INIMPUTABILIDADE POR IGNORÂNCIA.
Confrontando os fatos, o cidadão médio percebe com clareza que nos últimos anos fomos governados com súcia de espertalhões que tinham como meta aliar os cofres públicos. Não negócio público, da prospecção de petróleo em águas profundas a edição de uma medida provisória para servir as montadoras de automóveis, passando rodovias, ferrovias, compras e produção de equipamentos médicos e hospitalares, a exceção é alguém não ter levado alguma vantagem indevida.
Apesar disso, os donos do poder, seus aliados e aduladores agem como se nada tivesse acontecido. Fazem isso com tanta convicção que chego a pensar em declarar todos inimputáveis por ignorância.
Vejam o senhor Lula, ele nunca desconfiou da bondade dos empresários José Bumlai em socorrer o seu partido, fazendo em seu nome empréstimos milionários, para atender às necessidades dos companheiros.
O inocente nunca soube – talvez Bumlai nunca tenha lhe dito – que aquele tipo de empréstimo não era para ser pago. Ele, que durante toda a vida criticara os banqueiros, não estranhou a existência de banqueiros «bonzinhos».
O puro nunca estranhou a bondade de empreiteiras que custeou as reformas dos imóveis onde reside: o sítio de Atibaia, a apartamento do Guarujá, aliás, nunca procurou saber a quem pertenciam.
O singelo não duvidou da súbita prosperidade daqueles que estavam ao seu entorno, do filho que, de zelador de zoológico virou rico empresário fez mofa, dizendo ser ele um gênio dos negócios, tão talentoso com as finanças quanto o jogador Ronaldinho o fora com a bola nos pés.
O crédulo confiou nas boas intenções de Collor quando acordou em partilhar com ele as diretorias da Petrobras, hoje uma empresa à beira da bancarrota por conta da gestão desastrada no seu e no atual governo.
Conhecendo o senhor Dirceu desde os tempos em que dividiam um pão com mortadela no partido, não se deu conta da vida luxuosa que passará a levar desde que alçado à condição de «capitão do time» – segundo suas próprias palavras – do governo petista.
A ignorância do senhor Lula só é comparável à sua presunção. O gajo achou ou acha normal que empreiteiras lhe pagassem aproximadamente R$ 13 mil por minuto de falação. Acho que nem os homens mais geniais cobraram tanto por um minuto de fala. Mas ele se acha acima de todos.
Agora mesmo, com tantos fatos aparecendo, disse a quem quisesse ouvir, que não existe ninguém mais honesto que ele.
Como se dissesse uma absoluta verdade, seus aliados saíram à vender a patranha.
O que acho estranho nisso tudo, não é que o senhor Lula – que diz cansar-se com a leitura de um jornal – dizer esse tipo de coisa, é pessoas que se dizem inteligentes, intelectuais, alguns até já conseguem escreve o nome sem quebrar a ponta do lápis, embarcarem e defenderem com unhas e dentes.
Os governantes, seus partidários, seus aduladores, apesar de muito ouvirem – e alguns até conhecerem mais de perto –, até hoje não sabem o que seja «propina». Isso mesmo, eles não sabem o significado dicionarizado da palavra, apesar de ouvirem manhã, tarde e noite o termo, nunca se deram ao trabalho abrirem o «Aurélio», e verem o significado.
Por conta disso e também pela má-fé, deitam a falarem e a escreverem por onde podem que político fulano ou sicrano recebeu a tal da «propina» de empresa A ou B. É capaz que estes políticos opositores tenham recebido doações destas empresas que pagaram propinas aos governistas. Não era ilegal que empresas fizessem doações a partidos e candidatos. Somente a partir destas eleições de 2016, a prática está proibida.
Entretanto, há diferenças entre um e outro. E essas diferenças têm origem no sentido do termo. O substantivo feminino propina vem do latim propina significando dádiva, gratificação, gorjeta. Nos países ibéricos os garçons cobram propina pelo serviço prestado.
Como a companheirada não sabe ou finge não saber o significado do termo – e também para parecerem menos comprometidos com o mar de lama –, dizem que todos receberam propina.
Não meto a mão no fogo por ninguém. É possível que muitos políticos da oposição tenham recebido recursos destas empreiteiras e cabe a eles se defenderem. Pagam bons advogados justamente para isso. Entretanto, só existirá propina na correta acepção da palavra se os recursos recebidos foram uma contrapartida por algum negócio. É aí que está o X da questão. Não me parece que oposição longe do poder há treze anos possa ter influído ou prestado algum serviço a essas empresas envolvidas no esquema do «petrolão» e antes do «mensalão», e tenha recebido por isso. Se houve caixa 2 ou outros negócios no passado quando podiam influir é outra coisa a ser apurada.
Só que esta não é a situação dos governistas. As provas convergem para existência de propina, sim. A cada negócio um percentual irrigava as contas dos partidos, dos políticos e de outros a quem mandavam depositar os recursos frutos das gorjetas aqui e no exterior.
No caso do Partido dos Trabalhadores — PT, há um agravante que é o fato de terem usado a Justiça Eleitoral, sobretudo o Tribunal Superior Eleitoral — TSE, para «lavarem» o dinheiro fruto de propinas, de negócios sujos. Quem diz isso não sou eu, são as incontáveis notas de esclarecimento do partido dizendo que todos os recursos recebidos foram devidamente declarados àquela justiça especializada.
Não mentem, pelo menos uma parte dos recursos frutos dos achaques, das propinas, conforme confessado pelos doadores, foram declarados ao TSE.
Falam isso com tanta simplicidade, com tanta inocência que acredito piamente que devam ser inimputáveis pela ignorância.
Abdon Marinho é advogado.