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UM ESPEC­TRO RONDA O BRASIL.

Escrito por Abdon Mar­inho

UM ESPEC­TRO RONDA O BRASIL.

CER­TA­MENTE ninguém duvida do mon­u­men­tal esquema de cor­rupção mon­tado no Brasil no últi­mos anos e que as rev­e­lações trazi­das a lume pela Oper­ação Lava Jato não são invenções da mídia.

Tam­pouco há alguma dúvida de que o estes esque­mas de cor­rupção – pelo menos até onde se sabe –, são os maiores de todos os tem­pos em todo o mundo.

Ainda, segundo se sabe, o flo­resci­mento de tais esque­mas só foi pos­sível a par­tir do con­luio entre agentes públi­cos e pri­va­dos para desviarem os recur­sos da nação.

Obras e serviços super­fat­u­ra­dos ou não exe­cu­ta­dos ren­diam propinas dis­tribuí­das entre aos sócios do poder medi­ante doação eleitorais (ofi­ci­ais ou através de caixa 2) ou repasse em din­heiro aos políti­cos o que era feito através de din­heiro em espé­cie ou depósito em con­tas sec­re­tas em paraí­sos fiscais.

Outra forma de alcance foi a patroci­nada por fun­dos pen­são de servi­dores públi­cos ao adquirirem ou finan­cia­rem negó­cios cri­a­dos uni­ca­mente para darem pre­juízo ou, ainda, obras e negó­cios finan­cia­dos no Brasil e no estrangeiro com recur­sos do BNDES, ou seja, em última análise, recur­sos públicos.

Temos por certo, tam­bém, que a par­tir de 2003 as quadrilhas espe­cial­izadas em roubar din­heiro público se assen­ho­raram do poder e pas­saram a man­dar efe­ti­va­mente na máquina admin­is­tra­tiva com este propósito. Isso já resta provado nos inúmeros proces­sos con­cluí­dos na Justiça Fed­eral e inquéri­tos em anda­mento na Polí­cia Federal.

A cor­rupção sem­pre exis­tiu no Brasil. Acredita-​se que desde que Cabral (não o Sér­gio, o Pedro) apor­tou por aqui já foi imbuído do propósito de cor­romper, de fazer negó­cios ruinosos ao país em ben­efi­cio de alguns espertos.

Assim, não se pode atribuir aos gov­er­nos petis­tas a “cri­ação” da cor­rupção, mas por uma questão de hon­esti­dade, deve se recon­hecer que nos treze anos de “mando» a cor­rupção mudou de pata­mar, pas­sou a ser uma política de Estado com um duplo propósito: enri­carem a si e seus dile­tos ali­a­dos e a se per­pet­u­arem no poder.

Ao meu sen­tir, tais pre­mis­sas não care­cem de qual­quer reparo.

Este é um filme de ter­ror que vem sendo descorti­nado para o Brasil desde que o ano de 2005, com rev­e­lação do escân­dalo do “Men­salão”. E, quando pen­sá­va­mos que já tín­hamos visto o máx­imo em cor­rupção, eis que somos apre­sen­ta­dos ao “Petrolão”, aos escân­da­los envol­vendo os fun­dos pen­são, o BNDES e tudo mais. Cabe reg­is­trar que há muito mais a ser exibia aos olhos da sociedade. Como por exem­plo, o claro con­luio entre os cor­rup­tos e aque­les que dev­e­riam vigiar, pre­venir e jul­gar os ladrões.

Os pre­juí­zos cau­sa­dos pela cor­rupção ao país, na casa dos bil­hões de dólares, só na era petista, emb­ora esti­ma­dos, jamais serão efe­ti­va­mente cal­cu­la­dos e ressar­ci­dos ao povo brasileiro. São bil­hões e bil­hões que “sur­ru­pi­a­dos» dos cofres públi­cos fiz­eram e fazem falta na edu­cação, na saúde, na infraestrutura.

Feitas estas con­sid­er­ações, tento enten­der como o sen­hor Lula, segundo as últi­mas pesquisas de opinião pública, alcança a espan­tosa marca de trinta por cento nas intenções de votos para as eleições que acon­te­cerão no próx­imo ano.

