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BOAS IDEIAS PRE­CISAM «CASAR» COM A REALIDADE.

Escrito por Abdon Mar­inho

BOAS IDEIAS PRE­CISAM «CASAR» COM A REALIDADE.

As eleições de 1992 nos trariam uma novi­dade: autori­dades com os mel­hores propósi­tos, pen­sando no inter­esse público, na celeri­dade da apu­ração eleitoral, evi­tar algu­mas fraudes comuns na época , decidi­ram, no ano ante­rior, que cada sessão eleitoral seria, tam­bém, junta apuradora.

A ideia era bem sim­ples, as eleições eram munic­i­pais, encer­rada a votação, às 17 horas, cada pres­i­dente de mesa junto com os demais mem­bros, com os fis­cais de par­tido, fariam a apu­ração e reme­te­ria para cen­tral de totalização.

Como não era de se esperar não deu certo. Foi uma con­fusão, bem pou­cas sessões con­seguiram realizar o tra­balho a con­tento. Por outro lado pipocaram as denún­cias: de que pres­i­dentes de mesas estariam votando por eleitores ausentes ou que tin­ham deix­ado as cédu­las em branco (a eleição era com cédula de papel, marcava-​se o voto no prefeito, escrevia-​se o nome ou o número do vereador); de que muitos pres­i­dentes sumi­ram com as urnas; de que vereadores (sobre­tudo) estariam manip­u­lando o resul­tado em seus redu­tos e tan­tas outras.

Para encur­tar a história, no dia seguinte fomos infor­ma­dos que a apu­ração, em São Luís, por exem­plo, seria feita nas jun­tas apu­rado­ras, no Castelão.

Acho que ainda hoje pairam dúvi­das sobre o resul­tado daquele pleito. Muitos vereadores eleitos ou não eleitos sabem o que fizeram.

Pois bem, esta­mos diante de outra exce­lente ideia. O Supremo Tri­bunal Fed­eral — STF, enten­deu que doações de empre­sas a par­tidos ou a can­didatos, como vem sendo feito desde sem­pre é incon­sti­tu­cional. Trata-​se de uma exce­lente ideia. Tão boa que a maior parte da pop­u­lação a apoia, for­madores de opinião, int­elec­tu­ais, pes­soas, como dizem, “do bem”, acima de quais­quer sus­peitas. aplaudi­ram a decisão.

Não tratarei aqui – não agora –, sobre o mérito do assunto, deixarei para abor­tar o tema num texto especi­fico. Antes, preocupa-​me saber como fun­cionará o finan­cia­mento da cam­panha para o ano que vem e para as seguintes (inter­es­sante obser­var que as as exper­iên­cias sem­pre acon­te­cem nas eleições munic­i­pais), a par­tir da decisão do STF.

Qual­quer pes­soal que orbita o mundo da política ou que, ao menos de longe, o observe, sabe que as cam­pan­has no Brasil fun­ciona em dois ambi­entes: o ambi­ente da legal­i­dade, com receitas e despe­sas, para pro­pa­ganda, mate­r­ial grá­fico, com­bustível, car­ros para o deslo­ca­mento, expos­tos aos olhos de todos nas prestações de con­tas e no ambi­ente onde as coisa não são expostas, como o din­heiro que é repas­sado para as lid­er­anças “tocar” a cam­panha nos bair­ros, os pedi­dos que os can­didatos e suas lid­er­anças sem­pre recebem, e que, hon­estos ou não, não têm como se escusar de aten­der. Nem falo em com­pra de voto, emb­ora saibamos que acon­tece, mas daquele atendi­mento emer­gen­cial, o favor de levar alguém ao médico, prover um enx­o­val de um defunto, um remé­dio, etc.

Se alguém que já fez cam­panha não se deparou com isso gostaria de con­hecer antes de mor­rer, até agora não con­heço ninguém.

