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O GOLPE DA ELEIÇÃO DIRETA .

Escrito por Abdon Mar­inho

O GOLPE DA ELEIÇÃO DIRETA .

O ROTEIRO é bem antigo e remonta a mais de dois mil anos (talvez mais) e con­siste em usar o povo para decidir deter­mi­nado assunto sem pas­sar a este mesmo povo as infor­mações cor­re­tas ou, ainda, manipulando-​o descaradamente.

Não estou aqui duvi­dando do juízo dos cidadãos, mas se não pas­sam as infor­mações cor­re­tas cer­ta­mente as decisões revesti­das sobre o falso manto da democ­ra­cia resulta em desas­tre. Foi assim quando colo­caram o povo para decidir entre a soltura de Barrabás e Jesus Cristo. Narra o Evan­gelho de Mateus que diante da decisão absurda tomada pelo povo – insti­gado e manip­u­lado pelos líderes do tem­plo –, de cru­ci­ficar Cristo, Pôn­cio Pilatos, sabedor de sua inocên­cia, lavou as mãos.

Tenho ouvido e assis­tido com per­plex­i­dade que deter­mi­na­dos par­tidos e movi­men­tos soci­ais, ambos ban­ca­dos com din­heiro do con­tribuinte – e tam­bém de cor­rupção, con­forme resta provado nos autos –, saíram às ruas pedindo a renún­cia de Temer e, tam­bém, fazendo uma cam­panha pelas eleições dire­tas para presidente.

Nada con­tra que protestem con­tra o pres­i­dente que eles mes­mos colo­caram no poder quando o fiz­eram vice-​presidente da República. Acho até que a sua situ­ação, se não não hou­ver qual­quer expli­cação razoável para as lam­banças que fez é insustentável.

Entre­tanto, entendo, que não faz qual­quer sen­tido essa cam­panha por eleições dire­tas já. E aqui, entendo está havendo uma absurda manip­u­lação dos cidadãos em torno de uma causa que parece sim­pática aos olhos de todos.

Quem pode ser con­tra a ideia de colo­car o povo para decidir, não é mesmo?

Acon­tece que não con­tam a história toda.

Primeiro, para que haja uma eleição direta como pre­gada pelos seus defen­sores é necessário mudar a Con­sti­tu­ição Fed­eral. Ou seja, romper com a ordem con­sti­tu­cional vigente.

Há motivo para romper com a ordem con­sti­tu­cional em um país com uma democ­ra­cia ainda tão frágil?

Acred­ito que não, mesmo porque, a ideia para vin­gar, teria que con­tar com a renún­cia ou impeach­ment do atual pres­i­dente. A ideia da renún­cia ele já refu­gou. A segunda ideia demanda tempo, não se faz um processo de impeach­ment em menos de três ou qua­tro meses.

Além disso, tem-​se que aprovar a emenda con­sti­tu­cional que per­mita essa eleição o que demanda tempo igual.

Segundo, para fazer uma eleição direta cumprindo os pra­zos da lei e para o próprio TSE orga­ni­zar uma eleição não é coisa para se fazer em menos de três meses. Ou seja, a eleição direta já, se aprovada, seria algo para acon­te­cer lá pelo o final do ano.

Ter­ceiro, o custo, uma eleição, ainda que seja uma eleição uni­ca­mente pres­i­den­cial, com os eleitores tendo que escol­her ape­nas um cargo envolve cus­tos finan­ceiros altos, na casa dos bil­hões de dólares.

É de se per­gun­tar: se temos eleições gerais reg­u­lares, mar­cadas para out­ubro de 2018, faz sen­tido se fazer um gasto absurdo para se fazer uma eleição para o eleito ficar no cargo ape­nas um ano ou menos? Ou a ideia seria ante­ci­par as eleições gerais? Todo mundo renun­cia, gov­er­nadores, senadores, dep­uta­dos para se fazer uma só eleição? A ideia é essa? Duvido.

Con­fesso que não vejo sen­tido em se fazer uma eleição pres­i­den­cial gastando-​se bil­hões de reais com o país atrav­es­sando grave crise finan­ceira para que o eleito pelo voto direto fique no cargo um ano ou menos que isso.

