AbdonMarinho - RSS

4934 Irv­ing Place
Pond, MO 63040

+1 (555) 456 3890
info@​company.​com

A ESQUERDA E OS «VEAD­IN­HOS» DE FURTADO.

Escrito por Abdon Mar­inho

A ESQUERDA E OS «VEAD­IN­HOS» DE FURTADO.

Alguém já disse que brin­cando rev­e­lamos o que ver­dadeira­mente pen­samos sobre as coisas. Este mesmo dito tem um cor­re­spon­dente chulo sobre o qual me omitirei.

O dep­utado Estad­ual Fer­nando Fur­tado (PC do B), ao atacar a política indi­genista nacional, a Justiça Fed­eral, o INCRA e seus diri­gentes, ao chamar os índios de vagabun­dos, disse, pub­li­ca­mente o que é o seu pen­sa­mento pri­vado. Aquilo que no dizer do clás­sico musi­cal, nem as pare­des se devia confessar.

Além da vul­gar­i­dade de suas palavras – o que o desta­cou no cenário nacional –, chamou a atenção o fato do dep­utado comu­nista ter lig­ado o «vead­ômetro» para recon­hecer, de longe, ao que parece, a opção sex­ual de alguns sil­ví­co­las. Inco­modado com suas roupas, seus adornos cul­tur­ais, sen­ten­ciou: veado, veado, veado.

Demon­strando um exces­sivo con­hec­i­mento do assunto – algo sus­peito para quem está ido nos anos –, asseverou não pos­suir qual­quer dúvida sobre o que dizia, demon­strando estran­hamente ao fato de haver índios homos­sex­u­ais, nas suas palavras, boio­tas, vea­dos, veadinhos.

Como se isso, o inco­modasse em particular.

O par­la­men­tar, cobrado pelo par­tido, por enti­dades de defesa dos dire­itos humanos e de algu­mas mino­rias, emi­tiu nota ofi­cial onde pede des­cul­pas a todos os atingi­dos pelos ataques (exceto ao juiz fed­eral e aos inte­grantes do PT) asseverando que não teve a intenção de atacar ninguém, sendo suas palavras fruto do «calor do momento».

O nobre rep­re­sen­tante do povo deve sen­tir muito calor, uma vez que tendo pro­ferido os ataques, segundo soube, ainda em julho, só agora, no beirar de out­ubro, se dá conta da gravi­dade da fé professada.

Como hoje tudo acon­tece aos olhos do mundo, ao tomar con­hec­i­mento do dis­curso calorento do dep­utado maran­hense, uma jor­nal­ista recon­hecida nacional­mente, estran­hou que tal dis­curso tenha sido pro­ferido por um par­la­men­tar «esquerdista» e, citando o ex-​ministro Delfim Neto, estaria se con­ven­cendo que os con­ceitos de esquerda e dire­ita, no Brasil, seria ape­nas para delim­i­tar o trânsito.

Con­fesso estran­har o estran­hamento da colunista.

No Brasil e em diver­sos out­ros países do mundo a perseguição a homos­sex­u­ais (indí­ge­nas ou não) nunca respeitou ban­deiras ide­ológ­i­cas. Aqui mesmo no Brasil somos teste­munhas disso. Os homos­sex­u­ais sem­pre foram usa­dos por muitos par­tidos políti­cos, sobre­tudo os que se dizem de «esquerda”, por con­veniên­cia, assim como diver­sas out­ras mino­rias, negros, mul­heres, etc.

Se o cidadão é homos­sex­ual mas reza a car­tilha do par­tido está tudo bem, se não, não passa de um vead­inho, como disse o dep­utado Furtado.

Assim é com todos os out­ros que dis­cor­dam deles.

Se fazem de bonz­in­hos, mas em pri­vado e até pub­li­ca­mente, como se deu no caso do dep­utado, rev­e­lam o que, efe­ti­va­mente, pensam.

A tola imprensa brasileira sem­pre embar­cou na ideia de uma esquerda que apoia e abom­ina os pre­con­ceitos de gênero, de raça, de situ­ação sex­ual, ape­sar de todos os exem­p­los que temos mostrando o contrário.

Pas­sou em bran­cas nuvens, por exem­plo, a piada infame de Lula, que can­didato à presidên­cia da República, sug­eriu ao cor­re­li­gionário, prefeito de Pelotas, a con­strução de uma rodovia lig­ando aquela cidade gaúcha à paulista Camp­inas. Segundo ele a rodovia dev­e­ria chamar-​se trans­vi­adônica, se não me falha a memória.

