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A AGO­NIA DOS MUNICÍ­PIOS BRASILEIROS.

Escrito por Abdon Mar­inho

A AGO­NIA DOS MUNICÍ­PIOS BRASILEIROS.

Em meio ao tur­bil­hão que con­fla­grou a política nacional, pas­sou desaperce­bido uma reunião entre a pres­i­dente Dilma Rouss­eff e diver­sos gov­er­nadores de estado para tratar da dívida impagável destes entes fed­er­a­dos. Segundo fui infor­mado existe a ideia de abater de suas dívi­das cerca de 40% (quarenta por cento). Ao se con­fir­mar as trata­ti­vas trata-​se de um grande alento para os estados.

Se é certo que os esta­dos estão em difi­cul­dades – e eles pos­suem muito mais capaci­dade de arrecadação –, a situ­ação dos municí­pios, prin­ci­pal­mente os dos nordestes é de insolvência.

Acom­panho, presto asses­so­ria e con­sul­to­ria aos municí­pios maran­henses há mais de vinte anos, con­fesso que nunca vi situ­ação tão difí­cil. Os números são ater­radores e eles não mentem.

Não há mis­tério nen­hum. Nos últi­mos anos os municí­pios veem per­dendo, anual­mente, cerca de 30% (trinta por cento) com a dete­ri­o­ração do Fundo de Par­tic­i­pação dos Municí­pios — FPM, quem lida com a admin­is­tração pública no dia a dia, sus­tenta que essa redução é bem maior.

Ainda que sejam ape­nas trinta por cento, a Con­fed­er­ação Nacional dos Municí­pios — CNM, tem um estudo sobre todos os municí­pios brasileiros, ape­nas para ficar nos mais próx­i­mos, municí­pios como, São Luís tem per­dido por ano quase 150 mil­hões de reais; Cax­ias quase 30 mil­hões; per­das idên­ti­cas sofrem Timon e Imper­a­triz. Para estes, que são grandes – emb­ora com prob­le­mas tam­bém grandes –, o impacto pode até ser mino­rado dev­ido a capaci­dade de obtenção receitas próprias.

Bem pior é a situ­ação dos municí­pios médios e pequenos, que depen­dem uni­ca­mente das receitas do FPM. O impacto destas per­das é cat­a­stró­fico. Emb­ora sig­nifique pouco para Açailân­dia perder 10 ou 11 mil­hões de reais por ano, Axixá perder 3 mil­hões, Mor­ros perder 4,5 mil­hões ou Belágua perder 2 mil­hões por ano, dese­qui­li­bra, por com­pleto, suas finanças e é isso que tem acontecido.

Emb­ora o prob­lema das per­das já tenha um efeito dev­as­ta­dor para as finanças públi­cas munic­i­pais, a situ­ação ainda é muito mais grave.

Além das per­das, a inflação de janeiro de 2012 a fevereiro de 2016, chegou a 30,46%. Tal inflação tornou os serviços e obras públi­cas muito mais caras. Qual­quer um é capaz de aferir o impacto no bolso do aumento da gasolina ou do óleo diesel nos últi­mos anos. O mesmo acon­tece com os municí­pios, se vai fazer uma obra ela se tornou mais cara, se vai fazer um trans­porte esco­lar, de pacientes, etc, não con­segue fazer ao custo que fazia antes.

Os impactos não ficam ape­nas nisso.

O salário mín­imo que tem um grande impacto na folha de pes­soal saltou de R$ 622,00 (seis­cen­tos e vinte e dois reais), em 2012 para R$ 880,00 (oito­cen­tos e oitenta reais) em 2016. Tem mais, o piso nacional dos pro­fes­sores mais que dobrou nos últi­mos anos saltando de R$ 1.024 (hum mil e vinte qua­tro reais) em 2010 para R$ 2.135 (dois mil cento e trinta e cinco reais) em 2016. Emb­ora se diga, no caso dos pro­fes­sores, que tam­bém houve um incre­mento nos val­ores repas­sa­dos pelo FUN­DEB, o impacto nas finanças públi­cas per­manece pois a maio­ria dos municí­pios só ele­vam com justeza os salários dos pro­fes­sores, mas há anos não con­seguem dar nada de aumento as out­ras cat­e­go­rias, muitas mal con­seguem gan­har o mínimo.