Pois é, os ilu­mi­na­dos que advogam a tese de eleição direta já, sabem disso. Mas não esclare­cem isso ao povo. Tra­bal­ham com a intenção clara de manip­u­lar o sen­ti­mento pop­u­lar. Ficam dizendo que ninguém pode ser con­tra a ideia do povo decidir.

Os gov­er­nadores, inclu­sive, os que crim­i­nosa­mente dese­jam aten­tar con­tra a Con­sti­tu­ição topam renun­ciar aos seus mandatos para que todas as eleições sejam antecipadas?

Além da clara ten­ta­tiva de manip­u­lação do povo, há um propósito a mover os ideól­o­gos das dire­tas já.

Eles sabem que quanto mais tempo pas­sar, mais fatos sobre os gov­er­nos Lula/​Dilma virão à tona, tornando-​os inviáveis politi­ca­mente, isso se não estiverem presos.

Como fiz­eram nos anos em estiveram no poder, a ideia de chamarem uma eleição direta agora, cau­sando um mon­u­men­tal pre­juízo ao país, tem como prin­ci­pal propósito ben­e­fi­ciar os prin­ci­pais respon­sáveis pelas auguras que o país atrav­essa no momento. Estão pouco lig­ando se isso aumen­tará a insta­bil­i­dade do país que começava a «res­pi­rar sem apar­el­hos» ou os cus­tos que impli­cará na real­iza­ção da eleição para o mandato-​tampão. Nada disso importa. A única coisa que importa é se safarem dos crimes que praticaram.

O país? Ora, o país é só um detalhe. Mais uma vez querem usar o povo, a boa-​fé do povo, para livrarem os Barrabás da política nacional.

Abdon Mar­inho é advogado.

A FAZENDA DO LULA. OU, LULA APRE­SENTA SUA ÓPERA DO MALANDRO.