Nestes meus anos de mil­itân­cia, pou­cas vezes me deparei com eleitor fazendo doação a can­didato. Quando muito, uma doação de serviço, como já fiz algu­mas vezes. O cidadão meter a mão do bolso, ir ao banco ou sen­tar diante de um com­puta­dor para fazer uma trans­fer­ên­cia bancária a um can­didato ou par­tido político, rara­mente, muito rara­mente mesmo, testemunhei.

O Supremo Tri­bunal Fed­eral — STF, a Ordem dos Advo­ga­dos do Brasil — OAB, diver­sos movi­men­tos soci­ais, int­elec­tu­ais querem essa seja a práxis a par­tir do ano que vem.

Sim, é pos­sível que os eleitores (a grande maio­ria são favoráveis a decisão), passem a con­tribuir com os seus can­didatos, emb­ora as exper­iên­cias vivi­das digam o contrário.

Não con­sigo imag­i­nar uma crise econômica sem prece­dentes como esta, que con­tin­uará mais intensa no ano que vem, os eleitores façam doações aos can­didatos e aos par­tidos políti­cos. Observem que esta­mos falando de mil­hares de can­didatos a prefeitos, só par­tidos legal­iza­dos no país, temos 33, muitos deles lançarão can­didatos a prefeitos e vices, quase todos lançarão can­didatos a vereadores, esta­mos falando de mil­hares de can­didatos dis­putando, não ape­nas o voto, mas a con­tribuição finan­ceira dos eleitores.

Em primeiro lugar está se criando uma situ­ação em que ape­nas can­didatos ricos, com patrimônio ou “caixa”, poderão dis­putar ou sairão bem na frente na disputa.

Como é que um can­didato a vereador que declara não pos­suir qual­quer bem ou qual­quer recurso em conta vai ini­ciar sua cam­panha? Muitos estão nes­tas condições. E, como todo cidadão brasileiro, têm o dire­ito de disputar.

Mais. Quanto tempo terá para arrecadar recur­sos, se a lei diz que somente é per­mi­tido após o reg­istro dos seus comitês finan­ceiros? Será que os eleitores vão ficar ali “no ponto” só esperando a lib­er­ação dos comitês para começar a doar para os can­didatos? Como farão as despe­sas de cam­panha se estas dimin­uíram para ape­nas 45 dias.

Lem­bro que são mil­hares. Não acred­ito que dê muito certo.

Será que alguém se deu conta que o mod­elo de finan­cia­mento que se busca, com tan­tos can­didatos, com eleitores que nunca doaram, nada ou quase nada, a cam­pan­has políti­cas, é inexequível?

Em segundo lugar os pre­ten­sos can­didatos, a par­tir de agora, se quis­erem dis­putar uma eleição de prefeito ou vereador, e não pos­suir recur­sos próprios ou patrimônio, terão que desde já, preparar lis­tas de doadores, com condições de com­pro­var suas receitas para doarem a seus can­didatos quando forem per­mi­ti­das as doações.

Estes eleitores terão recur­sos e vão querer fazer doações?

Se a tarefa será árdua para os can­didatos a prefeitos, imag­inem para os can­didatos ao cargo de vereador.

Torço para está errado e os eleitores – não sei de onde tirarão recur­sos – custeiem as can­di­dat­uras, senão o que acon­te­cerá será o seguinte:

