rep­re­sen­tante do povo acu­sando uma corte de corrupção.

O tempo encarregou-​se de colo­car o assunto no esquec­i­mento. O tri­bunal, ao que soube, ainda encam­in­hou uma solic­i­tação de apu­ração da denún­cia à Polí­cia Federal.

Se apu­raram ou apu­ram, o resul­tado ficou e per­manece mais guardado que cabelo de freira, ninguém viu.

O dito pelo não dito trata-​se de uma prática infame que ao invés de deixar livre de quais­quer sus­peitas os inocentes, joga todos na vala comum da sus­peição. É a pior das soluções tanto por não punir os que, por ven­tura, ten­ham se desvi­ado, como por estim­u­lar que out­ros façam o mesmo. E tam­bém por igualar cor­rup­tos aos homens de bem.

Como – ao menos pub­li­ca­mente – não houve um protesto vee­mente, um pedido de expli­cações, rep­re­sen­tações à cor­rege­do­ria da Câmara dos Dep­uta­dos solic­i­tando apu­ração do fato, estimulou-​se que out­ras acusações, no mesmo sen­tido, descabidas ou não, fos­sem feitas.

Foi o que acon­te­ceu com o dep­utado estad­ual Fer­nando Fur­tado do PC do B.

No dis­curso já céle­bre pro­ferido no Municí­pio de São João do Caru, onde ata­cou a FUNAI, INCRA, Igreja Católica, Justiça Fed­eral, Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT e no qual chamou chamou os indí­ge­nas de “vead­in­hos» – ainda hoje tento enten­der o que o nobre par­la­men­tar tem a ver com o quê, indí­ge­nas, bran­cos, negros ou amare­los, fazem na sua intim­i­dade –, aproveitou para acusar cole­gas do par­la­mento estad­ual e os mag­istra­dos do Tri­bunal de Justiça do Maran­hão de práti­cas pouco recomendáveis às suas atribuições.

Segundo li o par­la­men­tar comu­nista teria afir­mado: “Eu fiz o meu pro­nun­ci­a­mento inco­modando alguns dep­uta­dos que têm trân­sito no Tri­bunal e fazem nego­ci­atas, para poder voltar prefeitos com R$ 100 mil e R$ 200 mil, em posto de gasolina. Porque eu fui pas­sar uma noite de domingo em um posto de gasolina em São Luís para fla­grar uma nego­ci­ata dessas com um genro de um desem­bar­gador. Eu estava lá de madru­gada, vendo tudo. Porque podem fazer comigo duas coisas: ou eu perder o mandato ou eles me matarem. Agora, eu não vou me calar”.

Sob qual­quer ângulo que se exam­ine, as palavras do dep­utado são revesti­das de gravi­dade ímpar: primeiro por acusar seus cole­gas dep­uta­dos de faz­erem nego­ci­atas den­tro do TJMA (quais dep­uta­dos? com quem são feitas as nego­ci­atas? desem­bar­gadores? asses­sores? lobis­tas?); segundo, que as tais “nego­ci­atas» foram feitas para voltar prefeitos afas­ta­dos pela Justiça (quais prefeitos pagaram entre R$ 100 e R$ 200 mil para voltarem? O din­heiro veio de onde? Dos cofres públi­cos?); ter­ceiro, o próprio par­la­men­tar afirma ser teste­munha ocu­lar de tal fato, tendo ficado uma noite inteira de cam­pana ocasião em que viu um genro de desem­bar­gador neste tipo de nego­ci­ata (por que não chamou a polí­cia para pren­der os envolvi­dos em fla­grante? Por que não fez uma rep­re­sen­tação à cor­rege­do­ria? Por que não rep­re­sen­tou à cor­rege­do­ria da ALEMA?).

Todas as con­du­tas nar­radas – inclu­sive a do próprio nar­rador, ao se omi­tir das providên­cias que lhe cabia enquanto servi­dor público para todos os efeitos –, con­stituem crimes, con­stam do Código Penal Brasileiro.