Fico a me per­gun­tar: estas pes­soas igno­ram a cor­rupção apu­rada nos últi­mos anos? Acham que ela (a cor­rupção, o roubo) pode­ria ter ocor­rido à rev­elia dos gov­er­nantes? Acham que os gov­er­nantes não sabiam de nada? Que eles não se ben­e­fi­cia­ram ou se locu­ple­taram dos desvios de recur­sos públi­cos? Acham nor­mal que recur­sos públi­cos sejam desvi­a­dos? Cíni­cos, acham que é assim mesmo, se um não rouba outro vem e faz isso, pelo menos quem roubou foram os petis­tas que “fiz­eram algo”? Aprovam a ide­olo­gia do roubo, aquela que per­mite o roubo dos recur­sos públi­cos em “nome da causa”?

Quando falamos em 30% (trinta por cento) de aprovação, esta­mos falando em mais de trinta mil­hões de eleitores.

São mais de trinta mil­hões de cidadãos que por algum motivo acham aceitável o roubo, a apro­pri­ação de recur­sos públi­cos e têm cor­agem de sair às ruas empun­hando tal ban­deira, sem qual­quer con­strang­i­mento, sem qual­quer pudor.

São pes­soas esclare­ci­das, muitas com for­mação acima da média nacional, com mais de um curso supe­rior, com mestra­dos, pós-​graduações, doutora­dos e tudo mais que a acad­e­mia pro­por­ciona. Estas pes­soas, acham nor­mal tudo que acon­te­ceu no Brasil, assi­nam embaixo de cada roubo e chance­lam a prática como avanço social? Ou, pior, são indifer­entes a tais práticas?

Uma coisa, é o sim­plório, o desprovido de qual­quer con­hec­i­mento, aquele que vota – na maio­ria das vezes –, moti­vado por um inter­esse pre­mente, que vota com “a bar­riga”, como se cos­tuma dizer. Outra coisa é a situ­ação daquele “bem nascido”, esclare­cido, for­mador de opinião. Este que tem con­sciên­cia de toda a ban­dal­heira que foi per­pe­trada con­tra a nação, sabedor que uma quadrilha – no pior sen­tido do termo –, se assen­horou do poder com o propósito de enricar a si e a uns apaniguados.

Estes são piores, são cúmplices.

E dirão: – mas, os out­ros tam­bém roubam, mel­hor este que já conhecemos.

Des­graçada nação! Que futuro é esse que terá o Brasil, em que as escol­has se dão entre os que roubam mais ou menos? Entre os que roubam para si e os que, suposta­mente, roubam e des­ti­nam parte do alcance para uma “causa»?

Des­graçada nação! Em que supos­tos int­elec­tu­ais e for­madores de opinião, acham nor­mal e têm como aceitável, o roubo como estraté­gia de for­mação do Estado.

Eu os renego.

Aqui, por estas pla­gas – há muito esque­cida por Deus –, vejo, com estu­pe­fação, a falta de con­strang­i­mento dos gru­pos políti­cos no trato da decência.

Ao que parece, como fiz­eram nas eleições ante­ri­ores, “brigarão» para con­tarem com o apoio do ex-​presidente Lula – e mesmo da ex-​presidente Dilma –, no pleito de 2018. Falam isso, até com certo orgulho, como se igno­rassem os fatos que estão à vista de todos, e que muitos, com a inteligên­cia que insin­uam ter, não pode­riam deixar de aquilatar.

Pois é, brigarão para con­tar com o apoio de quadrilhas em seus palan­ques. Dirão: – é só política. Como se o jogo do poder tudo comportasse.

Sinto que perderam a noção do que está em jogo. Ora, o que está em jogo é a própria nação. Só isso. Acham pouco?

Abdon Mar­inho é advo­gado e hoje é Quarta-​Feira de Cin­zas de 2017.

UM SENADOR E SEUS MOINHOS.

Escrito por Abdon Mar­inho

UM SENADOR E SEUS MOINHOS.