  1. A parte da cam­panha que, já hoje, ocorre na clan­des­tinidade, será aumen­tada sensivelmente;
  2. Somente can­didatos ricos (com patrimônio ou liq­uidez) terão condições de dis­putar as eleições ou estarão em condição de supe­ri­or­i­dade aos demais;
  3. Os can­didatos sem recur­sos próprios, com eleitores igual­mente pobres, não terão condições de dis­putar as eleições, esta­mos falando de mil­hares de cidadãos e cidadãs que se verão impe­di­das de dis­putar eleições por falta de recursos;
  4. Os can­didatos terão que arreg­i­men­tar dezenas, mil­hares de eleitores, para efe­t­u­arem doações de cam­pan­has ou se servirem de laran­jas para jus­ti­ficar doações;
  5. Ter­e­mos a maior judi­cial­iza­ção do processo eleitoral de todos os tem­pos sobre­tudo na parte con­cer­nente a arrecadação e despe­sas de campanha;
  6. Os deten­tores de mandatos exec­u­tivos sairão na van­tagem em relação aos demais can­didatos por poderem “pedir» aos mil­hares de ocu­pantes de car­gos comis­sion­a­dos doações para as suas campanhas;
  7. O crime orga­ni­zado – que conta com um público próprio – terá maior inserção no processo politico legal. Noutra opor­tu­nidade farei um detal­hamento disto. Hoje já tem muita influên­cia, em todos os can­tos do país a ação de agio­tas nas cam­pan­has é uma real­i­dade, na nova inter­pre­tação ela será bem maior;
  8. Os males que pre­ten­dem evi­tar serão ampli­a­dos: a cam­panha será no caixa dois, os agio­tas farão a festa pois só eles terão din­heiro em caixa e ter­e­mos mil­hares, senão mil­hões de eleitores laranjas.

Vejam, não resta dúvida que eleitores finan­cia­rem seus can­didatos é uma exce­lente solução, entre­tanto não me parece exe­quível que isso ocorra num país com tan­tos par­tidos, com tan­tos can­didatos e com uma pop­u­lação que nunca fez isso.

Um dos prob­le­mas ocor­ri­dos em 1992 na apu­ração da eleição pelas próprios mesas recep­toras, além dos tan­tos nar­ra­dos, foi o ele­vado número de can­didatos a vereadores.

Igual­mente prob­lemática é o finan­cia­mento, exclu­si­va­mente, público de cam­panha. Primeiro por sac­ri­ficar mais uma vez o eleitor com o paga­mento do imposto para custear a cam­panha e tam­bém porque o recurso não chegará a todos os can­didatos e par­tidos. Alguém acred­ita que recur­sos do fundo par­tidário chega a instân­cias par­tidárias nos municí­pios? Difi­cil­mente. Até os val­ores rece­bidos os region­ais são insu­fi­cientes para o custeio das despe­sas cor­rentes, quanto mais custear eleição.

Mas, tam­bém, sobre finan­cia­mento público fare­mos um texto específico.

Não tenho solução para a com­plex­i­dade dos prob­le­mas apre­sen­ta­dos. Entre­tanto, a solução encon­trada pelo STF e defen­dida pela OAB, pelos movi­men­tos soci­ais, em que pese as mel­hores intenções, não “casa” com a real­i­dade e trás o risco con­creto de jogar na ile­gal­i­dade, as cam­pan­has e os mandatos con­quis­ta­dos nas eleições de 2016.

Fica o alerta.

Abdon Mar­inho é advogado.

INVASÕES: UM CON­VITE AO PASSADO.

Escrito por Abdon Mar­inho

INVASÕES: UM CON­VITE AO PASSADO.

Por estes dias vi a corege­do­ria do Tri­bunal de Justiça ten­tar uma inter­me­di­ação com rep­re­sen­tantes dos ocu­pantes de áreas pri­vadas ameaça­dos de despejo em um dos municí­pios da região metropolitana.

Não tenho a menor dúvida que a cor­rege­do­ria, por seus diver­sos rep­re­sen­tantes, estão imbuí­dos dos mais nobres propósi­tos, bus­cam encon­trar uma solução que atenda a todos os envolvi­dos na dis­puta. Não tenho a menor dúvida, tam­bém, que fra­cas­sarão. Ainda que con­seguis­sem comungar os inter­esses dos ocu­pantes com os dos pro­pri­etários, fra­cas­sam em relação aos municí­pios envolvi­dos, a segu­rança pública, no incen­tivo à violência.

Assim como a cor­rege­do­ria de justiça, o gov­erno estad­ual, tam­bém está equiv­o­cado no trato desta questão.

O equiv­oco se dar porque, tanto o Poder Judi­ciário quanto o Poder Exec­u­tivo, não podem retar­dar a solução para os con­fli­tos de terra na ilha sob pena de reviver­mos a onda de invasões/​ocupações dos anos oitenta até mea­dos dos anos noventa.

