SARNEYSISTA, EU?
Muitos anos ainda se passarão até que consigamos romper o ciclo maniqueísta que tem dominado a política do Maranhão há mais de cinquenta anos e que dividiu a sociedade entre os discípulos e os opositores de Sarney. Talvez esta divisão conste do testamento de Adão e Eva que desconheço.
A respeito da crise política no país escrevi um texto onde defendo o direito dos opositores a atual presidente de defenderem, livremente o seu impedimento, sem com isso serem tachados de golpistas, reacionários e inimigos do povo. Vejam que defendo o direito à livre manifestação de pensamento, o direito de se opor ao governo. E, caso haja respaldo legal – seja através de julgamento pela corte eleitoral ou processamento por crime de responsabilidade previsto na Constituição Federal e na Lei 1.079 –, a presidente seja impedida de continuar o mandado.
A defesa que faço é do direito à manifestação de pensamento, de oposição, sem descartar, caso haja motivação legal, que isso ocorra. O que me move é o interesse do país e não saber se isso beneficia ou não quem quer que seja.
Não há, e deixo claro no texto, a defesa do impeachment da presidente. Mas entendo que assim, como houve o fora Sarney, o fora Collor, o fora FHC, ninguém, numa democracia, pode se pretender acima da lei e escapar das responsabilidades a todos impostas. A sociedade tem, sim, o direito de protestar contra a senhora Dilma, bradar o FORA DILMA.
Como vemos, a argumentação, embora produzida por um advogado cocho – e não tenho problema nenhum em aceitar minha condição de deficiente físico, conseguida graças à poliomielite na minha primeira infância, ser cocho, portanto me limita em algumas coisas, mas não me incomoda, pior se fosse cocho no caráter –, está longe de padecer de qualquer deficiência, pelo contrário, é reta, e é a mesma que sempre defendi nos diversos episódios sobre os quais me manifestei ao longo da minha vida.
O suposto alinhamento a Sarney deve ser fruto de uma falsa leitura dos fatos e da história daqueles que acham que o mundo, as leis, o direito, deve servir aos interesses de grupos e não da sociedade na sua totalidade.
E, também, daqueles que fazem do ofício de bajular uma estratégia de vida. Se o rei pensa assim, serei mais realista que o rei.
Historicamente sempre estive em campo oposto ao ex-senador e presidente, a quem sequer conheço, nunca tendo frequentado a sua ou a residência de nenhum dos seus.
Cheguei na Ilha de São Luís 1985, tangido, como muitos, para fazer o curso médio na capital em busca de um ensino melhor. Matriculado no Liceu Maranhense, já naquele ano me engajei na luta para fundação do grêmio estudantil.
No ano seguinte, ainda adolescente, militei na campanha petista de Delta Martins; em 1990, já fazia campanha para Conceição Andrade, candidata da terceira via e das oposições; em 1994, fui um dos coordenadores da campanha do senador Cafeteira contra a candidata Roseana Sarney; o mesmo ocorrendo em 1998; em 2002, abstive na campanha de Jackson Lago, fato que se repetiu em 2006, situação repetida, novamente em 2010. Em 2014, também estive com a candidatura oposicionista ao esquema Sarney.
No campo profissional, também não foi muito diferente.
As ações contra o governo Roseana, foram quase todas patrocinadas pelo escritório que leva o nosso nome. Foi assim com ações judiciais a respeito da MA 008, a famosa rodovia que custou-nos 33 milhões de dólares, e que deveria ligar os municípios de Paulo Ramos a Arame; foi assim com a ação contra o governo de Roseana por haver achatado o salário dos professores ao reduzir os espaços entre os vários níveis; foi assim quando ninguém teve coragem de acionar o Senado da República contra o Procurador-geral, Geraldo Brindeiro, por não fazer andar as representações contra a então governadora do Maranhão; foi assim quando movi e patrocinei ação popular por excesso de aditivos na obra do viaduto da COHAMA ou contra a denominação do Tribunal de Contas do Estado em homenagem a mesma, e tantas outras que não lembro agora.
Basta dizer que até a ação eleitoral que questionou o pleito de 2010, também foi patrocinada pelo nosso escritório.
A grande maioria destas ações foram motivadas pelo dever de cidadania, de indignação, de quase nenhuma recebemos um centavo e honorários e nem mesmo um «muito obrigado».
E não havia porquê, diferente de muitos, não fizemos motivados por recompensas futuras. Nem nas vezes quem que ajudamos a construir a vitória eleitoral fomos aquinhoados com qualquer recompensa. No governo de Jackson Lago, nada nos foi oferecido nem pedido. No atual a mesma coisa. Vida que segue.
Então sou um adesista ao ex-presidente Sarney? Eu, cara-pálida? Agora que estão fora do poder? Agora, depois anos trabalhando para que o Maranhão experimentasse a liberdade que desfruta hoje? Depois de ter colocado a cara a tapa e sofrido todo tipo de represálias e retaliações?
Quando na oposição, trabalhei com ex-deputado Ricardo Murad. Tendo voltado as hostes dos antigos aliados do grupo Sarney, ele me convidou para continuarmos trabalhando juntos. Convite que agradeci e recusei.
Sabia que nossos caminhos eram opostos.
Não me arrependo.
O que nos motiva é a certeza de, ao menos tentar, fazer a coisa certa, os ideias que sempre defendemos. A nossa maior riqueza é a nossa liberdade. A liberdade de poder pensar e expressar o pensamento sem o receio de agradar ou desagradar ninguém, mas sim como mero exercício de cidadania.
Quando digo que o governo Dilma não possui condições de debelar a crise que ele mesmo criou, que a legitimidade esvaiu-se ao ser confrontada com a verdade ou que o país não tem como suportar três anos e meio de agonia, o faço no interesse da sociedade que em um ano já perdeu quase metade de sua riqueza pessoal. Não estou aqui cultivando interesses políticos de quem que seja.
Como a vida pautada em trinta anos de coerência é que não aceito patrulhamento de quem quer seja, muito menos daqueles que sempre se moveram por conveniências de todos os tipos, os que viveram a sombra dos governos e se locupletaram deles; que receberam favores pessoais, íntimos e sem agradecer, hoje os repudiam.
Comigo, não, violão. Para me patrulhar tem que provar que já fez bem mais do que eu e sem receber qualquer coisa em troca. Alugar a pena e o pensamento por favores e moedas, não conta.
Eu sei onde estive em toda minha vida. Os que me criticam, onde estavam? O que faziam?
Fora isso, antes de quererem salgar o meu pensamento e a liberdade de expressão – que fiz por merecer –, com «sal marinho», recomento que se deleite num belo canavial.
Abdon Marinho é advogado.
SARNEYSISTA, EU?
Escrito por Abdon Marinho
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