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O ESCÂN­DALO DA SAÚDE E O SEQUE­STRO DA NOTÍCIA.

Escrito por Abdon Mar­inho

O ESCÂN­DALO DA SAÚDE E O SEQUE­STRO DA NOTÍCIA.

Ainda reper­cute no seio da sociedade a Oper­ação Poli­cial “Ser­mão aos Peixes” tendo por foco supos­tos desvios na pasta da saúde, de onde, segundo os inves­ti­gadores, foram desvi­a­dos cerca de um bil­hão e duzen­tos mil­hões, de um total de dois bil­hões repas­sa­dos pelo Min­istério da Saúde.

Este escân­dalo teria como prin­ci­pal pro­tag­o­nista e chefe do «esquema» o ex-​secretário da pasta e cun­hado da ex-​governadora, Ricardo Murad.

Como as infor­mações são vazadas a conta-​gota, qual­quer juízo de valor que se faça neste momento poderá ser des­men­tido, à luz dos fatos, amanhã, ainda assim tenho algu­mas con­sid­er­ações a fazer.

Sem­pre fui um crítico deste mod­elo de saúde implan­tado no Maran­hão que ao invés de único era – e con­tinua sendo tri –, o sis­tema munic­i­pal, o estad­ual e o fed­eral. Três sis­temas que não se comu­ni­cam e que, muitas vezes, um nega assistên­cia ao paciente do outro, con­forme há processo em anda­mento ate­s­tando isso. Parte da respon­s­abil­i­dade (senão a maior), deve-​se ao municí­pio de São Luís que nunca assumiu a respon­s­abil­i­dade como gestor pleno do sistema.

A omis­são do gestor pleno per­mi­tiu a inter­venção do estado do Maran­hão – já bus­cava isso –, que provo­cou a des­ti­tu­ição COSEMS ele­gendo uma dire­to­ria de tal forma lig­ada à SES que as decisões que dev­e­riam ser bipar­tite pas­saram a uni­par­tite – a SES decidia e pronto.

Isso, porque, ape­sar do municí­pio de São Luís pos­suir assento per­ma­nente na comis­são, nunca ousou con­trariar, con­tes­tar, o gov­erno estadual.

Em deter­mi­nado momento o gov­erno estad­ual chegou, inclu­sive, a querer assumir – por muito pouco isso não acon­te­ceu – a rede munic­i­pal, o comando das unidades de emergên­cia da capital.

Esse clima de bal­búr­dia prop­i­ciou que todo tipo de coisa acon­te­cesse na saúde, a prin­ci­pal delas, a con­cen­tração de recur­sos na SES que dis­tribuia – com o con­t­role da CIB – ao seu bel prazer, aos municí­pios e as unidades, as ver­bas do SUS.

Com o con­t­role da rede, o gov­erno do estado do Maran­hão tra­tou de «ter­ce­i­rizar» o SUS através das OS’s e OCIPS’s, estando, talvez, aí a origem de todos os «desvios» que a Polí­cia Fed­eral e a CGU (Con­tro­lado­ria Geral da União), infor­mam ter descoberto e que, provavel­mente, alcança desde a con­strução até a gestão dos hos­pi­tais do Pro­grama Saúde é Vida.

Difer­ente do que os adver­sários do ex-​secretário trataram de divul­gar – e que o próprio, num ato falho con­cor­dou, ao dizer que não haviam desvios bil­ionários (como se assen­tisse que os mes­mos foram só mil­ionários) –, a autori­dade poli­cial não disse, ao menos até onde li, que a OCRIM, suposta­mente coman­dada pelo ex-​gestor, embol­sou, roubou, se apro­priou de um bil­hão e duzen­tos mil­hões. Pelo que entendi, usaram o termo «desvio» em sen­tido amplo, alcançando não ape­nas, no sen­tido em que todos enten­deram, mas tam­bém, os pro­ced­i­men­tos equiv­o­ca­dos, con­tratações sem lic­i­tação, paga­men­tos calça­dos em proces­sos com defeitos, etc.

