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ANO NOVO DE SON­HOS E ESPERANÇA.

Escrito por Abdon Mar­inho

ANO NOVO DE SON­HOS E ESPERANÇA.

Um amigo, por ocasião do Natal, man­i­festa o desejo de poder ler coisas boas e pos­i­ti­vas para o ano novo.

Fiquei pen­sando como ter um alento num cenário de tanta des­o­lação, com recessão, desem­prego, inflação, juros altos, descon­t­role das con­tas públi­cas, crise política mais aguda que nunca, a cor­rupção tomando conta do Estado brasileiro.

Parece difí­cil acred­i­tar­mos que o ano de 2016 será mel­hor. Entre­tanto, ape­sar de tudo, não podemos e não temos o dire­ito de desi­s­tir­mos da esper­ança. Nos negar o dire­ito de sonhar.

No último dia útil do ano que finda recebi um velho amigo no escritório. Entre uma con­versa e outra ele con­tou uma história bas­tante inspi­radora e que faço questão de com­par­til­har com todos.

Con­tava que estava na bar­bearia. Ao seu lado um sen­hor de quase setenta anos, tam­bém, a aparar os cabe­los, quando chega um garoto a quem, no máx­imo, dariam nove anos, pedindo a este sen­hor um trocado:

– O sen­hor pode­ria me arran­jar R$ 0,50 (cinquenta centavos)?

O sen­hor então fez uma coisa que ele não esper­ava: retirou duas notas do bolso, uma de R$ 10,00 (dez reais) e uma de R$ 1,00 (um real), colocou-​as sobre o aparador do bar­beiro e pediu ao garoto que escol­hesse a nota que ele queria:

– Escolha a nota que você quer.

O garoto então foi lá e pegou a nota de um real.

A plateia que se for­mara: bar­beiros e out­ros clientes, inda­garam ao garoto a razão dele haver escol­hido a nota menor e não a maior uma vez que lhe fora dada a chance de escolher.

Aí, então, foi o garoto que deu uma resposta que sur­preen­deu e serviu de lição a todos os pre­sentes, disse:

– Eu cheguei aqui pedindo R$ 0,50 (cinquenta cen­tavos), ele colo­cou para escol­her entre R$ 1,00 (um real) e R$ 10,00 (dez reais), a nota menor é o dobro da minha neces­si­dade. Escolhi a menor porque, quando, noutra opor­tu­nidade, estiver pre­cisando, cer­ta­mente ele me aju­dará nova­mente, o que talvez não acon­te­cesse se tivesse escol­hido a nota maior.

Vejam que lição mar­avil­hosa. Mais formidável pois vinda de onde menos se esperava.

O amigo me nar­rou o fato mar­avil­hado com a lição que apren­dera com um garoto, talvez sem instrução, sem assistên­cia dos pais – já que estava na rua –, mas que lhe pas­sara val­ores que jul­gava extin­tos no mod­elo de sociedade em que vivemos.

Ouvi a história e tam­bém me encantei.

Um sim­ples gesto de um garoto. Como ele é pos­sível que exis­tam mil­hões. Por eles, não podemos ceder ao pes­simismo. Ainda que dura a real­i­dade, deve­mos acred­i­tar que, se cada um de nós fiz­er­mos a nossa parte, ter­mos pequenos gestos de altruísmo e dig­nidade podemos mudar o Brasil, podemos mudar nossa realidade.

Bem sabe­mos que as difi­cul­dades são imen­sas. Porém, bem maiores devem ser nos­sos son­hos, nossa esperança.

A ano que se ini­cia será um ano eleitoral. Ire­mos escol­her, através do voto direto e secreto, nos­sos rep­re­sen­tantes em todos os municí­pios brasileiros.

Será a primeira opor­tu­nidade de mostrar­mos que não aceita­mos aven­tureiros, arriv­is­tas, cor­rup­tos que querem o poder pelo poder e para se locu­pletarem às cus­tas dos recur­sos que dev­e­riam servir à toda sociedade; que não aceitare­mos a influên­cia do poder econômico; que pen­sare­mos mais no bem-​estar de toda a sociedade que nos nos­sos inter­esses indi­vid­u­ais; que não aceitare­mos que o crime orga­ni­zado con­tinue a man­dar no Brasil, dom­i­nando o poder político a par­tir dos municí­pios, através de prefeitos cor­rup­tos e de vereadores ven­di­dos; que não aceitare­mos que aque­les que bus­cam o poder a todo custo “ven­dam» os municí­pios aos agio­tas que san­gram, a não poderem, os recur­sos públicos.

