AbdonMarinho - RSS

4934 Irv­ing Place
Pond, MO 63040

+1 (555) 456 3890
info@​company.​com

NÃO VAI TER GOLPE.

Escrito por Abdon Mar­inho

NÃO VAI TER GOLPE.

MIL­HARES de cidadãos brasileiros foram as ruas entoar uma palavra de ordem: “Não vai ter golpe”. Repetem-​no por onde passam.

A primeira coisa que devo dizer é que con­cordo inteira­mente como a afir­mação de que não ter golpe no Brasil. Não há nen­hum sinal de que um golpe esteja em gestação.

O dis­curso cen­trado no bor­dão, por­tanto não faz lá muito sentido.

Entendo que não vai ter golpe por ver as insti­tu­ições, emb­ora enfrentando suas ago­nias inter­nas, em fun­ciona­mento reg­u­lar. A Câmara dos Dep­uta­dos e o Senado Fed­eral, com diver­sos dos seus mem­bros sendo inves­ti­ga­dos, denun­ci­a­dos e até pre­sos, não corre nen­hum risco de serem fechados.

O Poder Judi­ciário, em todas suas instân­cias, tam­bém fun­ciona reg­u­la­mente. O Min­istério Público idem. Estes dois pos­suem seus con­sel­hos nacionais encar­rega­dos punir os exces­sos e os trans­bor­dos da legalidade.

As insti­tu­ições de segu­rança do Estado, as Forças Armadas, as polí­cias, rev­e­lam, até aqui, um pro­fundo respeito e obe­diên­cia à ordem constitucional.

Por tudo isso, não vejo como falar em golpe. Não, não vai ter golpe.

Tenho visto mil­hões de brasileiros irem as ruas protestarem con­tra o gov­erno de forma ordeira e sem provo­carem quais­quer ato de vio­lên­cia. Exceto por uns poucos, a mino­ria da mino­ria, ninguém pede a reti­rada do gov­erno pela força ou a rup­tura ordem insti­tu­cional. Pelo con­trário, pedem a renún­cia ou que o processo de impeach­ment ande.

O gov­erno da pres­i­dente Dilma Rouss­eff não reúné mais quais­quer das condições necessárias para diri­gir o país. A cada avanço das inves­ti­gações, a cada rev­e­lação des­fa­vorável ao gov­erno, assis­ti­mos os indi­cadores econômi­cos melhorarem.

Não há como o gov­erno que está aí se sus­ten­tar. E isso, é bom que afirme, não é coisa “do outro mundo”, em qual­quer lugar, inclu­sive nas democ­ra­cias mais avançadas, um gov­erno tão frágil, inepto e cor­rupto, já teria caído. Na ver­dade já caiu, o que temos hoje é um cadáver insepulto na sala de estar em ini­cio de putrefação.

Este gov­erno começou a degringo­lar quando a pop­u­lação perce­beu que fora enganada nas eleições, que a eleita era uma fraude e que a sua eleição fora uma armadilha.

Hoje, quase 70% (setenta por cento) da pop­u­lação, segundo os insti­tu­tos de pesquisas, apoiam o impeach­ment da presidente.

A pres­i­dente não con­segue fazer um pro­nun­ci­a­mento em rede de rádio ou tele­visão sem que os pan­elaços e buz­i­naços não sejam ouvi­dos nos qua­tro can­tos do país. Chegou-​se ao ponto de só con­seguir falar para o seu público, quase todo ben­efi­ciário de sinecuras e favores do Estado.

Desde o auge da ditadura não assistíamos a pop­u­lação gri­tar em coro con­tra um gov­er­nante, con­tra um líder político e con­tra um par­tido. A ver­dade é que o Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT é tão odi­ado quanto um dia foi a Aliança Ren­o­vadora Nacional — ARENA. O PT é a nova ARENA.

Tudo seria menos traumático e des­gas­tante para todos – e pouparia o país dos pre­juí­zos que vem sofrendo –, se a atual pres­i­dente recon­hecesse sua inca­paci­dade de con­tin­uar à frente dos des­ti­nos do país e renun­ci­asse. Não faz isso por temer que, tanto ela, quando inúmeros mem­bros do seu gov­erno, acabem tendo que prestar con­tas com a Justiça, com chances reais de serem pre­sos. Este imbuí­dos uni­ca­mente de adiar o inevitável.

Descar­tada a renún­cia, restam duas opções para o afas­ta­mento da pres­i­dente: o jul­ga­mento das ações que trami­tam no TSE e o impeachment.

