AbdonMarinho - BRASIL: ENTRE A COMÉDIA E A TRAGÉDiA.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

BRASIL: ENTRE A COMÉ­DIA E A TRAGÉDiA.

BRASIL: ENTRE A COMÉ­DIA E A TRAGÉDiA.

QUANDO pen­sei neste texto o primeiro título foi: “Lula: entre o cômico e o trágico”, abor­dava a quan­ti­dade infind­ável de piadas e “memes”, que inun­dou os meios de comu­ni­cação nos últi­mos dias sobre o ex-​presidente Luís Iná­cio Lula da Silva.

Recebi diver­sos: um cam­burão da PF com uma gar­rafa de pinga com a leg­enda: armadilha para pegar Lula; o japonês da fed­eral tocando a cam­painha da porta do ex-​presidente; o ex-​presidente per­gun­tando se D. Marisa pedira comida japonesa; uma com as está­tuas do filó­sofo Sócrates com a leg­enda: «só sei que nada sei” ao lado da Lula com a leg­enda: “só sei que não sei de nada”; uma piada dizendo que o sítio de Ati­baia e o aparta­mento do Guarujá seriam da empresa face­book e que o Lula só cur­tia e compartilhava.

Todas mostrando que o ex-​presidente virara uma piada e que o povo brasileiro con­tin­u­ava e con­tinua com uma capaci­dade imensa de fazer piadas com assun­tos tão sérios.

Ora, a história de que o sítio fora com­prado por um amigo de trinta anos (mais pobre que o Lula) e que ele usa muito mais que os donos for­mais, tendo inclu­sive man­dado levar parte sua mudança para a pro­priedade de “ami­gos» é uma tola inven­cionice que não con­vence ninguém; e que essa história de empre­it­eiro ban­car reforma mil­ionária em aparta­mento sem saber para quem seria uma tolice sem tamanho.

Coisas que fogem à com­preen­são e ao senso comum, mas que os brasileiros, emb­ora sem acred­i­tar, levam na brin­cadeira, na piada.

Na outra ponta, abor­dava o quanto é trágico para um ex-​presidente que deixou a palá­cio com os mais ele­va­dos de aprovação ver-​se na condição de inves­ti­gado pelas insti­tu­ições do país por crimes de gravi­dade ímpar.

O texto imag­inário perdeu o sen­tido diante da con­dução coerci­tiva do ex-​presidente para prestar esclarec­i­men­tos à polí­cia fed­eral, sua reação diante de algo tão comum aos demais brasileiros e o chamado de guerra de seus ali­a­dos e seguidores.

A real­i­dade que se impõe é que o ex-​presidente Luís Iná­cio Lula da Silva tornou-​se uma ameaça às insti­tu­ições brasileiras. No palanque que mon­tou na sede do Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT, em São Paulo, logo depois do depoi­mento, deixou claro que par­tirá para o con­fronto con­tra as insti­tu­ições e as leis, que ele, um dia, jurou respeitar e defender.

As provas já reunidas, os depoi­men­tos de pes­soas que pri­vavam de sua intim­i­dade são demoli­do­ras, não deixam qual­quer dúvida quanto ao caráter crim­i­noso do grupo político que se encastelou no poder a par­tir de 2003.

Den­tre tan­tas coisas graves nar­radas no pré-​acordo de delação pre­mi­ada do senador Del­cí­dio do Ama­ral, começando pela cessão à chan­tagem daquele empresário de Santo André que levou seis mil­hões para não envolver petis­tas grad­u­a­dos na morte do prefeito Celso Daniel; pas­sando pela com­pra crim­i­nosa da refi­naria de Pasadena – com o claro propósito de aliviar os cofres da petrolífera brasileira – que cau­sou um pre­juízo de 800 mil­hões de dólares, segundo o Tri­bunal de Con­tas da União — TCU; a cessão à chan­tagem feita por Mar­cos Valério, pagando-​lhe 220 mil­hões, para que não “entre­gasse» os lid­eres no escân­dalo que ficou con­hecido como “men­salão”, e mesmo que a acusação de que par­tira do ex-​presidente a deter­mi­nação de com­prar o silên­cio de Cerveró, além de tan­tas coisas mais, chamou-​me a atenção a afir­mação feita pelo senador de que o sen­hor José Car­los Bum­lai, que já está preso, e que é o mesmo que inter­me­diou o emprés­timo fraud­u­lento para o par­tido quitar a chan­tagem de Santo André, seria o «con­sel­heiro» da família Lula da Silva.