O ano de 2016, não temos como negar, será um ano difí­cil, mas temos já neste ano, de tan­tas difi­cul­dades e desafios, a chance de mostrar que quer­e­mos mudanças reais, quer­e­mos um poder público que nos devolva os son­hos e a esperança.

O ano de 2016, com todas suas difi­cul­dades, será, tam­bém, o ano que ini­cia­re­mos a cobrança daque­les que nos ficaram devendo nestes últi­mos anos, man­dando para casa os que nos decepcionaram.

Este é o desafio que nos é imposto, pre­cisamos vencê-​lo, por nós, por toda a sociedade, por mil­hões de cri­anças que son­ham, dese­jam e acred­i­tam no mundo mel­hor e pelo Brasil.

Um feliz ano novo todos.

Vamos nos per­mi­tir os sonhos.

Não vamos desi­s­tir da esperança.

Abdon Mar­inho é advogado.

A DIPLO­MA­CIA IDEOLÓGICA.

Escrito por Abdon Mar­inho

A DIPLO­MA­CIA IDEOLÓGICA.

Mais de uma vez trata­mos da grave situ­ação da diplo­ma­cia brasileira, con­duzida, nos últi­mos anos, com base na ide­olo­gia dos gov­er­nantes. Ao que parece, a situ­ação atingiu o ápice – se bem que este gov­erno é sem­pre capaz de nos surpreender.

Há meses o gov­erno brasileiro «coz­inha» o embaix­ador israe­lense para o Brasil. A recusa é mate­ri­al­izada na não con­cessão do «agré­ment» a Danny Dayan, nomeado pelo país do Ori­ente Médio.

Não tenho notí­cias do Brasil recusar embaix­adores. Fora o breve inci­dente com o embaix­ador da Indone­sia, por conta do cumpri­mento de sen­tenças de morte con­tra brasileiros – depois aceito sem maiores trau­mas –, nem lem­brava mais da expressão “agré­ment”, ape­sar das muitas vezes que ouvi sobre o tema nas aulas de OSPB min­istradas pela pro­fes­sora Maria da Luz, no Liceu Maran­hense, e já se vão quase trinta anos.

Volte­mos ao tema principal.

A recusa ao embaix­ador tem por fun­da­mento, segundo fontes extrao­fi­ci­ais, o fato do mesmo ser defen­sor da ocu­pação, por seu país, de ter­ritórios na Cisjordâ­nia, sendo, inclu­sive um dos líderes dos colonos judeus. Registre-​se que agên­cias da ONU já se man­i­fes­taram con­tra tal ocu­pação e a reti­rada dos colonos de tais ter­ritórios. Registre-​se, ainda, que o Brasil é defen­sor da coex­istên­cia dos dois esta­dos (israe­lense e o palestino).

Pois bem, a per­gunta que se faz é: o fato de um cidadão, dev­i­da­mente nomeado por seu país, defender esta ou aquela posição ide­ológ­ica, que pouco ou nada terá de rel­e­vante com sua mis­são no Brasil, é motivo para o gov­erno recusar-​se a con­ceder o agré­ment? O gov­erno brasileiro entende que sim por isso tem «coz­in­hado o galo» na aceitação do embaix­ador israe­lense agra­vando, ainda mais as relações entre os dois países.

Outra per­gunta que se faz é se o Brasil com min­guadas relações bilat­erais pode tratar um país com Israel da forma que vem tratando. Esta não é a primeira vez que o gov­erno brasileiro fustiga aquela nação e seu povo.

Não estou aqui, de forma alguma, dizendo que se deva apoiar e endos­sar as políti­cas inter­nas de Israel, pelo con­trário, algu­mas são mere­ce­do­ras de críti­cas, mas, até para isso, faz-​se necessário a existên­cia de relações menos tensas.

Noutra ponta não podemos deixar de recon­hecer que a má von­tade em relação a Israel é de cunho mera­mente ide­ológico porque qual­quer um sabe que o Brasil não tem essa cautela toda em acol­her embaix­adores de out­ros países – muitos, sabida­mente, vio­ladores dos dire­itos humanos –, com é o caso de diver­sas ditaduras africanas, asiáti­cas, muitas, inclu­sive, fes­te­jadas pelo nosso governo.

E, nem pre­cisamos ir muito longe. Não faz muito tempo (acho cerca de um mês), a rede ban­deirantes de tele­visão exibiu uma série de reporta­gens sobre o nosso viz­inho boli­var­i­ano ao norte.