A estas duas alter­na­ti­vas – a segunda mais que a primeira – os ali­a­dos da atual pres­i­dente alegam tratar-​se de golpe, daí o bradarem que “não vai ter golpe”.

A cas­sação da chapa através das ações eleitorais em curso é algo a depen­der ape­nas do TSE. Não há, sequer, que se falar em ausên­cia de provas. Os recur­sos uti­liza­dos na cam­panha da pres­i­dente, con­forme diver­sos depoi­men­tos, inclu­sive do ex-​líder do par­tido e do gov­erno, senador Del­cí­dio do Ama­ral, são fru­tos da corrupção.

Sobre os recur­sos, um dos empresários com par­tic­i­pação ativa no esquema declarou: emb­ora doa­dos de forma lícita, foram obti­dos de forma ilícita, o ex-​líder con­firma isso, e vai além, diz que a atual pres­i­dente sabia de tudo.

Sobre a segunda hipótese, o senador Lin­de­berg Farias (PT/​RJ) declarou recen­te­mente que o golpe exi­s­tiria pela ausên­cia de “base jurídica” para fun­da­men­tar o pedido. Este é o argu­mento dis­sem­i­nado por toda mil­itân­cia do par­tido e seus satélites.

Acred­ito que somente a cegueira ide­ológ­ica – a mesma cegueira que faz as fem­i­nistas do par­tido igno­rarem as ofen­sas do sen­hor Lula e até defendê-​lo – jus­ti­fica que não con­sigam ver a gravi­dade das provas con­ti­das no processo que pede o imped­i­mento da presidente.

A prática das chamadas «ped­al­adas fis­cais”, um dos itens que fun­da­men­tam o pedido, foi inclu­sive recon­hecida pelo Tri­bunal de Con­tas da União — TCU, que opinou pela rejeição das con­tas do exer­cí­cio de 2014. A mesma prática foi recon­hecida no exer­cí­cio de 2015, já no segundo mandato. Há, na ati­tude da pres­i­dente vio­lação da Con­sti­tu­ição Fed­eral, artigo 85 e da Lei 1.079÷50, art.10. Além, claro, de out­ros dis­pos­i­tivos legais.

A frag­ili­dade da argu­men­tação de inex­istên­cia de base jurídica, faz menos sen­tido ainda à luz do sabe­mos hoje da con­duta da pres­i­dente e dos seus prin­ci­pais aux­il­iares e apoiadores. Acho que se fiz­erem um novo pedido de impeach­ment fal­tará dis­pos­i­tivo legal e sobrará con­du­tas típi­cas. Se isso fosse possível.

A cor­rupção – outro motivo para o impeach­ment, artigo 85, V — a pro­bidade na admin­is­tração –, só na Petro­bras, passa dos US$ 40 bil­hões de dólares, segundo cál­cu­los do Min­istério Público Fed­eral, as con­de­nações dos envolvi­dos, já se aprox­ima dos mil anos de prisão. E, segundo o próprio ex-​líder do gov­erno, tanto a pres­i­dente quanto seu ante­ces­sor sabiam de tudo, este último, ainda segundo ele, seria o coman­dante de todo esquema.

A situ­ação é de tal forma patente que até a Ordem dos Advo­ga­dos do Brasil – OAB, resolveu engrossar as fileiras das enti­dades que querem o imped­i­mento da pres­i­dente, aprovando, quase por uni­ci­dade, moção neste sentido.

E, ape­sar de toda a gravi­dade da situ­ação, inclu­sive sobre o papel da pres­i­dente na ten­ta­tiva de obstruir a Justiça – outro motivo para a cas­sação –, os que cla­mam o seu impeach­ment, querem que ele ocorra den­tro dos mar­cos legais. Seja pela via do judi­ciário, decor­rente das ações que trami­tam no TSE, seja através do processo de impeach­ment no Con­gresso Nacional.

Como falar em golpe numa situ­ação em que o que se busca é a man­i­fes­tação das insti­tu­ições nacionais? Se o Supremo Tri­bunal Fed­eral está vig­i­lante e, com exces­sivo rigor for­mal, ferindo, ao nosso sen­tir, as pre­rrog­a­ti­vas da Câmara dos Dep­uta­dos, acom­panha todos os pas­sos que estão sendo dados no processo? Se, em nen­hum fórum tem sido negado à pres­i­dente o dire­ito de defesa?

