NÃO OUSARIAM! OUSARIAM?
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- Criado: Sexta, 18 Dezembro 2015 13:52
- Escrito por Abdon Marinho
NÃO OUSARIAM! OUSARIAM?
Como bom leitor de livros policiais, sempre me intrigou a conclusão dos homicídios dos prefeitos petistas, Toninho do PT (Campinas SP) e Celso Daniel (Santo André SP). Aquela sensação de faltar algo para fechar a história contada pela polícia, que os concluiu como crimes comuns. O homicídio de Santo André, mais ainda, até porque, o Ministério Público sempre sustentou tese diversa, a família sempre apontou em direção à cúpula do partido como responsável pelo homicídio.
Apesar da desconfiança e da solidariedade à família – que teve alguns membros exilados no estrangeiro com medo de represálias – e embora lhe dando crédito quanto às suas afirmações, intimamente, sempre me recusei a acreditar que pessoas como os ex-ministros José Dirceu e Gilberto Carvalho, assim como, o ex-presidente Lula, estivessem por trás de crimes daquela natureza, ainda mais, contra companheiros de partido.
Acompanhei diversas reportagens e entrevistas com o irmão de Celso Daniel, o médico Bruno Daniel, onde, com riqueza de detalhes, fazia sua defesa do crime político, por ordem ou intermediação dos «companheiros» de partido. Em 2012, quando o julgamento da ação penal 470”(Processo do Mensalão) chegava ao fim, foi a vez de Marcos Valério, preso e condenado no esquema de corrupção do Partido dos Trabalhadores — PT, levantar a história da chantagem feita por um empresário de Santo André, Ronan Pinto, contra a cúpula do partido, de contar tudo o que sabia sobre o crime se não recebesse a importância de seis milhões de reais. Valério declarou, à época, que não se envolvera e que não se envolveria em algo daquele tipo, que não se movimentaria para aquele tipo de coisa. As palavras de um, já condenado no processo do mensalão, foram tidas, se não como revanche, como uma espécie de chantagem, uma derradeira tentativa de alguém fazer tentar (não se sabe como) jogar-lhe uma boia salvadora. Poucos lhe deram ouvidos.
Entre os que lhe deram ouvidos, os parentes de Celso Daniel, que continuaram sustentando o envolvimento da cúpula partidária no crime.
Sobre as suspeitas e acusações dos familiares, poder-se-ia atribuir que as mesmas seriam motivadas pela dor da perda, a angústia pela impunidade. A inconfidência de Valério, a tentativa de escapar ou reduzir a pena severa.
Ambas, situações a exigir um exame com reservas.
Pois bem, a situação mudou drasticamente. O escândalo mudou de patamar a partir do depoimento do senhor José Carlos Bumlai, o homem que tinha passé-livre ao principal gabinete do Palácio do Planalto – e a qualquer outro –, a qualquer hora do dia ou da noite, registre-se.
O senhor Bumlai confirmou o empréstimo que fez para o caixa 2 do PT no montante de R$ 12 milhões. Foi além, confirmou que metade deste dinheiro serviu para resolver a questão de Santo André. A outra metade foi destinada a Campinas.
Vejam: o senhor Bumlai não fez a afirmação de tamanha gravidade para obter qualquer vantagem. Não se trata de delator – embora ninguém deva desconhecer a validade dos depoimentos destes colaboradores da Justiça. A presidente Dilma disse certa fez que não se deveria dar crédito a um delator. E o que teria a dizer sobre a afirmação de um não delator?
Ao confirmar o empréstimo, o banco de onde saiu o dinheiro e a situação que o mesmo se destinava, supriu as lacunas que faltavam. Confirmou que a chantagem à cúpula partidária, efetivamente, ocorreu e, que, estas lideranças políticas ao invés de chamarem a policia, preferiram comprar o silêncio, valendo-se do empréstimo que sabiam fraudulento, a ser pago com a moeda da corrupção.
O que tinham a temer? Teriam culpa ou participação no assassinatos dos prefeitos do próprio partido, sobretudo, do assassinato de Celso Daniel?
Quando digo que escândalo muda de patamar com as declarações do senhor Bumlai é porque não estamos falando mais, apenas, de corrupção institucionalizada, do roubo do dinheiro público como método para a manutenção do poder com fortalecimento dos seus detentores e com a compra de apoios de políticos venais; não falamos apenas de aparelhamento do Estado com o inchaço da máquina pública com centenas de milhares de apaniguados.
O que parece se confirmar é que o grupo político, na conquista, defesa e manutenção do seu poder, não titubeou em apelar para o homicídio. ou homicídios, no plural. Estamos falando do homicídio de alguém, de um dos seus próprios membros, em razão dele não haver concordado com alguma de suas práticas ou métodos.
O que parece se confirmar é que os poderosos da República possuem tanta «culpa no cartório» que cederam a um reles chantagista de interior.
A história fechou com o depoimento do primeiro-amigo do ex-presidente.
O que está dito: Sim, houve o empréstimo falso para o partido. Sim, o empréstimo foi para o caixa 2 do partido. Sim, o empréstimo foi «anistiado» quando o banco recebeu uma fábula da Petrobras. Sim, o dinheiro foi destinado ao atendimento da chantagem em torno da morte do ex-prefeito.
E, apesar de estarmos todos meio que atordoados com a sucessão de escândalos do dia a dia – não tem dia que não surja um novo, sempre mais grave, sempre mais escabroso –, estranho que revelações de tamanha gravidade tenham tido tão pouco destaque.
Onde estão os milhares de «intelectuais» que se manifestam a favor do governo? Onde estão os juristas contra o «golpe»? Cadê as entidades civis que não cobram o esclarecimento completo destes fatos? Estamos falando de pessoas importantes do cenário político nacional que estiveram e que ainda estão usufruindo do poder conquistado com uma série de crimes, inclusive, o mais grave de todos: o homicídio.
Estes acontecimentos são de gravidade ímpar. Não é sequer aceitável imaginar que tenham ousadia para tanto. Não acredito que ousariam. Ousariam?
Abdon Marinho é advogado.