Não demanda muito tra­balho enten­der a equação, que é bem sim­ples. Quanto mais a Justiça demora a deter­mi­nar as rein­te­grações de posses ou o Exec­u­tivo em cumpri-​las, mas se agrava o prob­lema social que se busca cor­ri­gir. Isto porque, cada ocu­pação que você vai deixando ficar incen­tiva o surg­i­mento de mais três ou qua­tro. É matemática pura.

Um exem­plo claro disso é o que vem acon­te­cendo no Municí­pio de Paço do Lumiar. Quando uma das ocu­pações ini­ciou (passo lá todos os dias), atin­gia ape­nas uma pequena área de terra na entrada que vai para o aero­porto, hoje já alcança todo o ter­reno, os que ficam ao lado e já chega a a Maioba. O que não pas­sava de pou­cas dezenas de casas, já são milhares.

Um prob­lema que era minús­culo, cir­cun­scrito a uma pequena área de terra, se tornou grande.

A leniên­cia das autori­dades só atende aos inter­esses da picare­tagem, que lucra com a indus­tria de invasões e ao crime orga­ni­zado que ganha em diver­sas out­ras pontas.

As autori­dades pre­cisam com­preen­der que ape­nas uma pequena parcela dos que se aven­tu­ram na ocu­pação de ter­ras – sejam públi­cas ou pri­vadas – pre­cisam, efe­ti­va­mente, de mora­dia. A maio­ria, a começar pelos que ficam à frente, vão pelo lucro fácil, muitos pos­suem até mais de um imóvel.

Daí a importân­cia do poder público pos­suir um cadas­tro destes ocu­pantes, para saber quem é cada um e se, de fato, pre­cisam de imóvel, ou se está está na condição de ocu­pante para obter lucro fácil e sem causa.

A indús­tria da invasão é um negó­cio lucra­tivo: os chama­dos “donos» da ocu­pação, ven­dem ou cobram uma taxa durante um tempo. Mul­ti­pliquem isso por mil ou duas mil casas. Ainda que seja ape­nas mil ou dois mil, já rep­re­senta uma boa grana. Os com­pradores que pagaram mil, dois ou três mil reais, por um lote vale entre 10 ou 15 mil, ainda numa ocu­pação tam­bém saem no lucro. Esse é o mecan­ismo que move o negó­cio. É por isso que sem­pre tem gente dis­posta a entrar nele.

As autori­dades pre­cisam ter pulso firme, não se deixar por fal­sos dis­cur­sos de cunho ide­ológico. O dire­ito à mora­dia tem que ser garan­tido é através de políti­cas públi­cas e não com invasão de pro­priedades pri­vadas e afronta ao direito.

Con­ver­sava outro dia com o respon­sável pela implan­tação dos pro­gra­mas habita­cionais do Municí­pio de São Luís no gov­erno de Jack­son Lago, ele me desafiou a encon­trar um dos moradores orig­inários a quem foram doa­dos os imóveis para que saíssem das palafi­tas da Ilhinha. Disse-​me mais, a equipe cadas­trava um imóvel. No dia seguinte nos fun­dos do mesmo sur­giam dois ou três, do filho, do primo, do sobrinho. Todos querendo tam­bém um imóvel.

Se lucram os que invadi­ram e ocu­param os lotes, per­dem as admin­is­trações públi­cas munic­i­pais, que pre­cisam, de uma hora para outra, dotar tais local­i­dades dos serviços bási­cos como água, ener­gia, trans­porte, infraestru­tura de ruas, etc;

Perde tam­bém a sociedade que pre­cisa arcar com estes custos.

Como é sabido por todos, o orça­mento público é um só, gov­er­nos não pro­duzem din­heiro à medida que neces­sita dele. O din­heiro usado para aten­der as neces­si­dades que surgem é o que já exis­tia e terá que ser mel­hor repartido.