O resul­tado é que, como as receitas públi­cas não evoluíram na mesmo padrão das despe­sas, muito pelo con­trario, quase noventa por cento dos municí­pios brasileiros, ultra­pas­saram os lim­ites esta­b­ele­ci­dos pela Lei de Respon­s­abil­i­dade Fis­cal — LRF para os gas­tos com pes­soal. Estão todos na faixa emer­gen­cial, muitos com gas­tos de 60, 70 e até 80% de gas­tos ape­nas com pes­soal. Um ligeiro estudo mostra que os municí­pios estão em situ­ação de insolvên­cia sem con­seguirem hon­rar com­pro­mis­sos impor­tantes e urgentes.

Como é pos­sível um municí­pio que já ultra­pas­sou em muito os 51,30% com gas­tos com pes­soal, con­siga arcar com mais 112 avos de ferias, 13º salário e ainda 22% (vinte e dois por cento) de encar­gos prov­i­den­cia­rias (INSS)?

A conta não fecha.

Como disse Jesus Cristo, dêem a César o que é de César. Parte da respon­s­abil­i­dade insta­l­ada nas finanças públi­cas teve a par­tic­i­pação dos órgãos de con­t­role, tanto do TCE’s quanto do min­istério público, os estad­u­ais e o federal.

Explico: a par­tir de mea­dos dos anos noventa, com as mel­hores das intenções, cer­ta­mente, cer­raram fileiras para que os municí­pios não tivessem um servi­dor con­tratado. Todos dev­e­riam ser con­cur­sa­dos, inclu­sive aque­les, que tra­bal­hariam nos pro­gra­mas cri­a­dos e impos­tos pelo gov­erno fed­eral aos municípios.

Assim, os prefeitos foram con­vo­ca­dos a assinarem ajus­ta­mento de con­duta, comprometendo-​se a encer­rar todos os con­tratos e a fazer con­curso público, inclu­sive para os pro­gra­mas. Lem­bro que numa destas audiên­cias ques­tionei o rep­re­sen­tante do min­istério público se não estaria havendo demasi­ado aço­da­mento uma vez que se os pro­gra­mas acabassem os municí­pios não teriam como arcar com as despe­sas. Como resposta me dis­seram que isto seria impos­sível. Uma fez cri­ado um pro­grama ele não pode­ria acabar, por conta de um princí­pio lá qualquer.

A real­i­dade econômica parece igno­rar tais princí­pios e a boa von­tade destes órgãos de con­t­role: o gov­erno fed­eral já acabou com alguns, demora a fazer os repasses de out­ros e os municí­pios é que têm que arcar com tais despe­sas. Os servi­dores, quando tem o din­heiro do gov­erno fed­eral, querem gan­har como servi­dores da União, quando esta atrasa, dizem sem nen­hum [pudor, porém com acero: somos servi­dores do município.

Caso emblemático é dos Agentes Comu­nitários de Saúde. Estes servi­dores – impor­tan­tís­si­mos por sinal – ingres­saram no serviço público numa exceção con­sti­tu­cional. Hoje, querem rece­ber todas as benesses dos repasses e ainda os quin­quênios, añuênios e demais pen­duri­cal­hos do serviço público. Não dis­cuto se têm ou não razão, é até capaz que ten­ham. Acon­tece, que o gov­erno fed­eral criou situ­ações e as pas­sou para os municí­pios admin­is­trar sem que estes recebessem recur­sos para tal.

A situ­ação dos municí­pios e seus gestores é calami­tosa. Muitos não terão como fechar as con­tas, criando prob­le­mas de ordem pes­soal para si e suas equipes, levando a todos a sérios prob­le­mas no futuro próximo.