O que me chamou atenção não foi fato dele ser o con­sel­heiro, mas o termo usado pelo senador/​delator: con­sigliere. Para os afic­ciona­dos por cin­ema e que, cer­ta­mente, assi­s­ti­ram à trilo­gia «O Poderoso Chefão», sabe o real sig­nifi­cado do termo. Quem pos­sui con­sigliere é a máfia.

Então, segundo o senador Del­cí­dio do Ama­ral, ex-​líder do PT e ex-​líder do gov­erno, a família Lula da Silva – não ape­nas o núcleo biológico –, mas todos que orbitaram e orbitam ao seu entorno, con­sti­tuíram uma máfia que se ocupou de espo­liar os recur­sos da nação.

Vejam, quem diz isso e que tem muito mais a dizer não é um opos­i­tor ao gov­erno e ao par­tido; não é um «zé ruela” qual­quer. Quem diz é um ainda senador da República que foi líder do par­tido e do governo.

A tragé­dia do Brasil é que as provas vão con­fir­mar tudo que está dito pelo senador, tudo que está tipo por del­e­ga­dos e procu­radores que apu­ram os fatos. A tragé­dia é que as insti­tu­ições do país não poderão igno­rar estes fatos e provas. A admin­is­tração pública brasileira foi sequestrada por uma máfia, segundo dela­tou um dos seus integrantes.

O senador Del­cí­dio do Ama­ral (PT/​MS) tornou-​se o Tom­maso Buscetta da famiglia Lula da Silva, para sal­var o próprio pescoço, rompeu com a omertà, noutras palavras: abriu o bico e entre­gou o jogo. Em sendo uma máfia, como disse, o senador corre sérios riscos de vida.

A tragé­dia do Brasil é que a máfia orga­ni­zada pela famiglia Lula da Silva criou de tal forma ram­i­fi­cações que há quem a defenda con­tra a clareza dos fatos.

Não há uma “viva alma” no Brasil que duvide da veraci­dade dos fatos: que desviaram, em bene­fí­cio próprio, os recur­sos da nação; que o Lula e seus famil­iares enricaram com negó­cios sub­ter­râ­neos; e, até mesmo, que podem ter matado um ou mais com­pan­heiros que atra­pal­haram seus planos, como os dois prefeitos paulis­tas, Celso e Ton­inho do PT.

Mas, ainda assim, defen­dem a máfia; vão para as ruas protes­tar con­tra ações das insti­tu­ições con­sti­tuí­das; atacar adver­sários, com­bater a livre man­i­fes­tação de pensamento.

Certa vez per­gun­tei a um mem­bro do Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT, se ele acred­i­tava na inocên­cia dos lid­eres par­tidários, Lula à frente. Disse-​me que não acred­i­tava na inocên­cia de nen­hum deles, mas que admi­tir isso seria desi­s­tir de um sonho que aca­len­tou durante toda a sua vida. Admi­tir que o Lula é des­on­esto, segundo ele, seria recon­hecer que fora enganado por toda vida.

Assim como este, muitos são os que inti­ma­mente sabem que a polí­cia e procu­radores e o juiz que está man­dando essa turma para cadeia estão cer­tos. Mas admi­tirem isso pub­li­ca­mente sig­nifica desi­s­tir dos son­hos de uma vida.

A tragé­dia brasileira anun­ci­ada é que o sen­hor Lula sabe con­tar com inúmeras pes­soas boas, son­hado­ras e cré­du­las, que emb­ora sabendo-​se enganadas recusam-​se admi­tirem isso.

Como todo chefe de máfia, o sen­hor Lula, na intenção de sal­var a si próprio, não terá nen­huma pre­ocu­pação em der­ra­mar o sangue destes inocentes, de trans­for­mar o país numa Venezuela, de levar o país a uma guerra civil.

A nossa tragé­dia é não ter como con­tornar a ver­dade, mudar os fatos.

Abdon Mar­inho é advogado.