Perde a segu­rança pública pois grande parte destas ocu­pações servem de mer­cado ao trá­fico de dro­gas e são público alvo dos mais vari­a­dos tipos de extorsões.

Infor­mações insis­tentes dão conta que facções crim­i­nosas estão por trás de grande parte destas invasões, bancado-​as para obterem lucros, mer­cado para o crime e para influ­en­ciar nas eleições dos próx­i­mos anos.

Com quase cinquenta de ocupações/​invasões de ter­ras – públi­cas e pri­vadas –, e de cresci­mento des­or­de­nado na Ilha de São Luís, já pas­sou tempo, mais que sufi­ciente, para as autori­dades apren­derem a lidar com o prob­lema, fazendo a coisa certa.

A coisa certa, no caso, é não per­mi­tirem o surg­i­mento destas ocu­pações, serem ágeis na con­cessão de rein­te­gração de posse, cumpri­mento das mes­mas, pos­suir um cadas­tro atu­al­izado e real daque­las pes­soas que real­mente pre­cisam de mora­dia garantindo-​lhes pri­or­i­dade nos pro­gra­mas ofi­ci­ais como o Minha Casa Minha Vida e outros.

Noutras palavras: dire­ito e políti­cas públicas.

A pior solução é esta que vêm dando: retardo nas con­cessões de rein­te­gração de posso; retardo no cumpri­mento das decisões judi­ci­ais; apoio e incen­tivo dos políti­cos às ocu­pações; autori­dades tratando inva­sores profis­sion­ais como autori­dades e recebendo-​as em palácio.

A solução que as autori­dades vêm dando a estas ocu­pações que pro­lif­eram por toda a ilha é o prenún­cio do caos, com pro­pri­etários de ter­ras recor­rendo a segu­ranças pri­va­dos (eufemismo para pis­toleiros), inse­gu­rança em relação as suas pro­priedades e se muni­ciando para, logo mais, ingres­sarem na Justiça con­tra o Estado do Maran­hão por desapro­pri­ação indi­reta, diante da demora em cumprir con­ceder ou cumprir as decisões judiciais.

Em todo caso, a conta sobrará para nós, cidadãos, seja pelo aumento da vio­lên­cia, seja por ter­mos que pagar por estas propriedades.

O Maran­hão insiste em, ao invés de se pro­je­tar para o futuro, se voltar para o passado.

Abdon Mar­inho é advogado.

ESTADO OSTENTAÇÃO.

Escrito por Abdon Mar­inho

ESTADO OSTEN­TAÇÃO.

Os gov­er­nos, nen­hum deles, seja fed­eral, estad­ual ou munic­i­pal, pro­duzem riquezas. Ape­nas admin­is­tram os recur­sos que nós, cidadãos, recol­he­mos da hora que acor­damos até a hora em que vamos dormir. E, até mesmo, enquanto dormimos.

Esta é a primeira ver­dade: o gov­erno não tem din­heiro, o din­heiro que usa e abusa é o nosso.

Vez ou outra os com­er­ciantes fazem cam­pan­has para des­per­tar a con­sciên­cia nos cidadãos sobre a carga trib­utária. Outro dia venderam uma grande quan­ti­dade de com­bustível pelo valor o mesmo teria sem a incidên­cia dos impos­tos. Dezenas, cen­te­nas de cidadãos for­maram filas, já na madru­gada para exper­i­men­tar o que seriam preços «nor­mais». Este tipo de cam­panha faz tanto sucesso que os seus pro­mo­tores limi­tam a quan­ti­dade de litros, senão a procura não daria conta da oferta, na última, parece-​me, foram vinte litros por consumidor.

Assim são todos os pro­du­tos. Tudo que com­pramos incide uma carga trib­utária astronômica. Outro dia um amigo fez o seguinte cál­culo: a difer­ença entre o valor do iPhone aqui no Brasil e nos EUA, daria para ele com­prar uma pas­sagem ida e volta para Nova Iorque, ficar hospedado por uns três dias, ir ao teatro e ainda sobraria um troco para o lanche. É assim com tudo.

