AbdonMarinho - CRÔNICA POLICIAL: O LINCHAMENTO DE PIXULECO.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

CRÔNICA POLI­CIAL: O LIN­CHAMENTO DE PIXULECO.

CRÔNICA POLI­CIAL: O LIN­CHAMENTO DE PIXULECO.

SÃO LUÍS DO MARAN­HÃO — A cap­i­tal maran­hense reg­istrou mais uma cena que tem se tor­nado uma triste rotina: a turba enfure­cida pro­moveu mais um lin­chamento. Desta vez os lin­chadores não procu­raram escon­der o rosto agindo em plena luz do dia e, munidos de armas bran­cas par­ti­ram para cima vítima inde­fesa, igno­rando ou fazendo pouco caso dos poli­ci­ais que ten­taram defendê-​la.

No episó­dio, além da vítima – que sofreu inúmeros fer­i­men­tos a golpe de facas e chuchus, tendo per­dido uma das mãos – poli­ci­ais tam­bém saíram feridos.

A vítima de tamanha sel­vage­ria: um boneco inflável que atende pela alcunha de PIX­ULECO. Uma rep­re­sen­tação do ex-​presidente Lula vestido de pre­sidiário acor­rentado a uma bola.

Os autores do fato: mil­i­tantes políti­cos e sindi­cais, com notí­cia de que autori­dades do gov­erno estad­ual tam­bém par­tic­i­param do lin­chamento do boneco inflável.

Tendo sido detido o prin­ci­pal dos lin­chadores – acredita-​se o que teria dado o golpe que pois o indig­i­tado Pix­uleco fora de com­bate –, os demais acotovelaram-​se na Del­e­ga­cia de Poli­cia bus­cando sua soltura. Enquanto cui­davam de trans­mi­tir o feito e seus des­do­bra­men­tos pelos meios de comu­ni­cação, sobre­tudo, pelas redes soci­ais, autodenominado-​se de “carbonários”.

Aos que não têm muita famil­iari­dade com os ter­mos “esquerdis­tas”, car­bonário (do latim car­bon­ato, ‘car­voeiro’) é um sub­stan­tivo mas­culino que serve para denom­i­nar o mem­bros de sociedade sec­reta e rev­olu­cionária que atuou na Itália, França e Espanha no princí­pio do séc. XIX; por exten­são, aplica-​se o termo ao mem­bro de qual­quer sociedade sec­reta e revolucionária.

O reg­istro feito, serve, ape­nas, para realçar o exagero que é denom­i­nar de “car­bonário» alguém que se ocupa de lin­char bonecos infláveis. Talvez se usassem fogo para queimá-​lo, o termo pode­ria fazer sen­tido, pela lit­er­al­i­dade. Parece-​me um tanto quanto patético, ou então o espir­ito rev­olu­cionário caiu muito.

Entendo mere­cer reg­istro a defesa feita por impor­tante advo­gado com pro­jeção nacional, pro­fes­sor de dire­ito e ex-​dirigente da enti­dade que rep­re­senta os advo­ga­dos maran­henses, dos atos prat­i­ca­dos pelos ‘nos­sos» “car­bonários”. Com­para a exibição do boneco rep­re­sen­ta­tivo do ex-​presidente Lula ao vilipên­dio da imagem de Nossa Sen­hora ou ao pre­con­ceito dis­pen­sado por alguns sulis­tas aos nordes­ti­nos ou à dis­crim­i­nação feita por alguns pas­tores evangéli­cos à umbanda, can­domblé ou ainda, à dis­crim­i­nação sofrida pelas “mino­rias» sex­u­ais abri­gadas na sigla LGBT. Jus­ti­f­i­cando os atos dos “car­bonários» nos seguintes ter­mos: «Nesse con­texto, a reação indig­nada dos mil­i­tantes do PT que ras­garam o “pix­uleco” pode se equiparar à reação de um católico, indig­nado con­tra o vilipên­dio à santa, ou dos nordes­ti­nos dis­crim­i­na­dos por uns poucos racis­tas do sul».

Con­fesso não enx­er­gar nen­huma semel­hança entre as analo­gias feitas pelo grande advo­gado. Nem de longe é pos­sível confundir-​se o manto azul da padroeira do Brasil com a camiseta encar­nada vestida pelo ex-​presidente Lula, capaz de igualar a reação de indig­nação de um católico con­tra o vilipen­dio da Santa ou a dis­crim­i­nação sofrida por nós nordes­ti­nos por uns poucos racista do sul, ao ato de van­dal­ismo per­pe­trado con­tra o boneco Pixuleco.

Noutra quadra, não é de meu con­hec­i­mento nen­hum envolvi­mento de Nossa Sen­hora em atos de cor­rupção que lesaram a pátria em bil­hões de reais, e que a mesma tenha rece­bido propina ou favores de empre­it­eiras amigas.