Escrito por Abdon Mar­inho

A FAZENDA DO LULA. OU, LULA APRE­SENTA SUA ÓPERA DO MALAN­DRO.
OUTRO dia li no blog do amigo e jor­nal­ista Robert Lobato a nar­ra­tiva de um episó­dio ocor­rido no iní­cio da década de noventa.
O texto, bem escrito e sereno, começa de forma literária:
“Era inverno chu­voso de 1990.
Na Uni­ver­si­dade Estad­ual do Maran­hão (Uema), con­ver­sá­va­mos eu, Már­cio Buzar, Neil Arm­strong, Agostinho Neto e out­ros com­pan­heiros.
Divagá­va­mos sobre a então recente eleição pres­i­den­cial de 1989.
Em certo momento, Buzar, hoje pro­fes­sor na UNB, disse algo mais ou menos assim: “Perdemos a eleição, mas não perdemos a luta. De certa forma foi até bom Lula ter per­dido, pois minha maior decepção seria ele gan­har e depois apare­cer a notí­cia de que ele é dono de fazenda”. Nunca esqueci dessas palavras!«
Já con­hecia o episó­dio, que me foi nar­rado pelo próprio jor­nal­ista numa das vezes que esteve em minha casa. Robert Lobato, seus ami­gos, eu e tan­tos out­ros, mal saí­dos da ado­lescên­cia e tra­vando os primeiros con­tatos com a democ­ra­cia, após os vinte e um anos do régime mil­i­tar, ten­tá­va­mos, cada um nos seus seg­men­tos – nos grêmios estu­dan­tis, nos DCE’s, nas asso­ci­ações de moradores –, con­tribuir de alguma forma como uma nova história para o Brasil.
Emb­ora só viesse con­hecer o Robert anos depois, essas histórias, estes son­hos, essa con­sciên­cia cole­tiva de bus­car dias mel­hores para o país era um elo comum naque­les dias inver­nosos e enso­lara­dos. Con­tribuíamos com o que podíamos, mesmo com os poucos recur­sos da vida de estu­dante moradores da per­ife­ria e bair­ros pop­u­lares.
Outra coisa a nos unir era o Lula, ape­sar das críti­cas pon­tu­ais. Ele era ideal a ser atingido. Um operário, nordes­tino, do povo, chegar ao cargo mais alto da nação. Este foi o sonho que nos embalou naquele lula lá, brilha uma estrela…
Assim, vota­mos, ped­i­mos votos, defend­emos o nome de Lula em todos os fóruns. E, como o sonho sem­pre foi mais impor­tante que o próprio obje­tivo, encon­trá­va­mos mérito até na der­rota.
O medo da decepção de Buzar – naquele inverno chu­voso de 1990, na poética nar­ra­tiva de Robert –, só de imag­i­nar a pos­si­bil­i­dade de Lula virar fazen­deiro, é a expressão maior do próprio sonho. O medo de acor­dar para real­i­dade. Quan­tas vezes não son­hamos um sonho tão bom que torce­mos para não acor­dar?
Além de votar em Lula naquele 1989, con­tin­uei votando (eu e tan­tos out­ros) até alcançar o tão son­hado obje­tivo em 2002.
E foi aí que percebi que o sonho era bem difer­ente da real­i­dade. A posse do operário-​presidente já fora regada pelos mais caros vin­hos do mundo. Segundo noticiou-​se na época, pre­sente do mar­queteiro que gan­hara uma for­tuna cuidando da cam­panha. Os novos ter­nos, feitos sob medida, tam­bém, já davam uma ideia do pendão do «nosso» Lula pelos mimos que o cap­i­tal – causa maior de todos os males –, podia ofer­e­cer. Antes só tín­hamos a pre­ocu­pação de defendê-​lo do fato de morar «de favor» na casa do com­padre Roberto Teix­eira.
O gov­erno que se desen­hou já refle­tia o desas­tre que viria. Petis­tas deslum­bra­dos num con­sór­cio espúrio com o que havia de pior na política nacional.
Enquanto isso pes­soas cor­re­tas, sérias, eram tratadas como inimi­gas do Estado.
Os primeiros e tristes episó­dios do gov­erno que se ini­ci­ava refletem isso: o mem­o­rável chá de cadeira que Dirceu deu em Gabeira e out­ros líderes políti­cos e a exigên­cia do próprio Dirceu de ser tratado como «primeiro-​ministro».
Aí veio o men­salão, o petrolão, a gen­erosi­dade desme­dida com os recur­sos do BNDES, o alcance dos fun­dos de pen­são dos tra­bal­hadores, o socorro as ditaduras ami­gas e tan­tos out­ros desati­nos.
Mais que uma briga pela per­pet­u­ação no poder – como pensou-​se no men­salão –, veio a certeza que havia uma quadrilha insta­l­ada no coração da nação, tam­bém com propósito do enriquec­i­mento fácil e que iam muito além de uma fazenda.
O der­radeiro vex­ame a que a sociedade brasileira exper­i­menta é ver um ex-​presidente da República com­pare­cer diante de um juiz na condição de réu.