A vida do comér­cio, do agronegó­cio, da indús­tria e do setor de serviços, ou seja, do setor pro­du­tivo do país é rec­heada de tan­tos trib­u­tos que pre­cisam de asses­so­ria espe­cial­izada para con­seguir dar conta dos mes­mos e ficar em dia com suas obrigações.

Esta é a segunda ver­dade: temos uma das car­gas trib­utárias mais ele­vadas do mundo.

Emb­ora pague­mos tan­tos trib­u­tos não temos a con­tra­partida esper­ada do Estado.

Se quer­e­mos um mín­imo de sen­sação de segu­rança, temos que pagar para viver­mos tran­ca­dos em con­domínios fecha­dos; fazer das nos­sas casas ver­dadeiras for­t­alezas, com cerca elétrica, alarmes, câmeras de videomon­i­tora­mento. Não raro pagar segu­rança privados.

Faze­mos isso em nos­sas casas e, se tiver­mos uma empresa, somos obri­ga­dos a redo­brar os cuidados.

Ape­sar de todas as pre­cauções temos que rogar a Deus, diari­a­mente, para chegar­mos vivos em casa ou no tra­balho, para não ser­mos sequestra­dos, assalta­dos, violentados.

Se pre­ten­der­mos uma edu­cação mel­hor para os nos­sos fil­hos temos que pagar por ela, por fora. Ano após ano, os indi­cadores mostram que a edu­cação pública (e tam­bém a pri­vada) patina na medioc­ridade. Ficando bem atrás de nações que nem chagam perto da sétima econo­mia do mundo.

Se pre­cisamos de atendi­mento médico temos que nos sub­me­ter a filas inter­mináveis, meses por uma con­sulta ou inter­nação, anos por uma cirur­gia. É isto ou pagar planos de saúdes caros e defi­cientes pela ausên­cia de fis­cal­iza­ção do Estado. Planos de saúde que vão encar­e­cendo a medida que os anos fazem com sejam mais necessários, não sendo raros os que cus­tam mais da metade do salário, aposen­ta­do­ria ou pen­são do trabalhador.

A infraestru­tura do país, em qual­quer setor que olhe­mos, é de fazer ver­gonha, é de causar ódio.

Esta é a ter­ceira ver­dade: os nos­sos recur­sos não estão ren­dendo nas mãos das pes­soas que escol­he­mos para gerenciá-​los.

A crise que Brasil atrav­essa e é sen­tida por todos é fruto da má gestão, da incom­petên­cia, da cor­rupção. Chama­dos à razão pelos fatos o gov­erno tem como solução impor mais trib­u­tos aos que já não fazem outra coisa além de pagá-​los; cortes na saúde, na edu­cação, nos pro­gra­mas que são con­tra­partida mín­ima à sociedade.

Nos últi­mos anos o gov­erno pegou o nosso din­heir­inho suado e saiu ban­cando obras em diver­sos países, obras estru­tu­rais, tão necessárias aqui, no nosso país; anis­tiou diver­sas out­ras nações que pegaram emprestado o nosso din­heiro; não fez nada quando out­ras nações «ami­gas» se apro­pri­aram de empre­sas brasileiras; não zelou o nosso dinheiro.

Só din­heiro o sur­ru­pi­ado da Petro­bras, esti­mam serem mais de 20 bil­hões de dólares; desvios no BNDES; desvios nos min­istérios; em todos os órgãos; nos gov­er­nos estad­u­ais; munic­i­pais; os negó­cios feitos com o claro propósito de causar pre­juízo à nação, a falta de fis­cal­iza­ção em obras e serviços, fazendo os val­ores orig­i­nais con­trata­dos, dobrarem, levando as obras a serem refeitas infini­tas vezes, daria para aliviar os cofres públicos.