Este fato é antigo, dirão. Ainda assim, infame, idiota.

Tem mais. Não faz muito tempo, a então can­di­data a prefeita pelo Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT, Marta Supl­icy, indagou, num pro­grama eleitoral, sobre a família do opo­nente Gilberto Kassab (hoje min­istro do gov­erno deste par­tido), insin­uando que o mesmo não teria esposa, fil­hos, em resumo, insin­u­ava que o mesmo seria homos­sex­ual, por con­seguinte, não estaria apto a admin­is­trar uma cidade.

Ora, Marta não era ape­nas inte­grante de um par­tido que se dizia de esquerda, era alguém que se fir­mou na vida pública como sexóloga e defen­sora das causas das mino­rias. Aí, no inter­esse eleitoral, esquece tudo que pre­gou a vida inteira.

A esquerda brasileira – talvez haja uma exceção ou outra –, nunca se dig­nou a fazer uma crit­ica as chamadas ditaduras do pro­le­tari­ado, regimes que sem­pre reprim­i­ram com «mão de ferro» as liber­dades de suas pop­u­lações, sobre­tudo, as liber­dades que dizem respeito a situ­ação sex­ual do indivíduo.

Alguém tem dúvida que a ditadura dos Cas­tro em Cuba reprimiu – e ainda reprime – os homos­sex­u­ais e quais­quer out­ros cidadãos que ousem pen­sar difer­ente dos seus dogmas?

Na semi-​ditadura venezue­lana um dos motes do sen­hor Nicolás Maduro era chamar o seu prin­ci­pal adver­sário na última cam­panha de “viadão”. Fez isso na pre­sença do ex-​presidente Lula, que foi a lá aju­dar na sua cam­panha, e de tan­tos out­ros ditos esquerdis­tas brasileiros, os mes­mos que levam a vida a pagar p.. a ele e out­ros ditadores.

Outro por quem os esquerdis­tas brasileiros pare­cem ter fetiche é pelo régime autoritário e repres­sor da Rús­sia. Tão repres­sor que não per­mite, sequer, a real­iza­ção paradas gays ou de out­ros movi­men­tos lig­a­dos à diver­si­dade sexual.

E agem pior, as autori­dades fazem vis­tas grossas e/​ou aqui­escem com os crim­i­nosos que tor­tu­ram e até matam gays naquele país. Alguém ignora o trata­mento dis­pen­sado aos homos­sex­u­ais na Rússia?

Nem se fale no alin­hamento que os esquerdis­tas comu­nistas fazem ao régime norte-​coreano onde o dita­dor de plan­tão manda matar e expur­gar qual­quer adver­sário a troco de nada, até pelo fato de cochi­lar durante um evento.

O gov­erno brasileiro e os cidadãos que se dizem de esquerda defen­dem dial­ogo até com o Estado Islâmico, aquele grupo que mata e estupra cristãos e quais­quer out­ros que não pro­fes­sam sua fé e dis­pensa um trata­mento todo espe­cial aos que sus­peitam serem homos­sex­u­ais, den­tre os quais, atirá-​los do alto de edifícios.

Não faz um ano, em plena a Assem­bléia Geral da ONU, a própria pres­i­dente da República defendeu que se dialo­gasse com eles. Talvez repita a façanha nos próx­i­mos dias.

As palavras do dep­utado maran­hense, inde­fen­sáveis sob qual­quer aspecto, não soam mais grave que o silên­cio dis­pen­sado por seus cole­gas de par­tido e ali­a­dos pref­er­en­ci­ais dis­pensa aos homos­sex­u­ais e out­ras mino­rias ao redor do mundo.

O silên­cio da vergonha.

A indig­nação em relação os ter­mos do dep­utado, por parte de muitos esquerdis­tas, soam mais como uma desproposi­tada hipocrisia.

Abdon Mar­inho é advogado.

BOAS IDEIAS PRE­CISAM «CASAR» COM A REALIDADE.

Escrito por Abdon Mar­inho

BOAS IDEIAS PRE­CISAM «CASAR» COM A REALIDADE.

As eleições de 1992 nos trariam uma novi­dade: autori­dades com os mel­hores propósi­tos, pen­sando no inter­esse público, na celeri­dade da apu­ração eleitoral, evi­tar algu­mas fraudes comuns na época , decidi­ram, no ano ante­rior, que cada sessão eleitoral seria, tam­bém, junta apuradora.