O malfeitor quer ape­nas uma des­culpa, não se quer aqui, de forma alguma, fin­gir descon­hecer a malan­dragem ou a má-​fé de muitos. Estes, inclu­sive, até se aproveitam das difi­cul­dades para tirar van­ta­gens indevidas.

Mas, por outro lado, não podemos descon­hecer a real­i­dade apre­sen­tada pelos números. Eles estão postos.

As autori­dades, dep­uta­dos estad­u­ais, fed­erais, senadores, pre­cisam se debruçar a este prob­lema com urgên­cia. A maio­ria dos atu­ais gestores cor­rem o sério risco de sairem dos seus mandatos com prob­le­mas judi­cias decor­rentes destas situ­ações, des­cumpri­mento da s metas da LRF, incon­sistên­cia nos repasses prev­i­den­ciários, etc. Emb­ora muitos ten­ham parcela de culpa, os demais não têm, são ape­nas víti­mas do achata­mento bru­tal de suas receitas e o aumento das despesas,

Urge que os órgãos de con­t­role – ao invés de só bus­carem os malfeitos nas gestões –, dev­e­riam con­vo­car, com urgên­cia, uma audiên­cia pública para dis­cu­tir e bus­car soluções para a calami­tosa situ­ação dos municípios.

Em finanças públi­cas não exis­tem mila­gres. Não é pos­sível resolver despe­sas sem receitas.

Outro dia o Min­istério Público Estad­ual divul­gou, como se tivesse feito uma grande coisa, que solic­i­tara ao Tri­bunal de Justiça a relação de gestores públi­cos con­de­na­dos em segunda instância.

A ideia do órgão min­is­te­r­ial é pedir o ime­di­ato cumpri­mento das penas. Emb­ora, pes­soal­mente, seja con­tra a decisão do Supremo em relação a questão, o que me chamou a atenção na ini­cia­tiva do MPMA é o fato dele ter solic­i­tado a relação de ex-​gestores públi­cos, muitos rep­re­sen­tantes do povo, antes de haver solic­i­tado a relação dos latro­ci­das, homi­ci­das, estupradores, etc.

Não é que não deva fazer isso. A questão posta é o grau de pri­or­i­dade. O valente min­istério público colo­cou os ex-​gestores à frente da turma toda acima referida.

O Min­istério Público, parte do Judi­ciário e dos demais órgãos de con­t­role, pre­con­ce­beram a ideia de que todo gestor público é ban­dido. Tomam tal con­ceito como ver­dade sem con­hecerem a real situ­ação em que foi mer­gul­hada a admin­is­tração pública à rev­elia dos gestores.

Claro que, como existe em toda cat­e­go­ria, como advo­ga­dos, mem­bros do min­istério público, do judi­ciário, da polí­cia, dos médi­cos, tam­bém deve haver ban­di­dos, entre os gestores públi­cos, o que não podemos é tomar tal situ­ação como regra. Sob pena de torn­ar­mos o serviço público um antro de mar­gin­ais a ponto das pes­soas sérias não pre­tenderem mais dis­putar a rep­re­sen­tação política.

O que seria a pior solução, pois aí sim entre­garíamos o serviço público ape­nas aos mal intencionados.

Diante de tudo isso alguém aí se habilita a ser prefeito?

Abdon Mar­inho é advogado.

NA COVA DA JARARACA.

Escrito por Abdon Mar­inho

NA COVA DA JARARACA.

NINHO DE COBRAS é um clás­sico do cin­ema estadunidense de 1970. Na parte que inter­essa ao texto, Kirk Dou­glas, inter­preta o ban­dido Paris Pit­man Jr que, com seu bando assalta, um rico fazen­deiro. Na troca de tiros todos os mem­bros da quadrilha mor­rem só restando ele com os 500 mil dólares, que esconde a maior parte em um buraco repleto de cobras, dai o título do filme. Uma noite, enquanto se diverte num «saloon» é recon­hecido pela vítima do assalto, preso e con­de­nado a dez anos de cadeia a serem cumpri­dos numa prisão no meio do deserto do Ari­zona. Emb­ora leve uma imensa pressão não rev­ela onde escon­deu o din­heiro, des­per­tando a cobiça do dire­tor do esta­b­elec­i­mento que trata de come­ter seus abusos.