A série mostrou, além do desas­tre econômico que destruiu aquele país, graves vio­lações aos dire­itos humanos, como o caso de dois jovens que estão há quase um ano deti­dos na «tumba» – sede do serviço secreto do país –, uma espé­cie de mas­morra onde os jovens não têm, sequer, acesso à luz do sol, onde per­dem a noção do tempo, tudo isso sem culpa for­mada, sem serem apre­sen­ta­dos a um juiz (ainda que boli­var­i­ano), para que se con­doa da situ­ação deles. Vi o depoi­mento emo­cionado de suas mães. Estes entre out­ros casos mais graves de pri­sioneiros políti­cos, apar­el­hamento ide­ológico do Estado, exílio de con­ci­dadão, cercea­mento da liber­dade de expressão e de jul­ga­men­tos orquestra­dos, como bem con­fes­sou o pro­mo­tor que atuou no processo con­tra Leopoldo Lopez, con­de­nado a qua­torze anos de prisão.

O pro­mo­tor con­fes­sou que as provas con­tra o líder oposi­cionista foram for­jadas. Ainda assim, há meses, a esposa do político tenta ser rece­bida pelo gov­erno brasileiro e não consegue.

Aliás, o gov­erno brasileiro man­tém um servil e obse­quioso silên­cio em relação a todos os des­man­dos que vêm acon­te­cendo na Venezuela, até quando aquele país faz claras ameaças de ini­ciar uma guerra de expan­são con­tra a Guiana para abo­can­har dois terços do seu ter­ritório, nossa diplo­ma­cia emudece.

O com­por­ta­mento servil e obse­quioso ao régime de Cara­cas já vem de muito tempo. Nos oito anos de Lula, nos cindo de Dilma. Lá atrás, ape­nas para recor­dar, o Brasil par­ticipou e con­duziu a sus­pen­são do Paraguai – que sem­pre se mostrara con­trário ao ingresso daquele pais (Venezuela) no Mer­co­sul – e assim admi­ti­ram a Venezuela no bloco, ape­sar de não cumprir a cláusula democrática.

Nunca se soube bem a util­i­dade da Venezuela no Mer­co­sul, se deram alguma con­tribuição a mim é descon­hecida. Agora mesmo, logo após a eleição do Sr. Macri à presidên­cia da Argentina, o pres­i­dente Venezue­lano fez foi desejar-​lhe um pés­simo gov­erno. Esse é o tipo de com­por­ta­mento de quem quer o for­t­alec­i­mento das relações entre as nações sul amer­i­canas? Der­ro­tado nas urnas pela oposição que con­quis­tou dois terços do par­la­mento, ameaça “melar» o jogo.

O Brasil não ver nada disso. Não tem um gestor de repreen­são. Pelo con­trario, o que vemos são os mem­bros do gov­erno brasileiro saudarem como heróis da humanidade os caudil­hos que que­braram o país e levaram a pop­u­lação a exper­i­men­tar toda sorte privação.

E nem fale­mos das graves sus­peitas de envolvi­mento com trafico de armas e dro­gas para todo o mundo.

O que se percebe é que o país deixou de ter uma diplo­ma­cia profis­sional e con­sis­tente para mer­gul­har de cabeça na diplo­ma­cia de conivên­cia de cunho ideológico.

O Brasil cam­inha, mais uma vez na con­tramão da história.

Abdon Mar­inho é advogado.

A CRISE, A SOL­I­DARIEDADE E A IMPOTÊNCIA.

Escrito por Abdon Mar­inho

A CRISE, A SOL­I­DARIEDADE E A IMPOTÊNCIA.

Muito se fala em crise. Muitos colocam-​na em números: a inflação que quase chega a 11% (onze por cento); a retração do cresci­mento do PIB que deve fechar o ano neg­a­tivo em quase 4% (qua­tro por cento); a perda de cerca de um mil­hão de pos­tos de tra­balho em um ano; os juros nas alturas; a indús­tria nacional que perdeu com­ple­ta­mente sua com­pet­i­tivi­dade; a val­oriza­ção da moeda amer­i­cana que em um ano ape­nas empo­bre­ceu o brasileiro em mais de cinquenta por cento.

Os cíni­cos, os insen­síveis ou indifer­entes dirão: – são ape­nas números.

Infe­liz­mente, não são.

O ano de 2015 acaba de forma difí­cil, os enten­di­dos no assunto apon­tam para um 2016 ainda pior.

Não tenho como aquilatar o quanto será difí­cil, diante do ano que esta­mos tendo.

