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DITADURA É DITADURA NÃO IMPORTA SE DE DIRE­ITA OU DE ESQUERDA.

Escrito por Abdon Mar­inho

DITADURA É DITADURA NÃO IMPORTA SE DE DIRE­ITA OU DE ESQUERDA.

A HISTÓRIA se repete, a primeira vez como tragé­dia e a segunda como farsa. O pen­sa­mento do teórico do comu­nismo, Karl Marx, no Dezoito Brumário de Louis Bona­parte, 1852, sem­pre foi repetido como mantra pelos mil­i­tantes e ideól­o­gos das esquer­das nacionais.

O incrível disso é que não recon­hecem quando tais situ­ações acon­te­cem, mesmo quando atro­pela­dos pelos fatos.

Nos últi­mos dias temos visto a his­to­ria se repe­tir na Venezuela. E, difer­ente do pre­gado por Marx, repete-​se como tragé­dia e farsa. Com tragé­dia pela alto grau de mis­éria e vio­lên­cia a que estão sub­meti­dos os cidadãos, que pas­sam fome, toda sorte de pri­vações e que são vio­len­ta­mente reprim­i­dos pelo gov­erno autocrático e dita­to­r­ial do sen­hor Nicolás Maduro.

As esquer­das nacionais que, inclu­sive emi­ti­ram man­i­festo de apoio ao régime boli­var­i­ano, parece fazer questão de igno­rar as mais de cem mortes só nos últi­mos meses no país viz­inho e os mil­hares de pri­sioneiros políticos.

Uma tragé­dia human­itária, que ofende qual­quer senso de decên­cia dos cidadãos de bem.

Inca­paz de apre­sen­tar soluções para os prob­le­mas do país, o régime boli­var­i­ano valeu-​se de uma farsa.

Uma farsa escan­car­ada através da con­vo­cação de uma con­sti­tu­inte, cujo o único propósito é man­ter o atual gov­erno, indifer­ente ao sofri­mento do povo venezuelano.

Numa bizarra iro­nia da história a com­pro­var que ditaduras de dire­ita e de esquerda rezam a mesma car­tilha, inven­taram a chamada con­sti­tu­inte, inspi­ra­dos no famoso plebisc­ito chileno de 1978, não digo pesquis­aram para fazer igual – são bur­ros demais para isso –, ape­nas deram vazão ao sen­ti­mento ditatorial.

Aos que têm pouca famil­iari­dade com a história política, no final de 1977 e começo de 1978 a ditadura de Augusto Pinochet exper­i­men­tava extra­ordinária repulsa inter­na­cional, graças a vio­lação sis­temática dos dire­itos humanos.

Para dizer-​se mere­ce­dor do apoio pop­u­lar, o dita­dor simu­lou um plebisc­ito que se tornou sím­bolo de todo seu autori­tarismo e virou uma espé­cie de sim­bolismo da ile­git­im­i­dade. Durante anos ouviu-​se muito a expressão: “Tão legit­imo quanto o plebisc­ito de Pinochet”.

Para votar era necessário ape­nas o bil­hete de iden­ti­dade, já que não havia reg­istros eleitorais. O único con­t­role estava em cortar-​se um canto e selado com cer­ti­fi­cado de fita especial.

A votação a exem­plo do ocor­reu agora na Venezuela, foi real­izada num ambi­ente com­ple­ta­mente restri­tivo e com Estado de Emergên­cia e sem qual­quer acom­pan­hamento externo, sem pro­pa­ganda dos opos­i­tores do régime (muitos na cadeia), com proibição de reuniões públicas.

A votação era con­tro­lada exclu­si­va­mente pelos oper­adores do régime.

Alguma difer­ença.

Mas, pior foi o texto sobre o qual os eleitores dev­e­ria colo­car o Sim ou Não.

Colo­carei no orig­i­nal, em espanhol:

«Frente à la agre­sión inter­na­cional desa­tada en con­tra de nues­tra Patria, respaldo al Pres­i­dente Pinochet en su defensa de la dig­nidad de Chile, y reafirmo la legit­im­i­dad del Gob­ierno de la República para encabezar sober­ana­mente el pro­ceso de insti­tu­cional­i­dad del país.”

