BRASIL: ENTRE A COMÉDIA E A TRAGÉDiA.
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- Criado: Sábado, 05 Março 2016 16:35
- Escrito por Abdon Marinho
BRASIL: ENTRE A COMÉDIA E A TRAGÉDiA.
QUANDO pensei neste texto o primeiro título foi: “Lula: entre o cômico e o trágico”, abordava a quantidade infindável de piadas e “memes”, que inundou os meios de comunicação nos últimos dias sobre o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva.
Recebi diversos: um camburão da PF com uma garrafa de pinga com a legenda: armadilha para pegar Lula; o japonês da federal tocando a campainha da porta do ex-presidente; o ex-presidente perguntando se D. Marisa pedira comida japonesa; uma com as estátuas do filósofo Sócrates com a legenda: «só sei que nada sei” ao lado da Lula com a legenda: “só sei que não sei de nada”; uma piada dizendo que o sítio de Atibaia e o apartamento do Guarujá seriam da empresa facebook e que o Lula só curtia e compartilhava.
Todas mostrando que o ex-presidente virara uma piada e que o povo brasileiro continuava e continua com uma capacidade imensa de fazer piadas com assuntos tão sérios.
Ora, a história de que o sítio fora comprado por um amigo de trinta anos (mais pobre que o Lula) e que ele usa muito mais que os donos formais, tendo inclusive mandado levar parte sua mudança para a propriedade de “amigos» é uma tola invencionice que não convence ninguém; e que essa história de empreiteiro bancar reforma milionária em apartamento sem saber para quem seria uma tolice sem tamanho.
Coisas que fogem à compreensão e ao senso comum, mas que os brasileiros, embora sem acreditar, levam na brincadeira, na piada.
Na outra ponta, abordava o quanto é trágico para um ex-presidente que deixou a palácio com os mais elevados de aprovação ver-se na condição de investigado pelas instituições do país por crimes de gravidade ímpar.
O texto imaginário perdeu o sentido diante da condução coercitiva do ex-presidente para prestar esclarecimentos à polícia federal, sua reação diante de algo tão comum aos demais brasileiros e o chamado de guerra de seus aliados e seguidores.
A realidade que se impõe é que o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva tornou-se uma ameaça às instituições brasileiras. No palanque que montou na sede do Partido dos Trabalhadores — PT, em São Paulo, logo depois do depoimento, deixou claro que partirá para o confronto contra as instituições e as leis, que ele, um dia, jurou respeitar e defender.
As provas já reunidas, os depoimentos de pessoas que privavam de sua intimidade são demolidoras, não deixam qualquer dúvida quanto ao caráter criminoso do grupo político que se encastelou no poder a partir de 2003.
Dentre tantas coisas graves narradas no pré-acordo de delação premiada do senador Delcídio do Amaral, começando pela cessão à chantagem daquele empresário de Santo André que levou seis milhões para não envolver petistas graduados na morte do prefeito Celso Daniel; passando pela compra criminosa da refinaria de Pasadena – com o claro propósito de aliviar os cofres da petrolífera brasileira – que causou um prejuízo de 800 milhões de dólares, segundo o Tribunal de Contas da União — TCU; a cessão à chantagem feita por Marcos Valério, pagando-lhe 220 milhões, para que não “entregasse» os lideres no escândalo que ficou conhecido como “mensalão”, e mesmo que a acusação de que partira do ex-presidente a determinação de comprar o silêncio de Cerveró, além de tantas coisas mais, chamou-me a atenção a afirmação feita pelo senador de que o senhor José Carlos Bumlai, que já está preso, e que é o mesmo que intermediou o empréstimo fraudulento para o partido quitar a chantagem de Santo André, seria o «conselheiro» da família Lula da Silva.
O que me chamou atenção não foi fato dele ser o conselheiro, mas o termo usado pelo senador/delator: consigliere. Para os aficcionados por cinema e que, certamente, assistiram à trilogia «O Poderoso Chefão», sabe o real significado do termo. Quem possui consigliere é a máfia.
Então, segundo o senador Delcídio do Amaral, ex-líder do PT e ex-líder do governo, a família Lula da Silva – não apenas o núcleo biológico –, mas todos que orbitaram e orbitam ao seu entorno, constituíram uma máfia que se ocupou de espoliar os recursos da nação.
Vejam, quem diz isso e que tem muito mais a dizer não é um opositor ao governo e ao partido; não é um «zé ruela” qualquer. Quem diz é um ainda senador da República que foi líder do partido e do governo.
A tragédia do Brasil é que as provas vão confirmar tudo que está dito pelo senador, tudo que está tipo por delegados e procuradores que apuram os fatos. A tragédia é que as instituições do país não poderão ignorar estes fatos e provas. A administração pública brasileira foi sequestrada por uma máfia, segundo delatou um dos seus integrantes.
O senador Delcídio do Amaral (PT/MS) tornou-se o Tommaso Buscetta da famiglia Lula da Silva, para salvar o próprio pescoço, rompeu com a omertà, noutras palavras: abriu o bico e entregou o jogo. Em sendo uma máfia, como disse, o senador corre sérios riscos de vida.
A tragédia do Brasil é que a máfia organizada pela famiglia Lula da Silva criou de tal forma ramificações que há quem a defenda contra a clareza dos fatos.
Não há uma “viva alma” no Brasil que duvide da veracidade dos fatos: que desviaram, em benefício próprio, os recursos da nação; que o Lula e seus familiares enricaram com negócios subterrâneos; e, até mesmo, que podem ter matado um ou mais companheiros que atrapalharam seus planos, como os dois prefeitos paulistas, Celso e Toninho do PT.
Mas, ainda assim, defendem a máfia; vão para as ruas protestar contra ações das instituições constituídas; atacar adversários, combater a livre manifestação de pensamento.
Certa vez perguntei a um membro do Partido dos Trabalhadores — PT, se ele acreditava na inocência dos lideres partidários, Lula à frente. Disse-me que não acreditava na inocência de nenhum deles, mas que admitir isso seria desistir de um sonho que acalentou durante toda a sua vida. Admitir que o Lula é desonesto, segundo ele, seria reconhecer que fora enganado por toda vida.
Assim como este, muitos são os que intimamente sabem que a polícia e procuradores e o juiz que está mandando essa turma para cadeia estão certos. Mas admitirem isso publicamente significa desistir dos sonhos de uma vida.
A tragédia brasileira anunciada é que o senhor Lula sabe contar com inúmeras pessoas boas, sonhadoras e crédulas, que embora sabendo-se enganadas recusam-se admitirem isso.
Como todo chefe de máfia, o senhor Lula, na intenção de salvar a si próprio, não terá nenhuma preocupação em derramar o sangue destes inocentes, de transformar o país numa Venezuela, de levar o país a uma guerra civil.
A nossa tragédia é não ter como contornar a verdade, mudar os fatos.
Abdon Marinho é advogado.