CER­TA­MENTE não acho o senador Roberto Rocha semel­hante ao cav­aleiro D. Quixote, da obra imor­tal de Miguel de Cer­vantes. Nada tem o mesmo de quixotesco. Talvez, e ape­nas pela com­pleição física, uma leve semel­hança com o seu fiel escud­eiro, San­cho Pança, ape­nas isso.

Entre­tanto, o senador do Maran­hão tal qual a figura da obra, enfrenta seus moin­hos. E, difer­ente daquele, os seus não são tão imag­inários assim.

Não é seg­redo para ninguém, e o próprio senador, com hon­esti­dade, nunca ocul­tou, que ele aca­lenta o sonho de ser gov­er­nador do Maran­hão. Um sonho legí­timo, diga-​se de pas­sagem, mat­u­rado, acredita-​se, ainda na infância/​adolescência pas­sada den­tro do Palá­cio dos Leões.

O senador sabe como chegar lá. Orgulhando-​se de fazer com maes­tria o jogo político, diz ser essa a ativi­dade que mais lhe dar prazer e a que faz 24 horas por dia, leciona: – primeiro cos­tu­ramos a con­vergên­cia interna no par­tido, depois a con­vergên­cia com o grupo político e, por fim, a con­vergên­cia com o con­junto da sociedade.

Emb­ora con­hecendo a receita do «sucesso», e com um norte bem definido – diz a lenda que quando sabe­mos onde quer­e­mos chegar qual­quer cam­inho nos leva lá – ele, Roberto, não tem con­seguido desenvolvê-​la, aí, talvez, a causa de tan­tos movi­men­tos erráti­cos e con­trários ao que prega e deseja.

O roteiro até vinha se desen­rolando mais ou menos den­tro do traçado.

Em 2002, após alguns mandatos nos par­la­men­tos, estad­ual e fed­eral, enten­deu ser a hora de «cacifar-​se» para um cargo majoritário, tornar-​se con­hecido em todo o estado. Candidatou-​se a gov­er­nador, renun­ciando às vésperas da eleição em favor de Jack­son Lago. Uma estraté­gia min­u­ciosa­mente plane­jada. Já se tornara uma pes­soa con­hecida – emb­ora sem chances de vitória –, só teria a gan­har com o Jack­son Lago que dis­putava palmo a palmo com o José Reinaldo que acabou eleito. A renún­cia de nada serviu mas foi ven­dida com um extra­ordinário gesto de desprendi­mento em favor da causa oposicionista.

Nos anos seguintes teve impor­tante papel na rup­tura do gov­er­nador José Reinaldo, com o grupo do ex-​presidente Sar­ney, sendo uma espé­cie de «fiador» do seu ingresso nas hostes da oposição.

No gov­erno, agora lig­ado ao novo grupo, José Reinaldo con­duziu a estraté­gia da oposição ao sar­neysmo para vencer a can­di­data Roseana e eleger um dos seus can­didatos Jack­son Lago ou Vidi­gal, naquela que ficou con­hecida como «coop­er­a­tiva de can­didatos», levando a mel­hor o pedetista.

Nesta eleição Roberto Rocha foi o dep­utado fed­eral mais bem votado do estado.

Com o gov­erno Jack­son cas­sado com pouco mais de dois anos de insta­l­ado, todas as peças tiveram que ser postas nova­mente no tabuleiro.

Em 2010, Jack­son Lago bus­cou a revanche con­tra Roseana Sar­ney, dividindo os votos do campo oposi­cionista com o sen­hor Flávio Dino, o juiz que virara político pelas mãos de José Reinaldo na eleição ante­rior, can­didato do PC do B. Roseana levou no primeiro turno.

Pior que a dis­puta para o gov­erno com dois can­didatos do campo oposi­cionista, foi a dis­puta para o Senado da República, lá pon­tif­i­cavam para a dis­puta de duas vagas: o ex-​governador José Reinaldo, o ex-​ministro Edson Vidi­gal e o dep­utado Roberto Rocha. Perderam. Muitos atribuíram a estraté­gia divi­sion­ista ao último que era, à época, pres­i­dente do PSDB.

Em 2012, já no PSB, Roberto Rocha, aceitou o «sac­ri­fí­cio» de ser can­didato a vice-​prefeito na chapa do atual prefeito Edvaldo Holanda Júnior.