Se há golpe, é na ten­ta­tiva de impedir o Con­gresso Nacional e o Poder o Judi­ciário de exercerem o seu papel constitucional.

Na democ­ra­cia, as regras são iguais para todos. Não se pode admi­tir e aceitar ape­nas as regras que lhes são favoráveis.

A pres­i­dente pode gan­har ações con­tra ela no TSE. Tam­bém pode gan­har no Con­gresso Nacional, inclu­sive, como tem sido prática con­stante, fazendo uso da bar­ganha política. Faz parte das regras, ainda mais sendo o processo impeach­ment, por sua natureza, dotado de forte cono­tação política.

Aos que sus­ten­tam a existên­cia de golpe, tão imag­inário quando os moin­hos de vento com­bat­i­dos por D. Quixote – em nome da fidel­i­dade ou da cegueira ide­ológ­ica e para não pas­sarem por omis­sos ou covardes –, é bom ficarem aten­tos, para eles próprios, não pas­sarem à história como cúm­plices ou coniventes com lamaçal que tomou de conta do país. As des­cul­pas lat­erais não podem servir de escudo para que defendam o indefensável.

As insti­tu­ições brasileiras, diante de tan­tas provações, têm se mostrado maiores que seus inte­grantes, tenho certeza que mais uma vez garan­tirão a esta­bil­i­dade do país.

Assim, não tenho dúvi­das, NÃO VAI TER GOLPE.

Abdon Mar­inho é advogado.

DO POLO EXPOR­TA­DOR DE VEA­DOS ÀS MUL­HERES DO GRELO DURO

Escrito por Abdon Mar­inho

DO POLO EXPOR­TA­DOR DE VEA­DOS ÀS MUL­HERES DO GRELO DURO.

QUASE ninguém encarou com nat­u­ral­i­dade a série de impropérios dis­pen­sa­dos pelo ex-​presidente Lula às insti­tu­ições da república, as autori­dades con­sti­tuí­das e até mesmo as pes­soas tidas como do seu grupo de influência.

Não vamos nos ocu­par do com­por­ta­mento boçal do ex-​presidente, isso deman­daria um tempo que não temos. Entre­tanto, não podemos deixar de reg­is­trar que esse com­por­ta­mento não dev­e­ria causar estran­heza a ninguém.

O tempo pas­sou, o ex-​presidente está no poder há mais de treze anos, a vida difí­cil ficou há muito para trás, assim como as difi­cul­dades mate­ri­ais, entre­tanto, aquilo que é iner­ente à condição humana per­maneceu igual.

A vida inteira per­me­ada de escân­da­los. Quem não sabe da colab­o­ração do falso sindi­cal­ista com o gov­erno mil­i­tar, con­forme nar­rado pelo filho do del­e­gado e ex-​senador Romeu Tuma? Os assas­si­natos nunca sufi­cien­te­mente expli­ca­dos dos ex-​prefeitos de Santo André, Celso Daniel e de Camp­inas, Ton­inho do PT? o golpe da Ban­coop que lesou inúmeros mutuários?

O brasileiro, sem­pre cor­dial, tem o pés­simo hábito de igno­rar estes fatos, de esque­cer a história ape­sar dos fatos sem­pre se imporem.

Antes do sen­hor Lula chegar ao poder – mas já um pro­duto do gênio de mar­ket­ing Duda Men­donça –, foi gravado, invol­un­tari­a­mente, nos basti­dores de uma entre­vista, onde dizia com toda sua vul­gar­i­dade que a cidade de Pelotas, no Rio Grande do Sul, era um polo expor­ta­dor. Fazendo questão de acen­tuar: um polo expor­ta­dor de veados.

Ora, o sen­hor Lula, já naquela que ficou con­hecida como a fase «lulinha paz e amor», fora capaz de tamanha grosse­ria com a comu­nidade gay que sem­pre enx­er­gou no dis­curso dele e dos seus algum respeito – igno­rando todos os precedentes.

Agora, acuado por tan­tas denún­cias, o mesmo sen­hor Lula é fla­grado noutra incon­fidên­cia, igual­mente chocante.

No inter­esse de usar os movi­men­tos fem­i­nistas a seu favor – e para fusti­gar os adver­sários –, refere-​se às suas com­pan­heiras de par­tido (e de seus satélites), como as «mul­heres do grelo duro».

