Cartas e Carteiros.
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- Criado: Quinta, 17 Março 2016 10:00
- Escrito por Abdon Marinho
CARTAS E CARTEIROS.
AS COISAS acontecem com tamanha velocidade ultimamente que é provável que este texto não tenha qualquer sentido na hora que for publicado.
Vejamos os últimos episódios da política nacional: pela manhã se festejava uma possível posse do ex-presidente Lula no ministério da presidente Dilma Rousseff, a noite o palácio estava sitiado com milhares de pessoas protestando, em Brasília e em diversas cidades do país.
O governo perdeu o «time» para qualquer atitude. A nomeação, agora de Lula, ao invés de ser uma chance de retomada, tornou-se mais uma frente de problemas. Há um ano atrás quando sugeri isso – a última vez que escrevi sobre o tema foi em agosto de 2015 –, talvez tivesse o efeito de bálsamo saneador, agora a situação é totalmente distinta.
Ora, se lá atrás, os investigadores, integrantes do ministério público e do judiciário era uníssonos em dizer que nada havia contra o ex-presidente, que o mesmo não era objeto de investigação – embora qualquer um soubesse que não tinha como as investigações não chegar a ele –, no momento, quando já denunciado e oficialmente investigado, o alojamento no cargo de ministro, deixou claro que buscou guarita no cargo; que está escondido no ministério e que espera contar com as normais demora do trâmite processual na Suprema Corte para escapar da cadeia; fazer prescrever algumas penas (já que beira os setenta anos) ou mesmo, como revelou as interceptações telefônicas, usar o peso do cargo para obstruir o trabalho da Justiça.
Aí, chegamos a outro ponto crucial: a divulgação do conteúdo das interceptações telefônicas do ministro/investigado. De antemão, entendo que os procedimentos não estão isentos de serem questionados – embora, a princípio, tenha me parecido razoável a argumentação do juiz Moro.
Entretanto, embora os «peões», como o ex-presidente se referiu a seus defensores, se agarrem a argumentação de ilegalidade, este não é o fato grave (ou mais grave, com queiram). O fato de gravidade ímpar é o conteúdo das gravações mostrando as ingerências indevidas – e até ilegais –, do ex-presidente em procedimentos investigatórios e judiciais em clara posição de obstrução à Justiça.
O conteúdo das gravações tornadas públicas – não se trata aqui de um «vazamento «, como sempre alegam – somado ao que já disse o senador Delcídio do Amaral, repises-se, ex-líder do PT e do governo; o conteúdo de diversas outras delações premiadas, desnudam, de forma inequívoca, ações de uma quadrilha que tomaram de assalto o poder.
O mais grave: tendo o ex-presidente como chefe das atividades criminosas e a atual presidente na posição (até aqui) de conivente, partícipe, a ponto de se prestar ao papel em que figura nas gravações.
Claro que se deve discutir se houve ou não ilegalidade no que a polícia e justiça fizeram; se houve excessos e, caso positivo, responsabilizar, se for o caso. Entretanto isso não desmerece os fatos apurados, que apontam o ex-presidente na topo da cadeia de comando.
A atitude de algumas pessoas diante de tamanha gravidade se assemelha a daqueles que matavam os carteiros quando não gostavam das notícias constante das cartas. Os fatos são de gravidade ímpar. Esta é a realidade que não pode ser ocultada ou ignorada pouco importando como nos foi revelada.
E, por falar em cartas e carteiros, serve como registro histórico que tudo começou lá atrás, com aquele servidor dos correios recebendo aquela «peteca» de três mil reais, se não me falha a memória.
O dia promete, logo mais teremos novidades.
Bom dia a todos.
Abdon Marinho é advogado.
(Texto sem correção)