Ainda que não fos­sem con­du­tas crim­i­nosas, não restam dúvi­das que ultra­pas­sam quais­quer lim­ites de decoro.

Os par­la­men­tos cos­tu­mam fazer «vis­tas grossas» às con­du­tas de seus mem­bros. Enten­dem que nunca ultra­pas­sam as pre­rrog­a­ti­vas do cargo. Rara­mente alguma inves­ti­gação sobre que­bra de decoro resulta em cen­sura ou outra punição ao infrator. Isso acon­tece em todo canto.

Desde que os primeiros tre­chos do pro­nun­ci­a­mento do par­la­men­tar veio a público que era de se esperar algum pro­nun­ci­a­mento da Assem­bleia Leg­isla­tiva sobre o fato. Até onde sei, ninguém disse nada.

Acham nor­mal um par­la­men­tar afir­mar que cole­gas fazem inter­me­di­ação de decisões judi­ci­ais? Acham nor­mal que par­la­men­tar faça cam­pana e com­prove tal e sobre ela silen­cie? Acham nor­mal que fazer silên­cio sobre isso? Querem que a sociedade ten­ham como nor­mal que dep­uta­dos se ocu­pem de nego­ciar decisões judi­ci­ais? Que decisões judi­ci­ais sejam nego­ci­adas por R$ 100 ou R$ 200 mil ou por qual­quer valor?

Se da ALEMA não se pode esperar muita coisa com relação apu­ração de fatos de tamanha gravi­dade o mesmo não dev­eríamos esperar do TJMA – mais ata­cado pelas palavras do par­la­men­tar que o próprio parlamento.

Diante das palavras do dep­utado, o TJMA con­seguiu ser menos efi­caz que par­la­mento. Segundo uma emis­sora de TV, o tri­bunal se man­i­festou para dizer que não iria se «man­i­fes­tar» uma vez que o dep­utado não dec­li­nara os nomes dos vendil­hões de decisões. Agiu como o cidadão que com­parece ao local para dizer que não vai com­pare­cer. Mel­hor teria feito se tivesse feito ouvi­dos moucos.

Ora, ao tri­bunal, caberia (e ainda cabe), ao menos inter­pelar o par­la­men­tar para que ele decline o nome dos envolvi­dos nas nego­ci­atas que ele afirma ter teste­munhado na madru­gada, enquanto fazia cam­pana. Ou, ainda, que solic­i­tasse a autori­dade poli­cial a aber­tura de inquérito para apu­rar o que foi dito. Ou, desafiá-​lo para provar as acusações lançadas.

O silên­cio do tri­bunal não serve a ninguém, muito menos ao seus mem­bros, que ficam, todos, sob o manto da sus­peição. Cul­pa­dos (se hou­ver) e inocentes estão todos enlamea­dos pelas palavras do dep­utado, em face do silên­cio do tri­bunal. Tal com­por­ta­mento é injusto com as pes­soas sérias, de boa índole e cumpri­do­ras de suas obri­gações funcionais.

As graves acusações estão estam­padas em todos os veícu­los de comu­ni­cação, as autori­dades e enti­dades envolvi­das – a Assem­bleia Leg­isla­tiva, o Tri­bunal de Justiça, o Min­istério Público Estad­ual, a Asso­ci­ação de Mag­istra­dos e até a Ordem dos Advo­ga­dos do Brasil –, não podem fin­gir que não viram, que nada foi dito, que não foi com eles, e quedarem-​se inertes.

Estas insti­tu­ições, ao se furtarem de respon­der ou de esclare­cer o real sen­tido das palavras do dep­utado Fur­tado, estão dizendo que ele está certo e que suas afir­mações são expressões da verdade.

As palavras ditas, são claras, em dema­sia, para admi­tir quais­quer tipos meios – ter­mos ou de com­por­tar o silên­cio como resposta.