OPINIÃO DA REDAÇÃO: Os atos prat­i­ca­dos por inte­grantes do Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT, por inte­grantes da Cen­tral Única dos Tra­bal­hadores — CUT, por inte­grantes dos Par­tido Comu­nista do Brasil — PC do B e por inte­grantes do próprio gov­erno, como ampla­mente divul­gado, são incom­patíveis com o régime democrático que pre­tendemos con­struir e com os val­ores que devem exi­s­tir numa sociedade civilizada.

Quando um cidadão resolve abdicar de sua vida pri­vada para ingres­sar na vida pública é sabedor que está sujeito às crit­i­cas sejam elas jus­tas, sejam elas injustas.

Numa democ­ra­cia não é aceitável que inte­grantes de par­tidos políti­cos — suposta­mente com­pro­meti­dos com seus val­ores — e muito menos ainda, que mem­bros de gov­er­nos, pro­movam atos de vio­lên­cia ao invés de bus­car o res­guardo dos seus dire­itos nos poderes do Estado.

Ora, se o par­tido do ex-​presidente e seus satélites se sen­tem ofen­di­dos com a figura de um boneco car­ac­ter­i­zado de pre­sidiário que se socor­ram do Poder do Judi­ciário para proibi-​lo.

A lei crim­i­nal­iza o vilipên­dio dos sím­bo­los reli­giosos, o racismo, a dis­crim­i­nação de qual­quer natureza, inclu­sive a de ori­en­tação sex­ual ou de gênero.

Pode­riam enquadrar a car­ac­ter­i­za­ção den­tro delas ou outra como uso inde­v­ido da imagem, etc.

Não é admis­sível que se armem com todo tipo de armas para impedir uma man­i­fes­tação e con­frontar pes­soas pací­fi­cas, cidadãos maran­henses — a maio­ria profis­sion­ais lib­erais com rel­e­vantes serviços presta­dos à sociedade.

Não foram ao judi­ciário por temerem a Justiça? Por saberem que a sua pos­tu­lação não encon­traria respaldo? Não con­fiam nos instru­men­tos do Estado? Se é assim, como pre­ten­dem diri­gir esse mesmo Estado?

A situ­ação ganha con­tornos mais dramáti­cos quando se afirma que inte­grantes do próprio gov­erno estavam na linha de frente ou na reta­guarda dos atos anti­democráti­cos. Onde está a razão de um mem­bro do gov­erno que vai para rua, armado de faca, para impedir uma man­i­fes­tação? E se os man­i­fes­tantes tivesse reagido à altura, tam­bém com facas ou armas de fogo? Estariam no seu dire­ito, não? E se a polí­cia tivesse usado a força para garan­tir a liber­dade de manifestação?

Vejam, pelos nomes divul­ga­dos e fotos, os «rev­olu­cionários» lin­chadores de bonecos infláveis, são todas pes­soas con­heci­das, algu­mas já tendo exer­ci­dos ou exercendo mandatos ele­tivos, out­ros ocu­pado car­gos de destaque no serviço público, por eleição ou del­e­gação, não com­porta que ajam como uma malta de arru­a­ceiros. Mais, são pes­soas que tanto em âmbito fed­eral quanto estad­ual estão no poder. Teori­ca­mente, ao menos, dev­e­riam ser os primeiros a dar o exemplo.

Como ficaria a imagem dos gov­er­nos a que servem, caso, uma man­i­fes­tação pací­fica — uma sim­ples exibição de um boneco -, tivesse descam­bado para uma vio­lên­cia gen­er­al­izada com mor­tos e feri­dos? Cer­ta­mente que não a Dilma do PT. Cer­ta­mente que não a Flávio Dino do PC do B.

Será que estão empen­hados em deses­ta­bi­lizar os gov­er­nos a que servem?

Esse tipo de tolice me lem­bra um fato, ver­dadeiro, mas com ares de ane­dota política, ocor­rido, ao que parece, no gov­erno José Reinaldo. Tendo o gov­er­nador rompido com seu grupo de origem unira-​se aos anti­gos adversários.

Certa vez reunido em pleno gabi­nete prin­ci­pal do palá­cio dos Leões com sua nova base de sustenção um dos ali­a­dos pede a palavra e começa: — Porque nós, da oposição…”. Um dos pre­sentes, mais expe­ri­ente, inter­rompeu para fazer a cor­reção: — Alto lá, com­pan­heiro, esta­mos den­tro do Palá­cio dos Leões, no gabi­nete do gov­er­nador. Se há oposição, ela está do lado de fora”.

Talvez seja a hora do gov­er­nador reunir sua base de sustenção e, prin­ci­pal­mente, os sub­or­di­na­dos, para lhes dizer que são gov­erno. Pode­riam aproveitar para dar-​lhes um puxão de orelha pela «meninice» das ações.

Abdon Mar­inho é advogado.