Ora, se o ex-​gestor e sua equipe pos­suíssem a capaci­dade de «embol­sar» R$ 1,2 bil­hões de um total de R$ 2 bil­hões e ainda assim man­terem em fun­ciona­mento a rede de saúde como man­tiveram, teriam que ser chama­dos para con­tin­uarem à frente da rede, desta vez, sob vig­ilân­cia, para faz­erem o din­heiro ren­der muito mais.

Não estou dizendo ou «metendo a mão no fogo” por ninguém – é pos­sível que «desvios», no sen­tido enten­dido por todos, ten­ham havido, até em val­ores mais ele­va­dos – mas não dos R$ 2 bil­hões. Para que alivi­assem os cofres públi­cos do peso de sessenta por cento dos val­ores rece­bidos, seria necessário que os serviços públi­cos ofer­tado deix­as­sem de ser ofer­e­ci­dos – sabe­mos que isso não ocor­reu. Há notí­cias, inclu­sive, que os serviços vin­ham fun­cio­nando com mel­hor efi­ciên­cia que agora, o que cor­rob­ora com a minha opinião de que os desvios, se exis­tentes, não alcançaram os per­centu­ais alardea­dos e difundidos.

Como não tenho com­pro­misso com o erro ou a inver­dade de ninguém, acho opor­tuno expres­sar essa opinião e tam­bém para fugir do lugar-​comum comum traçado pela mídia maran­hense, onde temos:

  1. de um lado – a mídia lig­ada ao atual gov­erno dizendo que o ex-​secretário embol­sou, de R$ 2 bil­hões repas­sa­dos pelo min­istério da saúde, R$ 1,2 bil­hão. Essa é uma infor­mação «burra» e que depõe con­tra o atual gov­erno: se roubavam sessenta por cento das ver­bas e o sis­tema fun­cionava mel­hor, quer dizer que o atual gov­erno é tão incom­pe­tente que com cem por cento das ver­bas não con­segue fazer o sis­tema fun­cionar com a efi­ciên­cia ante­rior ou, pior, que os atu­ais gestores estão «roubando» bem mais, por isso o sis­tema está ineficiente;
  2. de outro lado a mídia lig­ada ao ex-​secretário fin­gindo que a oper­ação poli­cial não ocor­reu ou ten­tando apon­tar os malfeitos como sendo do atual gov­erno ou, ainda, saindo na defesa dos envolvi­dos sem qual­quer com­pro­misso com a notícia.

O ex-​secretário, aux­il­iares seus, empresários que tra­bal­havam ou tin­ham negó­cios com a sec­re­taria de saúde, foram con­duzi­dos ou pre­sos, tiveram as casas e escritórios revi­ra­dos, doc­u­men­tos, com­puta­dores e até o lixo, apreen­di­dos. Não há como se ocul­tar o fato. Não se pode seques­trar a notí­cia como fiz­eram, a ponto da matéria não ter sido, sequer divul­gada pelo jor­nal o Estado do Maran­hão, no dia seguinte.

Até onde eu lem­bro, pou­cas vezes, a imprensa do Maran­hão teve com­por­ta­mento tão risível.

Os prob­le­mas cri­a­dos a par­tir da inter­venção no SUS pelo gov­erno ante­rior – agora sob inves­ti­gação – pre­cisam ser resolvi­dos. O gov­erno estad­ual pre­cisa rein­serir as unidades con­struí­das ao sis­tema devol­vendo a gestão aos que têm o dever fun­cional de as administrar.

Não é aceitável, que sabendo o que foi feito errado, e, que tornou o sis­tema vul­nerável à cor­rupção, se insista no mod­elo e se deixe as coisas como estão.

Abdon Mar­inho é advogado.

UMA VER­DADE DOÍDA E SENTIDA.