Assim cheg­amos a 2014 e seus des­do­bra­men­tos. Até onde me lem­bro, foi nesta eleição que se deu a tran­sição de ger­ações (tran­sição tar­dia, diga-​se), com os dois can­didatos majoritários eleitos com menos de cinquenta anos. Todos unidos para trazer ao estado todas as opor­tu­nidades perdidas.

O dis­curso feito por ambos remetíamo-​nos a um outro pata­mar de desen­volvi­mento, com um senador e um gov­er­nador, mod­er­nos, jovens, com ideias novas e arro­jadas. Seria a primeira vez na história do estado.

O senador teria, então, 08 (oito) anos, voando em céu de brigadeiro para con­strução do seu pro­jeto político.

Infe­liz­mente, não demorou um ano e os obser­vadores mais argutos começaram a perce­ber que o arranjo eleitoral que tornou o pro­jeto vito­rioso não era o que foi ven­dido na eleição. O Maran­hão não era sufi­cien­te­mente grande para com­por­tar o ego dos dois. Dos dois, é bom repetir.

Segundo dizem, as mal­querenças vin­ham de antes, mal foram apu­ra­dos os votos e, sobre­tudo, após a insta­lação do novo gov­erno, por ini­cia­tiva do alto comando (polit­buro) ou através do serviço rasteiro dos serviçais que cer­cam o poder, teve iní­cio uma estraté­gia de «minar», não ape­nas o senador, mas tam­bém out­ras lid­er­anças. Isso é patente nas not­in­has aqui e ali, nas cobranças de que o gov­er­nador lhe dera o mandato, etc.

Numa eleição majoritária todos são respon­sáveis pelo sucesso ou fra­casso, mas de ninguém isso foi tão cobrado quando do senador eleito em 2014. Cobram dele até os «malfeitos» suposta­mente ocor­ri­dos no gov­erno do seu pai (1983÷1987), quando era adolescente.

Na ver­dade, para a des­graça do Maran­hão, a eleição de 2018, começou um pouco antes da 2014. Tudo que vemos são jogadas políti­cas, inter­esses políti­cos e briga pelo poder.

No jogo que está sendo jogado, o senador Roberto Rocha deixou de seguir suas próprias lições.

Não pos­sui qual­quer afinidade com a base do par­tido que o abrigou em 2012, o PSB, sendo impos­sível con­struir qual­quer «con­vergên­cia» interna a seu favor, pelo con­trário. Essa falta de afinidade com o par­tido acaba por provo­car efeitos nefas­tos para o próprio senador e para o par­tido. Não me recordo de ter visto, nos últi­mos tem­pos, uma crítica de um pres­i­dente de par­tido tão con­tun­dente quanto a feita pelo pres­i­dente do PSB, prefeito Luciano Leitoa, a um senador do mesmo par­tido. Disse o pres­i­dente Luciano Leitoa: «nunca vi alguém afas­tar tan­tas pes­soas de um mandato que “gan­hou» de graça». Para as sutilezas da política, são palavras fortes.

Este seria o primeiro moinho a ser vencido.

A «con­vergên­cia» política no grupo é outra mis­são impos­sível. No grupo que tra­bal­hou «unido» para o pro­jeto de 2014, com­posto, prin­ci­pal­mente, pelo PCdoB, PSDB, PSB e PDT, o senador pre­cis­aria ser mágico para con­seguir uma con­vergên­cia que o tenha como destaque, aliás, que o tenha como par­tic­i­pante. As declar­ações dele sobre os inte­grantes do prin­ci­pal par­tido, o do gov­er­nador – não ques­tiono o acerto ou erro das mes­mas –, foi o incên­dio das der­radeiras pontes.

Este seria o segundo moinho.

Sem as duas primeiras, restará ao senador bus­car a con­vergên­cia com a sociedade. Aí reside sua maior difi­cul­dade e disso resulta a maior irres­ig­nação do senador com os atu­ais inquili­nos dos Leões.

Errando na forma – mas não no con­teúdo –, acusa o gov­erno de sub­sidiar parcela da imprensa para destruir sua imagem e de out­ros adver­sários políti­cos per­ante a sociedade maranhense.