Aí volto ao dileto amigo Robert Lobato, que anal­isa o fato como uma vitória do ex-​presidente.
Sou dos que dis­cor­dam frontal­mente. Como vence­dor, amigo Bob? A nossa prin­ci­pal pre­ocu­pação naquele não muito longe 1989 era o Lula apare­cer como dono de uma fazenda e agora está ele no banco dos réus como chefe de uma orga­ni­za­ção crim­i­nosa.
O que está se dis­cutindo – é bom que se deixe claro –, é o fato daquele cidadão, que son­há­va­mos como mod­elo para o Brasil, emer­gir de inúmeras inves­ti­gações poli­ci­ais como chefe de quadrilha espe­cial­izada no roubo da coisa pública.
E não são poucos os indí­cios e depoi­men­tos neste sen­tido. Os mem­bros da família e exec­u­tivos da Ode­brecht dizem isso. Emilio e Marcelo nar­ram o episó­dio com riquezas de detal­hes; o amigo Léo Pin­heiro da OAS, con­firma estes fatos; os dire­tores da Petro­bras cor­rob­o­ram, basta ver os depoi­men­tos de Nestor Cev­eró e agora de Renato Duque; o ex-​senador Del­ci­didio do Ama­ral con­firma e por último, o casal de mar­queteiros a serviço do par­tido, de Lula e de Dilma traz das som­bras tudo aquilo que, nem nos nos­sos piores pesade­los imag­iná­va­mos.
Mais grave uma quadrilha que tomou de assalto o Estado brasileiro, a par­tir de sua capaci­dade de mobi­liza­ção e disponi­bil­i­dade de recur­sos, influ­en­ciou os des­ti­nos de out­ros povos, intrometeu-​se em eleições de out­ras nações.
O sim­ples fato de um ex-​presidente sentar-​se no banco dos réus já é motivo para vex­ame; quando este ex-​presidente é o primeiro operário a chegar ao poder e em quem o povo brasileiro depos­i­tou tanta esper­ança e emocionou-​se com sua posse é algo dev­as­ta­dor; e quando este mesmo ex-​presidente, operário, cidadão do povo, senta-​se no banco dos réus na condição de cor­rupto é algo a enver­gonhar a todos nós. Não ape­nas os que son­haram em vê-​lo pres­i­dente, mas a todos os cidadãos de bem.
E quando você pensa que nada de pior pode acon­te­cer, você se depara com este ex-​presidente mentindo descarada­mente, sone­gando a ver­dade, dizendo não saber o que todos, mesmo os mais ingên­uos, sabem que ele sabia e sabe; negando o inegável, como o foi ao dizer que influên­cia alguma tinha no seu próprio par­tido.
E quando pen­samos que não podia ir além na falta de caráter, aquele que foi depositário de tan­tos son­hos e esper­anças, faz «delação pre­mi­ada» con­tra a própria esposa. Pior, con­tra uma esposa fale­cida, que não tem, sequer, a chance de defender-​se.
Já havia prometido não me sur­preen­der com quais­quer rev­e­lação que ainda viesse sur­gir. Mas con­fesso que causou-​me espé­cie a forma desre­speitosa com a qual o ex-​presidente «empurrou» a respon­s­abil­i­dade para a mul­her fale­cida.
Então a mul­her era investi­dora em imóveis? Mas, com qual renda, se a vida inteira foi «do lar»? Então a mul­her pedia favores a empresários à rev­elia do ex-​presidente que nem tomava con­hec­i­mento? Quanto ofensa.
Mas, na opinião do sen­hor Lula «(…) mul­heres são assim, não con­tam tudo ao marido.«
No seu primeiro inter­ro­gatório como réu, o ex-​presidente exerceu aquilo que sabe fazer como ninguém: a arte da malan­dragem. Não se impor­tando de, para isso, colo­car a respon­s­abil­i­dade na mul­her fale­cida. Desre­spei­tando os mor­tos e o senso comum de todos os brasileiros decentes.
É ver­dade que à defesa tudo é per­mi­tido. É um dire­ito do réu usar todos os recur­sos na sua defesa, mas se esper­ava um mín­imo de decên­cia, ética e respon­s­abil­i­dade de quem ocupou o cargo máx­imo da nação.
Aos mil­i­tantes reunidos em Curitiba para con­stranger a Justiça, uma con­fis­são invol­un­tária: não se disse inocente e sim que não tin­ham provas con­tra ele.
O sen­hor Lula não pos­sui qual­quer pre­ocu­pação que não seja safar-​se e não se é ou não inocente.
Existe mérito ou vitória nisso, amigo Bob?
Emergem provas de que roubaram tudo. Roubaram até os nos­sos son­hos, nos­sos ideais. Difer­ente da nossa, as atu­ais ger­ações não têm no que acred­i­tar. Aque­les em que con­fiá­va­mos trans­for­maram a política nacional no que há de pior em todos os can­tos e em toda nossa história.
Não, não existe mérito. Não há vitória. Somos uma nação de der­ro­ta­dos.
Abdon Mar­inho é advogado.