Escrito por Abdon Mar­inho

UMA VER­DADE DOÍDA E SENTIDA.

A prisão do senador Del­cí­dio do Ama­ral (PT/​MS) não inco­modou seus com­pan­heiros de par­tido. Alheios ao fato ou sem dimen­sionar o seu real sig­nifi­cado, até se com­por­taram como se nada tivesse com ela.

Já no dia da prisão o próprio pres­i­dente da leg­enda, Rui Fal­cão, expe­diu uma nota des­o­bri­g­ando a todos do dever de sol­i­dariedade, dizendo que ela (a prisão) ocor­rera em decor­rên­cia de uma ativi­dade “pri­vada”, abso­lu­ta­mente dis­tante dos inter­esses partidários.

A falta de pudor foi tamanha que «chocou» até o notório pres­i­dente do Senado da República, Renan Cal­heiros, que dis­pen­sou a nota os epíte­tos de intem­pes­tiva, opor­tunista e covarde.

Na linha de defesa traçada pela leg­enda para afastar-​se do senador – que até horas antes era ouvido e opinava sobre tudo –, ainda, no mesmo dia, blogues e jor­nal­is­tas ami­gos, começaram a espal­har nos meios de comu­ni­cação e nas redes soci­ais que o preso era um tucano dis­farçado, que nunca serviu ao par­tido e out­ras tolices.

Tudo isso para afastar-​se, o máx­imo pos­sível da ondas que tra­garam o fil­i­ado enquanto este estava em plena ativi­dade crim­i­nosa, arquite­tando a fuga de um preso para o estrangeiro, e, se movendo para obstruir a ação da Justiça e assim, ele próprio, sair impune de seus atos criminosos.

Agia ape­nas no seu inter­esse? Ten­tava com isso pro­te­ger mais alguém? Quem? A pres­i­dente? O ex-​presidente? Só o ban­queiro amigo tam­bém preso?

Mas, isso tudo, não foi avali­ado e não cau­sou incô­modo entre os fil­i­a­dos, sim­pa­ti­zantes ou sim­ples­mente ben­efi­ciários do mod­elo clep­tocrático implan­tado no Brasil.

O que parece ter des­per­tado a fúria da com­pan­heirada foram as palavras firmes e certeiras da min­is­tra Car­men Lúcia, do STF, ao se man­i­fes­tar sobre as prisões – a do senador em espe­cial. Disse ela: “Na história recente da nossa pátria, houve um momento em que a maio­ria de nós, brasileiros, acred­i­tou que a esper­ança tinha ven­cido o medo. Depois, desco­b­ri­mos que o cin­ismo tinha ven­cido aquela esper­ança. Agora parece se con­statar que o escárnio venceu o cin­ismo. O crime não vencerá a Justiça”.

Estas palavras, uma espé­cie de quadro-​resumo do que tem sido a história do Brasil de 2002 para cá, sim, inco­modou, ver­dadeira­mente, os inte­grantes do par­tido e seus discípulos.

Inco­modou tanto, que um bispo da Igreja Católica (destes que se con­fundiu e pas­sou a seguir o bar­budo errado) foi escal­ado para con­tes­tar a ministra.

Out­ros, com maior desas­som­bro, pas­saram a fazer insin­u­ações mal­dosas sobre seu patrimônio pes­soal, seu con­hec­i­mento jurídico e demais estraté­gias do jogo sujo que estão acos­tu­ma­dos a fazer con­tra todos aque­les que não rezam pela sua cartilha.

No jogo da desqual­i­fi­cação, talvez só sejam menos efi­cientes do que na prática de malfeitos con­tra o din­heiro do con­tribuinte, con­forme mostram, a exaustão, as cen­te­nas de ações poli­ci­ais, os proces­sos e as con­de­nações pela Justiça.