Uma em espe­cial, com­pan­heira de tra­balho no insti­tuto que leva seu nome, que não dec­linarei o nome por respeito, chegou a sug­erir que a mesma ficara embeve­cida ao ser sur­preen­dida, ainda durante o sono, por cinco agentes da polí­cia fed­eral, imag­i­nando tratar-​se de pre­sente dos deuses.

Como definir com­por­ta­mento tão desumano e desre­speitoso con­tra pes­soas que sem­pre estiveram a seu lado e por ele foram usadas? Será que as mul­heres, inde­pen­dente de suas prefer­ên­cias sex­u­ais, mere­cem esse tipo de trata­mento? Será que alguma mul­her con­sid­er­aria um pre­sente de Deus a pos­si­bil­i­dade de sofrer um estupro cole­tivo? Cer­ta­mente que não.

Somente na cabeça de uma pes­soa que fez da explo­ração do próx­imo uma forma de crescer na vida é capaz de dis­pen­sar esse tipo de trata­mento as pes­soas, mais ainda pes­soas que, ainda, o idolatram.

Esta não é primeira vez que mostro ser falso esse dis­curso de respeito às mino­rias usa­dos pelos que se assen­ho­raram do poder no Brasil.

Quem não lem­bra destas pes­soas defend­endo e fazendo cam­panha política na Venezuela, com seus ali­a­dos de lá, tratando os adver­sários da pior forma, só se referindo ao prin­ci­pal deles como um «viadão»? Quem não sabe que babam o mod­elo cubano dos irmãos Cas­tro que sem­pre dis­pen­sou o pior trata­mento aos homos­sex­u­ais da ilha? As relações pes­soais, pra lá de afe­tu­osas, com dita­dores africanos que crim­i­nal­izam o homos­sex­u­al­ismo? O apoio ofi­cial dos par­tidos da base à ditadura norte-​coreana que comete todo tipo de crimes con­tra a humanidade?

Na ver­dade, essas mino­rias étni­cas, mar­gin­al­iza­dos, homos­sex­u­ais, negros, etc, sem­pre foram usa­dos e con­ser­va­dos como um público à dis­posição e massa de manobra. Estão ali a jus­ti­ficar o dis­curso con­tra a «elite branca».

Não pre­cisamos ir muito longe no tempo.

Venderam a ascen­são do negro brasileiro como mérito de seus gov­er­nos a nomeação do min­istro Joaquim Bar­bosa para o STF. Quando este, no processo que ficou con­hecido como «men­salão», não aceitou a canga que ten­taram lhe impor – no caso absolver ou maneirar para seus cor­rup­tos de esti­mação –, pas­saram a lhe satanizar, inclu­sive demon­strando todo pre­con­ceito arraigado, cobrando fidel­i­dade – como agora fiz­eram com Janot – e, frus­ta­dos no seu intento, pas­saram a lhe atacar de todas as formas.

As gravações rev­e­lam como o ex-​presidente trata a sua mil­itân­cia: como peões. Se fosse um jogo de xadrez, decerto que ele seria o rei e os peões estão no tab­uleiro ape­nas para lhe pro­te­ger e aos seus familiares.

O que dizer da aqui­escên­cia desaver­gonhada ao que dizia o sen­hor Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro, sobre pos­suir «alma de pobre», de ter com­prado um sitio vagabundo? Aquele dos amigos.

Não pre­cisamos ir muito longe no espaço para enten­der o quanto é falso esse dis­curso de defesa das minorias.

Quais as medi­das dis­ci­pli­nares ado­tadas pelo PC do B con­tra o dep­utado estad­ual Fer­nando Fur­tado que referiu-​se aos indí­ge­nas de uma tribo ameaçada de extinção como «vead­in­hos»? Além de todos impropérios con­tra eles e con­tra diver­sos out­ros segui­men­tos? Até agora nenhuma.

A rev­e­lação das incon­fidên­cias do ex-​presidente nas inter­cep­tações tele­fôni­cas autor­izadas e divul­gadas pela justiça rev­ela ape­nas que ele con­tinua o mesmo boçal de sem­pre. O mesmo cidadão que se referiu à cidade de Pelotas como polo expor­ta­dor de vea­dos é o mesmo que agora se ref­erem as fem­i­nistas brasileiras, mais pre­cisa­mente as do seu par­tido, como «mul­heres do grelo duro».

Mais uma infâmia, uma ver­gonha, com a qual ter­e­mos que con­viver enquanto tiver­mos memória.

Abdon Mar­inho é advogado.

Car­tas e Carteiros.