Os veícu­los de comu­ni­cação e, sobre­tudo, as redes soci­ais, fazem um bur­bur­inho imenso com a rev­e­lação de que a Polí­cia Fed­eral desco­briu um cofre no Banco do Brasil repleto de bens do ex-​presidente, Lula. Tais bens, ao menos parte deles, seriam fruto de doações rece­bidas pelo Sr. Lula quando ocu­pava a presidên­cia da República. Outra parte, há ques­tion­a­men­tos sérios, se per­tence­riam ao acervo nacional.

A analo­gia faz sen­tido uma vez que o ex-​presidente se auto­proclamou uma jararaca – nome que se dá a diver­sas ser­pentes do gênero Both­rops. Nada mais ilus­tra­tivo que uma jararaca cuidando de sua pequena fortuna.

Não pre­tendia mais voltar a tratar do assunto Lula. infe­liz­mente, para nosso des­gosto, cada dia tem uma novidade.

A novi­dade da vez são os bens que o ex-​presidente rece­beu no exer­cí­cio do cargo. Mais, que na mudança do mesmo no tér­mino do mandato, talvez por equívoco, tenha lev­ado algo além dos «pre­sentes de caráter pessoal».

O próprio ex-​presidente fez questão de alardear que rece­bera mais pre­sentes que todos os ante­ces­sores jun­tos. Segundo ele seria onze con­têineres só em presentes.

Tanta abundân­cia lhe cau­sou um prob­lema adi­cional. Como guardar tanta coisa? O aparta­mento de São Bernardo – ainda que dupli­cado graças a aluguel do imóvel de um par­ente do primeiro-​amigo José Car­los Bum­lai –, não seria suficiente.

A solução seria man­dar parte para o sítio «que não é do Lula», gen­til­mente refor­mado a gosto do próprio por empre­it­eiras ami­gas. Outra parte alo­jado em um depósito pago por outra empreiteira.

A parte mais valiosa, as assim chamadas jóias da coroa, ficaram alo­jadas no já referido cofre do Banco do Brasil. Neste último caso, um pequeno detalhe me chamou a atenção: se não ouvi errado, o aluguel do cofre não é supor­tado pelo ex-​presidente ou qual­quer de seus familiares.

Como vemos, emb­ora o ex-​presidente e seus ali­a­dos reclamem de uma suposta perseguição, tudo que o envolve é um tanto quanto neb­u­loso. Tudo foge à normalidade.

Como é com­preen­sível que alguém more a vida inteira de favor de ami­gos? Aí o ex-​presidente quer des­cansar, muito sim­ples: vai ao sítio que é de ami­gos, refor­mado a seu gosto por ami­gos e que, ao que parece, quem menos fre­quen­tava o imóvel eram seus pro­pri­etários. Não lhes parece estranho?

Mais estranho ainda é a situ­ação do já famoso triplex do Guarujá. Não é de hoje que a coop­er­a­tiva respon­sável pela con­strução dos imóveis é envolvida em escân­da­los, até cul­mi­nar com sua falên­cia – segundo dizem, dev­ido aos desvios dos asso­ci­a­dos para o caixa do PT – e as obras serem assum­i­das por uma empre­it­eira que pon­tif­ica o escân­dalo do «petrolão». Ainda que esta empre­it­eira não estivesse envolvida, não com­por­taria a um ex-​presidente da República, sequer, pas­sar perto de tais imóveis, muito menos pos­suir uma cota, menos ainda, que tal cota fosse do mel­hor imóvel de todos, pos­suindo até um ele­vador interno, tam­bém isso, além de riquís­sima reforma, ban­ca­dos por con­stru­toras enro­ladas. Ainda mais que isso ocorre em detri­mento de cen­te­nas de famílias que jog­a­ram suas econo­mias no sonho da casa própria e hoje moram de favor, de aluguel.