No processo do “men­salão” (AP 470), o alvo era o min­istro Joaquim Bar­bosa, acusaram-​no de tudo, até de ser “negro”, mal­dosa­mente, dizendo que entrara no tri­bunal graças à políti­cas de cotas raci­ais. Foram atrás da com­pra de um aparta­mento nos Esta­dos Unidos e, até, de pos­síveis amantes que pudesse ter tido. Tudo, porque ele se mostrara um rela­tor inflexível no cumpri­mento da lei con­tra os inte­grantes do par­tido que, sem qual­quer con­strang­i­mento, saíram das pági­nas políti­cas para as pági­nas poli­ci­ais dos jornais.

Emb­ora não seja a rela­tora dos proces­sos da Oper­ação Lava Jato, a artil­haria petista voltou-​se con­tra a min­is­tra Carmem Lúcia, desta vez porque ela, como qual­quer brasileiro, con­sta­tou e expres­sou durante o seu voto, aquele que é o sen­ti­mento da sociedade, em relação ao régime que implan­taram no Brasil a par­tir de 2003.

Eu, como a maio­ria dos eleitores de 2002, car­rego a culpa de ter acred­i­tado no engodo – tudo mar­ket­ing – do par­tido de que a «esper­ança vence­ria o medo». Vimos no que deu, no que está dando. Usar con­quis­tas soci­ais como des­culpa para jus­ti­ficar o roubo, a dilap­i­dação do patrimônio público, o apar­el­hamento do Estado, é ape­nas mais uma ver­tente da absurda e ver­gonhosa estru­tura mon­tada con­tra os inter­esses da nação e de suas instituições.

Arrependi-​me do mau passo logo nos primeiros dias de 2003 quando vi o que estavam fazendo na for­mação do gov­erno. Senti que jamais tiveram qual­quer inter­esse em mudar os des­ti­nos do país, pelo contrário,pretendiam apropriar-​se (que v/​cio) da exper­iên­cia dos ante­ces­sores nos «malfeitos» e sofisticar seus méto­dos de apro­pri­ação do Estado.

Lembro-​me que em 2005, quando veio à tona todo escân­dalo do “men­salão” – que levou a cas­sação, renún­cia, e, pos­te­rior, con­de­nação e prisão de altos diri­gentes do par­tido –, falava com um amigo que ten­tava jus­ti­ficar, dizendo que no jogo bruto da política tin­ham que fazer aquilo, que todos faziam, que não havia outro jeito de con­duzir o país sem que faziam.

Tratava-​se, obvi­a­mente, de um despropósito, jus­ti­ficar atos de cor­rupção e sub­orno como necessários ao fun­ciona­mento da “causa”, do bem-​estar dos cidadãos, den­tro dos nobres propósi­tos do partido.

Mas não fora isso que pro­puseram a com­bater? o toma lá dá cá? Não estaria aí, a esper­ança sendo ven­cida pelo cin­ismo? O cin­ismo de se dizer que não have­ria outro modo de fazer política no Brasil senão com as mes­mas prática?

Não tenho divida, o CIN­ISMO VENCEU A ESPERANÇA.

Há um ano eclodiu mais escân­dalo desta mesma gente, deste grupo politico. Este, muito maior que o ante­rior, envol­vendo bil­hões e bil­hões de reais, de dólares, de euros. e qual­quer outra moeda com valor de mercado.

O escân­dalo, apel­i­dado de “petrolão”, por ter seu foco prin­ci­pal na maior petrolífera do país, fun­cio­nou – e talvez ainda fun­cione – durante todo o período em fun­cionava o escân­dalo ante­rior e con­tin­uou durante o processo e con­de­nação dos envolvi­dos no processo do ‘men­salão”, inclu­sive com o paga­mento de despe­sas, mul­tas, etc., decor­rentes daquele processo, sendo pagas com os fru­tos deste outro roubo.

Não se trata de escárnio? Não teria o escárnio ven­cido o cinismo?