A DESES­PER­ANÇA COMO DESTINO.

Escrito por Abdon Mar­inho

A DESES­PER­ANÇA COMO DESTINO.

ALGUNS ami­gos cos­tu­mam me inda­gar sobre quais as expec­ta­ti­vas para o futuro do Brasil diante destes acontecimentos.

Outro dia um me per­gun­tou: — Abdon, e o Brasil? Respondi-​lhe: —fulano, o Brasil acabou!

Ele riu e dei por encer­rado o assunto.

Depois, com mais vagar, pus-​me a pen­sar na dureza das min­has palavras. Como o Brasil chegou ao ponto de, mesmo os mais otimis­tas, como eu, não terem palavras mel­hores sobre o futuro que a desesperança?

Infe­liz­mente essa aspereza das pes­soas em relação ao país é fruto do teste­munho do mar de lama que nos tragou.

O que desco­b­ri­mos – emb­ora já descon­fiásse­mos – é que quadrilhas «davam as car­tas na política nacional, colo­cando os inter­esses pri­va­dos de cor­rup­tores e cor­rompi­dos acima dos inter­esses nacionais.

E, pior, a cor­rupção finan­ciava, indis­tin­ta­mente, a todos. Talvez exis­tam exceções – ainda não iden­ti­fi­cadas –, de resto, em algum momento recur­sos desvi­a­dos de serviços e obras públi­cas, irri­garam as con­tas da elite política brasileira, as de cam­panha e as particulares.

Como podemos acred­i­tar num futuro difer­ente para o país, se fal­tando pouco mais de um ano para as eleições gerais, não temos em quem votar?

Aqui cabe um parên­te­sis. Muito se fala em ante­ci­pação de eleições. Me per­gunto: para votar em quem?

As pesquisas rev­e­lam que o sen­hor Lula, ex-​presidente e líder máx­imo do Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT, aparece como o mais bem posi­cionado nas pesquisas de intenção de votos, depen­dendo, uni­ca­mente, de está solto ou não con­de­nado em segunda instân­cia, para sagrar-​se campeão nas eleições.

Não con­heço para­doxo mais per­feito. O Brasil find­ará 2018 com um ex-​presidente con­hecendo da per­spec­tiva interna a real­i­dade carcerária do país ou de volta ao luxo e esplen­dor dos palácios.

O que nos deixa angus­ti­a­dos é que a prefer­ên­cia pelo ex-​presidente não vem ape­nas da massa ignara – estes até entendo a predileção pelo sen­hor Lula. Argu­men­tam que se todos são iguais, por que não votar, suposta­mente, naquele que fez algo pelos «pobres» –, causa-​me estran­heza é ver que grande parcela do seu eleitorado é for­mada por pes­soas tidas por esclare­ci­das, pes­soas «int­elec­tu­al­izadas», for­mado­ras de opinião. Pes­soas que têm o con­hec­i­mento de que, nunca na história deste país, a Presidên­cia da República foi tão avil­tada quanto na Era petista, sobre­tudo no período pres­i­den­cial do sen­hor Lula.

Vejam, estou falando de pes­soas que pas­saram «a vida» dizendo-​se con­trárias a cor­rupção, a malver­sação dos recur­sos públi­cos. Pes­soas que tín­hamos «em boa conta» e que, agora, revelam-​se defen­so­ras das piores práti­cas políti­cas e ali­adas daque­les que fiz­eram do poder um instru­mento para o enriquec­i­mento ilícito.

Será que têm dúvi­das sobre a veraci­dade dos depoi­men­tos de tan­tos colab­o­radores da justiça, que ates­tam e provam que o ex-​presidente da República não pas­sava – no cargo mais alto da nação –, de um estafeta das grandes cor­po­rações? Ou será que pas­saram a achar nor­mal e aceitável a cor­rupção como método de fazer política? É isso, se a cor­rupção é dos «nos­sos» está valendo?

A cor­rupção sem­pre exis­tiu no Brasil, isso é inques­tionável. Acon­tece que quando elege­mos o ex-​presidente Lula, quando colo­camos seu par­tido no poder, o fize­mos com o com­pro­misso de que iam mudar tais práticas.

O com­pro­misso era não só não roubar ou impedir que roubassem, era tam­bém aplicar com efi­ciên­cia os recur­sos da nação em bene­fí­cio de todo o povo brasileiro.

No poder, fiz­eram o oposto, mon­taram engrena­gens de cor­rupção tão com­plexas e sofisti­cadas que os instru­men­tos de con­t­role do Estado, ainda hoje, com todos os mecan­is­mos e colab­o­rações que dis­põem, não foram capazes de desmon­tar todos.