Não. Não com­porta a um ex-​presidente esse tipo de estripulia.

Mas volte­mos aos tais «presentes».

Lem­bro que quando da saída do ex-​presidente, muitas foram as notí­cias de teria havido uma «limpa» nos palá­cios da República. Tudo dev­i­da­mente igno­rado tendo em vista a troca de guarda «den­tro de casa» e o amplo apoio pop­u­lar do que des­ocu­pava o posto.

A primeira per­gunta que merece ser feita é se os pre­sentes foram dados ao cidadão Lula ou ao pres­i­dente da República Luís Iná­cio Lula da Silva? Será que teria rece­bidos tan­tos pre­sentes se fosse ape­nas um líder sindi­cal, ainda que toda sua história? Será que gan­haria tanta coisa? Cer­ta­mente que não.

Os gov­er­nantes pre­cis­ariam enten­der que tais «pre­sentes» perte­cem a nação, mais ainda quando fruto de tro­cas entre chefes de estado e governo.

Ainda que pela leg­is­lação haja amparo ao pres­i­dente da nação rece­ber tan­tos «mimos» – até tronos africanos, segundo o ex-​presidente –, não acho cor­reto se apro­pri­arem de tais pre­sentes. Devendo valer a eles as mes­mas regras dis­pen­sadas aos demais servi­dores públi­cos: aquilo que tivesse um deter­mi­nado valor que fosse con­sid­er­ado um pre­sente pes­soal, tipo um livro, um cer­ti­fi­cado, um diploma, etc., beleza, pode levar, mas aque­les com valor supe­rior dev­e­riam ficar para nação sob pena de sig­nificar enriquec­i­mento sem causa, até mesmo improbidade.

Então o cidadão viaja às cus­tas do con­tribuinte, com tudo pago, com dire­ito a luxos – até exces­sivos –, e ainda se apro­priam para o deleite próprio daque­les pre­sentes rece­bidos. Não me parece ético, não me parece cor­reto. Pelo con­trário sig­nifi­caria o vilipên­dio da própria república, a res pub­lica, a coisa pública. Na nova ordem, a coisa que dev­e­ria ser pública, se tornou pri­vada, onze con­têineres, tronos da África, ada­gas, e até o Cristo foi levado.

Mas essa é ape­nas uma opinião, cada um pos­sui sua própria ética.

Abdon Mar­inho é advogado.

CRÔNICA POLI­CIAL: O LIN­CHAMENTO DE PIXULECO.

Escrito por Abdon Mar­inho

CRÔNICA POLI­CIAL: O LIN­CHAMENTO DE PIXULECO.

SÃO LUÍS DO MARAN­HÃO — A cap­i­tal maran­hense reg­istrou mais uma cena que tem se tor­nado uma triste rotina: a turba enfure­cida pro­moveu mais um lin­chamento. Desta vez os lin­chadores não procu­raram escon­der o rosto agindo em plena luz do dia e, munidos de armas bran­cas par­ti­ram para cima vítima inde­fesa, igno­rando ou fazendo pouco caso dos poli­ci­ais que ten­taram defendê-​la.

No episó­dio, além da vítima – que sofreu inúmeros fer­i­men­tos a golpe de facas e chuchus, tendo per­dido uma das mãos – poli­ci­ais tam­bém saíram feridos.

A vítima de tamanha sel­vage­ria: um boneco inflável que atende pela alcunha de PIX­ULECO. Uma rep­re­sen­tação do ex-​presidente Lula vestido de pre­sidiário acor­rentado a uma bola.

Os autores do fato: mil­i­tantes políti­cos e sindi­cais, com notí­cia de que autori­dades do gov­erno estad­ual tam­bém par­tic­i­param do lin­chamento do boneco inflável.

Tendo sido detido o prin­ci­pal dos lin­chadores – acredita-​se o que teria dado o golpe que pois o indig­i­tado Pix­uleco fora de com­bate –, os demais acotovelaram-​se na Del­e­ga­cia de Poli­cia bus­cando sua soltura. Enquanto cui­davam de trans­mi­tir o feito e seus des­do­bra­men­tos pelos meios de comu­ni­cação, sobre­tudo, pelas redes soci­ais, autodenominado-​se de “carbonários”.