A sociedade, a pat­uleia pagadora de impos­tos, tem, sim, o dire­ito de saber se estão todos de acordo com elas.

Ape­nas isso.

Abdon Mar­inho é advogado.

A ROTINA DA VIOLÊNCIA.

Escrito por Abdon Mar­inho

A ROTINA DA VIOLÊNCIA.

Por esses dias recebi por diver­sas for­mas um vídeo mostrando ban­di­dos ater­ror­izando motoris­tas em certa área da cap­i­tal do Maran­hão. Em que pese ser recente – pelo soube o vídeo começou a ser divul­gado quase em tempo real em relação ao ocor­rido – era muito semel­hante a out­ros veic­u­la­dos nos últi­mos tempos.

A rotina da vio­lên­cia está de tal forma enraizada que já se tornou comum na cidade alguns setores gan­harem nomes sug­es­tivos. Uma parte da Avenida Fer­reira Gullar, por exem­plo, é chamada «Faixa de Gaza», mais à frente, outra parte, já foi apel­i­dada de «Iraque». Talvez essas regiões nem exper­i­mentem tamanha violência.

Outro dia, um engen­heiro amigo, reportou-​me que ao vis­i­tar uma obra em uma parte da cidade rece­beu a recomen­dação para que baix­asse os vidros do carro, evi­tando assim que o mesmo não fosse metral­hado. No per­curso, ainda segundo ele, ia avi­s­tando «mol­e­cotes» osten­tando armas. Não faz muito tempo, famílias de uma uma rua inteira, no bairro Coroad­inho, foram inti­madas a deixarem suas casas, refletindo que exis­tem setores da cidade que o crime orga­ni­zado assumiu total­mente o comando.

A rotina de vio­lên­cia vai aneste­siando a pop­u­lação. A casa e a empresa de um amigo foram assaltadas outro dia. Ele abor­dou o assunto fazendo troça. Dizia que os ban­di­dos não eram pé-​de-​chinelo, referindo-​se ao gosto refi­nado dos meliantes que entre a coisas de valor sub­traí­das deixaram os uísques com 12 anos e só levaram os que tin­ham mais de 18 anos para frente.

Essa real­i­dade é traduzida em números. A cap­i­tal maran­hense já figura como a ter­ceira mais vio­lenta do Brasil. Os números são do ano pas­sado, que tam­bém reg­istrou o país com quase 60 mil homicídios/​ano.

Ape­nas para efeito de com­para­ção, os Esta­dos Unidos da América, com 320 mil­hões de habi­tantes, tiveram menos de 15 mil homicí­dios, enquanto no Brasil, com 203 mil­hões de habi­tantes, tive­mos 58 mil homicí­dios, um a cada nove min­u­tos. Sem con­tar que lá qual­quer cidadão tem acesso a armas ao passo que Brasil só os ban­di­dos têm.

Os números, por si, assus­ta­dores, provam que o país perde a guerra para a crim­i­nal­i­dade. Cam­in­hando na con­tramão da espi­ral de cresci­mento da vio­lên­cia, algu­mas exceções como Per­nam­buco e o Estado de São Paulo que reg­istrou a menor taxa per capita, com ape­nas onze para cada cem mil habi­tantes, estando bem abaixo da média nacional.

Se os números com­pro­vam que o país perde a guerra, o que dizer do Maran­hão? Os números que fiz­eram a cidade se tornar a ter­ceira mais vio­lenta do país é o reflexo do desmonte do setor de segu­rança do estado nos últi­mos anos, a leniên­cia, a froux­idão, a falta de inves­ti­men­tos, de treina­mento, de inteligên­cia, de polí­cia nas ruas. O que acon­tece hoje não pode e não deve ser atribuído ao acaso. Temos respon­sáveis por este caos que vivemos.

Lem­bro que a cap­i­tal e a sua região met­ro­pol­i­tana reg­istrou em 2002 o número, já ele­vado de 240 homicí­dios. Hoje, esse número é supe­rior a mil. E isso não pode ser deb­itado uni­ca­mente ao aumento da pop­u­lação. Até porque a vio­lên­cia cresceu num per­centual bem supe­rior ao populacional.