Vejam tudo que foi rou­bado ao longo dos anos em lic­i­tações fraud­u­len­tas, em obras fan­tas­mas, com super­fat­u­ra­mento, serviços pagos e não presta­dos ou a menor, mer­cado­rias não entregues, tudo isso foi feito com o nosso din­heiro. Tem a mesma equiv­alên­cia que o ladrão que «bateu» nossa carteira.

Ape­sar de esta­mos sendo rou­bado esse tempo todo, o ger­ente que con­trata­mos para cuidar dos nos­sos inter­esses ao invés de impedir o roubo, fica é zan­gado com as inves­ti­gações, não quer que apure, que se busque o mal havido e se coloque os malfeitores na cadeia – vimos a própria pres­i­dente da República falar mal das delações pre­mi­adas, seus aux­il­iares e colab­o­radores, nem deve­mos falar –, pelo con­trário, querem que se ignore tudo, fin­jamos que nada de errado acontece.

Noutra quadra, para fazer face aos gas­tos, desac­er­tos, rou­bos, querem avançar mais uma vez sobre o bolso do contribuinte.

O gov­erno brasileiro age como uma don­doca daque­las que fazem do fato de serem ex-​esposa profis­são. Con­tin­uam gas­tando a não mais poderem, levando a vida na valsa porque têm um ex-​marido para bancar.

Diante da crise que país atrav­essa – e ainda que não atrav­es­sasse – é escan­daloso os cus­tos da máquina pública com mor­do­mias, cartões cor­po­ra­tivos, via­gens inter­na­cionais, des­perdí­cios, mil­hares de car­gos nomea­dos por con­veniên­cia política e que nada pro­duzem, for­tu­nas em pub­li­ci­dade e tan­tos out­ros abu­sos. O din­heiro «sobra» para os brin­cos e mimos da prefeita e para jato ou para a suíte de luxo da presidente.

As mor­do­mias e abu­sos – pelos quais pag­amos –, estão em todos os poderes, em todas as esferas. O con­tribuinte brasileiro paga por tudo: car­ros, casas, motoris­tas, mil­hares de asses­sores, adu­ladores, super­me­r­cado, ves­tuário, até pelos amantes das autori­dades. Chega a ser inacreditável.

O Brasil con­seguiu acabar com a escravidão mas não com os sen­hores. Estes con­tin­uam sendo servi­dos e servindo-​se do Estado brasileiro.

Nos Esta­dos Unidos o pres­i­dente da República pagar até o jan­tar servido na Casa Branca se o con­vi­dado é pes­soal e não do inter­esse do país. Um min­istro da Suprema Corte de lá tem como mor­do­mia, o dire­ito à vaga para estacionar.

Um par­la­men­tar inglês não recebe em um ano o que o seu sim­i­lar brasileiro recebe em um mês. A mesma coisa na Sué­cia, França, Ale­manha (onde o avião que serve a primeira min­is­tra não pode levar o seu marido sem que ele pague pela passagem).

E aqui? Aqui é essa farra sem lim­ites com o din­heiro público. Aviões da FAB já foram mobi­liza­dos até para trans­portar ami­gos de fil­hos de autori­dades que que­riam pegar um sol na piscina do Palá­cio da Alvorada.

Tudo com o meu, o seu, o nosso dinheiro.

Enten­damos, quando se fala em mal uso do din­heiro público, das mor­do­mias, dos bil­hões desvi­a­dos todos os anos estão falando do NOSSO DIN­HEIRO. Essa é a questão.

E ai, na hora que a coisa aperta a primeira medida é nos achacar. Não, assim não dar!

O povo brasileiro, não nos recusamos a um esforço de guerra para sal­var o país se não assistísse­mos a tan­tos abu­sos e absur­dos. Agora mesmo, em plena crise, o Senado aproveita para tro­car a frota, já lux­u­osa, que serve a suas excelências.

O gov­erno brasileiro – sem querer ofender a Bíblia –, muito se parece com os lírios do campo de que falava Jesus Cristo, segundo o Evan­gelho de Mateus: «Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não tra­bal­ham nem fiam; E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qual­quer deles».

Falava do nosso governo.

Abdon Mar­inho é advogado.