Aos que não têm muita famil­iari­dade com os ter­mos “esquerdis­tas”, car­bonário (do latim car­bon­ato, ‘car­voeiro’) é um sub­stan­tivo mas­culino que serve para denom­i­nar o mem­bros de sociedade sec­reta e rev­olu­cionária que atuou na Itália, França e Espanha no princí­pio do séc. XIX; por exten­são, aplica-​se o termo ao mem­bro de qual­quer sociedade sec­reta e revolucionária.

O reg­istro feito, serve, ape­nas, para realçar o exagero que é denom­i­nar de “car­bonário» alguém que se ocupa de lin­char bonecos infláveis. Talvez se usassem fogo para queimá-​lo, o termo pode­ria fazer sen­tido, pela lit­er­al­i­dade. Parece-​me um tanto quanto patético, ou então o espir­ito rev­olu­cionário caiu muito.

Entendo mere­cer reg­istro a defesa feita por impor­tante advo­gado com pro­jeção nacional, pro­fes­sor de dire­ito e ex-​dirigente da enti­dade que rep­re­senta os advo­ga­dos maran­henses, dos atos prat­i­ca­dos pelos ‘nos­sos» “car­bonários”. Com­para a exibição do boneco rep­re­sen­ta­tivo do ex-​presidente Lula ao vilipên­dio da imagem de Nossa Sen­hora ou ao pre­con­ceito dis­pen­sado por alguns sulis­tas aos nordes­ti­nos ou à dis­crim­i­nação feita por alguns pas­tores evangéli­cos à umbanda, can­domblé ou ainda, à dis­crim­i­nação sofrida pelas “mino­rias» sex­u­ais abri­gadas na sigla LGBT. Jus­ti­f­i­cando os atos dos “car­bonários» nos seguintes ter­mos: «Nesse con­texto, a reação indig­nada dos mil­i­tantes do PT que ras­garam o “pix­uleco” pode se equiparar à reação de um católico, indig­nado con­tra o vilipên­dio à santa, ou dos nordes­ti­nos dis­crim­i­na­dos por uns poucos racis­tas do sul».

Con­fesso não enx­er­gar nen­huma semel­hança entre as analo­gias feitas pelo grande advo­gado. Nem de longe é pos­sível confundir-​se o manto azul da padroeira do Brasil com a camiseta encar­nada vestida pelo ex-​presidente Lula, capaz de igualar a reação de indig­nação de um católico con­tra o vilipen­dio da Santa ou a dis­crim­i­nação sofrida por nós nordes­ti­nos por uns poucos racista do sul, ao ato de van­dal­ismo per­pe­trado con­tra o boneco Pixuleco.

Noutra quadra, não é de meu con­hec­i­mento nen­hum envolvi­mento de Nossa Sen­hora em atos de cor­rupção que lesaram a pátria em bil­hões de reais, e que a mesma tenha rece­bido propina ou favores de empre­it­eiras amigas.

OPINIÃO DA REDAÇÃO: Os atos prat­i­ca­dos por inte­grantes do Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT, por inte­grantes da Cen­tral Única dos Tra­bal­hadores — CUT, por inte­grantes dos Par­tido Comu­nista do Brasil — PC do B e por inte­grantes do próprio gov­erno, como ampla­mente divul­gado, são incom­patíveis com o régime democrático que pre­tendemos con­struir e com os val­ores que devem exi­s­tir numa sociedade civilizada.

Quando um cidadão resolve abdicar de sua vida pri­vada para ingres­sar na vida pública é sabedor que está sujeito às crit­i­cas sejam elas jus­tas, sejam elas injustas.