A ideia era bem sim­ples, as eleições eram munic­i­pais, encer­rada a votação, às 17 horas, cada pres­i­dente de mesa junto com os demais mem­bros, com os fis­cais de par­tido, fariam a apu­ração e reme­te­ria para cen­tral de totalização.

Como não era de se esperar não deu certo. Foi uma con­fusão, bem pou­cas sessões con­seguiram realizar o tra­balho a con­tento. Por outro lado pipocaram as denún­cias: de que pres­i­dentes de mesas estariam votando por eleitores ausentes ou que tin­ham deix­ado as cédu­las em branco (a eleição era com cédula de papel, marcava-​se o voto no prefeito, escrevia-​se o nome ou o número do vereador); de que muitos pres­i­dentes sumi­ram com as urnas; de que vereadores (sobre­tudo) estariam manip­u­lando o resul­tado em seus redu­tos e tan­tas outras.

Para encur­tar a história, no dia seguinte fomos infor­ma­dos que a apu­ração, em São Luís, por exem­plo, seria feita nas jun­tas apu­rado­ras, no Castelão.

Acho que ainda hoje pairam dúvi­das sobre o resul­tado daquele pleito. Muitos vereadores eleitos ou não eleitos sabem o que fizeram.

Pois bem, esta­mos diante de outra exce­lente ideia. O Supremo Tri­bunal Fed­eral — STF, enten­deu que doações de empre­sas a par­tidos ou a can­didatos, como vem sendo feito desde sem­pre é incon­sti­tu­cional. Trata-​se de uma exce­lente ideia. Tão boa que a maior parte da pop­u­lação a apoia, for­madores de opinião, int­elec­tu­ais, pes­soas, como dizem, “do bem”, acima de quais­quer sus­peitas. aplaudi­ram a decisão.

Não tratarei aqui – não agora –, sobre o mérito do assunto, deixarei para abor­tar o tema num texto especi­fico. Antes, preocupa-​me saber como fun­cionará o finan­cia­mento da cam­panha para o ano que vem e para as seguintes (inter­es­sante obser­var que as as exper­iên­cias sem­pre acon­te­cem nas eleições munic­i­pais), a par­tir da decisão do STF.

Qual­quer pes­soal que orbita o mundo da política ou que, ao menos de longe, o observe, sabe que as cam­pan­has no Brasil fun­ciona em dois ambi­entes: o ambi­ente da legal­i­dade, com receitas e despe­sas, para pro­pa­ganda, mate­r­ial grá­fico, com­bustível, car­ros para o deslo­ca­mento, expos­tos aos olhos de todos nas prestações de con­tas e no ambi­ente onde as coisa não são expostas, como o din­heiro que é repas­sado para as lid­er­anças “tocar” a cam­panha nos bair­ros, os pedi­dos que os can­didatos e suas lid­er­anças sem­pre recebem, e que, hon­estos ou não, não têm como se escusar de aten­der. Nem falo em com­pra de voto, emb­ora saibamos que acon­tece, mas daquele atendi­mento emer­gen­cial, o favor de levar alguém ao médico, prover um enx­o­val de um defunto, um remé­dio, etc.

Se alguém que já fez cam­panha não se deparou com isso gostaria de con­hecer antes de mor­rer, até agora não con­heço ninguém.

Nestes meus anos de mil­itân­cia, pou­cas vezes me deparei com eleitor fazendo doação a can­didato. Quando muito, uma doação de serviço, como já fiz algu­mas vezes. O cidadão meter a mão do bolso, ir ao banco ou sen­tar diante de um com­puta­dor para fazer uma trans­fer­ên­cia bancária a um can­didato ou par­tido político, rara­mente, muito rara­mente mesmo, testemunhei.

O Supremo Tri­bunal Fed­eral — STF, a Ordem dos Advo­ga­dos do Brasil — OAB, diver­sos movi­men­tos soci­ais, int­elec­tu­ais querem essa seja a práxis a par­tir do ano que vem.

Sim, é pos­sível que os eleitores (a grande maio­ria são favoráveis a decisão), passem a con­tribuir com os seus can­didatos, emb­ora as exper­iên­cias vivi­das digam o contrário.