Sem querer ser pes­simista e torcendo para está errado, não vejo uma luz no fim do túnel neste que­sito. Esta­mos entrando no décimo mês do novo gov­erno, o mês de setem­bro fechou com oitenta mor­tos na região met­ro­pol­i­tana da cap­i­tal. Não sei esse é um número maior ou menor que o número de mor­tos do mesmo mês de 2014, mas sei que é um número alto, absur­da­mente alto, em qual­quer lugar do mundo.

A razão da angús­tia é ver que o estado, ao que parece, não pos­sui uma política de segu­rança consistente.

Ficar com­para­ndo um número aqui outro ali é muito pouco.

O Maran­hão pos­sui, senão o menor, uma das menores relações, per capita entre agentes de segu­rança e pop­u­lação. A promessa de colo­car, mil ou dois mil homens na ruas, é insu­fi­ciente para repor a enorme defasagem acu­mu­lada ao longo dos anos.

A vio­lên­cia se alas­tra por todo o estado, alcançando os municí­pios – mesmo os menores – e tam­bém povoa­dos. Não faz muitos dias soube de uma gangue de moto­queiros assaltando em povoa­dos. Polí­cia atenua, mas não creio que os números que anun­ciam sejam sufi­cientes para aten­der a necessidade.

Mas não é só.

O com­bate à crim­i­nal­i­dade pre­cisa de uma ação con­junta de todas forças de segu­rança, do Poder Judi­ciário, do Min­istério Público, dos poderes munic­i­pais e per­feita har­mo­niza­ção com a sociedade civil. Não esta­mos vendo isso acon­te­cer. Ainda no gov­erno pas­sado, diante das cenas de bar­bárie vivi­das nos presí­dios, dos incên­dios a ônibus com víti­mas fatais, vimos o ensaio de uma união. Nunca mais ouvi falar.

Sem a união de todos os agentes cumprindo, com efi­ciên­cia, sua mis­são, não ire­mos muito longe. Ao lado desta união o com­bate sis­temático da cor­rupção den­tro do apar­elho estatal, do judi­ciário, das polí­cias, dos exec­u­tivos, etc. Pre­cisamos apre­sen­tar uma maior efi­ciên­cia na solução dos crimes com punição rig­orosa aos malfeitores.

Esta­mos diante de prob­le­mas graves que ten­dem a fazer aumen­tar a vio­lên­cia. Outro dia pren­deram um ônibus com inúmeros crim­i­nosos que voltavam do enterro ou velório. O que sig­nifica isso? Ora, sig­nifica que a ban­didagem já age às claras sem temer o Estado. O mesmo se diga com a implan­tação de «toques de recol­her » ou o fechamento de deter­mi­nadas áreas da cidade.

A faveliza­ção dos municí­pios da Ilha de São Luís, através de infini­tas invasões de ter­ras públi­cas e pri­vadas, sem que as forças estatais se man­i­festem no sen­tido de impedi-​las – pelo con­trário pare­cem agir como se as estim­u­lassem –, serão out­ros focos de diss­a­bores e vio­lên­cia, com o favorec­i­mento do trá­fico de dro­gas e o próprio finan­cia­mento do crime orga­ni­zado através da venda destes lotes invadidos.

As autori­dades pre­cisam traçar um plano de segu­rança e agirem em con­junto. Impor o império da lei a todos, apre­sen­tar resultados.

Ao momento que fes­te­jam o enfrenta­mento das máfias, dos cor­rup­tos, não podem des­cuidar dos homi­ci­das, latro­ci­das, traf­i­cantes, ladrões, etc. Sem isso, ire­mos con­tin­uar a enfrentar a mesma rotina. A rotina da vio­lên­cia. A mesma que ater­ror­iza o cidadão que sai de casa sem saber se voltará, que o faz temer ficar na rua e até mesmo den­tro de casa, que teme pegar um ônibus e tam­bém a sair de carro, que o torna pri­sioneiro de si mesmo. Somos reféns do medo, vive­mos em sobressalto.