São de seu «man­i­festo» estas palavras: «Chamar comu­nista de arro­gante e covarde é redun­dante. Jogam a pedra e escon­dem a mão. Com din­heiro público, pagam blogs para o serviço sujo.

Além de arro­gantes e covardes, são ousa­dos. Por um valor men­sal mil­ionário, alu­garam a Difu­sora para agredir os que podem rep­re­sen­tar ameaça ao seu pro­jeto de poder.

Os comu­nistas são con­heci­dos no mundo inteiro pela obsessão de ten­tar elim­i­nar rivais para se man­terem no poder.

O comu­nismo é a estu­pidez que se mate­ri­al­iza na real­i­dade em forma de aber­ração, e que vai ten­tando destruir e asfix­iar tudo e todos no processo de se jus­ti­ficar e se preser­var no poder.

Tenho dito, comu­nistas inteligentes são pat­ifes; os hon­estos são bur­ros; e os inteligentes e hon­estos nunca são comunistas.

Essa fome patológ­ica pela manutenção do poder e pelo con­t­role da vida alheia vão desapea-​los do Palá­cio do Leões, em 2018.

Eu entendo esses blogueiros valentes e fam­intos, con­heci­dos como «pis­toleiros dos tecla­dos» ou «blogueiros camarão».

O cão não morde a mão que o ali­menta. Enquanto tiver milho vai ter pipoca. »

São palavras de gravi­dade sin­gu­lar, não ape­nas pelo seu con­teúdo, mas, sobre­tudo, porque pro­feri­das por quem as proferiu.

Inúmeros out­ros adver­sários já acusaram – e acusam –, o atual gov­erno disso e de coisas bem piores e graves. Já dis­seram, por exem­plo, que o gov­erno usou e usa o «apar­elho», estatal para perseguir seus adver­sários Maran­hão afora. Inclu­sive, acusando-​o (o gov­erno) de haver influ­en­ci­ado, crim­i­nosa­mente, no resul­tado das eleições pas­sadas (2016).

São acusações gravís­si­mas que, em qual­quer outro lugar do mundo, ense­jaria inves­ti­gações diver­sas por parte do Min­istério Público, fed­eral e estad­ual. Não soube de nada neste sentido.

A acusação de agora, ao meu sen­tir, muda de pata­mar, quem a está pro­ferindo, pub­li­ca­mente (não se trata de uma con­versa de bar), é um senador da República.

Aliás, ele próprio, para pas­sar maior segu­rança do que diz, pode­ria acionar a Mesa do Senado e a Procuradoria-​Geral da República para que apurassem o que disse. Denún­cias com tamanha gravi­dade não podem perder-​se no «disse-​me-​disse».

Mas, como já dito ante­ri­or­mente, emb­ora acer­tando no con­teúdo (fez uma denún­cia grave a exi­gir apu­ração), errou na forma. Uma acusação tão séria não é um chiste ou piada para vir emoldu­rada com a escat­ológ­ica imagem de um «fortão» com cabeça de vaso sanitário.

Ao agir desta forma, o senador reforça o tra­balho dos que «tra­mam» nos porões pala­cianos para lhe destruir politicamente.

Há uma coisa que aprendi desde a infân­cia: «hora de brin­cadeira é hora de brin­cadeira, hora de falar sério é hora de falar sério».

Ora, se esta regra se aplica a nós, comuns mor­tais, com mais ênfase deve ser apli­cada a um senador da República, sobre­tudo quando faz acusações tão sérias. O senador pre­cisa investir-​se de tal liturgia.

Como já disse, ao não sep­a­rar coisas sérias de brin­cadeiras, do achin­calhe, acaba por desval­orizar as coisas boas e sérias que pro­duz, como por exem­plo os pro­je­tos fun­da­men­tais para o desen­volvi­mento do estado, den­tre os quais a Zona de Expor­tação do Maran­hão — ZEMA.

O senador pre­cisa mudar de pos­tura para vencer mais este moinho e não facil­i­tar o tra­balho dos que querem destruí-​lo.