Escrito por Abdon Mar­inho

CARTAS E CARTEIROS.

AS COISAS acon­te­cem com tamanha veloci­dade ulti­ma­mente que é provável que este texto não tenha qual­quer sen­tido na hora que for publicado.

Vejamos os últi­mos episó­dios da política nacional: pela manhã se fes­te­java uma pos­sível posse do ex-​presidente Lula no min­istério da pres­i­dente Dilma Rouss­eff, a noite o palá­cio estava siti­ado com mil­hares de pes­soas prote­s­tando, em Brasília e em diver­sas cidades do país.

O gov­erno perdeu o «time» para qual­quer ati­tude. A nomeação, agora de Lula, ao invés de ser uma chance de retomada, tornou-​se mais uma frente de prob­le­mas. Há um ano atrás quando sug­eri isso – a última vez que escrevi sobre o tema foi em agosto de 2015 –, talvez tivesse o efeito de bál­samo saneador, agora a situ­ação é total­mente distinta.

Ora, se lá atrás, os inves­ti­gadores, inte­grantes do min­istério público e do judi­ciário era unís­sonos em dizer que nada havia con­tra o ex-​presidente, que o mesmo não era objeto de inves­ti­gação – emb­ora qual­quer um soubesse que não tinha como as inves­ti­gações não chegar a ele –, no momento, quando já denun­ci­ado e ofi­cial­mente inves­ti­gado, o alo­ja­mento no cargo de min­istro, deixou claro que bus­cou guarita no cargo; que está escon­dido no min­istério e que espera con­tar com as nor­mais demora do trâmite proces­sual na Suprema Corte para escapar da cadeia; fazer pre­scr­ever algu­mas penas (já que beira os setenta anos) ou mesmo, como rev­elou as inter­cep­tações tele­fôni­cas, usar o peso do cargo para obstruir o tra­balho da Justiça.

Aí, cheg­amos a outro ponto cru­cial: a divul­gação do con­teúdo das inter­cep­tações tele­fôni­cas do ministro/​investigado. De antemão, entendo que os pro­ced­i­men­tos não estão isen­tos de serem ques­tion­a­dos – emb­ora, a princí­pio, tenha me pare­cido razoável a argu­men­tação do juiz Moro.

Entre­tanto, emb­ora os «peões», como o ex-​presidente se referiu a seus defen­sores, se agar­rem a argu­men­tação de ile­gal­i­dade, este não é o fato grave (ou mais grave, com queiram). O fato de gravi­dade ímpar é o con­teúdo das gravações mostrando as ingerên­cias inde­v­i­das – e até ile­gais –, do ex-​presidente em pro­ced­i­men­tos inves­ti­gatórios e judi­ci­ais em clara posição de obstrução à Justiça.

O con­teúdo das gravações tor­nadas públi­cas – não se trata aqui de um «vaza­mento «, como sem­pre alegam – somado ao que já disse o senador Del­cí­dio do Ama­ral, repises-​se, ex-​líder do PT e do gov­erno; o con­teúdo de diver­sas out­ras delações pre­mi­adas, desnudam, de forma inequívoca, ações de uma quadrilha que tomaram de assalto o poder.

O mais grave: tendo o ex-​presidente como chefe das ativi­dades crim­i­nosas e a atual pres­i­dente na posição (até aqui) de conivente, partícipe, a ponto de se prestar ao papel em que figura nas gravações.

Claro que se deve dis­cu­tir se houve ou não ile­gal­i­dade no que a polí­cia e justiça fiz­eram; se houve exces­sos e, caso pos­i­tivo, respon­s­abi­lizar, se for o caso. Entre­tanto isso não desmerece os fatos apu­ra­dos, que apon­tam o ex-​presidente na topo da cadeia de comando.

A ati­tude de algu­mas pes­soas diante de tamanha gravi­dade se assemelha a daque­les que matavam os carteiros quando não gostavam das notí­cias con­stante das car­tas. Os fatos são de gravi­dade ímpar. Esta é a real­i­dade que não pode ser ocul­tada ou igno­rada pouco impor­tando como nos foi revelada.

E, por falar em car­tas e carteiros, serve como reg­istro histórico que tudo começou lá atrás, com aquele servi­dor dos cor­reios recebendo aquela «peteca» de três mil reais, se não me falha a memória.

O dia prom­ete, logo mais ter­e­mos novidades.

Bom dia a todos.

Abdon Mar­inho é advogado.

(Texto sem correção)