Mesmo quem não tem famil­iari­dade com a lín­gua, percebe que o “povo«deveria se man­i­fes­tar sobre uma agressão con­tra a pátria chilena.

Tem mais, sob o texto do plebisc­ito as opções: Você votava SIM mar­cando na ban­deira do Chile e NÃO numa ban­deira negra.

A própria posição dos votos lev­ava ao resul­tado que inter­es­sava ao ditador.

Quem tiver curiosi­dade de olhar basta fazer uma ráp­ida pesquisa nos sites de busca.

Assim como naquele tempo a con­sulta na sua forma e con­teúdo escapavam de qual­quer legalidade.

Tenho visto alguns par­tidos nacionais e muitas lid­er­anças políti­cas brasileiras, com inco­mum cin­ismo, defend­erem a con­sti­tu­inte engen­drada pelo dita­dor da Venezuela. Mais que isso, sem qual­quer con­strang­i­mento, defen­dem que essa é a con­sti­tu­inte mais democrática e rep­re­sen­ta­tiva do mundo em todos os tempos.

Acred­ito que se a ditadura chilena fosse “de esquerda” teriam defen­dido o esdrúx­ulo plebisc­ito sem pen­sar duas vezes.

Ora, grosso modo, o que o Sen­hor Nicolás Maduro fez, nem o dita­dor Augusto Pinochet ousou fazer no plebisc­ito de 1978.

Uma Con­sti­tu­inte pres­supõe a par­tic­i­pação do povo através do princí­pio uni­ver­sal: um cidadão um voto. A tal da con­sti­tu­inte “madurista” ignora solen­e­mente isso. Para começar, cerca de trinta por cento das cadeiras serão ocu­padas pelas infini­tas orga­ni­za­ções soci­ais atre­ladas ao gov­erno. Lá eles con­seguiram fazer o que, por pouco não con­seguem fazer aqui: apar­el­har todos os movi­men­tos soci­ais. Fiz­eram isso as cus­tas de muitos bolí­vares, estes anos todos.

E aí você pensa que os out­ros setenta por cento os eleitores pode­riam escol­her livre­mente? Ledo engano. Pela mod­elo democrático imposto pelo gov­erno, a exceção das cap­i­tais, com dire­ito a dois rep­re­sen­tantes, os demais municí­pios pud­eram escol­her um rep­re­sen­tante cada um.

Imag­inem aqui no Brasil: Tanto Sat­ubinha, no inte­rior do Maran­hão, quanto Camp­inas em São Paulo, uma infini­ta­mente maior que a outra em números de eleitores, teriam um único representante.

Parece razoável que uma con­sti­tu­inte tenha esse nível de rep­re­sen­ta­tivi­dade? Rep­re­senta, efe­ti­va­mente, a von­tade do povo?

A des­culpa do gov­erno é que a con­sti­tu­inte irá paci­ficar o país. Na ver­dade, trata-​se de um bio­mbo por onde os gov­ernistas, em face à perda de apoio pop­u­lar, pre­ten­dem ficar indefinida­mente no poder, levando mais caos e mis­éria ao povo do país.

Estivem real­mente pre­ocu­pa­dos em tirar o país da crise a que o levaram, pode­riam con­vo­car eleições gerais para que o povo pudessem escol­her seus novos rep­re­sen­tantes e estes, com a legit­im­i­dade pop­u­lar, enfrentassem o desafio de tirarem o país do caos.

O desam­paro legal que alegam con­tra as eleições é o mesmo que jus­ti­fi­cou a con­vo­cação da constituinte.

Não dizem que tudo faz­erem em nome do povo?

O mais patético (nem sei se esta é a palavra ideal) é ver os mes­mos brasileiros pedindo dia e noite a saída de Temer, sob o argu­mento da falta de legit­im­i­dade, defend­erem com unhas e dentes o que vem acon­te­cendo no país vizinho.

Quer dizer que aqui, onde se cumpre a ordem insti­tu­cional, deve­mos fazer eleitos ime­di­ata­mente, mas na Venezuela onde a crise alcança pata­mares nunca vis­tos, não?