Não con­sigo imag­i­nar uma crise econômica sem prece­dentes como esta, que con­tin­uará mais intensa no ano que vem, os eleitores façam doações aos can­didatos e aos par­tidos políti­cos. Observem que esta­mos falando de mil­hares de can­didatos a prefeitos, só par­tidos legal­iza­dos no país, temos 33, muitos deles lançarão can­didatos a prefeitos e vices, quase todos lançarão can­didatos a vereadores, esta­mos falando de mil­hares de can­didatos dis­putando, não ape­nas o voto, mas a con­tribuição finan­ceira dos eleitores.

Em primeiro lugar está se criando uma situ­ação em que ape­nas can­didatos ricos, com patrimônio ou “caixa”, poderão dis­putar ou sairão bem na frente na disputa.

Como é que um can­didato a vereador que declara não pos­suir qual­quer bem ou qual­quer recurso em conta vai ini­ciar sua cam­panha? Muitos estão nes­tas condições. E, como todo cidadão brasileiro, têm o dire­ito de disputar.

Mais. Quanto tempo terá para arrecadar recur­sos, se a lei diz que somente é per­mi­tido após o reg­istro dos seus comitês finan­ceiros? Será que os eleitores vão ficar ali “no ponto” só esperando a lib­er­ação dos comitês para começar a doar para os can­didatos? Como farão as despe­sas de cam­panha se estas dimin­uíram para ape­nas 45 dias.

Lem­bro que são mil­hares. Não acred­ito que dê muito certo.

Será que alguém se deu conta que o mod­elo de finan­cia­mento que se busca, com tan­tos can­didatos, com eleitores que nunca doaram, nada ou quase nada, a cam­pan­has políti­cas, é inexequível?

Em segundo lugar os pre­ten­sos can­didatos, a par­tir de agora, se quis­erem dis­putar uma eleição de prefeito ou vereador, e não pos­suir recur­sos próprios ou patrimônio, terão que desde já, preparar lis­tas de doadores, com condições de com­pro­var suas receitas para doarem a seus can­didatos quando forem per­mi­ti­das as doações.

Estes eleitores terão recur­sos e vão querer fazer doações?

Se a tarefa será árdua para os can­didatos a prefeitos, imag­inem para os can­didatos ao cargo de vereador.

Torço para está errado e os eleitores – não sei de onde tirarão recur­sos – custeiem as can­di­dat­uras, senão o que acon­te­cerá será o seguinte:

  1. A parte da cam­panha que, já hoje, ocorre na clan­des­tinidade, será aumen­tada sensivelmente;
  2. Somente can­didatos ricos (com patrimônio ou liq­uidez) terão condições de dis­putar as eleições ou estarão em condição de supe­ri­or­i­dade aos demais;
  3. Os can­didatos sem recur­sos próprios, com eleitores igual­mente pobres, não terão condições de dis­putar as eleições, esta­mos falando de mil­hares de cidadãos e cidadãs que se verão impe­di­das de dis­putar eleições por falta de recursos;
  4. Os can­didatos terão que arreg­i­men­tar dezenas, mil­hares de eleitores, para efe­t­u­arem doações de cam­pan­has ou se servirem de laran­jas para jus­ti­ficar doações;
  5. Ter­e­mos a maior judi­cial­iza­ção do processo eleitoral de todos os tem­pos sobre­tudo na parte con­cer­nente a arrecadação e despe­sas de campanha;
  6. Os deten­tores de mandatos exec­u­tivos sairão na van­tagem em relação aos demais can­didatos por poderem “pedir» aos mil­hares de ocu­pantes de car­gos comis­sion­a­dos doações para as suas campanhas;
  7. O crime orga­ni­zado – que conta com um público próprio – terá maior inserção no processo politico legal. Noutra opor­tu­nidade farei um detal­hamento disto. Hoje já tem muita influên­cia, em todos os can­tos do país a ação de agio­tas nas cam­pan­has é uma real­i­dade, na nova inter­pre­tação ela será bem maior;
  8. Os males que pre­ten­dem evi­tar serão ampli­a­dos: a cam­panha será no caixa dois, os agio­tas farão a festa pois só eles terão din­heiro em caixa e ter­e­mos mil­hares, senão mil­hões de eleitores laranjas.

Vejam, não resta dúvida que eleitores finan­cia­rem seus can­didatos é uma exce­lente solução, entre­tanto não me parece exe­quível que isso ocorra num país com tan­tos par­tidos, com tan­tos can­didatos e com uma pop­u­lação que nunca fez isso.

Um dos prob­le­mas ocor­ri­dos em 1992 na apu­ração da eleição pelas próprios mesas recep­toras, além dos tan­tos nar­ra­dos, foi o ele­vado número de can­didatos a vereadores.