Na ânsia de roubar desviaram recur­sos da nação para ditaduras ami­gas no estrangeiro, desviaram recur­sos das aposen­ta­do­rias dos servi­dores públi­cos, fiz­eram negó­cios ruinosos para os ban­cos ofi­ci­ais, que­braram o Estado.

Aí, vejo pes­soas «ditas» com­pro­meti­das com a pro­bidade, com a hon­esti­dade, cer­rarem fileiras ao lado do sen­hor Lula e atacarem a Poli­cia Fed­eral, o Min­istério Público Fed­eral, e até o Poder Judi­ciário, sim­ples­mente por estes órgãos estarem fazendo o seu papel con­sti­tu­cional. Mais que isso, tra­bal­ham com afinco no sen­tido de con­stran­gerem toda e qual­quer crítica aos que foram e estão sendo fla­gra­dos roubando os recur­sos públicos.

Como cos­tumo dizer, a exper­iên­cia dos dois últi­mos gov­er­nos fez a prover­bial cor­rupção brasileira mudar de pata­mar, a ponto – con­forme rev­e­lam as inves­ti­gações –, dos cor­rup­tores cri­arem depar­ta­men­tos de propinas ape­nas para pagar os sub­ornáveis. Mas, não ape­nas isso, destruíram o sonho de mudança de toda uma ger­ação de brasileiros.

Não sat­is­feitos, destruíram, os fun­da­men­tos da econo­mia nacional com con­se­quên­cias para todos os cidadãos: os servi­dores públi­cos, os aposen­ta­dos, os que perderam seus empre­gos, os jovens que perderam as chances de consegui-​los, os que não con­seguiram seus fina­ci­a­men­tos e tan­tos outros.

Sim, o Brasil de hoje é o fruto destes últi­mos anos de desac­er­tos, de apro­pri­ação do Estado por autên­ti­cas quadrilhas. Mesmo os valentes que se colo­cam con­tra as refor­mas do atual gov­erno, estavam «man­sos» se aprovei­tando das benesses da clep­toc­ra­cia implan­tada no país.

Como acred­i­tar nova­mente em alguém se aque­les que prom­e­teram fazer difer­ente foram além do imag­inável no que se ref­ere à apro­pri­ação e desvio da coisa pública?

Como aceitar que estes mesmo se colo­quem como «alter­na­tiva» de mudança?

Na real­i­dade, a degradação ética da política nacional atingiu quase todos os políti­cos e quase todos par­tidos, sobrando quase ninguém para con­duzir a nação pelos próx­i­mos anos.

Noutra opor­tu­nidade já expus o ressen­ti­mento do país em não pos­suir uma pes­soa em quem os brasileiros pos­samos deposi­tar alguma esper­ança. Essa ausên­cia torna a nação um campo fér­til a qual­quer aventureiro.

Agora mesmo, vejo a oposição ensa­iar pedi­dos de ante­ci­pação de eleições, uma clara rup­tura con­sti­tu­cional, para se aproveitarem do fato do ex-​presidente apare­cer bem nas pesquisas e não ter sido con­de­nado, ainda.

Repito do o para­doxo: Alguém que tem quase cem por­cento de chances de ser con­de­nado à prisão tem como outra ver­tente tornar-​se pres­i­dente da República e fugir ao alcance da lei. Logo ele, um dos prin­ci­pais respon­sáveis pela degradação ético-​moral que tomou de conta do país.

O pior de tudo isso é que as alter­na­ti­vas apre­sen­tadas a esta política clara­mente fra­cas­sada, cal­cada na cor­rupção, não pas­sam de um amon­toado de ideias exóti­cas, imprat­icáveis e desco­ladas do mundo real.

Nós que cresce­mos prat­i­cando o ideal de que o voto é um ato cívico não temos opção de voto. Nem isso. Não existe mais, no momento, uma opção menos ruim.

A indigên­cia de quadros políti­cos é repli­cada nos esta­dos e municí­pios (sem­pre com as cada vez mais raras exceções), deixando os cidadãos de bem reféns de uma escória cada vez mais audaciosa.

O Brasil se encon­tra entre a bar­bárie e a barbárie.

A deses­per­ança, mais que um des­tino, é uma certeza.

Abdon Mar­inho é advogado.