Mais que isso, achando per­feita­mente nor­mal um régime que man­tém mil­hares de pri­sioneiros políti­cos e que, em menos de qua­tro meses, já ceifou a a vida de mais de cem cidadãos.

Ficam silentes, igno­ram a repressão política, as prisões arbi­trarias e os assas­si­natos, e quando se man­i­fes­tam, como fiz­eram alguns par­tidos que inte­gram o Fórum de São Paulo, é no sen­tido de apoiarem a ditadura boli­var­i­ana. Apoio amplo, total, irrestrito. É isso que sejam, tam­bém para o Brasil? Ditadura, mortes e prisões políticas?

Em meio a tan­tos con­strang­i­men­tos que nos causam o gov­erno bra­seiro, pelo menos um não ter­mos: o Ita­ma­raty já infor­mou que o Brasil não recon­hece aquele engodo. Menos mal.

Abdon Mar­inho é advogado.

A ARTE DE APA­GAR INCÊN­DIO COM GASOLINA.

Escrito por Abdon Mar­inho

A ARTE DE APA­GAR INCÊN­DIO COM GASOLINA.

NO AUGE da crise de 1954 – que ficara mais aguda com o assas­si­nato do major Vaz, na Rua do Toneleiro, rio de Janeiro, enquanto fazia a segu­rança do líder oposi­cionista Car­los Lac­erda e o man­i­festo dos coro­néis negando apoio ao gov­erno –, Ivete Var­gas, a filha mais política do velho caudilho, teria sug­erido ao pai que bus­casse apoio em setores das Forças Armadas. Getúlio teria, suposta­mente, respon­dido: — minha filha, mil­i­tar pensa como militar.

Se Getúlio Var­gas fez ou não tal assertiva é algo que nunca saber­e­mos. O certo é que rechaçou mais uma solução mil­i­tar, que dividiria, ainda mais as forças de segu­rança do país para se man­ter no poder, preferindo «sair da vida e entrar para história, nas suas próprias palavras.

Ori­undo da caserna o ex-​presidente con­hecia em pro­fun­di­dade a cul­tura cas­trense. A ponto de saber que não se deve, por qual­quer forma ou a qual­quer pre­texto, fomen­tar cisão interna.

Emb­ora com leg­is­lação própria as polí­cias mil­itares são con­sti­tuí­das com essa cul­tura, her­dada, em todos os aspec­tos, das Forças Armadas, como se fosse um corpo a parte da sociedade.

Emb­ora sejam out­ros os tem­pos e os cos­tumes, faço essa breve digressão para dizer que o gov­erno estad­ual tem errado feio no trato dos seus militares.

Este último episó­dio envol­vendo o tenente-​coronel Ciro Nunes é a prova cabal disso.

Aqui não dis­cuto a questão antecedente, o desen­tendi­mento, às por­tas do tri­bunal, entre o procurador-​geral e o tenente-​coronel. Se um ou outro é o cul­pado pelo episó­dio o curso das inves­ti­gações irá dizer.

A mim cabe esperar – como amigo de ambos –, o desen­ro­lar dos fatos.

Entre­tanto, arrisco na argu­men­tação de que ambos con­tribuíram com o triste episódio.

O procurador-​geral se equiv­o­cou por “brin­car” com uma questão tão del­i­cada, não ape­nas para os servi­dores mil­itares, mas para todos os demais, que vivem essa con­stante “queda de braço” com o gov­erno na busca por van­ta­gens ou dire­itos, con­forme a ótica de cada um.

A pil­héria se tornou ainda mais ino­por­tuna, do ponto de vista político admin­is­tra­tivo, quando sabe­mos que o gov­erno acabou de obter uma impor­tante vitória sobre o fun­cional­ismo, que foi a questão dos 21,7%. Tal vitória, obtida graças ao incan­sável tra­balho da procu­rado­ria – e aqui, tam­bém, não aden­tro ao mérito –, trouxe grande ten­são nas relações entre os defen­sores do gov­erno estad­ual e a cat­e­go­ria dos servi­dores públicos.