Igual­mente prob­lemática é o finan­cia­mento, exclu­si­va­mente, público de cam­panha. Primeiro por sac­ri­ficar mais uma vez o eleitor com o paga­mento do imposto para custear a cam­panha e tam­bém porque o recurso não chegará a todos os can­didatos e par­tidos. Alguém acred­ita que recur­sos do fundo par­tidário chega a instân­cias par­tidárias nos municí­pios? Difi­cil­mente. Até os val­ores rece­bidos os region­ais são insu­fi­cientes para o custeio das despe­sas cor­rentes, quanto mais custear eleição.

Mas, tam­bém, sobre finan­cia­mento público fare­mos um texto específico.

Não tenho solução para a com­plex­i­dade dos prob­le­mas apre­sen­ta­dos. Entre­tanto, a solução encon­trada pelo STF e defen­dida pela OAB, pelos movi­men­tos soci­ais, em que pese as mel­hores intenções, não “casa” com a real­i­dade e trás o risco con­creto de jogar na ile­gal­i­dade, as cam­pan­has e os mandatos con­quis­ta­dos nas eleições de 2016.

Fica o alerta.

Abdon Mar­inho é advogado.

INVASÕES: UM CON­VITE AO PASSADO.

Escrito por Abdon Mar­inho

INVASÕES: UM CON­VITE AO PASSADO.

Por estes dias vi a corege­do­ria do Tri­bunal de Justiça ten­tar uma inter­me­di­ação com rep­re­sen­tantes dos ocu­pantes de áreas pri­vadas ameaça­dos de despejo em um dos municí­pios da região metropolitana.

Não tenho a menor dúvida que a cor­rege­do­ria, por seus diver­sos rep­re­sen­tantes, estão imbuí­dos dos mais nobres propósi­tos, bus­cam encon­trar uma solução que atenda a todos os envolvi­dos na dis­puta. Não tenho a menor dúvida, tam­bém, que fra­cas­sarão. Ainda que con­seguis­sem comungar os inter­esses dos ocu­pantes com os dos pro­pri­etários, fra­cas­sam em relação aos municí­pios envolvi­dos, a segu­rança pública, no incen­tivo à violência.

Assim como a cor­rege­do­ria de justiça, o gov­erno estad­ual, tam­bém está equiv­o­cado no trato desta questão.

O equiv­oco se dar porque, tanto o Poder Judi­ciário quanto o Poder Exec­u­tivo, não podem retar­dar a solução para os con­fli­tos de terra na ilha sob pena de reviver­mos a onda de invasões/​ocupações dos anos oitenta até mea­dos dos anos noventa.

Não demanda muito tra­balho enten­der a equação, que é bem sim­ples. Quanto mais a Justiça demora a deter­mi­nar as rein­te­grações de posses ou o Exec­u­tivo em cumpri-​las, mas se agrava o prob­lema social que se busca cor­ri­gir. Isto porque, cada ocu­pação que você vai deixando ficar incen­tiva o surg­i­mento de mais três ou qua­tro. É matemática pura.

Um exem­plo claro disso é o que vem acon­te­cendo no Municí­pio de Paço do Lumiar. Quando uma das ocu­pações ini­ciou (passo lá todos os dias), atin­gia ape­nas uma pequena área de terra na entrada que vai para o aero­porto, hoje já alcança todo o ter­reno, os que ficam ao lado e já chega a a Maioba. O que não pas­sava de pou­cas dezenas de casas, já são milhares.

Um prob­lema que era minús­culo, cir­cun­scrito a uma pequena área de terra, se tornou grande.

A leniên­cia das autori­dades só atende aos inter­esses da picare­tagem, que lucra com a indus­tria de invasões e ao crime orga­ni­zado que ganha em diver­sas out­ras pontas.

As autori­dades pre­cisam com­preen­der que ape­nas uma pequena parcela dos que se aven­tu­ram na ocu­pação de ter­ras – sejam públi­cas ou pri­vadas – pre­cisam, efe­ti­va­mente, de mora­dia. A maio­ria, a começar pelos que ficam à frente, vão pelo lucro fácil, muitos pos­suem até mais de um imóvel.

Daí a importân­cia do poder público pos­suir um cadas­tro destes ocu­pantes, para saber quem é cada um e se, de fato, pre­cisam de imóvel, ou se está está na condição de ocu­pante para obter lucro fácil e sem causa.