Outro flanco que o senador deixa em aberto e que facilita o tra­balho dos seus adver­sários é essa (má) fama – que o persegue como a bola corre para os pés do artil­heiro –, de que não é um bom cumpri­dor de com­pro­mis­sos assum­i­dos e/​ou que não gosta de pagar «gente viva». Com ou sem razão, tal assertiva encon­tra muito eco na sociedade. Adver­sários, e até ali­a­dos, tratam tal infor­mação como se fosse uma ver­dade absoluta.

Além deste, outra cir­cun­stân­cia facilita o tra­balho dos que querem lhe vê pelas costas, a que diz respeito à vida empre­sar­ial de sua família, cuja a respon­s­abil­i­dade lhe é atribuída. A todos é ven­dida a ideia de uma vida empre­sar­ial mais enro­lada que «fumo sergi­pano» e que chega a dever por meses a fio os venci­men­tos dos colab­o­radores que prestam serviço a aque­las empre­sas. Se não é ver­dade, passa como se fosse.

E, vamos com­bi­nar, não fica bem a um senador da República cul­ti­var tais «famas», prin­ci­pal­mente quando sabe­mos que tudo «pega» neg­a­ti­va­mente na classe política hoje em dia.

São estes, ao menos por enquanto, os moin­hos que o senador pre­cisa vencer. São muitos e o tempo, out­rora ali­ado, con­spira contra.

Abdon Mar­inho é advogado.

O DESAS­TRE CIV­I­LIZA­TÓRIO BRASILEIRO.