Ao per­gun­tar ao tenente-​coronel se ele “se diver­tia” com os proces­sos, cer­ta­mente, foi como jogar gasolina no incên­dio, uma vez que o tenente-​coronel luta há anos para ter recon­hecido alguns dos seus dire­itos por parte do Estado, den­tre as quais pro­moção por ressarci­mento de preter­ição, que ele mesmo acom­panha, dili­gen­ciando o anda­mento do processo.

Não acred­ito, por nen­hum momento, que tenha agido assim no intu­ito de ir além da pil­héria, mesmo porque, não acred­ito que seja do per­fil do procu­rador, espez­in­har sobre os ven­ci­dos, ainda que do ponto vista jurídico.

Já o tenente-​coronel, talvez por se encon­trar envolvido pes­soal­mente na causa, con­tribuiu com o episó­dio ao aguardar o procu­rador no intu­ito de lhe tomar satisfações.

Ainda que tenha enten­dido a chiste do mesmo como uma “humil­hação”, dev­e­ria quedar-​se à dis­ci­plina a que foi for­mado desde o fim da ado­lescên­cia. Pode­ria ter feito isso. Lev­ado na brincadeira.

O tenente-​coronel Ciro Nunes é, além de mil­i­tar, um estu­dioso do dire­ito e con­hece como poucos a leg­is­lação mil­i­tar (e mesmo a civil), sendo capaz de citar alíneas, incisos, pará­grafos e arti­gos, mesmo das leis mais esquecidas.

Razão pela qual, mais ainda, pode­ria enten­der que o seu dire­ito, sendo bom, pode­ria tar­dar, mas não falharia.

Dito isso, entendo, a par­tir daí, que os des­do­bra­men­tos e equívo­cos do episó­dio, com a con­se­quente crise mil­i­tar – que não inter­essa a ninguém, muito menos à sociedade –, devem ser deb­ita­dos na conta do gov­erno e seus agentes.

Emb­ora ambos estivessem “far­da­dos”, um como mil­i­tar e o outro como rep­re­sen­tante do Estado, pelo que se depreende das infor­mações que se tem até aqui, é que o “entrevero” fora pri­vado. Dev­e­ria, pois, o suposto ofen­dido, reg­is­trar um bole­tim de ocor­rên­cia poli­cial e, pos­te­ri­or­mente, se jul­gasse necessário, entrar com uma ação por danos morais.

Con­forme já disse noutras opor­tu­nidades, acred­ito que fal­tou “tato”, a velha exper­iên­cia, para lidar com uma questão, trans­for­mando em uma crise na caserna um assunto que pode­ria ser iso­lado como questão privada.

Os dois cidadãos se desen­ten­deram – ainda bem que ape­nas no campo das palavras –, e foram bus­car a reparação à honra na esfera judi­cial. Ponto. Não have­ria neces­si­dade de se envolver as patentes e/​ou car­gos no episódio.

O gov­erno fez jus­ta­mente o con­trário, trans­for­mou uma questão pri­vada numa crise de Estado.

Repito, falta tato, exper­iên­cia ao gov­erno para lidar com questões delicadas.

Ainda que fosse uma questão “de Estado”, dev­e­riam pon­derar a mel­hor maneira para con­duzir o assunto.

Os aux­il­iares, sobre­tudo, os mais próx­i­mos ao gov­er­nador dev­e­riam, como se diz no pop­u­lar, “colo­car panos quentes”, para diminuir o alcance da crise instaurada.

Indifer­ente a del­i­cadeza da situ­ação, fez-​se o pior mobilizou-​se “meio gov­erno” para “pren­der” o “inso­lente” tenente-​coronel. E, con­forme li, fiz­eram isso “atro­pelando” a leg­is­lação pátria para atin­gir seu intento, inclu­sive fazendo exi­s­tir um fla­grante quando o mil­i­tar apresentara-​se vol­un­tari­a­mente à autori­dade policial.

O que con­sta, segundo a man­i­fes­tação do mil­i­tar na mídia, é que ele se apre­sen­tou vol­un­tari­a­mente com dois ou três cole­gas que se recusaram ao papel de con­du­tor, tendo um inte­grante da cúpula da PMMA, “apare­cido”, a sor­relfa, e se apre­sen­tado como con­du­tor, e assim, gerar a situ­ação de flagrância.