A indús­tria da invasão é um negó­cio lucra­tivo: os chama­dos “donos» da ocu­pação, ven­dem ou cobram uma taxa durante um tempo. Mul­ti­pliquem isso por mil ou duas mil casas. Ainda que seja ape­nas mil ou dois mil, já rep­re­senta uma boa grana. Os com­pradores que pagaram mil, dois ou três mil reais, por um lote vale entre 10 ou 15 mil, ainda numa ocu­pação tam­bém saem no lucro. Esse é o mecan­ismo que move o negó­cio. É por isso que sem­pre tem gente dis­posta a entrar nele.

As autori­dades pre­cisam ter pulso firme, não se deixar por fal­sos dis­cur­sos de cunho ide­ológico. O dire­ito à mora­dia tem que ser garan­tido é através de políti­cas públi­cas e não com invasão de pro­priedades pri­vadas e afronta ao direito.

Con­ver­sava outro dia com o respon­sável pela implan­tação dos pro­gra­mas habita­cionais do Municí­pio de São Luís no gov­erno de Jack­son Lago, ele me desafiou a encon­trar um dos moradores orig­inários a quem foram doa­dos os imóveis para que saíssem das palafi­tas da Ilhinha. Disse-​me mais, a equipe cadas­trava um imóvel. No dia seguinte nos fun­dos do mesmo sur­giam dois ou três, do filho, do primo, do sobrinho. Todos querendo tam­bém um imóvel.

Se lucram os que invadi­ram e ocu­param os lotes, per­dem as admin­is­trações públi­cas munic­i­pais, que pre­cisam, de uma hora para outra, dotar tais local­i­dades dos serviços bási­cos como água, ener­gia, trans­porte, infraestru­tura de ruas, etc;

Perde tam­bém a sociedade que pre­cisa arcar com estes custos.

Como é sabido por todos, o orça­mento público é um só, gov­er­nos não pro­duzem din­heiro à medida que neces­sita dele. O din­heiro usado para aten­der as neces­si­dades que surgem é o que já exis­tia e terá que ser mel­hor repartido.

Perde a segu­rança pública pois grande parte destas ocu­pações servem de mer­cado ao trá­fico de dro­gas e são público alvo dos mais vari­a­dos tipos de extorsões.

Infor­mações insis­tentes dão conta que facções crim­i­nosas estão por trás de grande parte destas invasões, bancado-​as para obterem lucros, mer­cado para o crime e para influ­en­ciar nas eleições dos próx­i­mos anos.

Com quase cinquenta de ocupações/​invasões de ter­ras – públi­cas e pri­vadas –, e de cresci­mento des­or­de­nado na Ilha de São Luís, já pas­sou tempo, mais que sufi­ciente, para as autori­dades apren­derem a lidar com o prob­lema, fazendo a coisa certa.

A coisa certa, no caso, é não per­mi­tirem o surg­i­mento destas ocu­pações, serem ágeis na con­cessão de rein­te­gração de posse, cumpri­mento das mes­mas, pos­suir um cadas­tro atu­al­izado e real daque­las pes­soas que real­mente pre­cisam de mora­dia garantindo-​lhes pri­or­i­dade nos pro­gra­mas ofi­ci­ais como o Minha Casa Minha Vida e outros.

Noutras palavras: dire­ito e políti­cas públicas.

A pior solução é esta que vêm dando: retardo nas con­cessões de rein­te­gração de posso; retardo no cumpri­mento das decisões judi­ci­ais; apoio e incen­tivo dos políti­cos às ocu­pações; autori­dades tratando inva­sores profis­sion­ais como autori­dades e recebendo-​as em palácio.

A solução que as autori­dades vêm dando a estas ocu­pações que pro­lif­eram por toda a ilha é o prenún­cio do caos, com pro­pri­etários de ter­ras recor­rendo a segu­ranças pri­va­dos (eufemismo para pis­toleiros), inse­gu­rança em relação as suas pro­priedades e se muni­ciando para, logo mais, ingres­sarem na Justiça con­tra o Estado do Maran­hão por desapro­pri­ação indi­reta, diante da demora em cumprir con­ceder ou cumprir as decisões judiciais.

Em todo caso, a conta sobrará para nós, cidadãos, seja pelo aumento da vio­lên­cia, seja por ter­mos que pagar por estas propriedades.

O Maran­hão insiste em, ao invés de se pro­je­tar para o futuro, se voltar para o passado.

Abdon Mar­inho é advogado.