Durante a cam­panha, o ainda can­didato – e hoje gov­er­nador – vis­i­tou uma sen­hora que lhe con­fi­den­ciou ser o seu maior desejo poder abrir a janela.

Pois é, já passa da hora de fazer algo neste sen­tido, antes que aquela sen­hora seja obri­gada a desi­s­tir da janela, erguendo uma parede em seu lugar.

Abdon Mar­inho é advogado.

SOBRE GAN­HAR PERDENDO

Escrito por Abdon Mar­inho

SOBRE GAN­HAR PERDENDO.

Muito antigo é o ditado que prega que em eleição só não pode perder. Ou que tudo é válido desde que o resul­tado seja a vitória.

Nas eleições de 2014 a pres­i­dente da República, então can­di­data à ren­o­vação do mandato, teria dito que faria «o Diabo» para gan­har. Fez e gan­hou. O resul­tado disso, segundo rev­e­lam as pesquisas, é que antes mesmo do iní­cio do novo período de mando já era con­tes­tada pelos eleitores.

Acon­te­ceu que a vitória foi con­seguida às cus­tas da men­tira, do engodo, da enganação.

A crise – ger­ada por ela e seu ante­ces­sor e às vis­tas de todos –, era ven­dida como um dis­curso der­ro­tista dos opos­i­tores, que tudo estava mar­avil­hoso e assim iria con­tin­uar caso fosse reeleita.

Noutra quadra, o inferno de insta­laria no caso da vitória do adver­sário, que somaria juros altos para col­her inflação, desval­orizaria a moeda, acabaria com os pro­gra­mas soci­ais, sucataria a edu­cação, a saúde, e todo o resto.

Se tudo que se disse não fosse sabido e con­s­abido por todos, diria que que a pres­i­dente inven­tou mais uma praga, a bumerangue. Tudo que disse que acon­te­ceria, em caso de vitória do seu adver­sário, voltou-​se para o seu gov­erno e con­tra o povo brasileiro.

Hoje, mais de nove em cada grupo de dez dese­jam a saída da pres­i­dente. Não tar­dam e criam o movi­mento: eu quero meu voto de volta. E ainda não com­ple­ta­mos o primeiro ano.

Final­mente, con­forme vimos na chamada reforma min­is­te­r­ial, a pres­i­dente abdi­cou do poder, entre­gando a tarefa de gov­ernar ao ex-​presidente (através de seus pre­pos­tos e pes­soal­mente – sabe-​se que a reforma foi definida por ele) e aos par­tidos de sus­ten­tação, sobre­tudo, ao PMDB, prin­ci­pal deles, num jogo de toma lá dá cá de fazer corar de ver­gonha qual­quer pes­soa com um mín­imo de brio.

A pres­i­dente é um exem­plo, quase que per­feito, do sig­nifi­cado de gan­har per­dendo. Tornou-​se uma espé­cie de Porcina – nen­huma relação com por­cos, mas sim, a per­son­agem fic­tí­cia da magis­tral obra de Dias Gomes, inti­t­u­lada «Roque San­teiro» – a que era sem nunca ter sido.

Dilma Rouss­eff vestiu-​se, defin­i­ti­va­mente, de Porcina, dizendo-​se pres­i­dente sem ser, talvez nunca tenha sido de fato, ainda que man­dasse, sentia-​se e era tute­lada pelo cri­ador, tanto que este sem­pre a tra­tou por «Dilma», já esta o trata por «presidente».

Agora, ofi­cializaram a relação de mando, com a pres­i­dente entre­gando o poder aos fiadores do governo.