Uma acusação grave, de um fato mais grave ainda.

Tanto assim, que o tenente-​coronel não chegou a esquen­tar o rude catre da cela onde o colo­caram, tendo a juíza plan­ton­ista, numa sen­tença áspera, dito, que o “estado” agira de forma errada e o colo­cado ime­di­ata­mente em liberdade.

Ape­sar do pro­nun­ci­a­mento da Justiça, temos notí­cias de que muitos aux­il­iares do gov­er­nador, den­tro e fora da cor­po­ração, ainda insis­tem em fazer a história “ren­der”, com punições, como per­das de funções de con­fi­ança pela patente (o que oner­ará dupla­mente o Estado) e ameaças ao mil­i­tar envolvido.

A ten­ta­tiva de “enquadra­mento”, ainda que restrito ao um mil­i­tar, pela situ­ação cri­ada é como se pre­tendessem enquadrar a própria corporação.

Todo episó­dio, além de favore­cer explo­ração política por conta dos adver­sários, reforça a imagem de que o gov­erno comu­nista é autoritário e tru­cu­lento. Preferindo mais o temor que o respeito de ali­a­dos e desafetos.

Essa imagem, que parece, fazem questão de cul­ti­var, vem de diver­sos episó­dios, prin­ci­pal­mente a acusação de abuso de poder político e finan­ceiro nas últi­mas eleições munic­i­pais, onde os adver­sários do gov­erno sen­ti­ram sobre si a força do Estado em favor dos seus aliados.

São raros os municí­pios maran­henses onde o ressen­ti­mento não se faz pre­sente. Acusam o gov­erno perseguidor. Mesmo ali­a­dos de primeira hora do gov­erno, mas que não estão na linha de frente das cam­pan­has, têm sua dose de ressentimentos.

A ideia de se bus­car o temor ao invés do respeito, ainda que se obtenha o resul­tado no curto prazo, nunca é a mel­hor alter­na­tiva política. Em se tratando de mil­itares, quase sem­pre é a pior. Na cor­po­ração todo mundo tem os “seus”, quanto mais alta a patente, mais tal assertiva é verdadeira.

Nos últi­mos dias na caserna – emb­ora a dis­ci­plina os prive de diz­erem pub­li­ca­mente –, o que mais se ouviu foi que a prisão fora arbi­trária; que não teve motivo; que se dera em razão de envolver mem­bro do alto escalão do gov­erno; etc.

A falta de com­preen­são do gov­erno trato desta questão, acaba por gal­va­nizar um sen­ti­mento em torno do tenente-​coronel, seja por se espal­harem no fato de que tal situ­ação pode­ria ocor­rer com qual­quer um deles; seja por se sen­tirem atingi­dos, como cor­po­ração, pelo suce­dido; seja por se sen­tirem rep­re­sen­ta­dos pelo enfrenta­mento por um dos seus a alta cúpula do gov­erno, fazendo o que muitos gostaria de fazer seja pela própria ideia do “per­tenci­mento”, do mil­i­tar se sen­tir como inte­grante daquela cor­po­ração – sen­ti­mento, este, que se encon­trava em desuso.

O gov­erno dev­e­ria ficar atento a estes sinais. Não ficar esti­cando a corda, retar­dando ao extremo o cumpri­mento de decisões judi­ci­ais, muitas tran­si­tadas em jul­gado, que recon­hece­ram deter­mi­na­dos dire­itos aos servi­dores ou poster­gando o cumpri­mento da leg­is­lação cas­trense no que se ref­ere às pro­moções por ressarci­mento de preterição.

Assim como o tenente-​coronel Ciro Nunes, muitos out­ros estão na mesma situ­ação. Muitos out­ros se «sen­tem» pas­sa­dos para trás nas pro­moções por merec­i­mento. Acred­i­tam que alguns por terem con­tatos con­seguem ser pro­movi­dos e eles não.

São muitos sen­ti­men­tos con­fli­tu­osos a exi­girem inteligên­cia para lidar com eles. Aço­da­men­tos ou “esti­ca­mento de corda” só agravam a situação.