Na véspera do Natal, quase uma hora após a já tradi­cional dis­tribuição de ces­tas bási­cas e brin­que­dos que cos­tumo fazer em minha casa há quase dez anos, con­ver­sava com um casal de ami­gos – veio nos aju­dar na dis­tribuição e que ficariam para o almoço –, quando ouvi­mos alguém bater no portão. Era um viz­inho que trazia uma sen­hora. Veio per­gun­tar se sobrara alguma cesta básica para aquela mãe de família.

Por sorte, e tam­bém pre­vendo este tipo de coisa, sem­pre com­pro algu­mas além do número que penso dis­tribuir e, ape­sar de já ter aten­dido algu­mas pes­soas, ainda sobrara umas em estoque. Assim aten­demos a senhora.

Enquanto ela saia, o viz­inho nos con­fi­den­ci­ava: – Pois é, doutor, um dia como hoje (referia-​se ao Natal), e essa moça não tem nada para colo­car no fogo.

Mais meia hora se pas­sou e foi a vez de um sen­hor, pelo aspecto, já ido nos anos, com sessenta ou mais, bater no portão. Tam­bém que­ria saber se ainda tín­hamos alguma cesta básica e ainda tinha algum serviço para ele.

Inda­gado sobre que tipo de serviço respon­deu: – Qual­quer coisa, moço, o que quero é tra­bal­har, faz tempo que não encon­tro nada para fazer.

Um fato que ilus­tra bem o momento que atrav­es­samos, é que, desde o iní­cio de novem­bro fui avisado pelo meu caseiro que os moradores das ime­di­ações estavam lhe per­gun­tando se este ano teríamos ces­tas bási­cas para dis­tribuir. Não é novi­dade que per­gun­tem, todos os anos fazem isso, estran­hei foi período: novembro.

Outro fato é a quan­ti­dade de pes­soas – jovens, mul­heres, sen­hores, muitos com a idade avançada –, que me pedem emprego, ou uma ajuda para con­seguir algum tra­balho. Não sei por qual razão – talvez ape­nas pelo deses­pero –, as pes­soas achem que posso ajudá-​las com ou que tenha influên­cia junto à alguém para lhes con­seguir tra­balho. Impo­tente me resta dizer que ficarem atento e, se sou­ber de algo, avisarei.

Não posso ir muito além disso, emb­ora fique aflito ao assi­s­tir o drama de tan­tas pes­soas que bus­cam emprego e não con­seguem. Mais aflito ainda, ao saber que a tendên­cia é que o quadro econômico piore ainda mais é que, o ano que se aviz­inha traz mais pre­ocu­pação que alento.

Impos­sível não ficar angus­ti­ado quando sabe­mos que país perdeu, neste ano, cerca de um mil­hão de pos­tos de tra­bal­hos, e vemos os políti­cos brasileiros fazendo a única coisa na qual são mestres: debater sobre quem rouba ou rouba mais, numa guerra insana – que despreza os inter­esses do país –, do poder pelo poder.

Um país que apre­senta indi­cadores tão neg­a­tivos, com mil­hares de pais famílias sem condições de ali­men­tar os seus depen­dentes, com mil­hares de jovens, sem per­spec­ti­vas, bus­cando refú­gio nas dro­gas e amparo na pros­ti­tu­ição, não pode se per­mi­tir que os políti­cos pensem primeiro em si e depois no povo.

O espetáculo dan­tesco com o qual brindam a pop­u­lação é o mais ver­gonhoso desde que me entendo por gente. E, acred­ito, de toda a história.

Os políti­cos que estão no poder, seus cupin­chas e ali­a­dos, além da notável pre­ocu­pação sobre quem roubou, quem rouba ou quem roubará, trazem a obsessão de se man­terem no poder a todo e qual­quer custo, valendo-​se de todos os instru­men­tos, sejam eles legais ou não, seja eles éti­cos ou não.

Os opos­i­tores tam­bém não ficam muito dis­tante disso. Sequer apre­sen­tam, a exem­plo do gov­erno, pro­postas razoáveis e capazes de tirar o país da crise.

Em meio a tudo isso, a sociedade, sendo tratada como joguete, numa cam­panha eleitoral que parece não ter fim e da qual seus pro­tag­o­nistas não con­seguem descer do palanque. Nem o Natal e as fes­tas de final de ano respeitam na sanha de faz­erem uma política rasteira e venderei “seu peixe”. Ver­gonha! Ver­gonha! Vergonha!

Como acred­i­tar num Ano Novo mel­hor? À sociedade con­sciente, esta que não vive na dependên­cia da escória política que tomou o Estado de assalto, resta o con­strang­i­mento, a impotên­cia e a vergonha.

Abdon Mar­inho é advogado.