O que assis­ti­mos no plano fed­eral não é muito difer­ente do que acon­te­ceu e acon­tece em grande parte dos municí­pios maran­henses. Os gestores munic­i­pais tam­bém fiz­eram o «Diabo» para se elegerem, assumi­ram com­pro­mis­sos líc­i­tos e ilíc­i­tos para alcançar o poder. Lá, no poder, têm que compartilhá-​lo com os que custearam suas eleições, fazer todo tipo de coisa para sal­dar o que ficaram devendo.

O resul­tado é o que assis­ti­mos: fal­tando pouco mais de um ano para o tér­mino dos mandatos con­quis­ta­dos em 2012, poucos são os gestores que têm algo a mostrar a seus munícipes.

Isso, não é fruto, uni­ca­mente das difi­cul­dades enfrentadas por todos: a escassez de recur­sos, o pacto fed­er­a­tivo que con­cen­tra a arrecadação na união ou mesmo a incom­petên­cia. Tive­mos tudo isso, é ver­dade, mas pesa, e muito, as gestões, prati­ca­mente, entregue aos finan­ciadores de cam­panha, aos oper­adores do mer­cado finan­ceiro infor­mal (eufemismo para agio­tagem). Estes, querem tirar das receitas públi­cas o que inve­sti­ram e com lucros supe­ri­ores a a cinco, dez vezes, talvez mais que isso, ao que emprestaram.

Exceto as autori­dades, que dev­e­riam inves­ti­gar, apu­rar, punir e impedir esse tipo de coisa, não há, no Maran­hão, quem descon­heça esta prática, cada vez mais inci­siva e crim­i­nosa no processo político.

Muitos gestores maran­henses, talvez a maior parte deles, foram eleitos assim: sendo finan­cia­dos pelo mer­cado finan­ceiro infor­mal, por isso não con­seguiram e jamais con­seguirão, apre­sen­tar resul­ta­dos sat­is­fatórios, respon­der aos anseios das pop­u­lações por esco­las dig­nas, saúde que atenda min­i­ma­mente, infraestru­tura que preste, assistên­cia social de qual­i­dade. Os gestores mal são hoje, repas­sadores de pro­gra­mas, chefes de RH e, assim mesmo, ineficientes.

Isso tudo, porque se deixaram influ­en­ciar pela cegueira do poder. Tanto quis­eram que fiz­eram todo tipo de pacto, obtiveram a vitória per­dendo. Muitas vezes mais que o caráter, a ver­gonha e o compromisso.

As novas regras eleitorais sobre finan­cia­mento de cam­panha, quanto mais as anal­iso, mais me con­venço que for­t­ale­cerão a ativi­dade do crime orga­ni­zado na política. Deixarão os mandatos mais frágeis e sucetíveis a todo tipo de ques­tion­a­men­tos o que será outra porta aberta ao lucro fácil dos lobis­tas de plan­tão. S

e os min­istros do STF, políti­cos, movi­men­tos soci­ais e a pres­i­dente da República, tivessem com­bi­nado com os crim­i­nosos que vivem de finan­ciar cam­pan­has e com os lobis­tas de tri­bunais, talvez a estraté­gia não tivesse dado tão certo quanto deu.

Ano que vem ter­e­mos eleições munic­i­pais, por onde passo já escuto falar que os empresários que operam o mer­cado finan­ceiro infor­mal estão se ofer­e­cendo para aju­dar deter­mi­na­dos candidatos.

Minha opinião é que os pos­tu­lantes, antes de aceitarem vender a alma ao demônio, devem se mirar e tan­tos exem­plo à dis­posição, de ex-​gestores respon­dendo a infini­tos proces­sos, sendo con­vi­da­dos a pas­sar tem­po­radas como hós­pedes do Estado, per­dendo seus bens, sendo jul­ga­dos e con­de­na­dos, tanto pelo que fiz­eram quanto pelo que per­mi­ti­ram fazer e, ainda, para aten­derem a todo o tipo de chantagem.

Gan­har per­dendo, não vale a pena. É o que penso.

Abdon Mar­inho é advogado.