Por fim, não se deve perder de vista o que teria dito (ou não) Getúlio Var­gas, até porque são palavras certeiras: — mil­i­tar pensa como militar.

O gov­erno prestaria um grande serviço a si próprio se tra­bal­hasse no sen­tido de não de ali­men­tar crises, e sim, debelá-​las.

Abdon Mar­inho é advogado.

O SILÊN­CIO DOS CUL­PA­DOS OU A VENEZUELA É LOGO ALI.

Escrito por Abdon Mar­inho

O SILÊN­CIO DOS CUL­PA­DOS OU A VENEZUELA É LOGO ALI.

TODOS os dias cen­te­nas de venezue­lanos cruzam a fron­teira para o Brasil em busca de uma condição de vida mel­hor para si e para os seus. Aqui chegando os que não pos­suem meios e/​ou qual­i­fi­cação sufi­ciente, lançam de qual­quer coisa, inclu­sive do próprio corpo para sobreviverem.

Fogem da escassez de ali­men­tos, de remé­dios, da repressão política.

Os que ficam na Venezuela, diari­a­mente, engrossam os cordões de protestos, vio­len­ta­mente reprim­i­dos pelo gov­erno, que, em ape­nas três meses, ceifou a vida de quase uma cen­tena de cidadãos, sobre­tudo de jovens, na faixa de 18 a 25 anos. Não faz muito tempo, em ape­nas um dia, cinco jovens, nesta faixa de idade, perderam vida.

Os caraque­ños mais humildes dis­putam com os ani­mais as sobras das feiras livres e os refu­gos dos super­me­r­ca­dos. Numa das cenas mais tocantes dos últi­mos tem­pos vi uma sen­hora, durante um protesto, enfrentar as forças gov­er­na­men­tais com uma frase cor­tante: — protesto porque tenho fome. Vais me matar por ter fome?

Isso foi lá atrás, hoje os venezue­lanos protes­tam porque, além da fome, da econo­mia em fran­gal­hos, da repressão política, querem democ­ra­cia e não supor­tam mais o mod­elo boli­var­i­ano, implan­tado naquele país.

Noutra ponta temos o gov­erno de Nico­las Maduro ace­nando com mais autori­tarismo, com mais ditadura.

Já falamos em vezes ante­ri­ores sobre a crise na Venezuela e, inclu­sive, dos seus reflexos no nosso país, onde Roraima, porta de entrada destes irmãos do Norte, encontra-​se à beira de uma crise human­itária, sem poder ofer­e­cer os serviços essen­ci­ais a estes migrantes e à sua própria população.

Desta vez abor­dare­mos o estranho silên­cio da classe política brasileira ao que vem ocor­rendo na Venezuela.

Não falo do silên­cio do gov­erno, este até tem se man­i­fes­tado com firmeza, cobrando soluções para a crise e pedindo democracia.

O prob­lema é que estes protestos são repeli­dos sob o argu­mento de que o atual gov­erno é “golpista”, por­tanto, não pos­suindo qual­quer legit­im­i­dade para recla­mar de nada em relação ao país vizinho.

Pois bem, se se pode ale­gar ile­git­im­i­dade do gov­erno – que pode­ria se esten­der até políti­cos da sua base, pelo raciocínio boli­var­i­ano –, o mesmo não se daria em relação aos políti­cos da oposição – aque­les que até ontem eram governo.

Estes políti­cos, que hoje estão na oposição, sobre­tudo, os lig­a­dos ao ex-​presidente Lula – e ainda os mais rad­i­cais –, sem­pre defend­eram o mod­elo boli­var­i­ano como o ideal para ser implan­tado no Brasil. Teciam loas ao ex-​ditador Hugo Chavez e ao seu pupilo Nicolás Maduro, como fig­uras ideais do cenário político mundial.

O Brasil nos gov­er­nos Lula/​Dilma, chegou ao ponto de contentar-​se em ser coad­ju­vante – ape­sar de infini­ta­mente mais rico e impor­tante politi­ca­mente –, no con­texto sul-​americano, deixando a Venezuela como pro­tag­o­nista e “potên­cia” regional.