Numa democ­ra­cia não é aceitável que inte­grantes de par­tidos políti­cos — suposta­mente com­pro­meti­dos com seus val­ores — e muito menos ainda, que mem­bros de gov­er­nos, pro­movam atos de vio­lên­cia ao invés de bus­car o res­guardo dos seus dire­itos nos poderes do Estado.

Ora, se o par­tido do ex-​presidente e seus satélites se sen­tem ofen­di­dos com a figura de um boneco car­ac­ter­i­zado de pre­sidiário que se socor­ram do Poder do Judi­ciário para proibi-​lo.

A lei crim­i­nal­iza o vilipên­dio dos sím­bo­los reli­giosos, o racismo, a dis­crim­i­nação de qual­quer natureza, inclu­sive a de ori­en­tação sex­ual ou de gênero.

Pode­riam enquadrar a car­ac­ter­i­za­ção den­tro delas ou outra como uso inde­v­ido da imagem, etc.

Não é admis­sível que se armem com todo tipo de armas para impedir uma man­i­fes­tação e con­frontar pes­soas pací­fi­cas, cidadãos maran­henses — a maio­ria profis­sion­ais lib­erais com rel­e­vantes serviços presta­dos à sociedade.

Não foram ao judi­ciário por temerem a Justiça? Por saberem que a sua pos­tu­lação não encon­traria respaldo? Não con­fiam nos instru­men­tos do Estado? Se é assim, como pre­ten­dem diri­gir esse mesmo Estado?

A situ­ação ganha con­tornos mais dramáti­cos quando se afirma que inte­grantes do próprio gov­erno estavam na linha de frente ou na reta­guarda dos atos anti­democráti­cos. Onde está a razão de um mem­bro do gov­erno que vai para rua, armado de faca, para impedir uma man­i­fes­tação? E se os man­i­fes­tantes tivesse reagido à altura, tam­bém com facas ou armas de fogo? Estariam no seu dire­ito, não? E se a polí­cia tivesse usado a força para garan­tir a liber­dade de manifestação?

Vejam, pelos nomes divul­ga­dos e fotos, os «rev­olu­cionários» lin­chadores de bonecos infláveis, são todas pes­soas con­heci­das, algu­mas já tendo exer­ci­dos ou exercendo mandatos ele­tivos, out­ros ocu­pado car­gos de destaque no serviço público, por eleição ou del­e­gação, não com­porta que ajam como uma malta de arru­a­ceiros. Mais, são pes­soas que tanto em âmbito fed­eral quanto estad­ual estão no poder. Teori­ca­mente, ao menos, dev­e­riam ser os primeiros a dar o exemplo.

Como ficaria a imagem dos gov­er­nos a que servem, caso, uma man­i­fes­tação pací­fica — uma sim­ples exibição de um boneco -, tivesse descam­bado para uma vio­lên­cia gen­er­al­izada com mor­tos e feri­dos? Cer­ta­mente que não a Dilma do PT. Cer­ta­mente que não a Flávio Dino do PC do B.

Será que estão empen­hados em deses­ta­bi­lizar os gov­er­nos a que servem?

Esse tipo de tolice me lem­bra um fato, ver­dadeiro, mas com ares de ane­dota política, ocor­rido, ao que parece, no gov­erno José Reinaldo. Tendo o gov­er­nador rompido com seu grupo de origem unira-​se aos anti­gos adversários.

Certa vez reunido em pleno gabi­nete prin­ci­pal do palá­cio dos Leões com sua nova base de sustenção um dos ali­a­dos pede a palavra e começa: — Porque nós, da oposição…”. Um dos pre­sentes, mais expe­ri­ente, inter­rompeu para fazer a cor­reção: — Alto lá, com­pan­heiro, esta­mos den­tro do Palá­cio dos Leões, no gabi­nete do gov­er­nador. Se há oposição, ela está do lado de fora”.

Talvez seja a hora do gov­er­nador reunir sua base de sustenção e, prin­ci­pal­mente, os sub­or­di­na­dos, para lhes dizer que são gov­erno. Pode­riam aproveitar para dar-​lhes um puxão de orelha pela «meninice» das ações.

Abdon Mar­inho é advogado.