Escrito por Abdon Mar­inho

O DESAS­TRE CIV­I­LIZA­TÓRIO BRASILEIRO.
OUTRO DIA ouvi alguém dizer que Brasil é um país que envel­he­ceu sem pas­sar pela fase do amadurec­i­mento. Referia-​se, pois ao fato de não ter­mos aproveitado a imensa pop­u­lação eco­nomi­ca­mente ativa para igualar-​se a out­ras nações dos chama­dos países em desen­volvi­mento.
O Brasil, com tan­tas condições nat­u­rais favoráveis e, até, com uma pop­u­lação que poderíamos dizer «na medida certa», não saiu do lugar, tendo retro­ce­dido em diver­sos setores. O país tem ficado para trás.
A India, uma nação com desafios bem maiores que os nos­sos, seja pelas imen­sas desigual­dades, por uma cul­tura de cas­tas, por uma enorme pop­u­lação, quase seis vezes a nossa, com prob­le­mas sérios para ali­men­tar a todos, com base ter­ri­to­r­ial menor e diver­sos prob­le­mas climáti­cos, não faz muito tempo bateu um recorde na cor­rida espa­cial ao colo­car mais de uma cen­tena de satélites em órbita simul­tane­a­mente, feito nunca alcançado pelas nat­u­rais «super­potên­cias».
Não bas­tasse a crise moral e ética que tomou de conta do Brasil nos últi­mos anos, com quadrilhas incrus­tadas nos mais altos escalões da República, o ano de 2017, teve iní­cio com as bar­báries nos presí­dios, com seres humanos aos quais o Estado tomou para si a respon­s­abil­i­dade de cuidar e pro­te­ger, sendo decap­i­ta­dos, esquar­te­ja­dos, exibidos como troféu pelos ver­dadeiros sen­hores dos presí­dios: os chefes das quadrilhas que dão as ordens lá den­tro e aqui, do lado de fora.
E, haverão de dizer: — eram ban­di­dos, não tinha nen­hum inocente por lá, mere­ce­ram e mere­cem tudo que lhes acon­te­ceu e acon­tece.
Pois é, mal se saiu da crise dos presí­dios tive­mos outro esclare­ce­dor exem­plo do que é a sociedade brasileira. O exem­plo nos chegou ao vivo e a cores vindo do estado do Espírito Santo. Lá, por conta do aquar­te­la­mento de poli­ci­ais mil­itares, assistiu-​se a uma espé­cie de faroeste fora de época, com a pop­u­lação tran­cada por mais de uma sem­ana den­tro de casa, já sofrendo, além da pri­vação da liber­dade a pri­vação de ali­men­tos. Lazer, vis­i­tar ami­gos e par­entes seria algo impen­sável, alguns que arriscaram acabaram por pagar com os bens e até com a vida. Vitória e out­ras cidades maiores viveram aquilo assistíamos no cin­ema, no século pas­sado: tornaram-​se cidades sem lei. E o pior ainda estava por vir. Quem pode­ria imag­i­nar que, além dos mar­gin­ais, os «cidadãos de bem» iriam aproveitar a ausên­cia de poli­ci­a­mento para pro­mover saques em lojas de roupas, joal­he­rias, etc.?
A visão mais escan­car­ada da incivil­i­dade brasileira foi exibida em redes soci­ais e de tele­visão, para os resto do país é do mundo. Mas esse lado nefasto do brasileiro é mais comum que se possa imag­i­nar. De norte a sul do país, basta um cam­in­hão de mer­cado­rias (seja o que for) ameaçar tombar para que «pop­u­lares», «cidadãos de bem» avancem sobre a carga com gri­tos de «perdeu», «perdeu».
Que país é esse onde a pop­u­lação ao invés de indignar-​se com rou­bos – mesmo naque­les –, com víti­mas fatais, faz é achar nor­mal?
Mas tem coisa bem pior. Os com­er­ci­ais na tele­visão aler­tam, mas tam­bém é pos­sível con­statar no dia a dia a grave e crim­i­nosa explo­ração sex­ual de cri­anças. Dizem que são mais de 500 mil meni­nas e meni­nos explo­rados anual­mente no país. Isso não ocorre ape­nas nos grandes cen­tros. É sabido que ocorre em todos os lugares, mesmo nos menores municí­pios temos notí­cias deste tipo explo­ração. Esta sem­ana, numa reunião da qual par­ticipei, o pro­mo­tor da Comarca de Caru­ta­pera e Luís Domingues, pedia ao prefeito apoio para o enfrenta­mento desta questão neste último. Um municí­pio que tem pouco mais de 6 mil habi­tantes, onde todo mundo se con­hece enfrentando prob­le­mas desta natureza. Até bem pouco tempo demorava-​se décadas para que se reg­is­trasse um ato de vio­lên­cia.
Que tipo de sociedade faz vis­tas grossas ou admite a explo­ração de suas cri­anças?
Mas, se há algo pior que a explo­ração de cri­anças em si, esse algo pior é a explo­ração dar-​se por patrocínio ou conivên­cia ou incen­tivo dos pais ou de par­entes próx­i­mos, aque­las pes­soas que têm o dever ético e moral de protegê-​las.
No Brasil de agora nada mais abstrato que os con­ceitos de pater­nidade ou mater­nidade. Os pais não querem e não sen­tem quais­quer respon­s­abil­i­dades por aque­les que troux­eram ao mundo.
O desas­tre civ­i­liza­tório brasileiro, como temos visto, vai muito além da falta de edu­cação, do furar a fila em tudo que é ambi­ente, do desre­speito aos idosos, cri­anças, defi­cientes, do esta­ciona­mento em locais proibidos, do parar em fila dupla, tripla, da ten­ta­tiva de tirar van­tagem em tudo, do ofer­e­cer ou solic­i­tar «uma cerve­jinha» para se livrar de uma multa ou agilizar um doc­u­mento numa repar­tição.
A sociedade brasileira é a cúm­plice maior de todas as nos­sas maze­las. É ela que acha nor­mal o político des­on­esto fazer for­tuna roubando os cofres públi­cos, desde que este alcance lhe traga alguma van­tagem de caráter pes­soal. É isso que temos visto ao longo dos tem­pos. A cada eleição assis­ti­mos o quadro político se dete­ri­o­rar. Can­di­da­mente mil­hões de eleitores fin­gem descon­hecer o caráter dos seus rep­re­sen­tantes, suas fol­has cor­ri­das, seus pas­sa­dos.
Se bem anal­is­ar­mos, o brasileiro não vota mal. Ele vota nos seus iguais. Esse é nosso desas­tre maior.
Durante anos me iludi pen­sando que nosso maior prob­lema fosse a edu­cação. Não, não é. Nosso maior prob­lema é a civ­i­liza­ção – a falta dela.
Abdon Mar­inho é advogado.