No exem­plo claro das prefer­ên­cias ide­ológ­ica superando a lóg­ica política, o Brasil que, can­di­da­mente, aceitava ser coad­ju­vante, abria os cofres nacionais para inves­ti­men­tos no país viz­inho – e não ao con­trário –, na clás­sica situ­ação do “rabo bal­ançando o cachorro”.

No único episó­dio em que a Venezuela, ainda através de Chavez, disse que iria inve­stir no Brasil, foi na já famosa refi­naria Abreu e Lima, em Per­nam­buco, e lev­a­mos um “cano” bil­ionário, mais de 8 bil­hões de dólares.

Ape­sar do “cano” o Brasil con­tin­uou seus inves­ti­men­tos por lá, abrindo os cofres do BNDES para diver­sos empresários ami­gos para estes faz­erem lá, na Venezuela, as obras estru­tu­rantes que tam­bém fal­tavam ao Brasil.

Estes são recur­sos que o Brasil difi­cil­mente rece­berá de volta.

Pois bem, os políti­cos nacionais que par­tic­i­param, endos­saram, fes­te­jaram, raste­jaram aos pés de Chavez e Maduro, hoje não têm nada a dizer sobre a crise política, a vio­lên­cia desen­f­reada – muitas vezes por ordem estatal –, con­tra os cidadãos, a dis­solução das insti­tu­ições e o fim da democracia.

As vezes até procuro em seus sites alguma opinião sobre a situ­ação venezue­lana e nada encon­tro. É como se a Venezuela tivesse “sum­ido” do mapa para estes políti­cos brasileiros.

Quando cobro essa coerên­cia, essa man­i­fes­tação, faço isso porque estes políti­cos endos­saram o chav­ismo, o mod­elo boli­var­i­ano. Se cobro dos ex-​presidentes Lula e Dilma que digam algo, é porque o primeiro esteve lá par­tic­i­pando da cam­panha que “elegeu” o sen­hor Maduro. É porque eles, com nos­sos recur­sos, recur­sos do povo brasileiro, con­tribuíram com a ditadura que se instalou por lá.

Estes ex-​governantes “fiz­eram o diabo” para elegerem Maduro. Até os seus mar­queteiros foram deslo­ca­dos para lá, regia­mente pagos com din­heiro de propinas, con­forme eles mes­mos con­fes­saram à justiça brasileira.

Estes, e tan­tos out­ros políti­cos brasileiros, ainda os que não con­tribuíram dire­ta­mente com a eleição de Maduro, sem­pre defend­eram o mod­elo bolivariano.

E não só os políti­cos, os chama­dos “int­elec­tu­ais” foram na mesma onda.

O que têm a dizer sobre a “con­sti­tu­inte” con­vo­cada por Maduro com o claro propósito de diminuir os poderes dos par­la­mentares e aumen­tar os seus? Que têm a final­i­dade de levar as próx­i­mas eleições para as cal­en­das? Que pre­tende criar um mod­elo tar­dio de par­tido único com o poder entregue aos poucos boli­var­i­anos que restam em detri­mento do resto da população?

Ninguém escuta a opinião destes valentes sobre a atual real­i­dade da Venezuela. Estão todos silentes.

Este é o silên­cio da culpa ou da covar­dia, con­forme queiram.

Abdon Mar­inho é advogado.

Em tempo: Este texto foi escrito antes das declar­ações da senadora Gleisi Hoff­mann, nos seguintes ter­mos: “O PT man­i­festa seu apoio e sol­i­dariedade ao gov­erno do PSUV, seus ali­a­dos e ao pres­i­dente Nicolás Maduro frente à vio­lenta ofen­siva da dire­ita con­tra o gov­erno da Venezuela e con­de­n­amos o recente ataque ter­ror­ista con­tra a Corte Suprema. Temos a expec­ta­tiva que a Assem­bleia Con­sti­tu­inte possa con­tribuir para uma con­sol­i­dação cada vez maior da rev­olução boli­var­i­ana e que as divergên­cias políti­cas se resolvam de forma pacífica”.