A ver­dade dói. Por isso o incô­modo. Não ficam con­strangi­dos, só inco­moda­dos quando alguém mostra a ver­dade, a nudez do rei.

Não passa um mês, um dia, sem que a engrenagem da cor­rupção des­canse. Não há nicho no gov­erno, no par­la­mento que não esteja sob a sus­peita dos desvios, da apro­pri­ação, do pat­ri­mo­ni­al­ismo. For­tu­nas sendo desvi­adas dos cofres públi­cos para enricar políti­cos e empresários. Quan­tos não fiz­eram for­tuna assim? Com desvios? Com traficância?

Por último – até aqui, temos que ter sem­pre esse cuidado de ressaltar que falamos no pre­sente – temos um senador da República, um líder do gov­erno preso, tendo sido fla­grado tra­mando a fuga de um preso uma obstrução da Justiça. Temos um pres­i­dente de par­tido assu­mindo clara­mente que os atos, os malfeitos, se feitos em nome da causa serão defendidos.

Isso tudo não é o mais escan­car­ado escárnio? Não é uma afronta aos sen­ti­men­tos dos bons brasileiros que pagam seus impos­tos e que levam uma vida honesta.

O meu receio é, sim, que os crim­i­nosos vençam a Justiça. Aí estare­mos diante do fim.

Abdon Mar­inho é advogado.

A IMPUNIDADE LAVADA NA LAMA.

Escrito por Abdon Mar­inho

A IMPUNIDADE LAVADA NA LAMA.

Demorei, proposi­tada­mente, a me man­i­fes­tar sobre o desas­tre ambi­en­tal cau­sado pelo rompi­mento das repre­sas de con­tenção de rejeitos em Mar­i­ana (MG).

Esperei para ver o posi­ciona­mento das autori­dades diante de uma dos maiores desas­tres ambi­en­tais já reg­istra­dos no país.

Até agora não temos tido qual­quer sur­presa: ind­eniza­ções pífias, a serem admin­istradas pela própria empresa cau­sadora do desas­tre; mul­tas, que pare­cem quer­erem levar no “bico”, como, aliás, sem­pre fiz­eram; reparações às famílias feitas de qual­quer jeito.

Claro que haverão de argu­men­tar que tudo ainda está muito recente, que não se tem, ainda como aquilatar todas as situações.

Um assunto, entre­tanto, parece não con­star da pauta de ninguém, nem das autori­dades, nem dos impli­ca­dos: a respon­s­abi­liza­ção crim­i­nal dos que deram causa ao crime ambi­en­tal e as mortes de mais de uma dúzia de pes­soas, desa­parec­i­men­tos de out­ras tan­tas, a morte dos rios e aflu­entes com suas cen­te­nas de espé­cies de flora e fauna. Tratam o assunto como se fosse obra do acaso, como se não hou­vessem cul­pa­dos, como se não hou­vessem responsáveis.

Decerto que há inquérito aberto sobre o fato. Algum del­e­gado deve está inves­ti­gando. Ape­sar disso, tal é a posição secundária que o mesmo tem ocu­pado que é como se não exis­tisse. Não duvi­dem que ao fim de lon­gos anos ninguém seja apon­tando como cul­pado. Ou, pior, caso seja encon­trado alguns respon­sáveis – devem ter inúmeros, tanto nas empre­sas quanto entre as autori­dades que tin­ham o dever de fis­calizar –, o processo se arraste por tanto tempo nos encam­in­hou da justiça que ninguém, efe­ti­va­mente, pague pelos crimes cometidos.

Até aqui as coisas se encam­in­ham assim, para a impunidade.

A gen­tileza dis­pen­sada pelas autori­dades brasileiras aos pro­pri­etários das empre­sas que destruíram rios, dezenas de espé­cie de peixes, mariscos, árvores, oca­sio­nou a destru­ição de comu­nidades inteiras, sendo respon­sáveis por mortes e desa­parec­i­men­tos, é de bru­tal con­traste com o trata­mento que dis­pen­sam a um ribeir­inho que é pego pes­cando para sus­ten­tar a família durante a piracema ou ao cidadão que matou um palmeira para lhe reti­rar o palmito ou, ainda, aquele que mata, apreende ou nego­cia uma ave ou caça.

Quem não con­hece casos de pescadores que foram deti­dos, tiveram os instru­men­tos de tra­balho apren­di­dos, respon­deram a proces­sos e foram con­de­na­dos por pescar durante a piracema? Quem nunca soube de casos de caçadores arte­sanais a quem sucedeu o mesmo? Quem não tomou con­hec­i­mento do caso do cidadão que foi preso por destruir uma palmeira numa área de reserva?

Situ­ações acima não são fig­uras retóri­cas. Acon­te­ce­ram efe­ti­va­mente. A lei ambi­en­tal é apli­cada com muito mais fre­qüên­cia que acos­tu­mamos pres­en­ciar quando os seus des­ti­natários são os pobres, os despos­suí­dos, cidadãos humildes que saem para pas­sar­in­har ou para pescar, sem sequer saber, se o estão fazendo con­sti­tui crime.

O mesmo rigor, ao que nos parece não vem sendo obser­vado no caso do rompi­mento das bar­ra­gens de Mar­i­ana. Até aqui nen­hum exec­u­tivo ou con­tro­lador das empre­sas foram deti­dos ou mesmo con­strangido, o mesmo se diga daque­les que tin­ham o dever fun­cional de fis­calizar, das autoridades.

Chama a atenção a incrível rapi­dez com que os órgãos min­is­te­ri­ais, Min­istério Público Estad­ual e Fed­eral aceitaram a pro­posta de cri­ação de um fundo a ser admin­istrado pela empresa cau­sadora dos danos, no valor de um bil­hão para recu­per­ação ambi­en­tal. Emb­ora o número pareça sig­ni­fica­tivo, é ínfimo diante dos danos cau­sa­dos e fica muito aquém dos val­ores ofer­e­ci­dos por out­ras empre­sas em idên­ti­cas situ­ações. Basta com­parar com out­ros desas­tres ambi­en­tais ao redor do mundo.

Ainda com as mul­tas apli­cadas, os val­ores que as empre­sas irão desem­bol­sar (se desem­bol­sar) não chegam sequer perto de san­ear todo o mal cau­sado. São famílias sem seus entes queri­dos; é a his­to­ria da comu­nidade destruída que jamais será reposta; o patrimônio histórico, pais­agís­tico, as histórias não serão devolvi­das; é o transtorno cau­sado as pop­u­lações que depen­diam dos rios para o abastec­i­mento de água, o comér­cio, o tur­ismo. Nada será como antes.

O Rio Doce dev­erá levar décadas para se recu­perar, a vida mate­ri­al­izada através suas espé­cies talvez nunca seja mais a mesma. O mesmo acon­te­cendo com a vida das mil­hares de espé­cies exis­tentes e que se repro­duzem no seu estuário.

Ape­sar disso, até aqui, os bacanas não estão sendo inco­moda­dos (não como dev­e­riam). E, nem mesmo no bolso sen­tirão o sufi­ciente pelos danos que causaram.

O mesmo se diga dos agentes públi­cos que tin­ham e têm o dever de fis­calizar e ver­i­ficar o cumpri­mento das nor­mas de segu­rança. Estes não sofr­erão nada e ainda devem ser promovidos.

Um rio inteiro vale menos que um quilo de peixe? Uma palmeira vale mais que seis­cen­tos quilômet­ros de matas cil­iares? Um tatu vale mais que dezenas de vidas perdidas?

A omis­são das autori­dades brasileiras é tamanha que a ONU se man­i­festou recla­mando. Trata-​se de mais um vexame.

Abdon Mar­inho é advogado.